domingo, 26 de fevereiro de 2006

Nós e nosso Pai celeste

Acaso esperamos o consentimento de nosso filho para gerá-lo? Ele teve alguma participação no ato que lhe deu vida? Trabalhou pelo pão enquanto estava no ventre de sua mãe? Fez algum tipo de esforço para vir à luz? Escolheu seu nome? Escolheu seu primeiro alimento?

Porém o recebemos como se ele nos tivesse escolhido. O acolhemos como o maior bem que temos. Abrimos-lhe nossos braços e nosso coração, como se ele não procedesse de nós.

Se nós, que pouco entendemos, pouco sabemos e pouquíssimo podemos, geramos uma nova vida, trazemo-la à luz, estabelecemos uma parte importantíssima de sua personalidade (o nome), o alimentamos de nós mesmos (o leite materno), quanto mais o nosso Pai celeste?


Acaso deixamos de zelar pelo bem estar de nossos filhos? Não cuidamos da saúde deles? Não procuramos livrá-los de más companhias? Não escolhemos o ambiente mais saudável em que eles possam se desenvolver intelectualmente? Não nos empenhamos por livrá-los de más influências? Seríamos maus pais se não fizéssemos isso.

Porém, os exortamos a serem boas pessoas. Os repreendemos quando erram. Castigamos quando insistem no erro. Elogiamos quando acertam. Premiamos quando superam suas próprias expectativas. Seríamos maus pais se não fizéssemos isso também.

Se nós, que não sabemos onde nossa obrigação termina e onde a responsabilidade de nossos filhos começa, agimos assim - pois é o que deve ser feito - quanto mais nosso Pai celeste que a tudo entende, tudo sabe e tudo pode, fará à seus filhos?


Acaso não sabemos quando algo está acontecendo a nossos filhos só de ver o jeito deles? Pequenos, não sabíamos quando estavam doentes? Grandes, eles conseguem, de fato, esconder alguma coisa de nós? Não sabemos, ou, pelo menos, não desconfiamos de suas necessidades?

Mas, esperamos pacientemente que eles tomem a iniciativa de nos procurar. A vitória alcançada lhes será mais saborosa se puderem nos contar com detalhes. A derrota sofrida lhes será mais proveitosa se for acompanhada da humildade de nos confessar o erro e pedir ajuda.

Se nós, que conhecemos em parte, já experimentamos a sublime harmonia entre o que sabemos de nossos filhos e o que eles sabem de si e de nós, quanto mais nosso Pai celeste.


Acaso, dentro de nossos limites, não predestinamos nossos filhos desde o primeiro dia que sabemos de sua existência? Não decidimos o que comer, o que fazer, onde estudar, pensando no futuro deles? Não nos privamos para que nossos filhos tenham um futuro melhor do que nosso presente?

Entretanto, deixamos barato? Não. Absolutamente não! Se estiver fraco na escola, aulas de reforço. Se estiver com a saúde abalada, cuidados. Se for rebelde, castigo. Fazemos seu futuro como se tudo dependesse de nós. Exigimos deles como se tudo dependesse deles.

Se nós, a quem é vedado conhecer o futuro, precavidos, não esperamos os acontecimentos, pelo contrário, procuramos garantir que o futuro seja como planejamos, e, pelo bem de nossos filhos, não nos descuidamos do que eles andam fazendo, quanto mais nosso Pai celeste, para quem o futuro é tão certo como o dia de ontem.

Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti. Is 49.15

Você ainda acha que foi à toa que Deus usou a figura paterna para revelar-se a nós?

Você ainda acha superstição orar o Pai Nosso?
Você conhece melhor maneira de vislumbrar esses mistérios sem pensar em Deus como Pai?

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

E plantou um jardim

Pacientemente o jardineiro cuida do jardim. Apara o gramado, poda as roseiras, limpa os hibiscos, enfim: mantém tudo com aspecto viçoso e cuidado.

Meio jardim, meio pomar, onde as flores das laranjeiras, mangueiras, figueiras e de outras prenunciam frutos saborosos. Em flor ou carregadas de frutos, perfumam, atraem pássaros e alegram a vista.

Ele sabe que não é o primeiro jardineiro a trabalhar ali. Sabe também que o jardim já foi muito mais bonito. Naquela época não havia espinheiros nem ervas daninhas e o primeiro jardineiro só precisava cuidar das plantas. Agora é necessário também, limpar ao redor delas, adubá-las e arrancar os parasitas. A terra também já não é boa como antes.

Tempos atrás outros jardineiros, não conseguiam fazer o que ele faz hoje. Tiravam apenas a subsistência. Mesmo assim a produção mirrada não era suficiente nem para atender as necessidade, nem para alegrar a quem via o jardim.

Nesses dias, o dono do jardim mandou alguns para um lugar fértil. Terra boa. Tanto pasto e tantas flores que parecia até que a própria terra produzia leite e mel.

Apesar de uma preparação de 40 anos no deserto, imposta pelo dono, esperando que valorizassem mais o jardim, eles logo se apaixonaram pela criação de urtigas dos vizinhos. Sentiam saudades dos cactos e não demoraram a cultivar tiriricas e carrapichos.

Não adiantava. Por mais que fossem ensinados a gostar das plantas das quais o dono gostava, eles criam ter o direito, não apenas de ter suas próprias plantações de espinhos, mas de espalhá-las pelo jardim afora. Afinal eram mais fáceis de cuidar: praticamente cresciam sozinhos.

Para recuperar seu jardim, o dono mandou muitos mensageiros que foram odiados e mortos. Por fim, mandou seu filho com objetivo de mudar o pensamento e o gosto desses jardineiros, que, para uma terra tão boa e protegida, traziam o pior que nascia nos desertos e nos locais insalubres.

Porém, quem disse que os jardineiros gostaram da idéia? - Esse local é nosso. Diziam. Vamos plantar aqui o que nossos pais já plantavam e o que nós gostamos de plantar.

Além de não ouvir o filho, resolveram se livrar dele. Afinal, não viam as coisas como o dono via. Não tinham o interesse que o dono tinha. Eram posseiros. Tinham raiva de quem tinha outros planos para aquela terra.

Zangado, o dono chamou os que eram marginalizados pelos posseiros. Mostrou-lhes seu filho. Determinou-lhes que fizessem o que ele faria.

Começaram em umas terrinhas desprezadas: às vezes massapé terrível, às vezes piçarra dura. Mas as plantas preferidas pelo dono vingaram. Cresceram. Floriram. Frutificaram.

É claro que, mesmo entre os que foram mandados pelo dono, havia quem, por costume ou por gosto, levasse sementes ruins, e o jardim que começou tão bem, está hoje cheio de ervas daninhas. Mas as boas plantas estão lá. Só é preciso cuidar delas.


Portanto, pacientemente o novo jardineiro se afadiga com prazer. Ele sabe que não está só. Muitos, como ele também conhecem o gosto do dono e sabem que o jardim não lhes pertence.

sábado, 11 de fevereiro de 2006

O Deus dos cristãos

Há algum tempo atrás surgiu um movimento que visava a convivência, e, se possível, o relacionamento ecumênico entre o cristianismo o judaísmo e islamismo. O argumento principal era que essas três religiões tinham alicerces comuns: eram monoteístas e adoravam o mesmo Deus: o Deus de Abraão.

Até sobre liturgia e prática de culto, onde as diferenças são mais nítidas, foi escrito muitas coisas, tentando mostrar que as diferenças, na realidade, eram apenas aparentes.

Entretanto, como se não bastassem os acontecimentos históricos – que, via de regra, são esquecidos – os mais recentes mostram que, nada há em comum a essas três religiões.


1. O deus dos judeus não é o Deus dos cristãos. Isso pode soar estranho, especialmente por compartilharmos o Antigo testamento, mas é verdade. Os judeus recusaram a “expressão exata do ser de Deus” e fixaram-se no modo como seus estudiosos entendiam a aliança feita com Abraão. Aquele que era, ainda é, e sempre será a expressão exata do Pai, foi bem claro: “quem vê a mim vê o Pai”, “ninguém vem ao Pai senão por mim”. Nele “habita corporalmente a plenitude da divindade”.

Ou seja: O verdadeiro Deus revelou-se em Cristo. Os judeus adoram aquilo que o representou antes da “plenitude dos tempos”. Não que Deus tenha mudado. Mudamos nós! E, capazes de receber sua revelação completa, ele parou de revelar-se como fez no passado dando-se a conhecer através do seu Verbo que a tudo criou e sustenta.

Recusá-lo é recusar a Deus. Rejeitá-lo, ou fazer pouco de seu sacrifício para assumir a nossa natureza afim de dar-se completamente a ser conhecido por nós, é calcar “aos pés o Filho de Deus e profanar o sangue da aliança”.


2. O deus dos Islamitas não é o Deus dos cristãos. Isso é muito mais fácil de provar.

a. Embora tenham como ancestral a Abraão, a palavra de Deus foi clara: “Em Isaque será chamada a tua descendência”.

b. Nos primeiros anos da Igreja Deus já a alertou sobre revelações de anjos, que foi como começou o islamismo: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema”. Gálatas 1.8

c. A exemplo dos judeus, eles também não reconhecem ao Único a quem o Pai deu todo poder no céu e na terra.

d. Finalmente, nesse episódio bizarro das caricaturas, a imagem de quem eles estão defendendo? Alegam que é para não haver idolatria, porém, não é exatamente isso o que está acontecendo?

O verdadeiro Deus nunca escondeu os defeitos de seus mais devotos fiéis. Abraão – conhecido como amigo de Deus, e o pai nações árabes – teve seus pecados expostos. Por que a insistência, já de muito conhecida, em não falar dos erros de Maomé? Não é ao verdadeiro Deus que o Islã adora. É a Maomé!

Nossa Igreja está vendo nesses dias a pessoa e obra de Jesus: que é a expressão exata do ser de Deus e em quem habita corporalmente a plenitude da divindade.

Não deixemos de considerar o que está sendo feito a ele, de como seu nome tem sido vilipendiado em nossos dias e no passado. Verdadeiras monstruosidades foram cometidas em seu nome e ainda são hoje. Não nos envergonhemos de seu nome, mas fujamos de todo aquele que atrai vergonha sobre ele.

Porém nos lembremos sempre: somos Cristãos. Não anunciamos a Abraão, a Maomé, ou mesmo a Adonai dos Judeus. “Nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus”. 1Coríntios 1.23-24.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Novamente: as cercas-vivas

Você se lembra de quando eu escrevi aqui a respeito das cercas vivas que temos em nossas casas? De como a de minha casa foi cortada pelo vizinho? De como elas são úteis para alegrar o ambiente fechado, atrair passarinhos, e dar a privacidade necessária? E, principalmente, de como elas são exemplos da graça de Deus que nos protege?

Pois bem: a minha voltou a crescer.

Hibiscos vermelhos, que impedem a visão intrometida e atraem muitos beija-flores, alegram nossas manhãs. Ainda não chegam a fazer sombra como eu gostaria - especialmente nesses últimos dias em que a inclemência do sol já é sentida bem cedo - mas já alegra a visão de quem olha pra fora.

Além de bondoso, Deus é gentil. Sua bondade estende-se além do alimento que recebemos dia-a-dia e manifesta-se no ar, na água e nas demais coisas que possibilitam nossa vida. Porém sua gentileza é tão grande, que ele enche de cores nossos olhos, de música nossos ouvidos, de aromas nossas narinas, de gostos nossas bocas e de texturas nossas mãos. Não contente em bondosamente nos alimentar ele o faz com a gentileza de acrescentar ao alimento o sabor, a cor e o cheiro. Além da comunicação mútua, ele nos habilita a expressar o belo e a ouvir o que é agradável. Além de ver o que está ao nosso redor, ele mostra-nos arte nessas coisas.

Saboreamos o que comemos, nos deliciamos com as vozes suaves dos amigos e dos pássaros e vemos o verde salpicado de todas as cores possíveis.

De vez em quando, esquecemos de desfrutar desses dons maravilhosos e, como crianças mal-educadas, nos privamos da variedade de sabores, trocamos a harmonia pelo barulho, as cores pela monotonia do cimento cinza e dos muros pichados.

O mais importante é que sua bondade e sua gentileza não têm fim. Elas se renovam. As cercas vivas, mesmo depois de cortadas, voltam a crescer. Além de se renovarem, muitas vezes somos agraciados com o que não esperávamos. No meu caso, além da cerca viva voltar a crescer, nasceu uma trepadeira que logo atingiu a grade da janela e continuou subindo. Tiramos a cortina de dentro, pois ela é uma cortina natural por fora do quarto. Enquanto a cerca viva não cresce o suficiente para fazer sombra, ela faz. Suas folhas de verde profundo coam os raios solares e deixam passar a brisa fresca que vem do rio.

Mas a graça do Senhor não para de crescer. Depois de algum tempo a trepadeira deu flores. É um maracujá. Logo teremos frutos. E as flores, por sua forma e cor, e pela época de floração, já nos lembram da semana santa.

Meus irmãos, não sou membro do partido verde, muito menos milito em qualquer organização ambientalista, gosto da criação do Senhor por muitas razoes, principalmente porque ela grita para mim o quanto ele é amoroso. Não corto cercas vivas: elas nos protegem de muitas coisas e nos lembram a bondade de nosso Deus. Bondade essa que é apenas um respingo da bondade maior estampada na cruz.