sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Quando eu era menino

Quando eu era menino falava o que minha imaginação ditava. Afinal não é assim que todo menino fala? Eu não era exceção.

A verdade era minha, e eu fazia com que ela servisse a meus propósitos. Fabricá-la era muito útil na hora de explicar ao professor porque não fiz o dever de casa, ou à minha mãe porque o quarto não foi arrumado.

É claro que à medida que eu crescia, dentro de minha meninice, a verdade se tornou mais fugidia. Eu havia descoberto que a fantasia é perdoada, e as vezes até admirada em idades menores. Agora era imprescindível que houvesse alguma verossimilhança: uma verdade pela metade. Fabricá-la tinha passado a ser muito arriscado. Era melhor dobrá-la. Melhor ainda se a parte fantasiosa fosse insinuada para que o outro deduzisse a mentira e eu apresentasse apenas metade da verdade.

Minha também era a “lábia”. Não era necessariamente mentira o que eu falava, mas com jeitinho eu conseguia fazer meu time. Quando o jeitinho não funcionava o “grito” era uma boa solução. Uma bronca bem dada, ou uma mancada revelada na presença de outros fazia qualquer adversário concordar comigo. As vezes uma ameaça era necessária, mas as melhores não eram as ameaças físicas, mas revelar a todos aquelas besteiras que quase todos os meninos fazem e têm vergonha. Como fazer xixi na cama.

Quando eu era menino sentia que podia dominar o mundo. Me imaginava como aqueles heróis que dominam qualquer coisa que corra, flutue ou voe. E era bom pensar que eu seria admirado como os heróis que via nos filmes ou que eu imaginava das histórias dos adultos.

Porém, só imaginava os bons feitos: fechar a boca de leões, passar pelo meio do fogo, mandar o sol parar, caminhar em cima das águas, tirar montes do meio do caminho.

Levar bronca pelo erro cometido era para os outros. Vagar pelos desertos era para aquele moleque que me perturbava na classe.

Me assustei uma vez em que leram de Paulo passando fome, frio, açoites e outras dificuldades, pois já sabia de cor como ele fugira em um cesto por uma janela de uma muralha.

Quando eu era menino pensava que tinha a fé mais forte, a família mais perfeita, os melhores amigos e a capacidade de nunca “pisar na bola”.

Pensava que todas as regras e limites eram impostos por quem queria aparecer.

Pensava que não devia respeito a essa cambada de fingidos que “se acham” os bons.

Ah, quando eu era menino ...

Quando eu era menino
falava como menino,
sentia como menino,
Pensava como menino.
Quando cheguei a ser homem,
desisti das coisas próprias de menino. 1Coríntios 13.11

sábado, 22 de outubro de 2005

Rico para com Deus

Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui.

E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo:

O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?

Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus. - Lucas 12.15-21

De modo simples nosso Senhor e Mestre divide-nos conforme a riqueza que possuímos. E, certamente, nos será de grande proveito saber em que grupo ele nos classificou, e esse fazendeiro nos ajudará a entender seus critérios.

A primeira coisa que destaco é que ele já era rico, e ao tomar um rico como exemplo o Senhor está dando a seus ouvintes judeus uma lição que hoje nos escapa, pois para os judeus todos os ricos foram abençoados diretamente por Deus com a riqueza.

A segunda coisa que chama minha atenção é uma espécie de solidão. Ao receber a notícia da boa safra ele "arrazoava consigo mesmo" e decide guardá-la. Ninguém tem acesso a seu 'centro de decisões'. Sobre isso o Senhor adverte: "Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza".

O rico para consigo mesmo pode dizer à sua alma: "tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te". Mas só pode dizer isto! Ele é refém de si próprio. Seu horizonte está limitado a "muitos anos", jamais consegue sequer atinar com a eternidade.

Entretanto a sanção do Senhor vem principalmente de seu comportamento com o que recebeu a mais. E aqui há mais uma característica do que é rico para consigo mesmo: nunca, coisa alguma é suficiente.

Observe que este homem não pode ser acusado de irresponsável ou esbanjador. Pelos padrões atuais ele até que é alguém sensato: não saiu gastando nem aproveitou o "excedente de caixa" para "torrar". Foi previdente e guardou para o futuro. Neste aspecto ele pode servir de exemplo para quem não pode se conter. Porém seu erro foi achar-se o centro e não um dos muitos instrumentos de Deus. Ele perdeu a chance de ser um "cooperador" de ninguém menos que o próprio Deus. É como se ele não tivesse importância ou utilidade para qualquer outra pessoa além de si próprio. Afinal ele era rico apenas para consigo. Não para com Deus.

E você? Em qual grupo Deus o classificou? No grupo dos que são ricos para si próprios? Ou no grupo dos que vêem a riqueza como uma oportunidade de trabalhar com ele?Se pensa que, diferentemente do fazendeiro rico, mal dá para atender suas necessidades, lembre-se de outras palavras do Senhor:

Quem é fiel no pouco
também é fiel no muito;
e quem é injusto no pouco
também é injusto no muito.

Se, pois, não vos tornastes fiéis
na aplicação das riquezas de origem injusta,
quem vos confiará a verdadeira riqueza?

Se não vos tornastes fiéis
na aplicação do alheio,
quem vos dará o que é vosso?

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

Reformemos a Igreja


Quando Martinho Lutero divulgou suas 95 teses o ”ambiente” já estava preparado para recebê-las. Havia uma grande revolta contra as condições impostas pelos governantes, cujo poder derivava de acordos políticos-familiares-religiosos, e já havia um sentimento de nacionalidade.

As famílias mais poderosas e com melhores alianças políticas, unidas ao poder papal, que possuía cerca de um terço das terras européias, determinavam o que queriam. A religião “legitimava” as decisões tomadas. Sob certos aspectos há grande semelhança com o que ocorre hoje em nosso país.

A descoberta chave de Lutero foi a Bíblia. Ele estava sujeito às decisões mais arbitrárias. Alguns queriam-no como professor desde que ensinasse o que lhes era útil. A Igreja o tinha como doutor de verdades ensinadas pela própria Igreja, e, se ele as questionasse recebia como resposta que foi uma “comunicação de Deus diretamente ao Papa” que estabeleceu tal dogma.

A Bíblia o libertou.

Logo ele descobriu que somente as Sagradas Escrituras são a única coisa que deve prevalecer sobre a consciência do Cristão.

E nesse aspecto a semelhança com o que ocorre no meio evangélico brasileiro é maior. Se naqueles dias havia a autoridade papal que falava em nome de Deus, hoje há revelações. Se naqueles dias havia quem se valesse da ignorância de analfabetos para esconder deles as verdades bíblicas, hoje há inescrupulosos que falseiam o sentido das Escrituras e não apenas escondem as mesmas verdades, mas deturpam a autoridade delas.

Naqueles dias havia grupos que sinceramente queriam melhorar o estado da Igreja. Entretanto, não precisavam apenas de uma “injeção de ânimo”, ou como chamamos hoje de avivamento, precisavam de uma Reforma.

E a reforma veio.

Em lugar de palavras de homens, a Bíblia tomou o centro e a preeminência. Em lugar de devaneios místicos a Bíblia passou a ser estudada. Em lugar da emoção gerada pelas grandes solenidades, a pregação sistemática da Palavra de Deus.

Precisamos hoje de outra reforma. Não sou o primeiro a declarar isso. Muitos já o fizeram antes de mim. A Bíblia está cada vez mais escondida. Cada vez mais se escuta “testemunhos”, conselhos baseados no que “aconteceu comigo”. Convites simpáticos, shows impressionantes, e coisas do gênero.

É preciso trazer a Bíblia para o centro.

Que ela afaste os “simpatizantes” e atraia os eleitos, pois ela é a porta que fecha o Reino de Deus aos impenitentes e abre aos que reconhecem a voz do Bom Pastor e vivem por ela.

sexta-feira, 7 de outubro de 2005

Sobre o desarmamento

Nestas últimas semanas diversos irmãos me perguntaram sobre a lei do desarmamento, e alguns até me pediram que falasse sobre ela. Por muitas razões achei melhor escrever.

Quem usa a internet tem visto a enxurrada de textos a favor e contra o desarmamento. Uns se apóiam em estatísticas e condenam o uso de armas. Outros mostram o quanto essas estatísticas estão sendo torcidas.

As mídias de massa, como televisão e rádio, não cessam de repetir o slogan: “Diga não às armas e sim à vida”. Como se quem dissesse sim as armas fosse tacitamente contra a vida. Aliás, já é possível ver certo estigma lançado sobre quem é a favor da venda de armas.

Tenho visto muitos cristãos piedosos dizerem que a bíblica proíbe possuir armas. Acho até compreensível que pensem assim, pois as profecias a respeito da vida futura, falam de transformar as armas em ferramentas agrícolas. Mas, enquanto não chegar esse dia?

Afirmo que não há qualquer texto bíblico que, analisado criteriosamente, proíba ao cristão ter e usar corretamente uma arma. Aliás há muitos que, pelo exemplo ou por ordem direta, obrigam ao discípulo do Senhor a ter e saber usar.

Eu não sei o que, de fato, anima nossa época - pois a mesma tendência pode ser vista em outros países - a banir todas as armas, porém questiono a eficácia desta tendência. Não posso fazê-lo como especialista em segurança ou em qualquer área correlata, mas à luz das Sagradas Escrituras, não podemos tratar a ninguém como livre das más inclinações, o que é um pressuposto do desarmamento.

A única obrigação que as Sagradas Escrituras imputam ao Estado é o da segurança. Examine-as: A família é que deve promover instrução e saúde, diferentemente do que prega o Liberalismo e o Neoliberalismo. O Estado não pode ser onipresente como quer o socialismo e especialmente o comunismo. Entretanto, com esta lei, dentro do âmbito legítimo confiado por Deus ao Estado, ele parte da premissa que já resolveu todos os problemas de segurança e deve desarmar os cidadãos.

A cada argumento levantado é possível levantar também um contra-argumento, menos à Palavra de Deus. Não somos chamados a ser beligerantes, mas pacíficos. Não somos chamados ao uso de armas, mas a proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz. Porém Deus nos deu responsabilidades e uma das principais é nos empenharmos pela vida, mesmo que para isso tenhamos de lançar mão de armas.

“A seguir, Jesus lhes perguntou: Quando vos mandei sem bolsa, sem alforje e sem sandálias, faltou-vos, porventura, alguma coisa? Nada, disseram eles.

Então, lhes disse: Agora, porém, quem tem bolsa, tome-a, como também o alforje; e o que não tem espada, venda a sua capa e compre uma. Pois vos digo que importa que se cumpra em mim o que está escrito: Ele foi contado com os malfeitores. Porque o que a mim se refere está sendo cumprido.

Então, lhe disseram: Senhor, eis aqui duas espadas! Respondeu-lhes: Basta! - Lucas 22.35-28

Votar sim ou não é uma decisão exclusivamente sua. Não se omita, nem deixe que os demais decidam por você. Mas, por favor, não vote favor do desarmamento achando que é uma exigência bíblica, pois não é.