terça-feira, 28 de maio de 2013

Mãos

Uma das figuras que a Bíblia usa com mais frequência é a das mãos. Não são poucos os lugares em que as Sagradas Escrituras falam delas. Surpreendentemente, as usa não só em relação aos homens mas principalmente a Deus.

Em muitos lugares se diz que foi a mão do Senhor que deu forma a todas as coisas, e a todas fez com destreza. Moisés repete muitas vezes que Deus livrou seu povo com mão forte e com mão forte também os protegeu e os disciplinou no deserto. E não foram poucos os que se dispuseram a cumprir uma ordem do Senhor se sua mão estivesse com eles.

O salmista diz que a mão do Senhor o guiaria mesmo que ele, tomando as asas da alvorada, procurasse afastar-se de sua presença. O profeta garante que a mão de Deus não está encolhida de modo que não possa abençoar. E o próprio Senhor promete a seu povo que os tomará pela mão.

Não bastasse tantas afirmações, feitas em uma linguagem tão simples, usando uma figura mais simples ainda, que até mesmo os mais simples entenderiam, o próprio Senhor, encarnado, usa concretamente as mãos a que se referira de modo figurado.

Com elas abençoou. Com elas teceu um chicote e limpou a casa do Pai. Com elas lavou os pés de seus discípulos. E, enquanto por elas era traspassado, perdoou-nos mostrando-nos que não sabíamos o que estávamos fazendo ao pregá-las no madeiro.

Não duvide! Eu e você e todos os seus eleitos, estávamos lá pregando suas benditas mãos, através de mãos iníquas, tão pecadoras quanto as nossas.

Com suas mãos furadas instou a Tomé que cresse, e o advertiu que mais bem-aventurados seriam os que não precisariam desse testemunho terrível.

Finalmente somos informados que haveremos de reconhecê-lo por suas cicatrizes: certamente as das mãos serão uma delas.

Como precisamos desta bendita certeza!

De suas santas mãos recebemos tudo: desde o pão de cada dia até o consolo de que carecemos nas aflições. De suas santas mãos recebemos os sinais que nos orientam a fazer sua vontade: “Como os olhos dos servos estão fitos nas mãos de seu senhor e os olhos das servas nas mãos de sua senhora, os nossos permanecem fitos nas mãos de nosso Deus”.

Delas esperamos bênção. Delas esperamos orientação. Nelas nos abandonamos e sabemos que se ele deixou que elas fossem traspassadas por nós, elas não nos afligirão sem necessidade ou razão.

Mas nunca esqueçamos de que, por vezes, somos nós suas mãos. Algumas vezes, através de nós suas mãos alcançam nosso irmão necessitado ou se levantam contra o erro.

Nunca “abafemos” seu Espírito e estaremos consagrando nossas vidas, como instrumentos dóceis de execução de sua vontade: como se fôssemos verdadeiramente suas próprias mãos.

Publicado originalmente em 2/9/2006

sábado, 25 de maio de 2013

Por uma evangelização consciente

Uma das funções mais deturpadas ao longo da história da Igreja tem sido, sem dúvida, a proclamação do evangelho.

Quando o Senhor ordenou a seus apóstolos que anunciassem as boas-novas, certas características, que estavam presentes neste anúncio não são encontradas mais na evangelização que é feita hoje.

O Senhor mandou como seus enviados, pessoas que anunciassem com sua autoridade. Não quem implorasse ou usasse de expedientes que aviltam seu Nome, degradam sua obra e desdizem sua mensagem.

Hoje, nos incluímos no rol dos que receberam esta sagrada incumbência e fazemos bem, pois ela foi dada a nós também, mas muitos de nós não aceitam as restrições que o teor da mensagem impõe a seus proclamadores. Nosso Senhor mandou que seus enviados anunciassem “boas notícias”. Mas as boas-notícias foram logo desvirtuadas. Transformadas em convite ou em um simples anúncio como outro qualquer.

As vezes são os proclamadores que não possuem entendimento claro do que anunciam e, por isso, anunciam a solução das necessidades humanas (prosperidade, saúde, e outras). As vezes são os ouvintes que, não conhecendo as “más-notícias” (a perdição em que se encontram), não fazem a mínima ideia do valor das “boas-notícias”.

Você está lembrado do que aconteceu a Paulo em Listra? Leia o capítulo 14 de Atos. Aquele povo ficou tão impressionado com o milagre feito por ele que foi necessário repreendê-los e chamar-lhes a atenção para que o verdadeiro Evangelho prevalecesse. O mesmo aconteceu em Atenas (Capítulo 17 de Atos): a pregação de Paulo no Areópago, que foi uma verdadeira agressão aos costumes atenienses, na realidade era uma exposição doutrinária da soberania e dos decretos de Deus para que o evangelho não virasse mais uma das muitas novidades que tinham prazer em examinar.

Após a morte do último apóstolo, a história nos informa que o Evangelho serviu a muitos propósitos. Desde dominação política, a partir da época de Constantino, até instrumento de exploração comercial.

Hoje ele é utilizado de tantas formas que fica difícil de ver o verdadeiro Evangelho. Em um mundo hedonista como o nosso, ele é manobrado para atender a um público cada vez mais ávido por diversão. Em um mundo cada vez mais comercial ele destaca as igrejas locais que possuem uma preocupação organizacional e mercadológica.

Na parábola de Jesus, as aves do céu encontram abrigos nos ramos da hortaliça que representa o Reino de Deus. Hoje o mercado agarra-se aos galhos da Igreja como uma planta parasita que não apenas mina sua força, mas compromete sua própria existência.

Não deixemos de proclamar o Santo Evangelho. Aqui, ali e acolá. Mas não nos deixemos envolver pelos valores do mundo, pois “o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente”. 1Jo 2.17

Publicado oginalmente em 26/9/2005

sábado, 18 de maio de 2013

Como vento e como fogo

Ao cumprir-se o dia de Pentecostes,
estavam todos reunidos no mesmo lugar;
de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso,
e encheu toda a casa onde estavam assentados.
E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo,
e pousou uma sobre cada um deles.

Não é raro encontrarmos nas Escrituras Sagradas algumas palavras que deixam claro a dificuldade de expressar o que elas descrevem. Por exemplo: “a cidade é de ouro puro, transparente como vidro”. Ou as que Paulo ouviu e disse que além de inefáveis eram ilícitas ao homem pronunciá-las.

Lucas, na descrição da descida do Espírito Santo sobre a Igreja em Jerusalém, também enfrentou essa dificuldade. Sabemos que ele procurou informar-se com exatidão, com os que viveram os acontecimentos. Cremos que ele foi assistido pelo próprio Espírito Santo na descrição feita. Mas atente para a descrição feita.

A casa em que todos estavam reunidos não foi sacudida por vento. Mas “enchida” por um som semelhante ao som que faz um vento impestuoso. Tampouco foi incendiada. Mas línguas “como de fogo”, separadas umas da outras, apareceram e pousaram: uma sobre cada cabeça.

Estes dois símbolos são sinérgicos e não podem ser apreciados separadamente, pois falam da mesma coisa.

O som de vento, certamente lembrava a judeus o Espírito de Deus (Ruach em hebraico: que é uma onomatopéia de respiração).

Era-lhes comum a lembrança de textos como: “Então, Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o SENHOR, por um forte vento oriental que soprou toda aquela noite, fez retirar-se o mar, que se tornou terra seca, e as águas foram divididas” (Ex 14.21). Ou do profeta Samuel a quem foi mostrado “os fundamentos do mundo” quando Deus descobriu-lhe as profundezas do mar pelo “iroso resfolegar das suas narinas” (2Sm 22.16).

Para eles o vento era símbolo do Espírito de Deus: seu sopro e sua respiração, que vivifica. Mas na casa em que se aglutinavam 120 pessoas o vento se faz presente apenas pelo seu som.

Já ouvi de muitas pessoas, e eu mesmo tive a experiência, de “sentir” um ambiente - no meu caso uma igreja - “cheia de som” em que os grandes pulmões de um órgão de tubos transmitia a impressão de que se podia tocar naquela “matéria etérea” que a tudo enchia.

O fogo também fazia parte da “memória simbólica” deles. O fogo da sarça não a consumia, o fogo do tabernáculo, cheio da “presença de Deus”, não consumiu a Moisés nem o povo sobre o qual se levantava como coluna. Mas, reduziu à cinzas, como castigo terrível, os filhos desobedientes de Arão. E, como sinal de aprovação, consumiu as ofertas sobre o altar.

Porém, naquele bendito dia “eram línguas como de fogo”. Como se fossem miniaturas daquela enorme coluna que acompanhava o povo pelo deserto. João vem novamente em nosso auxílio: “Vi como que um mar de vidro mesclado de fogo” (Ap 15.2). Inefáveis experiências. Eventos indescritíveis.

Mesmo não descritos em sua totalidade, foram fatos reais, que de alguma forma foram expressos através de analogias com outros fatos semelhantes já acontecidos.

Agora, pare e pense: Os elementos vento e fogo não estavam totalmente presentes. Porém, paradoxalmente, as palavras estavam. Eram idiomas! Hoje, talvez fossem coreano, russo, finlandês, árabe, etc.

Não houve uma “tradução simultânea”. O milagre não foi no ouvir, mas no falar: verbo falar é repetido 6 vezes nesse texto. O Espírito Santo capacitou a falarem imediatamente idiomas, que, via de regra, são aprendidos depois de muito esforço e muito tempo de estudo.

Eles não falaram coisas sem sentido: evangelizaram. Proclamaram a Jesus e as “grandezas de Deus”. Finalmente podiam ir “pelo mundo inteiro e pregar o evangelho a toda criatura”. Não ficaram em Jerusalém em sons desconexos fingindo idiomas.

Certamente esse tema também estava no pensamento do Apóstolo ao advertir a Igreja de Corinto: “Deus não é de confusão” (1Co 14.33). E essa advertência vale também para nós hoje.

 

NOTA – Este texto é um republicação do mesmo dp Pentecostes de 2008

sábado, 11 de maio de 2013

A Palavra e o Espírito do Senhor–Parte 2

Espero ter, no artigo passado, indicado, o por que da Bíblia, falar da “Palavra de Deus” como uma pessoa. Como também espero que você pense bem antes de imaginar que o apóstolo João, tendo tantos exemplos nos profetas de Israel, tenha se valido da filosofia grega, como dizem alguns para explicar a natureza divina de Jesus.

Não sabemos como a “Palavra de Deus” é Deus e ao mesmo tempo sua Palavra, do mesmo modo como não sabemos como somos matéria e ao mesmo tempo espírito.

Hoje, indo um pouco mais fundo, lembro que a Bíblia nos informa que a “Palavra de Deus” assumiu a natureza do homem que ela mesma criou. E se refere a esse acontecimento usando termos muito interessantes: “a palavra se fez carne” (Jo 1.14), “se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens, e, reconhecido em figura humana...” (Fp 2.6-8), “manifestado em carne” (1Tm 3.16). Porém, uma das mais interessantes aparece indiretamente. Veja:

“Pois ele, evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a descendência de Abraão. Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hb 2.16-17). Ou seja: 1) Para socorrer a descendência de Abraão ele se tornou um deles (seus irmãos), 2) Misericordiosa e fielmente tornou-se sumo sacerdote para fazer propiciação dos pecados.

Fazendo um parêntese: Se ele veio socorrer a descendência de Abrão, como então seremos beneficiados? A resposta é dada por um descendente de Abraão (o apóstolo Paulo): “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus” (Rm 2.28-29). Em outras palavras: Os descendentes de Abraão são aqueles que possuem a mesma fé na “Palavra de Deus” que Abraão possuía.

Concluído o socorro, feita a propiciação, há necessidade de estender sua obra. Aqui, na terra, ele confiou a nós (“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Mc 16.15)). Em lugares que não conhecemos – e parece que nos é vedado conhecer – compete exclusivamente a ele: “... quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte” (1Co 15.24-26).

Porém, enquanto tal dia não chega e ao mesmo tempo ele “prepara-nos lugar” (Jo 14.14.2-3), para não nos deixar órfãos de sua companhia, ele enviou-nos o Espírito do Pai – que também é seu, já que ele e o Pai, apesar de diferentes, são um – com a missão básica de continuar conosco. Não fisicamente, mas em nossos corações e mentes.

A continuidade da “Palavra de Deus” conosco, é expressa na Bíblia através de termos igualmente interessantes. Veja alguns exemplos:

1º - “ele vos dará outro Consolador” (Jo 14.16): A tradução de outro exige que se entenda outro da mesma espécie (outro que me substitua naquilo que eu estava fazendo). E o termo Consolador, refere-se a alguém que “fala ao lado”, um conselheiro, um advogado de defesa, um ajudador, um confortador, etc.

2º - “... vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim” (Jo 15.26). “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir” (Jo 16.13). Observe que estes textos – instruções de Jesus aos apóstolos logo antes de ser preso no Getsêmani – falam basicamente da mesma coisa: o Espírito Santo terá como missão fazer com que eles se lembrem do que Jesus lhes ensinou e de como aplica-las.

3º - “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9). “... nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (Ef 1.12-13): Observe que ele é também um selo que identifica aqueles em quem habita a “Palavra de Deus”.

Do Pai procedeu então a “Palavra”, verdadeiro Filho, que fez tudo o que lhe aprouve e para ele não voltou vazia. Do Pai e do Filho procederam o Espírito Santo, que já atuava desde a criação de todas as coisas, porém muito além de estar com seu povo, passou a estar em seu povo.

Glória seja pois ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito. Assim como era no princípio, e sempre será por toda eternidade.

sábado, 4 de maio de 2013

A Palavra e o Espírito do Senhor

Um leitor comum da Bíblia frequentemente se depara com a expressão “palavra do Senhor” e a entende como se entenderia a expressão “palavra do Antônio” ou, no máximo, “palavra do Rei”, uma vez que “Senhor” se refere a alguém com autoridade.

Um leitor mais acostumado com a Bíblia sabe que a mesma expressão (palavra do Senhor) pode se referir tanto ao que foi dito diretamente por Deus quanto aos Textos Sagrados. Ou seja: à própria Bíblia.

Porém, se o mesmo leitor passar a anotar as nuanças de cada texto em que essa expressão é encontrada, aprenderá lições preciosas. Veja:

Primeiro exemplo: Às vezes o que foi dito pelo próprio Deus veio diretamente de sua pessoa, outras vezes através de um intermediário: um profeta.

Diretamente: Temos como exemplo Gênesis 1.1: “Disse Deus: Haja luz; e houve luz” (que o Salmo 33.6 se encarrega de colocar dentro da expressão que estamos estudando: “Os céus por sua palavra se fizeram...”).

Através de um intermediário: É até difícil de fazer uma lista, pois explicitamente há mais de trezentos lugares em que encontramos algo como “veio a mim a palavra de Deus”, ou “então a palavra de Deus veio a...”. Mas, há um texto interessante que nos mostra o perigo de se ousar dizer o que ele não disse: “Então, veio a palavra do SENHOR a Jeremias, dizendo: Manda dizer a todos os exilados: Assim diz o SENHOR acerca de Semaías, o neelamita: Porquanto Semaías vos profetizou, não o havendo eu enviado, e vos fez confiar em mentiras, assim diz o SENHOR: Eis que castigarei a Semaías, o neelamita, e à sua descendência; ele não terá ninguém que habite entre este povo e não verá o bem que hei de fazer ao meu povo, diz o SENHOR, porque pregou rebeldia contra o SENHOR” (Jr 29.30-32)

Segundo exemplo: Às vezes a expressão “palavra de Deus” designa o próprio Deus, ou um enviado divino, que não há como deixar de concluir que se trate do próprio Jesus antes de sua encarnação.

Certamente você se lembra do diálogo inicial do Livro de Jeremias no capítulo 1. Repare bem nos versículos 4 a 9. O profeta declara: “A mim me veio, pois, a palavra do SENHOR, dizendo: Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações”. Porém, o que é mais notável é que ele continuou argumentando com a “Palavra”. Observe:

Então, lhe disse eu: ah! SENHOR Deus! Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança. Percebeu? Ele chama de “SENHOR Deus” (e SENHOR é a tradução do Nome sagrado de Deus que os antigos não pronunciavam) aquilo de que inicialmente foi dito ser a “palavra de Deus que lhe veio”.

E a réplica da “palavra” é contundente: Mas o SENHOR me disse: Não digas: Não passo de uma criança; porque a todos a quem eu te enviar irás; e tudo quanto eu te mandar falarás. Não temas diante deles, porque eu sou contigo para te livrar, diz o SENHOR. Depois, estendeu o SENHOR a mão, tocou-me na boca e o SENHOR me disse: Eis que ponho na tua boca as minhas palavras Note bem: O SENHOR o repreende, o exorta, o anima, promete-lhe sua total assistência, e – inusitado – diz: “agora coloco minhas palavras na tua boca”.

Percebeu? Jeremias argumentou, com a “Palavra de Deus”, que, por fim acabou colocando palavras em sua boca!

Há muitos outros casos emblemáticos, mas eu não posso deixar de lembra-lo de outro que conhecemos desde nossa infância: o de Samuel. Podemos encontrar sua história no livro que leva seu nome, mas destacarei os eventos do capítulo 3.

Samuel foi fruto das orações de sua mãe que ansiava por um filho. Como prometido, após desmamá-lo o levou para o templo como oferta ao SENHOR. De início o capítulo 3 declara: “Naqueles dias, a palavra do SENHOR era mui rara; as visões não eram frequentes” (1Sm 3.1). Aqui temos o fim do período do Juízes, no qual houve pouquíssimas revelações diretas de Deus (Gideão, Sansão...) e um total esquecimento do ensino da Lei de Moisés, apesar da obrigação dos levitas de a ensinarem as famílias a que se agregassem. O que mais caracteriza este período são as declarações de Jz 17.6 e Jz 21.25: “...cada qual fazia o que achava mais reto.

À noite, ao dormir, o SENHOR chamou Samuel, que imaginando ter sido chamado pelo Sacerdote Eli, seu tutor, foi apresentar-se a ele. O texto explica assim a confusão de Samuel: “Samuel ainda não conhecia o SENHOR, e ainda não lhe tinha sido manifestada a palavra do SENHOR” (1Sm 3.7). Observe que até aqui “palavra do SENHOR” pode ser sinônimo do que se refere o v1: visões. Já que os levitas haviam deixado de exercer a missão que lhes fora designada e a Lei de Moisés sequer era estudada.

Ao ser chamado pela terceira vez, Eli presumiu que Samuel estava sendo chamado pelo SENHOR e o instruiu sobre o que fazer. Ele fez. O que temos é impressionante: “Então, veio o SENHOR, e ali esteve, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel! Este respondeu: Fala, porque o teu servo ouve. Disse o SENHOR a Samuel: Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que a ouvir lhe tinirão ambos os ouvidos” (1Sm 1.10-11). Você percebeu? Veio o SENHOR. Ali esteve e falou com Samuel. Agora por favor. Releia o v7: “Samuel ainda não conhecia o SENHOR, e ainda não lhe tinha sido manifestada a palavra do SENHOR” (1Sm 3.7).

Samuel se encontrou com a Palavra do SENHOR.

A Palavra do Senhor, que cria a luz, os céus e todo o exército deles, (Sl 33.6), que troveja que está sobre as muitas águas, que é poderosa, que é cheia de majestade, que quebra e despedaça os cedros e despede chamas de fogo, faz tremer o deserto, faz dar cria às corças e desnuda os bosques (Sl 29.3-9) e que não volta vazia (Is 55.11)!

A Palavra do SENHOR age. Por isso a chamamos de Verbo (em nosso idioma é a classe de palavras que melhor expressa a ação).

A Palavra do Senhor encarnou-se e foi reconhecida em figura humana. Assumiu nossa natureza. Recebeu sobre si nossas enfermidades e nossa maldição.

Finalmente a Palavra do Senhor não nos deixou órfãos e sem ouvi-la. Inscreveu-se para não ser deturpada e vivifica-se em nossos corações mediante seu Espírito para não ficar na letra morta.

Ao Pai de quem procede a Palavra seja a glória. À Palavra que procede do Pai seja a mesma glória, pois é a expressão exata dele. E ao Espírito, que procede do Pai e da Palavra, e vivifica em nossos corações a obra do Pai e a expressão da Palavra, seja a mesmíssima glória, por toda eternidade. Amém.