sábado, 26 de maio de 2007

Pentecostes: A presença do Bom Pastor

Ao retomar a glória que tinha junto do Pai antes que houvesse mundo, o Senhor assumiu a tarefa de interceder por nós e, como fazia antes - e fez durante os dias de sua carne - retomou também a tarefa de construtor: está preparando-nos lugar.

Porém, não nos deixou órfãos. Pelo contrário, nos enviou seu Espírito que "é sobre todos, age por meio de todos e está em todos", e, portanto, está onipresentemente conosco.

Sua natureza humana, glorificada, está à destra do Pai. Seu Espírito está conosco. E porque seu Espírito está conosco temos o conforto (cum+fortius = com força) de sua presença, lembrando-nos de tudo o que disse, fazendo-nos ver claramente sua vontade, querê-la e realizá-la.

Ele não está ocioso nos céus e tampouco nos deixou ociosos na terra: seu Espírito capacita-nos a trabalhar em prol de seu reino, dando-nos conhecimento, discernimento e disposição necessária para tanto. E o ato inicial desta tarefa aconteceu 10 dias após sua volta aos céus, no dia de Pentecostes.

Naqueles dias precisávamos ser convencidos de que a tarefa que ele nos dera, destinava-se mesmo a todas as nações e que tínhamos condições de realizá-la. A falta dos meios não seria obstáculo, pois ele mesmo supriria. Tudo isso ocorreu de uma só vez.

Todos eram judeus e sabiam que as manifestações do SENHOR sempre eram sinalizadas, sendo o fogo um dos principais sinais que ele usava. Foi assim no Sinai, quando o Tabernáculo foi consagrado, quando o primeiro Sumo-sacerdote (Arão) foi ungido, quando o Templo de Salomão foi dedicado, etc. Nada mais natural, portanto, que ele usasse o mesmo sinal. E usou: sobre cada um apareceu o que Lucas descreveu com as palavras: "línguas como de fogo".

Para deixar claro que a ordem que dera referia-se a todas as nações, o ato seguinte foi capacitá-los – sem quaisquer meios ordinários – a falar idiomas de outros povos. Se desde Babel eles eram um empecilho, agora não eram mais.

Para deixar claro que as condições para cumprir a missão seriam supridas o fogo atestava simbolicamente que o mesmo poder conferido aos agentes da Antiga Aliança estava sendo conferido à cada um deles. Eram, por assim dizer, novos tabernáculos em que o Senhor residiria e novos sacerdotes que conduziriam muitos ao Senhor.

O Pentecostes atesta a vitória e exaltação de Cristo, sua presença conosco, e marca o início da nova formação do povo de Deus, que não está mais adstrito a uma nação, tampouco a um lugar, muito menos a um idioma.

E sua promessa continua: “eis que estou convosco, todos os dias, até a consumação do século”.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Ascensão

Quando o Senhor encarnou-se, assumindo a natureza humana, esvaziou-se de alguns dos atributos que tinha como Deus. Era Deus conosco. Maria, esclarecida do que estava acontecendo pelo anjo Gabriel, soube que desde aquele primeiro momento estava carregando em seu ventre o Filho de Deus.

Os dias, biologicamente determinados, se completaram e Maria entregou à luz um menino. Novamente, os anjos – agora um verdadeiro exército deles – se encarregaram de esclarecer o que estava acontecendo a uns pastores que daquelas redondezas.

Durante trinta anos o Deus-conosco "aprendeu pela obediência" o que era ser descendente de Adão. Como criança foi submisso a seus pais terrenos. Como adolescente foi estudioso das coisas do Pai celeste a ponto de impressionar os terrenos. Como adulto foi construtor, como sempre foi seu Pai celeste e como aprendeu de seu pai terreno.

Trinta e três anos depois o Deus-conosco esvaziou-se ainda mais: morreu. Em vez de um útero aquecido, foi recebido por um túmulo frio. Ambos virgens. Em vez de 9 meses, três dias. Em vez de crescimento físico, espera incorruptível.

Os dias, profeticamente determinados, se completaram, e no primeiro dia da semana, saiu à luz: ressuscitou. Recebeu de volta a vida biológica da qual se esvaziara. E, como aconteceu ao nascer, anjos testemunharam sua ressurreição, esclarecendo a Madalena e a outros discípulos o que estava acontecendo.

Durante quarenta dias, aquele que aprendeu sobre o "reino dos homens" ensinou aos seus a respeito do "Reino dos céus". Então recebeu de volta tudo aquilo de que se esvaziara ao encarnar-se. E, novamente os anjos se encarregaram de explicar o que estava acontecendo enquanto ele ascendia aos céus.

A maldição imposta a Adão e a seus descendentes foi revogada através do novo Adão com novo tipo de descendência: a fé.

Os descendentes do velho Adão nasceram espiritualmente mortos fora do Paraíso de onde ele fora expulso. Os descendentes do novo Adão são aqueles que, espiritualmente ressuscitados, anseiam pela volta, e tem certeza dela, pois afinal o primeiro deles já está lá.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Adorar um homem?

O Senhor escolheu 12 homens, a quem chamou Apóstolos e lhes deu autoridade, sobre muitas coisas. Até sobre reter ou perdoar pecados. Porém, eles nunca se deixaram adorar. Ao contrário, não há uma só narrativa em que alguém tenha tentado fazer isto e eles não o impedissem.

Temos e devemos ter alegria e prazer naqueles que alcançaram maior entendimento e virtude na vida de busca pela semelhança com Cristo. Porém, adorá-los é demais. Servir-se deles, como intercessores junto ao Pai, é o mesmo que vilipendiar quem “é o único mediador entre Deus e os homens”: Jesus Cristo.

Então, baseado em qual argumento, em que silogismo, ou debaixo de qual autoridade - ou qualquer coisa semelhante - um filho de Adão, morto em "delitos e pecados", carecente da graça de Deus e da intermediação de Jesus Cristo, arroga-se a autoridade de declarar que outro filho de Adão, sujeito às mesmas fraquezas e necessidades, deve ser adorado?

A Igreja Católica Romana merece nosso aplauso pela luta aberta que trava contra a prática do aborto, em favor de uma moral sexual mais sadia.

Não podemos concordar com ela que o único papel do sexo seja a procriação, e que, portanto, todos os meios anticoncepcionais devam ser evitados. Devemos evitar, sim, os meios “anti-natais” (que visem o nascimento de um ser, mesmo que ainda seja um pequeno aglomerado de células. Porém, os meios naturais que impeçam a fecundação não são imorais, ou criminosos em si, e, usados com fim legítimo, não devem ser tolhidos.

Entretanto, como é que se luta a favor de uma conscientização clara desses problemas e ao mesmo tempo se incentiva a ingestão de pílulas cujo conteúdo é apenas papel e tinta?

Admira-me a luta em favor do bem. Espanta-me a manutenção da credulidade naquilo que não recebe qualquer apoio das Sagradas Escrituras.

Quando comemoramos 100 anos do presbiterianismo, debaixo de acusações de sermos maus brasileiros, pois não acatávamos as disposições da “igreja mãe”, contou-se muito um hino, que, dirigido ao povo brasileiro instava-se a um arrazoado. Por oportuno, transcrevo abaixo a parte da qual me lembro dele através do canto de minha mãe.


Pobre gente piedosa e sincera
Que não abre seus olhos à luz
Que confunde a massa do trigo
Com o celeste e divino Jesus.

(coro)
Oh! Não confundas a pátria terrestre
Com os fulgores da pátria da fé.
No Brasil quem com fé repele o erro
Brasileiro sincero é que é (bis).

Pobre gente que julga nas mãos
O seu Deus conduzir num andor
Não sabendo que mãos de mortais
Não manejam o céu do Senhor.

domingo, 6 de maio de 2007

Quando o Senhor nos espera na praia

Ontem, a lua já estava alta e não se refletia mais nas águas do Rio doce, mas ainda insistia em vencer a claridade das lâmpadas da rua, me lembrou dos dias narrados na Escritura em que o Senhor, depois de ressuscitado, manifestou-se diversas vezes a seus discípulos.

Sempre tive a impressão que ele só fez isso aos domingos: Às mulheres, que foram ao sepulcro com a intenção de embalsamar seu corpo, manifestou-se logo após ressuscitar. Aos dois que viajavam para Emaús, manifestou-se ainda no mesmo dia. E, João nos informa que era o mesmo dia quando ele apareceu aos demais em uma casa com as portas trancadas. Entretanto Tomé teve de esperar uma semana para vê-lo.

João, dá-nos impressão de ter passado um bom tempo até aquela manhã em que eles foram recebidos na praia pelo Senhor. Isso justificaria melhor a desolação de Pedro: “vou pescar”.
Não creio que Pedro, pescador de profissão, naquela noite estivesse interessado nos peixes, ou no lucro que a venda deles lhe daria, mas em aliviar a angústia de ter negado seu Senhor, ter sido lembrado por ele logo que ressuscitou e já tê-lo visto pelo menos duas vezes sem a liberdade de falar-lhe como falava antes.

A lua cheia de ontem me lembrou que talvez aquela noite tivesse sido assim, pois “noite de lua é boa pra pesca”.

Todos foram com Pedro. Até os que não eram pescadores de profissão: também estavam desolados e uma pescaria sempre faz bem. Mas “naquela noite nada apanharam”.

A lua cheia de ontem também me mostrou outros desolados. Não estavam em um barco no Rio Doce. Vagavam pelas ruas vindo de simulacros de igrejas que prometem todo sucesso material, amoroso e espiritual.

Tal qual aqueles pescadores, passavam a noite (ou parte dela) tentando conseguir algo. Algo que nem eles mesmos sabem o que é, mas que estão certos de reconhecer tão logo tenham.

“Mas, ao clarear da madrugada, estava Jesus na praia”. Porém, nenhum peixe no barco e nenhum peixe nas redes.

Apesar de terem ido pescar apenas pela pescaria, seria bom ter pegado algo: o bom da pescaria não é a recompensa da luta com o peixe depois da espera?

Abençoados: encontram Jesus. Não bastasse, receberam dele a informação certa que os conduziu ao sucesso natural de uma pescaria, que mesmo quando é feita “para espairecer”, causa alegria se coroada de êxito.

Pedro entendeu muito bem o respeito que devia ao Senhor e vestiu-se.

Não bastasse, ao chegarem a praia foram recebidos com o calor de um braseiro, peixes sobre as brasas e pão.

O convite de quem sabe o que é passar uma noite em claro, “vinde, comei”, é completado quando o próprio Senhor lhes serviu pão e peixe.

E Pedro?

Afoito, não desfizera de seus irmãos garantindo que, mesmo se eles negassem ao Senhor, jamais o faria? “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros?”

Afoito, não levara o Senhor à parte para repreendê-lo sobre aquela história de ser morto? “Simão, filho de João, tu me amas?”

Medroso, diante de servos, não havia negado seu Senhor três vezes? “Simão, filho de João, tu me amas?”

De nada adiantou chorar amargamente. De nada adiantou, estressado, ir pescar. De nada adiantou vestir-se diante do Senhor (somos transparentes ao seu olhar). “Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo”.

Não sei se era noite de lua. Talvez fosse. Sei que era época de frio. E naquela noite diversos tipos de frio açoitaram aquele homens. O mais simples deles foi debelado com o braseiro. O outro foi debelado pelo amor e gentileza do Senhor. O pior deles, o que rasgava o coração de Pedro, somente sua Palavra o fez.

Querido irmão: não vague atrás da Palavra do Senhor por esses lugares escusos. Ela não está lá. Tire-a de sua estante. Devore-a com sofreguidão. Encha seu coração com ela. Ela iluminará seus caminhos com claridade maior que a da lua cheia e o aquecerá melhor do que um braseiro.