Em secreto nosso Senhor Jesus via “como” se ofertava. Ele não estava invisível ou escondido, mas assentado olhando o movimento. Secretos eram seus juízos e suas intenções.
Como ele já ensinara a respeito da atitude do Pai, para com as esmolas, orações e jejuns, ele olhava e julgava secretamente.
Se porventura alguém soubesse o que estava para acontecer nos últimos dias daquela semana certamente o acusaria de desperdício de tempo. Afinal na sexta feira ele seria morto e já era terça. Era preciso deixar-nos claro qual era o verdadeiro valor de uma oferta.
Não lhe interessava quanto cada um ofertava, mas como o fazia. Verificava se a oferta era o sobejo, mesmo que fosse grande, ou expressão de amor, mesmo que fosse tão pequena que somada não atingisse a um quarto do valor mais comum.
Em secreto ele avaliou a quantos viu e recompensou o mais dedicado elogiando-o diante de seus discípulos e que nos serve até hoje de exemplo.
Provavelmente não tenha sido assim, mas desde pequeno imagino essa viúva relutante em chegar-se aos vasos em que as ofertas eram colocadas. Criança ainda eu pensava em como alguém colocaria naqueles gargalos estreitos as “grandes quantias” a que Marcos se refere e imaginava a viúva envergonhada jogar rapidamente suas moedinhas dentro do vaso de metal.
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Em secreto nosso Pai nos vê e avalia nosso compromisso com ele. E, como seu Filho fez, nos premia diante daqueles que ele mesmo seleciona para saber o que fizemos.
Em secreto ele vê nossa verdadeira intenção ao contribuir. Não se interessa pelo tamanho da contribuição, mas pelo modo como ela é feita.
Desgosta fazermos com segundas intenções e nos abandona ao elogio público (efêmero por natureza) quando tal intenção é receber reconhecimento ou elogios de nossos semelhantes.
Em secreto ele vê nossa verdadeira intenção ao orar. Não lhe interessa o que pedimos, pois ele nos dará o de que necessitamos, nunca o que nossa natureza pecaminosa deseja. Também não vê se nossas súplicas são meritórias ou não, pois os únicos méritos que contam são os de seu Filho.
Abomina ver seu Nome tomado em vão especialmente em orações feitas para que se perceba “como somos piedosos e dedicados” a ele.
Abomina nossa prática de invocar o Nome de seu Filho e orarmos de nós para nós mesmos, mostrando nossa erudição e qualidades e abandona-nos ao reconhecimento e ao louvor dos que nunca souberam e nunca saberão quem ele é.
Abomina os discursos longos e as repetições enfadonhas de que nos valemos, em substituição da fé, para termos certeza de que ele atenderá favoravelmente nossos pedidos.
Em secreto ele vê nossos jejuns. Sabe quando estamos negando alimento a uma natureza inquieta e dispersa com o fim de dominá-la e reduzi-la a servidão para que não estorve o espírito que, na realidade, está pronto, mas precisa de um meio obediente para executar sua prontidão.
Abomina divulgarmos isso para nos promovermos como mais santos e abandona-nos ao elogio mundano dos que sem percepção admiram hipócritas assim.
Nosso Pai nos vê em secreto. Mas, em vez de nos afligir, lamenta nossas propensões pecaminosas e constantemente nos aponta seu Filho como modelo a seguirmos, pois ele tudo fez unicamente para o louvor do Pai. E, dos homens, a única recompensa que recebeu foi ser antecipadamente ungido por uma mulher para seu sepultamento.