sábado, 29 de agosto de 2009

Nosso desafio centenário

... em nada considero a vida
preciosa para mim mesmo,
contanto que complete a minha carreira
e o ministério que recebi do Senhor Jesus
para testemunhar o evangelho da graça de Deus.
Atos 20:24

Neste fim de semana estamos alegres por relembrar que quinhentos anos atrás nasceu um homem que teve a coragem, de bradar bem alto: Deus é soberano! Conformemo-nos com isso ou continuemos lutando contra ele. Era João Calvino. Não poupou esforços e enfrentou os mais diversos empecilhos para praticar esta verdade, mas não se dobrou diante do deus deste mundo.

Da mesma forma por que, há cento e cinqüenta anos, chegou ao Brasil um jovem de vinte e seis anos que deixara o conforto de seu país trouxe-nos a Palavra de Deus. Morreu aqui poucos anos depois, mas deixou plantado e frutificando o santo Evangelho, o qual, até então estava limitado a colônias de imigrantes, e, no restante de nosso país semeava-se algo que de Evangelho tinha muito pouco ou quase nada.

Igualmente, por que cem anos atrás o Rev. Manoel Alves de Brito, enviado pela Igreja Presbiteriana de Alto Jequitibá, recebeu por profissão de fé e batismo os primeiros crentes no senhor Jesus Cristo em Dom Cavati.

Hoje, agradecemos a Deus, e nos desafiamos a continuar proclamando que o Senhor é soberano sobre todos nós e concede a oportunidade aos que ainda estão rebelados contra sua vontade de reconciliarem-se com ele mesmo mediante o sacrifício de seu Filho na Cruz.

Em uma cultura que vende o santo Evangelho como um produto qualquer, nosso maior desafio é permanecer fiéis aos valores ordenados por Deus, pois ele ainda tem muitos escolhidos que não ouviram de sua graça e a “fé vem pelo ouvir”.

É com tal certeza que recebemos entre nós o Rev. Samuel Gueiros Vitalino, que, no canto da seara do Senhor, a que chamamos de Estado do Piauí, também se afadiga nesta mesma missão. Entretanto, perto de nós há lugares tão carentes do santo Evangelho quanto o sertão.

Como esses homens, e como o apóstolo Paulo, autor das palavras que encabeça este texto, nunca deixemos que a tranqüilidade de uma vida pacata nos impeça de cumprir as ordens de nosso Senhor Jesus e testemunhar o evangelho da graça de Deus.

sábado, 22 de agosto de 2009

Quando as circunstâncias falam mais alto do que as convicções

Esta semana vimos uma decisão de nossos governantes na qual as circunstâncias calaram as convicções. E as circunstâncias, que obrigaram tão excelentes senhores, não foram de vida ou de morte, mas apenas a manutenção do poder: para, não perderem o mando, mandaram às favas suas convicções decantadas ao longo de anos.

Para mim, que sequer sou adepto do ideário esquerdista, foi triste ver alguns desses homens, cuja imagem sempre me trouxe algum tipo de respeito, dizer que foram forçados a fazer o que lhes foi mandado.

Já vi casos semelhantes. Alguns por motivos maiores e outros por motivos menores, até risíveis.

Dentre os de motivos maiores, lembro-me de uma jovem mãe desesperada com o estado terminal de seu filho, pedindo ajuda de Deus ou do Diabo, aos gritos: - Ouviu pastor? Ouviu Siqueira? Siqueira era o presbítero que me acompanhava horrorizado. - Podem dizer ao Conselho: Faço qualquer coisa pra que meu filho não morra!

Dentre os menores, lembro-me de um ancião que passou a freqüentar um terreiro de candomblé, a fim de fazer um trabalho poderoso, para que seu inquilino, de quem ficou aborrecido, saísse do quarto e sala, sem ter de pagar multa.

Acho que não consigo fazer uma lista do que se poderia chamar “motivação maior”. Mas já possuímos em nossas leis certo abrandamento para quem rouba com fins de se alimentar, ou para quem mata em legítima defesa. E desconheço um condenado por palavras de desespero como as daquela mãe.

Sobre o ancião que passou a freqüentar o terreiro de candomblé, não o vi mais e não sei que rumo tomou, pois era meu último mês naquela igreja.

Mas, voltando ao abandono de convicções diante das circunstâncias, repare que isso está arraigado em nossa cultura. Não é isso que faz um estudante que cola na prova? Não está abandonando uma convicção (ser honesto é bom) diante da ameaça de ser reprovado?

Igualmente quem abandona o ideal da castidade, para evitar as chacotas. Ou se esquece “da mulher de sua mocidade”, como brada o profeta do Altíssimo, em busca de novos prazeres?

Não faz o mesmo o ancião encanecido por Deus, que não “dá-se ao respeito”, para ser admirado pelo espírito jovial?

Acaso é diferente a autoridade que prevarica no uso da espada, da qual é ministro sob Deus, por medo ou por outras ambições?

Diante de um quadro tão terrível, o que me mete mais medo é ver uma Igreja deixar de lado a maior de todas as convicções dos cristãos sinceros: “amarás ao Senhor teu Deus, de todo o teu coração de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento” e, com o objetivo de arrebanhar mais fiéis, abraçar os valores do mundo.

Não seja esse nosso destino.

domingo, 16 de agosto de 2009

Na casa do Pai

Nos tempos do Antigo Testamento nossos pais referiam-se a Deus por diversas formas, como Senhor, Senhor dos Exércitos, Eterno, ou outros tantos nomes, Jesus o fez principalmente chamando-o de Pai. Chegou a ordenar a seus discípulos que orassem chamando-o assim. E dentre as palavras que poderia usar escolheu a que uma criança usa para chamar seu pai. Provavelmente a que ele mesmo usou com José.

Porém, é digno de nota que ele tenha se referido também à “Casa do Pai”. Duas vezes ele usa essa expressão para referir-se ao templo: aos doze anos e ao purificá-lo. Mas, também serviu-se dela para falar de realidades maiores.

Ao despedir-se dos seus, ele garantiu que na Casa do Pai havia muitas moradas e ele ia adiante deles preparar-lhes lugar.

Para o Filho Pródigo a Casa do Pai era o lugar em que os servos tinham pão com fartura. Entretanto na própria parábola o Senhor Jesus a descreve mais generosamente: era lugar de alegria.

Lá o filho era aguardado com festa e com muito mais de tudo aquilo que despendera prodigamente. Mas, repare bem na própria Parábola: na Casa do Pai há certos procedimentos que devem ser observados.

As roupas que ele levou, e as dissipou, na Casa do Pai são necessárias para cobrir a nudez que um mero pano não consegue cobrir. Por isso são providenciadas pelo próprio Pai.

Na Casa do Pai o anel e os calçados certificam reabilitação filial. Com o anel ele está credenciado a assinar pelo pai. Calçado, ele jamais será confundido com um simples trabalhador - os quais têm pão com fartura - mas fica claro que ele também é Senhor.

Na Casa do Pai vestir-se é mais do que obediência a etiqueta. Sinaliza que o filho assumiu as obrigações decorrentes da filiação, mesmo que aos olhos de muitos tais obrigações pareçam ostentação, elas existem para a glória do Dono da Casa e seus filhos se comprazem, mesmo indignos delas, em recebê-las e usá-las.

Mas na Casa do Pai, não há lugar para picuinhas entre irmãos. O irmão, mesmo mais velho, que recusa a alegrar-se com a graça e misericórdia do Pai, ofende-lhe tanto quanto aquele que o considerou morto e lhe voltou as costas.

Portanto, na Casa do Pai, há certas normas de conduta. Há um modo de se viver lá. E esse é o sentido primário de ethos: palavra grega da qual deriva-se a nossa palavra ética, que poderia ser traduzida por “conforme os costumes da casa”. No caso da família que, tanto no céu quanto na terra, toma o nome do Pai Altíssimo, a ética de sua Casa. A ética vivida por seu Filho Unigênito. Ou seja: a Ética Cristã.

Em síntese: Na Casa do Pai, o filho é motivo de alegria e festa, mas não se faz o que se quer. Quem mora na Casa do Pai tem de seguir as normas que foram estabelecidas pelo Pai. Tanto as que regulamentam o comportamento em relação a Ele próprio, quanto o comportamento em relação aos irmãos, que nela também moram.

Aqui fica clara a diferença entre a ética cristã, muito mais estreita, pois revela a vontade do Pai para com seus filhos da ética comum, que para muitos não passa de normas convenientes ao bom viver.

Na Casa do Pai há muitas moradas, mas todas são regidas pela vontade do Pai.

domingo, 9 de agosto de 2009

Qual é a principal obrigação de um pai para com seu filho?

- Qual é a principal obrigação do pai para com seu filho? Foi a pergunta de uma amiga a todos nós que, falávamos sobre as dificuldades que tem para educar um filho nos dias de hoje.

É claro que uma pergunta dessas não pode ser respondida de pronto. Especialmente se ainda não pensamos nela. Mas é uma excelente pergunta para dar início a uma boa discussão sobre o papel daquele que homenageamos hoje.

Nesta mesma época do ano passado eu escrevi aqui sobre o privilégio da paternidade. Especialmente considerando o fato de que Deus a usa para falar de si. Ou seja: Deus se revela como um pai.

Certamente temos de entender que tal revelação não é exaustiva. Não explica tudo o que Deus é. Entretanto nos é a mais apropriada para que compreendamos o nosso relacionamento com ele e relacionamento dele conosco.

Ele é nosso pai.

Pai de todos por criação e pai dos remidos por adoção. Ou seja: há um “afunilamento” no conceito de paternidade de Deus, que se estreita ainda mais quando consideramos o modo como ele é pai de nosso senhor Jesus Cristo.

O que ele espera, como pai de todas as criaturas, é semelhante ao que um pai espera de seus filhos: obediência filial. Não a obediência implacável, embora inteligente de um soldado, nem a obediência automática das máquinas, mas a obediência amorosa de alguém que o louva com seus atos.

O que ele espera, como pai dos remidos, é que, cada vez mais, pareçamos com seu Filho Unigênito. Não apenas no nome, mas nos atos; no esvaziar-nos de nós mesmos; no assumirmos em nossa mão direita e em nossas frontes - ou seja: no agir e no pensar - a semelhança e os valores que orientaram a vida que seu filho levou entre nós.

O que é que nós esperamos, como pais Cristãos, de nossos filhos? A resposta será a mesma que teremos de dar a pergunta daquela amiga a que me referi no início desse texto, pois nossos filhos dependem de nós para serem o que devem ser. Em outras palavras: temos, para com nossos filhos, a obrigação de os tornarmos aquilo que esperamos deles.

Nossa hesitação em responder deveu-se exatamente a não havermos pensado antecipadamente no que esperávamos de nossos filhos.

Às vezes esperamos deles que sejam bons profissionais, bons cidadãos, bons esposos ou bons pais. É pouco! Devemos esperar que sejam bons Cristãos. Se forem bons cristãos serão tudo o que foi listado e ainda mais.

Então qual é a principal obrigação do pai para com seu filho? Eu não teria palavras melhores do que as dela: Nossa principal obrigação para com nossos filhos é mostrar o quanto eles são pecadores e o quanto precisam da graça de Deus revelada em Cristo.

Esta noite concluí que antes de tudo um pai é um evangelista (ou um missionário, como quiser) e seu campo de trabalho está bem determinado: seus filhos.

Feliz Dia dos Pais!

domingo, 2 de agosto de 2009

Encontros com Jesus

Você já notou quantos encontros com Jesus foram registrados nos Evangelhos? Já parou para pensar em cada um deles? Se o fez, deve ter percebido como foram diferentes entre si.

Deixando de lado, Simeão, Ana, os magos e os doutores que o encontraram ainda infante, o primeiro registro dos Evangelhos é o encontro com João Batista, que o identifica como Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Entretanto, o que mais me atrai é pensar naqueles em que, diferentemente de João, as pessoas com quem ele se encontrou não tinham idéia de quem ele realmente era, nem de sua verdadeira missão.

O que falar daquele leproso que o adorando confessou “Senhor, se quiseres, podes purificar-me” e foi curado ao simples toque de sua bendita mão?

Além da doença que lhe afligia não há qualquer informação sobre ele. Mas o gesto do Senhor em tocar num leproso era inusitado. Nenhum Judeu faria isso, pois ficaria impuro para as cerimônias religiosas. Nosso Senhor o fez. Fez por ele e fez por nós. Fez-se impuro pelos seus, que, impuros, não podiam ter acesso ao Pai.

O quase encontro com o centurião de Cafarnaum, que, ao saber que ele viria a sua casa curar seu servo, mandou-lhe dizer não ser digno de receber sua visita; bastava que ordenasse e o servo ficaria bom.

Neste caso as informações não são sobre o Senhor e sim sobre o centurião. O centurião era um soldado romano, portanto um dos líderes da força de ocupação que subjugava Israel, mas era compassivo ao ponto de preocupar-se com seu servo. Era humilde ao ponto de reconhecer sua indignidade. E possuía a maior fé que qualquer um de Israel: isso foi atestado pelo Senhor.

Agora compare o encontro que ele teve com um príncipe, com o encontro que teve com uma adúltera: Nicodemos e a anônima do capítulo oito do Evangelho de João.

Nicodemos evita a pecha popular cobrindo-se com o manto da noite. A mulher é arrastada a sua presença diante de todos flagrada em adultério (mas o homem com quem foi flagrada não é trazido).

Nicodemos inicia a conversa, tentando ocultar sua real dúvida com elogios ao Senhor. A mulher só fala uma frase respondendo a pergunta do Senhor.

Jesus vai direto ao ponto que afligia Nicodemos afirmando que ele precisava “nascer de novo”, e compadecido da mulher demonstra que nenhum dos presentes estava isento de pecado.

Hoje provavelmente trataríamos Nicodemos com a deferência devida a um mestre, e advertiríamos a mulher da necessidade de nascer de novo. Afinal, não dizemos que fulano é bom pai, bom marido, tem excelente reputação, “só falta ser crente”? Não cumulamos de condenação pessoas flagrantemente depravadas?

O Senhor também condenava o pecado. Condenava veementemente. Entretanto, como conhecia o coração, sabia quem era “mais pecador” e a dose de repreensão que cada um poderia suportar. O profeta Isaías declarou que uma de suas características era não desprezar as pequenas qualidades dizendo que ele “não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega” (Is 42.3).

Nicodemos era um mestre em Israel. Tinha a obrigação de conhecer a necessidade de uma regeneração: um novo nascimento. A pobre mulher, humilhada, vilipendiada, por experiência própria - atestada pelo comportamento do Senhor - já sabia que precisava disso, por isso o Senhor apenas ordena “... vai e não peques mais” (Jo 8.11).