segunda-feira, 24 de março de 2008

Figueiras folhudas

Uma das parábolas mais conhecidas do Senhor Jesus é a da figueira. Nela, ele nos manda ficar atentos para seus ramos e folhas, pois quando eles se renovam e começam a brotar o verão está próximo.

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Dois ou três dias antes, enquanto Jesus andava pela estrada que ia para Jerusalém uma figueira chamou-lhe a atenção. Renovada, ela estava folhuda. E ele estava com fome.

Diante da possibilidade de encontrar saborosos figos temporãos - ou talvez pela sugestão implícita no nome do lugar: Betfagé (casa dos figos maduros) – ele resolveu buscar alguns.

Decepção: só havia folhas. Castigo: “ninguém mais coma figos de ti”.

E a figueira secou.

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Entrando em Jerusalém dirigiu-se à outra figueira. Figueira da qual todas as demais eram símbolos: o Templo.

Examinou e o viu tão, ou mais, folhudo do que a figueira do caminho. Cheio de atividades. Verdadeira empresa moderna.

Comércio de vitimas para os viajantes de longe que não podiam trazê-las. Comércio de vítimas com pureza cerimonial pré-aprovada para poupar o tempo das filas. Até de pombas que deveriam ser as vítimas dos pobres eram vendidas!

Câmbio para que qualquer valor fosse convertido em moeda local - devia ser flutuante e sujeito às demandas das festas - mas era uma conveniência tão grande, para aqueles dias, como o chips subcutâneos o são nas “mega-churches” de hoje.

A “figueira/templo” estava folhuda mas sem frutos!

Decepção. Só havia aparências. Castigo: chicote, expulsão, imprecação: “a casa de meu Pai é a casa de oração para todos os povos e vocês a transformaram em um covil de ladrões”. Maldição: “Não ficará pedra sobre pedra”.

Anos depois o templo foi arrasado.

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A Parábola da Figueira pode até falar de realidades futuras, mas retrata realidades passadas – duas figueiras folhudas e sem frutos – e nos adverte sobre as realidades presentes: As figueiras de hoje estão mais folhudas do que nunca. Portanto, o verão está às portas. Ai delas se não tiverem os frutos que o Senhor procura nelas.

E, pode estar certo de que, ele não procura por belos conjuntos musicais, muito menos por excelentes artistas ou oradores. Ele também não procura por ouro, obras de arte ou adornos e sim por “amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio”.

sexta-feira, 21 de março de 2008

O Dia da Ressurreição é o Dia da Nova Criação

Como eu poderia deixar de celebrar a ressurreição de meu Senhor? Acaso seria tão ingrato? De forma alguma. Celebrarei sim.

Entretanto me cercarei de cuidados. E o primeiro será dar-lhe exclusividade: não a confundirei com uma data qualquer.

Hoje a moda é celebrar. E, a qualquer pretexto, celebra-se qualquer coisa. Às vezes mais de uma ao mesmo tempo, e algumas até irônicas como, no mesmo dia, celebrar-se o “Dia do Circo”, o “Dia da Escola” e o “Dia do Consumidor”. Terei o cuidado de reservar esse dia com carinho: deleitar-me nele, para usar a expressão do profeta, e não celebrar nenhuma outra coisa.

Dar-lhe-ei também centralidade. Meus compromissos serão organizados a partir dela. Não me aproveitarei dela para fazer outras coisas. Não transformarei o tempo que dediquei a lembrar-me do maior evento com que fui agraciado, em meu dia de lazer.

Como o Apóstolo Paulo apressou sua viagem, não se demorando na Ásia, para poder chegar a Jerusalém a tempo do Pentecostes - que acontecia 50 dias depois da Páscoa - farei todo o possível para organizar meu tempo - até minhas viagens - de modo a estar com os meus queridos na data em que meu Senhor, vencendo a morte, nos deu vida.

Mas não celebrarei supersticiosamente, achando que isso me tornará mais santo.

Não celebrarei vulgarmente, achando que é apenas uma convenção cristã.

Não celebrarei mundanamente achando que tudo se resume a festa.

Celebrarei de joelhos. Não meramente os joelhos externos, mas aqueles outros joelhos que são infinitamente mais difíceis de serem dobrados, já que dependem de um coração contrito, de um orgulho subjugado, e mais do que de tudo dependem de se colocar o ânimo nas mãos furadas de pregos daquele que, antes de ressuscitar, morreu a mais infame e vergonhosa de todas as mortes: a morte de cruz.

Celebrarei a nova criação! O evento que Adão e Eva não souberam aproveitar. Celebrarei ter recebido o que eles teriam ganhado se tivessem obedecido ao Senhor. E que eu ganhei porque o Senhor o obedeceu por mim.

Tenho muitos motivos para celebrar!, Celebrarei sim.

sábado, 15 de março de 2008

Entradas em Jerusalém

Quase setecentos anos antes de Jesus entrar em Jerusalém, montado em um jumento, os príncipes de Nabucodonozor também entraram: em montarias de guerra.

Dois anos antes eles haviam cercado Jerusalém, e, como registrou o cronista sagrado, levantaram tranqueiras ao seu redor. Por dois anos Jerusalém suportou falta de alimentos - felizmente havia um fonte dentro dos muros - mas ninguém podia sair da cidade.

Pacientes, os babilônios trabalharam até abrir uma brecha na muralha. Abriram e puseram em fuga todos os “homens de guerra”, que logo foram alcançados e desbaratados: o rei Zedequias foi preso com sua família.

Vingativos, os babilônios mataram a todos os príncipes e a família de Zedequias. Depois furaram seus olhos. A última coisa que ele viu foi sua corte e seus queridos serem mortos.

O profeta Jeremias estava lá. As ordens do rei da Babilônia eram claras: ele deveria ser protegido. Há muito tempo ele tinha falado que a única esperança para Israel era sofrer o cativeiro, e, desde então ele foi tido por traidor, e seu próprio povo tentou matá-lo.

O que era claro para Jeremias é que não se pode fugir do castigo de Deus. O melhor que se pode fazer é recebê-lo: “por a boca ao pó”!

Hoje nos lembramos do dia em que Jesus entrou em Jerusalém. Ele não teve de cercá-la, nem de abrir uma brecha em seus muros - nem cegar suas autoridades, pois elas estavam duplamente cegas - pelo contrário: foi recebido com gritos de alegria, palmas, ramos e roupas forrando o chão em que sua humilde cavalgadura passava.

Entretanto, ao ver a cidade de longe, diferentemente dos Babilônios, chorou de compaixão e lamentou: “Ah! Se conheceras por ti mesma, ainda hoje, o que é devido à paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos. Pois sobre ti virão dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras e, por todos os lados, te apertarão o cerco; e te arrasarão e aos teus filhos dentro de ti; não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste a oportunidade da tua visitação” (Lc 19.42-44).

A situação de Jerusalém então era pior. Por um capricho, deram a João Batista um fim pior do que o de Jeremias, e agora recebiam o Filho de Deus, sem reconhecê-lo como tal. Recebiam-no como se fosse alguém um líder contra os Romanos.

Há certa semelhança com o que está acontecendo em nossos dias: Jesus tem sido recebido até com aplausos e festas, porém nunca como deveria ser. Às vezes o honram com títulos tolos, como o maior psicólogo, mestre, líder, etc. do mundo, porém nunca como o verdadeiro Deus em quem habita corporalmente a plenitude da divindade.

Hoje as palmas e as roupas que estendem por seu caminho são bajulações grosseiras e falta de respeito (para dizer pouco). Entretanto ele continua apresentando-se humilde como quem cavalga um animal de carga.

Ainda é tempo de reconciliação. O senhor ainda pode ser achado. Ainda está perto.

Não perca a oportunidade de buscá-lo.

segunda-feira, 10 de março de 2008

No tempo de Deus

Ontem à noite tentei ver a lua, mas apesar do céu limpo, todo estrelado, não consegui. Por esses dias ela deve apresentar-se em quarto crescente.

À época de Jesus esse era o sinal para que o maior turno de sacerdotes começasse os preparativos para subir à Jerusalém.

Deixavam seus afazeres com parentes ou vizinhos e se preparavam para passar um mês morando nas dependências do templo, comendo apenas do que era consagrado - carne, produtos de trigo e vinho - e para uma rotina altamente elaborada e repetitiva.

Este turno era o mais ‘sanguinário’, pois além de ter de fazer tudo o que os demais turnos faziam (as ofertas contínuas, que consistiam no sacrifício de 2 cordeiros por dia, 4 aos sábados, e 2 touros, 7 cordeiros e 1 cabra às luas novas e todos numerosos sacrifícios que qualquer israelita trouxesse ao altar), lhes cabia imolar os muitos cordeiros pascais: milhares!

Entretanto não sabiam que no turno deles o verdadeiro Cordeiro Pascal seria imolado. Não no templo nem diretamente por eles, mas como realização do antítipo com que se afadigariam durante aquele mês.

Nas dependências do templo, enquanto eles examinavam os sinais de pureza, que qualificavam um cordeiro para o sacrifício, verificando atentamente seu corpo, os representantes de todo Israel, reunido o Sinédrio, presidido pelo príncipe dos sacerdotes, valendo-se de tortura, e testemunhas falsas, examinava os “sinais de culpa”, que qualificariam o verdadeiro cordeiro para a morte.

Fora do templo, em ironia ímpar, entregaram a verdadeira vítima a “gentios”, e longe do altar consagrado, a cruz consagrou os que “não eram povo” e a terra que não era santa.

Cumpriu-se então: “os reinos desse mundo tornaram-se do Senhor e do seu Cristo”.

Logo o crescente será substituído pela lua nova (a que hoje chamamos de cheia). Quando ela estiver brilhante lembre-se de que nesta noite, há muitos anos atrás o Senhor foi traído.

Traído não apenas por Judas, nem apenas pelos demais apóstolos que fugiram, mas por toda uma nação tirada “de um amortecido”, e mantida com a “mão forte e o braço estendido” do mesmo que substituiu o filho de Abrão pelo seu.

Nação que ano após ano, século após século, sacrificando tantas vítimas, estava suficientemente avisada sobre o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.

Lembre-se também que sob a luz daquela lua, de certa forma o traímos também. Afinal os meus pecados, os seus e de todos aqueles a quem Deus chamou foram imputados a seu Filho e por ele fomos reconciliados com o Pai.

Essa é a boa nova!

sábado, 1 de março de 2008

"Antes o seu prazer está na lei do Senhor" - 2ª Tábua

Por puro prazer honre aos que Deus usou para lhe trazer à existência, e que, desde os primeiros dias - como o próprio Deus faz - se deram para que você vivesse.

Seu pai, além de semeá-lo, garantiu a estabilidade ambiente desdobrando-se em cuidados. Sua mãe, além de germiná-lo, encubou-o, formou-o e foi sua primeira morada. Alimentou-lhe de si mesma e, com dores, lhe trouxe à luz. Em seu regaço lhe aconchegou.

Por meio deles Deus lhe deu à vida biológica. Pelos seus ensinos e aliança lhe agraciou com a vida espiritual: prenúncio da vida eterna.

Por puro prazer honre seu pai e sua mãe.

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Por puro prazer empenhe-se pela vida. Não apenas pela vida biológica, mas também pela vida moral e espiritual.

Sabendo que algo, ou alguma prática, a prejudica ou mata, lute contra, ou, pelo menos, evite. Quem polui o ar, a água e o alimento, que sustentam a vida biológica, ou a ética, que alimenta a vida moral, ou o temor a Deus, que alimenta a vida espiritual, é tão assassino quanto quem, armado ou não, mata seu próximo.

Por puro prazer não mate a seu próximo nem a si mesmo.

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Por puro prazer jamais deixe de considerar que uma das mais profundas influências sobre todas as pessoas, inclusive sobre você, deve ser expressão de sua submissão a Deus.

Ao criar ele mesmo determinou que o sexo deve estar sob domínio individual, social e espiritual. Individualmente ele é expresso por órgãos biológicos especializados. Socialmente ele expressa-se com o testemunho da sociedade em que o casal passará a ter novos papéis. Espiritualmente ele é conforto para as almas dos cônjuges e um meio de expansão da família da aliança.

Por puro prazer não cometa adultério contra você mesmo nem contra seu cônjuge.

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Por puro prazer aprecie e contente-se com o modo divino de distribuição das riquezas materiais, intelectuais e espirituais sob sua administração ou de seu próximo.

Tomá-las é ir contra vontade de Deus. Concordar, ou calar-se diante de quem as toma, ou se vale de meios ilícitos para que elas cheguem a si, ou as falsifica, é o mesmo que ir contra suas deliberações.

Cada um prestará contas daquilo que Deus colocou sob sua guarda. Das capacidades e riquezas que recebeu e das que, estando sob a guarda de seu próximo, foram obtidas com fraude.

Por puro prazer não furte a si mesmo nem ao seu próximo.

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Por puro prazer empenhe-se pela verdade. Seja nas matérias, nos dizeres, ou nos projetos.

Não viva de aparências. Não omita ou aumente a verdade, nem crie expectativas falsas. Resolva tudo o que lhe foi confiado.

A mentira envolve o furto o adultério e o assassinato. Furta-se a verdade. Adultera-se a realidade. Assassina-se as expectativas e a boa fé do próximo.

Por puro prazer não diga falso testemunho: não minta.

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Por puro prazer alegre-se com a prosperidade de seu próximo. Empenhe-se para que ele e você desfrutem das bênçãos divinas.

Entristeça-se por ver seu próximo sem o que comer ou vestir, ou sem moradia, mas transforme essa tristeza em atitudes práticas conforme os poderes, e as capacidades com que Deus lhe agraciou.

Por puro prazer não cobice o que está sob a guarda de seu próximo.

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Por puro prazer use a Lei do Senhor como o guia de sua vida. E ao amar sua Lei você estará também amando o Autor dela. Ame de todas as suas forças e de toda sua alma. Mas ame também de todo seu entendimento.

Tenha por certo que enquanto você não honrar quem está junto de você - seu pai e sua mãe - jamais conseguirá, sequer, atinar com o bem de quem está tão distante que só é alcançado pela cobiça.

E lembre-se das palavras de nosso Mestre e Senhor: "O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo".