sábado, 26 de janeiro de 2013

A Bíblia em Português (parte 2)

Era meu plano abordar hoje o texto fonte da tradução, entretanto, como surgiram algumas dúvidas e foram feitas algumas observações, vi que ainda precisava esclarecer um ponto: a capacidade de comunicação. Afinal nossa Confissão de Fé exige dos textos originais: “... têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela paciência e conforto das Escrituras”(CFW I viii).

Estou ciente de que falar de traduções a partir de um trecho tão pequeno é temerário, porém não pretendo fazer um tratado. Apenas chamar sua atenção.

1ª - Revista e Corrigida: Apresenta a Bíblia em linguagem erudita, com frases próprias de uma geração acima dos 50 anos e culta. Veja como exemplo o Salmo 32.1-4: Masquil de Davi - Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. 2 Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano. 3 Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. 4 Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. (Selá). O gênero literário é apenas transliterado (Masquil). A ambiguidade de “todo dia” é resolvido com “em todo o dia”. A palavra “humor” expressa a visão antiga dos quatro líquidos reguladores (sangue, fleuma e as duas bílis), pois a palavra original fala de algo como “umidade interna” que certamente contrasta com sequidão de estio. A marcação de tempo (Selá), que orientava o canto, foi só transliterado.

2ª - Revista e Atualizada: Também apresenta uma linguagem culta, porém mais acessível, com frases mais diretas. Veja o mesmo exemplo: De Davi. Salmo didático - Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. 2 Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade e em cujo espírito não há dolo. 3 Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. 4 Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio. O título foi interpretado, provavelmente com acerto, pois os demais salmos intitulados Masquil tem um forte apelo didático. Observe o que é equivalência dinâmica, que é usada apenas na primeira parte do verso: traduzem a tal humidade por “vigor”, mas obviamente demandaria “ficou sem alento”, pra ser coerente. A marcação musical sumiu.

3ª - Corrigida Fiel: De modo geral, até aqui, no que concerne a forma, o mesmo que foi dito da Corrigida pode ser dito da Corrigida Fiel, e o Salmo 32.1-4 é um bom exemplo para ambas.

4ª - Contemporânea: Preservaram a mesma estrutura frasal da Corrigida, apesar de declararem procurar evitar “arcaísmos”. Veja o mesmo exemplo: Um masquil de Davi. Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. 2 Bem-aventurado a quem o Senhor não atribui pecado, em cujo espírito não há engano. 3 Enquanto me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido o dia todo. 4 Pois de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. (selá). Observe o artigo indefinido “um” antes de Masquil. A troca de “imputa” pelo mais claro “atribui”. A substituição de “todo o dia” pelo menos ambíguo “dia todo” e de “porque” por “pois”. Incoerentemente mantém “bramido”. Ou seja: é mais uma revisão do que propriamente uma tradução.

5ª - Século XXI: Buscaram uma fraseologia direta com palavras mais compreensíveis: Masquil de Davi. Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada e cujo pecado é coberto! 2 Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui culpa e em quem não há engano! 3 Enquanto me calei, meus ossos se consumiam de tanto gemer o dia todo. 4 Porque tua mão pesava sobre mim de dia e de noite; meu vigor se esgotou como no calor da seca. [Interlúdio]. É mais parecida com a Corrigida. O gênero literário foi transliterado. Manteve-se “transgressão”, entretanto usou-se “culpa”. Assimilou-se espírito por pessoa através do pronome “quem”. Envelhecer foi substituído por “consumir” e manteve-se o menos ambíguo “dia todo”. O “calor da seca” que exaure as forças dos animais, tornou-se o paralelo para explicar como o vigor foi esgotado. A marca de tempo traduzida por interlúdio transmite a impressão de um tempo maior do que uma simples pausa.

Outros textos:

6ª - NVI: Tem frases mais simples: Davídico. Poema. Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados! 2 Como é feliz aquele a quem o SENHOR não atribui culpa e em quem não há hipocrisia! 3 Enquanto eu mantinha escondidos os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer. 4 Pois dia e noite a tua mão pesava sobre mim; minhas forças foram-se esgotando como em tempo de seca. Pausa. Com “Davídico” se dá suporte a corrente hermenêutica que defende a teoria de que “os Salmos atribuídos a Davi não foram necessariamente escritos por ele, mas ao estilo dele”. Isso, no mínimo, coloca em dúvida as palavras do Senhor Jesus que formulou doutrina em cima do título do Salmo 110. Poema, também não faz justiça à complexa classificação de gênero literário da poesia hebraica. De resto, prefiro a coerência intrínseca dos termos escolhidos. Inclusive “Pausa”.

Porém, há algo fora do salmo que deve ser objeto de alerta: O uso dos pronomes. Veja: Gn 15.2-5: Mas Abrão perguntou: “Ó Soberano SENHOR, que me darás, se continuo sem filhos e o herdeiro do que possuo é Eliézer de Damasco?”E acrescentou: “Tu não me deste filho algum! Um servo da minha casa será o meu herdeiro!”Então o SENHOR deu-lhe a seguinte resposta: “Seu herdeiro não será esse. Um filho gerado por você mesmo será o seu herdeiro”. Levando-o para fora da tenda, disse-lhe: “Olhe para o céu e conte as estrelas, se é que pode contá-las”. E prosseguiu: “Assim será a sua descendência”. Percebeu? Em um diálogo, Abraão dirige-se a Deus chamando-lhe de “tu” (2ª pessoa do singular) e Deus lhe responde chamando-lhe de você (3ª pessoa do plural funcionando como 3ª pessoa do singular). Sei que é um esforço para que o texto fique mais próximo da língua do dia-a-dia. Mas além de perder o estilo próprio da Bíblia cria ambiguidades e introduz essa marcação pronominal estranha ao texto.

7ª - Linguagem de Hoje: O objetivo dessa tradução era uma linguagem acessível a qualquer pessoa alfabetizada, com um mínimo de capacidade de interpretação de um texto. Entretanto, além da precisão ficar prejudicada, muitas palavras precisaram ser mantidas a ponto de se ter um glossário ao final. As frases são simples: [Poesia de Davi.] Feliz aquele cujas maldades Deus perdoa e cujos pecados ele apaga! 2 Feliz aquele que o SENHOR Deus não acusa de fazer coisas más e que não age com falsidade! 3 Enquanto não confessei o meu pecado, eu me cansava, chorando o dia inteiro. 4 De dia e de noite, tu me castigaste, ó Deus, e as minhas forças se acabaram como o sereno que seca no calor do verão. Se “Poemas” era genérico, “poesia” é pior. Agora observe que não há qualquer preocupação com a precisão dos termos: transgressão/ iniquidade, ou imputação/atribuição, são traduzidos simplesmente maldades/pecados e perdoar/apagar. No v2 aparece alguma coisa no verbo “acusar”, mas o conteúdo é diluído em “coisas más” e “falsidades”. No v3 o terrível “envelheceram meus ossos” foi substituído pelo ameno “me cansava”. E no v4 se introduziu algo totalmente extra texto: “sereno”. Sumiu, como na Atualizada, a marca de pausa.

8ª - Bíblia Viva e A Mensagem: Não creio que valha a pena usá-las para outra coisa que não seja estudos pessoais. As explicações que elas demandam são tantas que é melhor gastar um pouco de tempo ensinando palavras novas aos leitores.

O que fica disso tudo? Como pastor sou obrigado, por minha consciência e pelo juramento confessional a apresentar ao rebanho que Deus me confiou a melhor tradução das Escrituras Sagradas. Qual é a melhor? Eu gostaria muito que todas as minhas ovelhas possuíssem erudição suficiente para entender o português das Corrigidas, mas me contento com a Atualizada e cada dia sinto mais simpatia pela Século XXI. Lamento que nossa Casa Editora não tenha em seu catálogo uma versão fácil de ler e fiel de conteúdo.

sábado, 19 de janeiro de 2013

A Bíblia em Português

Você já percebeu como é difícil escolher uma Bíblia com tantas opções de formato e cor? Agora, já procurou uma não “de afinidade” (do executivo, da mulher, do adolescente, de promessas, etc) ou de estudos? Recentemente, tive de encomendar. Porém, por traz disso, há um problema maior: a tradução.

No Brasil encontramos, com facilidade, pelo menos 9 versões protestantes da Bíblia. Almeida Revista e Corrigida, Almeida Revista e Corrigida Fiel, Almeida Revista e Atualizada, Almeida Século XXI, Almeida Edição Contemporânea, Nova Versão Internacional, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, Bíblia Viva e A Mensagem (teremos outro tanto se considerarmos as versões Católicas Romanas).

A primeira tradução da Bíblia para o Português é creditada a João Ferreira d’Almeida que publicou o Novo Testamento em 1693 e em 1748 Jacobus op den Akker completou o que ele deixou pronto do Antigo Testamento. Porém, antes dele, há conhecimento de diversas porções da Bíblia (como a Bíblia de D. Dinis (1261-1325), que continha os 20 primeiros capítulos do Gênesis e foi traduzida da Vulgata Latina). Depois de Almeida muitos tentaram fazer o mesmo.

O próprio texto de Almeida contribuiu diretamente com:

1ª - Revista e Corrigida (1940) pela imprensa Bíblica Brasileira que compilou os textos da Edição Revista e Correcta (1873) e Edição Revista (1894). Hoje é editada, com pequenas variações, pela Sociedade Bíblica Brasileira (que a revisou em 1995 e 2009), Imprensa Bíblica Brasileira (que a revisou em 1997) e pelas Sociedade Bíblica de Portugal.

2ª - Revista e Atualizada (1959 e reeditada em 1988 e 1993) pela Sociedade Bíblica do Brasil valendo-se de uma ferramenta crítica da qual falarei depois.

3ª - Corrigida Fiel (1994) pela Sociedade Bíblica Trinitariana, procurando preservar a equivalência formal (palavra por palavra) e as classes gramaticais (verbo por verbo, substantivo por substantivo, etc.) e destacando as palavras adicionadas necessárias a compreensão.

4ª - Contemporânea (1990) pela Editora Vida, a partir da Corrigida para, como declaram: produzir um texto limpo de arcaísmos e ambiguidades e ao mesmo tempo preservar um estilo belo, ungido e admiravelmente soberano...

5ª - Século XXI (2007), feita pela Editora Vida Nova, procurou conciliar, como declaram: exatidão exegética e fluência.

Outros textos:

6ª - NVI (1993) pela Intenational Bible Society, como se depreende da introdução: através de uma equipe multidisciplinar, multinacional e multidenominacional de teólogos e estudiosos inspirados pelo projeto americano similar de 1978 que produzissem um texto que levasse em conta precisão, beleza de estilo, clareza e dignidade.

7ª - Linguagem de Hoje (1988) pela Sociedade Bíblica do Brasil com o objetivo de tornar a leitura mais acessível. Vale-se da equivalência dinâmica. Ou seja: Não tem qualquer compromisso com as palavras, apenas com a ideias (como as entendem).

8ª - Bíblia Viva (1981) pela Editora Mundo Cristão é na realidade uma tradução da Living Bible de Keneth Taylor. Ou seja uma paráfrase de uma paráfrase inglesa.

9ª - A Mensagem (2011) pela Editora Vida é na realidade a tradução do livro The Message, de Eugene Peterson, que é ainda mais livre do que uma paráfrase. Segundo ele disse é o modo como lia a Bíblia em palavras que fossem entendidas por todos que o ouviam durante seus anos de ministério.

Na realidade há mais, que não são estão nas lojas.

Talvez você esteja perguntando: E daí? Isso me afeta em que? Vou dar dois exemplos. O primeiro, qualquer que seja sua tradução, em nada afeta o sentido da história menor, muito menos da história de Israel, menos ainda o sentido da História da Redenção, mas nos mostra o quanto os conceitos afetam até mesmo um tradutor que se orienta pela equivalência formal.

Em Juízes 3.24 é narrado como Eúde matou Eglom, Rei dos Moabitas, e fugiu sem ser visto, trancando atrás de si a sala do trono onde deixou o cadáver. Os servos de Eglom sentiram sua demora, mas, pensaram literalmente: ele cobre os pés na sala fresca.

A Corrigida traduziu: está cobrindo seus pés na recâmara da sala de verão.

A Corrigida Fiel traduziu: está cobrindo seus pés na recâmara do cenáculo fresco.

A Atualizada traduziu: está ele aliviando o ventre na privada da sala de verão.

A Século XXI traduziu: está aliviando o ventre no seu quarto de verão.

A Edição Contemporânea traduziu: está aliviando o ventre na privada da sala de verão.

A NVI traduziu: Ele deve estar fazendo suas necessidades em seu cômodo privativo.

A Nova Tradução da Linguagem de Hoje traduziu: Então pensaram que o rei tinha ido ao banheiro.

A Bíblia Viva traduziu: Decerto está dormindo na sala de verão.

A Mensagem traduziu: Provavelmente ele está no banheiro, fazendo suas necessidades.

A expressão “cobrir os pés” é conhecida dos brasileiros. Os gaúchos dizem: “ir aos pés” como sinônimo de fazer necessidades fisiológicas. Portanto a tradução da Bíblia Viva (dormir) está prejudicada.

Banheiro, como lugar de fazer necessidades é algo muito recente. Mais recente do que o “quarto de banhos” onde se usava banheira e depois duchas ou chuveiros. Naqueles dias ou usava-se os matos, ou no caso de uma sala real se construía um jardim adjacente. Como é chamado de “sala fresca” provavelmente fosse um jardim superior, ou uma cobertura. Portanto, embora seja mais simples de se entender, quando se traduz por privada ou banheiro, se atribui à época algo que não existia (anacronismo). As traduções da Mensagem, NVI, Linguagem de Hoje, Contemporânea e Atualizada falharam.

A Corrigida e a Corrigida Fiel insistiram em recâmara onde pode ser apenas um cômodo. Entretanto, foram as mais literais.

Como segundo exemplo veja Mc 15.2 em que a intenção de Jesus precisou ser interpretada por todos:

A Corrigida Fiel, a Corrigida, a Atualizada e a Contemporânea: E Pilatos lhe perguntou: Tu és o Rei dos judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.

A Século XXI: E Pilatos perguntou-lhe: Tu és o rei dos judeus? Jesus lhe respondeu: É como dizes.

A NVI: “Você é o rei dos judeus?” Perguntou Pilatos. “Tu o dizes”. Respondeu-lhe Jesus.

A Bíblia Viva: Pilatos perguntou a Ele: “Você é o Rei dos Judeus”? “Sim”, respondeu Jesus, “é como o senhor está dizendo”.

A Linguagem de Hoje: Pilatos perguntou: - Você é o rei dos judeus? - Quem está dizendo isso é o senhor! - respondeu Jesus.

A Mensagem: Pilatos perguntou: “Você é o ‘Rei dos Judeus’?” Jesus Respondeu: “Se você diz”.

Percebeu?

E eu estou dando exemplos apenas da forma. E chamo sua atenção para a necessidade de acautelar-se das paráfrases.

Não há uma tradução que substitua eficazmente a exposição fiel de um texto bíblico. Ler a Bíblia é algo importantíssimo, porém estudá-la, ou ouvir exposições fiéis (aquilo que a Fé Reformada chama de sermões) é vital para bem compreender seu conteúdo.

O inverso também é verdadeiro. Pesa nos ombros dos Ministros da Palavra de Deus (por essa razão é que as Escrituras ordenam que eles se afadiguem na palavra e no ensino) uma exposição correta do texto de modo que ele mantenha, em nossa língua e cultura, o máximo de sua força: como se um ouvinte original o estivesse ouvindo.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Esvaziou-se

Ao encarnar-se, Jesus abdicou de sua divindade e tornou-se um mero homem, ou apenas deixou de usar seus atributos divinos?

Esse tema é um divisor de águas na teologia. No meio protestante iniciou uma discussão que perdura entre os Luteranos e os Reformados. Porém, de modo geral, é usado como respaldo a diversas heresias como à teologia da libertação.

Os adeptos da corrente que diz que ele deixou completamente de ser Deus não conseguem explicar adequadamente sua glorificação e arcam com o ônus de terem contribuído para gerar a famigerada Teologia da Morte de Deus.

Geralmente baseiam-se nas seguintes palavras de Paulo, e exageram acima de tudo o esvaziamento: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.5-8).

Fazendo um pequeno parêntesis: ultimamente apareceu outra heresia atribuindo ao Pai um esvaziamento semelhante. É conhecida como a Teologia Relacional, ou Teologia Aberta. Eles dizem que para Deus relacionar-se conosco abriu mão de ser onipotente, onisciente, onipresente... Ou seja: de seus atributos divinos. Quando houve aquele grande tsunami no fim do ano de 2004 um teólogo brasileiro, expoente dessa teologia, não só disse que Deus não sabia que a catástrofe ocorreria, como estava chorando ao lado das vítimas sem poder fazer nada. Ao ser perguntado se ele estava falando do mesmo Deus que enviou o dilúvio à terra e matou a todos menos Noé e sua família, desconversou.

Mas, voltando à Jesus. A Fé Reformada tem se batido para deixar claro que Jesus, ao encarnar-se tornou-se totalmente homem, mas continuou totalmente Deus. Ele não deixou de ser Deus, apenas não usou todas as suas prerrogativas divinas. Digo todas pra deixar bem claro que ele usou algumas. E ao usá-las sua intenção era dar testemunho de sua própria divindade. Ou seja: Os ensinos e os milagres que fez testificavam sua divindade. Atente para o que ele disse a Filipe. Ele esperava que Filipe visse o Pai através de suas palavras e de suas obras: “Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras” (Jo 14.9-11).

Para seu Evangelho, João selecionou sete milagres e os chamou de sinais e deixou bem claro a razão: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.30-31).

No episódio da transfiguração, vemos como que por uma fresta, aquilo que lhe era permanente. Em um monte Moisés pediu a Deus para ver sua glória, e ao descer seu rosto brilhava tanto, que precisou cobri-lo. Tradicionalmente se entende que Moisés representava a lei ao passo que Elias representava os profetas. Lucas (9.31) declara que “falavam da sua partida (grego: êxodos), que ele estava para cumprir em Jerusalém”. Pedro, afoito, tenta perenizar o acontecimento sugerindo fazer três tendas. Nesse momento o Pai intervêm: “Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi” (Lc 9.35).

Lembre também das palavras de João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14).

Ele esvaziou-se ao ponto de assumir forma de servo e morrer a mais ignominiosa morte. Porém fez isso de forma muito pior do sequer podemos imaginar. Fez isso voluntariamente, podendo parar a qualquer instante. Fez para cumprir o que já havia prometido através de seus servos, os profetas: “Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder?” (Mt 26.53-54).

Ele esvaziou-se ao ponto de 90% de sua vida ter sido passada em total obscuridade. Temos notícias de seus primeiros 40 dias de vida. Depois de um breve período, aos 2 anos, quando visitado pelos magos teve de ser levado para o Egito. Depois, de alguns dias, aos 12 anos. Finalmente, de 3 a 3 ½ anos antes da ascensão. Com boa vontade chegaremos a 40 meses. Esse período é resumido por Lucas, com palavras que certamente ouviu de Maria: “E desceu com eles para Nazaré; e era-lhes submisso” (Lc 2.51).

A glória do Senhor Jesus o acompanhou desde os momentos mais simples até os momentos mais terríveis, pois nem mesmo a morte - credor de todo o homem - o reteve. E seu trinfo sobre ela se dá gloriosamente. A partir deste instante tudo o que aconteceu para cobrir sua glória é retirado e, então assentado à direita do Pai em glória, aguarda o dia em que voltará. Nesse dia a glória do Senhor será a morada dos povos.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Visões do futuro

O bom de chegarmos ao futuro é ver o quanto estávamos errados sobre ele no passado. Deixe-me explicar melhor.

Chegamos a 2013 vendo muitas previsões, de estudiosos “futurólogos”, desmentidas. Por exemplo: Para quem gosta de tecnologia, nossas casas já deviam ter robôs fazendo os trabalhos domésticos.

Nos anos cinquenta alguns garantiram que depois do ano 2000 já seria possível fazer turismo em outros planetas a partir de uma estação espacial orbitando a terra.

Para quem gosta de moda, já deveríamos estar vestindo roupas que não precisassem ser lavadas ou passadas (talvez, nem trocadas), e que se ajustariam a qualquer tamanho.

Pra quem gosta de carros, já deveríamos ter carros voadores, não poluidores e completamente silenciosos. Aliás, já existem uns três por aí, só que parecem mais um cruzamento de fusquinha com teco-teco e fazem um barulho... Sem contar que necessitam de uma pista de pouso no fundo do quintal.

A lista é grande. E se além das previsões acadêmicas eu juntar as do cinema e as da TV (tipo Jetsons) a coisa fica feia. Entretanto, nós ainda temos de lavar nossa louça, nossa roupa e quando conseguimos um pacote turístico pra uma praia mais próxima temos de ficar alegres. Isso sem falar de nossas estradas. Aliás, é bom nem falar, pois as do império romano, no tempo de Cristo, mutatis mutandi, eram bem melhores.

É muito interessante observar que a maioria dos que fazem tais observações se identificam como ateus e dizem sempre que estão fazendo isso com base no avanço da ciência. O enunciado costuma ser assim: “Continuando nesse ritmo, em tal data, teremos isso ou aquilo”.

De todos esses enunciados, que levam em conta o fator tempo futuro, o que, até 2007 (e parece que até hoje) tem se observado é o que ficou conhecido como “Lei de Moore”. Gordon E. Moore, um dos fundadores e presidente da Intel declarou em 1965 que a capacidade de determinados hardwares (número de transistores) aumentaria em 60% a cada 18 meses pelo mesmo custo.

Mudando de área... Se dependesse dos religiosos o mundo já teria acabado pelo menos umas 20 vezes. E se dependesse dos estudiosos da religião, já teríamos uma religião universal, ou nenhuma religião.

Aliás, você já reparou nos esforços da academia para impor o curso de Ciências da Religião, que estuda os efeitos de toda e qualquer religião sobre qualquer grupo social, sem preconceito ou ingerência? É uma proposta muito bonita. Tão bonita que cativa. Cativa tanto que muitos que a abraçam deixam de lado o verdadeiro Deus e começam a questionar se não é um preconceito cristão querer que exista apenas um Deus. Pior! Que ele tenha se revelado de forma infalível.

No fundo o que temos em mãos é uma questão que, além de ser prática, alicerçada na realidade, como meteorologistas do desenvolvimento das ciências, que às vezes acertam suas previsões, tem um cunho altamente religioso, pois o futuro, acima de tudo tem origem transcendente: Ninguém sabe se estará vivo amanhã.

O futuro está totalmente nas mãos de Deus. Desde a mais simples invenção até o destino, não apenas de um homem, mas de um povo. Os Assírios, que levaram Israel para o cativeiro, cem anos depois foram vencidos pelos Babilônios, que deram o mesmo destino a Judá. Estes, por sua vez, foram vencidos pelos persas, que foram vencidos pelos gregos, que acabaram sendo substituídos pelos Romanos. Cada um deles parecia ser eterno. Parecia! Como disse o profeta: “Eis que as nações são consideradas por ele como um pingo que cai de um balde e como um grão de pó na balança; as ilhas são como pó fino que se levanta” (Is 40.15).

Em 2013 continuarei a amarrar meus sapatos (prometeram sapatos auto ajustáveis), tomar cuidado com os buracos da rua e das estradas, desconfiar de quem prometer o fim da corrupção em nosso sofrido país e esconjurar todo aquele que chegar perto de mim com predições semelhantes às que citei.