vosso Deus,
estão sobre ela continuamente,
desde o princípio
até ao fim do ano”.
Presumindo que a promessa de Deus demorava, Sara tomou sua escrava e deu a Abraão, para que, por meio dela, Abraão tivesse seu descendente. Porém, a promessa de Deus tinha sido feita à família verdadeira.
Presumindo que Moisés não voltaria do Monte Sinai, o povo convenceu Arão a fazer um bezerro de ouro ao redor do qual passaram a celebrar a saída do Egito, embora o Senhor tenha deixado claro que fora ele quem os libertou e determinado que esperassem o retorno de Moisés.
Presumindo que, ao aceitar o holocausto oferecido por seu pai, Deus aceitaria também qualquer coisa que fizessem, Nadabe e Abiú se atreveram a chegar diante de Deus com fogo diferente daquele que Deus havia acendido no altar. Mas, Deus tinha deixado claras suas tarefas.
Presumindo que Samuel não chegaria antes que o povo fosse embora – pois já o esperavam há dias – Saul tomou a iniciativa de oferecer holocausto, embora Deus tivesse deixado claro que isso era função exclusiva de seus sacerdotes.
Presumindo-se dono de seu destino, o homem rico, depois de uma boa safra, decidiu fazer novos celeiros e tranquilizou sua alma dizendo-lhe: “tens muito em depósito: come, bebe, regala-te”, sem saber que naquela noite ela seria pedida.
Presumindo que o pai demoraria a morrer, e sua parte na herança não seria bem aproveitada, o irmão caçula pediu-lhe o adiantamento da partilha, sem imaginar que ao gastá-la viria a desejar comer a comida dos porcos e não o permitiriam.
Presumindo que seu Senhor demoraria o “servo infiel” passou a espancar seus companheiros e a comer e a beber com ébrios, embora o Senhor lhe tivesse ordenado que vigiasse.
-*-
De quantos exemplos ainda precisaremos? Será que não fazemos coisas semelhantes?
Qual Sara, nunca presumimos que as promessas do Senhor carecem de nossa ajuda? Você já reparou como já chegamos a inventar novos textos bíblicos para justificar esse tipo de atitude? Às vezes ouço: “faça a tua parte e eu te ajudarei” ou “a bênção dá a quem pede” (sic).
Porventura, nunca adoramos bezerros de ouro ou acendemos fogo estranho diante do Senhor para agradar um povo impaciente de novidades?
Ou nunca decidimos que é melhor contribuir em outro lugar, pois “aqui, meu dinheiro está sendo mal empregado”? Quantas vezes encontramos mais paz no saldo do extrato bancário do que nas Santas Escrituras?
Quantas vezes planejamos nossa vida como se o Senhor nunca fosse nos pedir contas de como administramos aquilo que ele nos confiou?
Dentre as muitas origens dos pecados de cada dia, aqui está uma delas: Presumir.
-*-
Tomamos em nossas mãos as rédeas de nossas vidas, da Igreja e até do culto ao Senhor, curiosamente, este pecado, cada dia, é menos notado e odiado – algumas vezes chega a ser considerado virtude – por uma sociedade ávida de resultados.
Hoje, Sara seria elogiada como esposa abnegada. Já escutei sermões elogiando o amor de Sara por Abraão. Hoje, Saul seria visto como herói. E se você examinar o caso sob a ótica moderna concluirá que ele é um bom modelo de líder: não perdeu a oportunidade ao ver o povo reunido. Hoje, Arão seria visto como atento às necessidades do povo e preocupado com um culto relevante às massas sedentas.
Entre nós não deve ser assim! Ao contrário “portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe 1.17-19).
Publicado originalmente 18/8/2007
“Disse- lhes mais:
ide, comei carnes gordas,
tomai bebidas doces
e enviai porções aos que não têm nada preparado para si;
porque este dia é consagrado ao nosso Senhor;
portanto, não vos entristeçais,
porque a alegria do SENHOR é a vossa força”
Neemias 8.10
O que mudou? Dia a dia cresce no número de pessoas para quem a ordem dos auxiliares de Neemias, transcrita acima, não faz qualquer sentido, ou melhor, sequer pode ser cumprida.
Leite desnatado e sem lactose, café sem cafeína, açúcar sem sacarose, sal sem sódio, óleo sem colesterol, farinhas sem glúten...
O que sobra do leite quando se tira dele sua nata e aquilo que lhe diferencia e dá nome (a lactose): Água branca? E o que sobra do café ao se retirar a substância que responsável por que atraía a atenção de um pastor que percebeu suas cabras mais espertas depois que comiam aquelas frutinhas? Água preta? O mesmo poderia ser dito dos demais alimentos dessa lista (e de outros que não me ocorrem agora). Será que a humanidade está condenada a perder a essência daquilo de que se alimenta?
O pecado distanciou o homem de tudo, não apenas de Deus, e causou-lhe a perda da interação perfeita com o habitat. A terra começou a produzir cardos e abrolhos e ele, à custa de suor e sofrimento, passou a cultivá-la para obter seu sustento. Por seu pecado acabou perdendo a capacidade de relacionar-se com a essência daquilo que foi criado por Deus, sobre o que recebera domínio. Começou então a relacionar-se cada vez mais com os aspectos resultantes da queda.
Este relacionamento superficial e perverso não se limitou apenas a coisas físicas, mas até em áreas imponderáveis, como religião ou a moral, ele pode ser visto: Religião sem Deus, amizade sem fidelidade, sexo sem o pacto do casamento, etc.
O desespero do homem é tão grande, que até mesmo aquilo que foi legado por Deus como um alerta ao seu erro, a culpa, ele conseguiu perverter e vemos de forma muito clara o pecado sem culpa.
Não era pra ser assim! Nem mesmo naquilo que não foi criado pelo homem. Volte aos alimentos e veja como ele mostram a ação divina:
1. No texto que encabeça este artigo, comer carnes gordas e beber bebidas doces são receitas contra a tristeza e estão ligadas diretamente às bênçãos de Deus. Ao contrário do que somos instados a fazer hoje: tirar as gorduras da carne e a pele do frango.
2. A Terra Prometida foi descrita por Deus como “terra que mana leite e mel”, pois suas ricas pastagens favoreciam em muito a produção de leite e a exuberância de sua vegetação florida propiciava uma produção abundante de mel. Era como se a terra mesmo, de tão fértil, produzisse com fartura, manasse, leite e mel.
3. Moisés exortou o povo a lembrar-se do modo como Deus os guardou durante o êxodo com a seguinte descrição: “... o SENHOR o guiou, e não havia com ele deus estranho.Ele o fez cavalgar sobre os altos da terra, comer as messes do campo, chupar mel da rocha e azeite da dura pederneira, coalhada de vacas e leite de ovelhas, com a gordura dos cordeiros, dos carneiros que pastam em Basã e dos bodes, com o mais escolhido trigo; e bebeste o sangue das uvas, o mosto” (Dt 32.12-14). Ou seja: Eles foram abençoados por Deus com: cereais (naqueles dias os mais comuns eram a cevada e o trigo), mel, azeite, coalhada, leite, gordura, trigo, uvas e o mosto delas, ou seja, seu vinho.
4. Falando sobre os acontecimentos futuros, o profeta Isaías diz: “O SENHOR dos Exércitos dará neste monte a todos os povos um banquete de coisas gordurosas, uma festa com vinhos velhos, pratos gordurosos com tutanos e vinhos velhos bem clarificados” (Is 25.6). Observe o que será servido pelo SENHOR: Carnes gordurosas com tutano e vinho velho e vinho purificado (refinado, filtrado, clarificado, etc.).
Há mais textos que falam das bênçãos de Deus representadas na fartura de alimentos que, por motivos de saúde, o homem de hoje evita. Bênçãos de Deus que infelizmente não podemos receber.
Talvez, em poucos lugares isso fique tão claro quanto na Ceia do Senhor. Muitas igrejas perdem a alusão à maturidade que deve caracterizar os discípulos do Senhor, usando suco de uva no lugar do vinho. Fazem isso para não despertar o alcoolismo latente de quem está lutando contra o vício que, tanto em sua componente hereditária quanto em sua componente comportamental (o abuso), é fruto do pecado que, nos distanciando de Deus, nos torna cada vez mais fracos e sem domínio próprio, portanto, mais suscetíveis de ser dominados pelo que deveríamos dominar.
O que fazer? Esperar em Deus, pois somos impotentes para corrigir essa situação. Lembre-se da profecia de Isaías: Ele dará o banquete!
Façamos como nossos irmãos do passado e oremos para que a volta de seu Filho ocorra logo, pois com ela todas as coisas serão restauradas ao estado de antes do pecado. Maranata.
...lançando sobre ele
toda a vossa ansiedade,
porque ele tem cuidado de vós
(1º Pedro 5.7)
Em muitos lugares as Sagradas Escrituras nos advertem sobre a dificuldade de se viver os padrões de Deus. Diferentemente do marketing feito pelos novos evangélicos as Escrituras não prometem nada além de dificuldades. Afinal, se o próprio Jesus disse que estava nos enviando como ovelhas para o meio de lobos, dizer algo diferente é, no mínimo, mentira.
As dificuldades que enfrentamos decorrem do fato de que os nossos padrões e os padrões do mundo em que vivemos estão aquém dos padrões impostos por Deus. Aliás, na grande maioria das vezes são opostos.
Creio que a maior dificuldade é aquela que estamos vivendo no momento, pois é com ela que temos de nos ocupar. Creio também que quando o Senhor Jesus disse que “basta ao dia o seu próprio mal”, nos ensinou que cada dia traz consigo algum tipo de dificuldade para aqueles que vivem na dependência do Pai.
Entretanto se olharmos para as dificuldades sofridas por nossos antepassados, perceberemos que a soma de todas as dificuldade pelas quais estamos passando é nada perto das que eles sofreram. Ou será que, diante de uma fogueira, ou de instrumentos de tortura, continuaríamos firmes em nossa fé?
Mas, voltando às nossas dificuldades diárias, que não incluem perseguições - pelo menos por enquanto - há um mal que nos persegue implacavelmente, pois está dentro de nós e nos acompanha todos os dias: a ansiedade.
Quem pode controlá-la?
Ela tem duas origens: disfunções de nosso organismo ou a percepção de algum tipo de ameaça futura. As disfunções orgânicas podem ser remediadas. Já temos até um nome para essa classe de remédios: ansiolíticos (de ansiedade mais a palavra grega lytikos, que significa capaz de dissolver).
Mas, e as percepções de ameaças? Fundamentadas ou não elas revelam o quanto cremos que Deus está no controle de tudo. Em síntese: elas demonstram, em maior ou menor grau, verdades sobre nossa fé.
Como Deus é misericordioso para conosco, os remédios que atuam contra a disfunção orgânica também nos ajudam naquilo que deveria ser resolvido pela robustez da fé. É como se Deus, respondendo ao pedido daquele pai citado por Marcos 9.21-27, minorasse o sofrimento que nossa pequena fé nos faz passar.
Porém, necessito fazer uma ressalva. Até aqui vimos o lado negativo da ansiedade. Paulo, em 2Co 11.28, usa a mesma palavra pra falar dos cuidados que pesam sobre ele com relação as igrejas, e bem sabemos que podemos ficar ansiosos face a algo de bom que esperamos acontecer. Não ficam ansiosos os noivos antes do casamento? Não vive ansiosa a Igreja aguardando a volta de seu Senhor?
Hoje estamos diante de presumíveis adversidades, mas também estamos diante de enormes possibilidades. Ambas podem nos deixar ansiosos. Não há o que fazer além de colocar em prática a ordem do Apóstolo Pedro e pedir que Deus tenha misericórdia de todos nós.
Todos nós sabemos o que é perdoar. Também sabemos quão difícil é perdoar verdadeiramente e sabemos que perdoar é muito mais do que simplesmente dizer: eu te perdoo. Porém, mais difícil ainda é ter certeza de que perdoou de fato.
Há alguns anos aconselho pessoas que não conseguem ter certeza de que perdoaram de fato. Essa dúvida geralmente se expressa por frases do tipo: Eu perdoei! De coração eu perdoei! Mas, quando nos encontramos a primeira coisa de que me lembro é do erro que eu perdoei. Então, como posso ter perdoado se não esqueci?
Primeiro, é preciso deixar bem claro que perdão não tem nada a ver com memória. O perdão exige apenas três atitudes: 1) Não levar em conta o erro que se perdoou ao tratar com a pessoa que foi perdoada, 2) não basear uma ajuda futura a quem perdoou no fato ocorrido, e 3) não divulgar o erro perdoado com o intento de difamar a quem se perdoou.
Para ficar mais claro: Eu posso até me lembrar de que Fulano, com quem convivo, fez algo errado comigo. Mas, se o perdoei de fato - e sou obrigado a fazer isso “não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete” - não deve ser tal lembrança, ainda que muito incômoda, que me atrapalhe a convivência diária com ele.
Posso até me lembrar de que Beltrano não me pagou uma dívida. Mas se eu disse, obedecendo ao Senhor, que o perdoava, não posso - tendo condições de atendê-lo - negar um empréstimo que ele venha a me pedir.
Posso até me lembrar de que Sicrano não cumpriu o que me prometeu. Mas, se na presença do Senhor eu o perdoei por isso, não posso espalhar pra todo mundo que ele não cumpre o que promete.
Nesse último caso, há uma observação: Se alguém está em vias de fazer um acordo com o Sicrano e esse alguém vier me pedir referências sobre ele, mesmo tendo perdoado, não posso me omitir. Ou seja: perdoar não exige que eu minta.
Romanticamente nos obrigamos a confirmar com sentimentos aquilo que afirmamos ter feito. Isso é uma grande dificuldade para quem vive pela fé. Não temos de sentir por quem perdoamos a mesma coisa que sentíamos antes. Se sentirmos, tanto melhor. Mas somos obrigados a manter as três atitudes do perdão.
Fomos perdoados de uma ofensa infinitamente maior do que qualquer coisa que pudermos imaginar. Não podemos prestar culto a Deus, orar como ele quer que oremos, ou participar da mesa de seu Filho se não perdoarmos nosso irmão. O verdadeiro crente é obrigado a perdoar de fato e não a enganar-se com sentimentos forçados.
Tampouco Deus exige que esqueçamos o que sofremos para chegar àquela atitude de perdão. Enquanto a graça de Deus não apagar o ocorrido de nossa memória (o que geralmente ele faz usando o tempo) todas as vezes que nos lembrarmos do mal, nos lembremos também das atitudes de perdão e coloquemos tudo aos pés da cruz. Um dia esqueceremos. Se não esquecermos, no dia eterno ele “enxugará de nossos olhos toda lágrima”.
Publicada originalmente em 8/8/2010
Mal saíram do Egito - escravos, fazedores de tijolos com uma terra tão ruim que exigia vegetais para dar liga à massa - Deus os reuniu aos pés do Monte Sinai. Lá deveriam se tornar um povo. Lá receberam a aliança que Abraão, séculos antes, conhecia pela fé.
De tão rudes, a aliança lhes foi resumida em tábuas de pedra. Mas, como analfabetos observariam o que estava escrito? Tudo foi sancionado então com sangue de cordeiros inocentes; depositado em uma arca de ouro e entregue a uma tribo separada para que as observassem. Finalmente, foi ordenado que fizessem uma tenda especialmente adornada onde seriam guardadas.
Os adornos dessa tenda não podiam ser produto da imaginação de qualquer um. Deus chamou dois homens para elaborar o projeto dela, treinar seus auxiliares e edificá-la, conforme a vontade dele. Tudo foi prescrito: As paredes, a cobertura, os móveis, a decoração, até mesmo a roupa que os oficiantes vestiriam enquanto estivessem dentro dela. Fariam a partir de metais, madeiras, tecidos, e especiarias. O Espírito Santo os capacitaria como marceneiros, entalhadores, ourives, bordadores, perfumistas, etc.
A tenda seria a morada das tábuas da Lei de Deus, portando da Vontade de Deus e em última análise do próprio Deus. Nada mais natural, portanto que fosse construída e ornamentada conforme seu querer e caráter.
A tenda foi erigida e consagrada: “...Então, a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do SENHOR encheu o tabernáculo. Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do SENHOR enchia o tabernáculo... De dia, a nuvem do SENHOR repousava sobre o tabernáculo, e, de noite, havia fogo nela, à vista de toda a casa de Israel, em todas as suas jornadas” (Ex 40.34-38).
Esse sinal fantástico, fogo sobre a tenda da congregação, se repetirá sobre o Templo de Salomão, mas não sobre o Templo de Zorobabel.
Muitos séculos se passaram e depois da morte, ressurreição e ascensão de Jesus perceberam que uma nova criação teve início, substituindo a que nosso pai Adão estragou. Uma pequena multidão (cento e vinte?), reunidos em uma casa, viu aquele mesmo fogo descer sobre a cabeça de cada um. Cada um era um tabernáculo em que a Lei de Deus morava. Agora ela era escrita no coração e não em tábuas de pedra, como os profetas do Senhor falaram tantas vezes.
Mas, e os adornos dos quais o Senhor fizera tanta questão no primeiro tabernáculo? Estavam todos lá.
As pedras preciosas no peito deram lugar ao que simbolizavam: boas obras. O linho branco foi substituído pelas vidas santas e estofo pela paciência e longanimidade. Etc.
Todos capacitados a fazer o que antes poucos fizeram. O Espírito agora não habitava com eles. Habitava neles. E hoje habita em nós!
No passado longínquo todas as coisas eram figuras de algo superior que se cumpriria em Jesus e seria transmitido ao seu povo. Por essa razão é que Pedro ensina que o verdadeiro adorno é “o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus” (1Pe 3.4).
(Publicado originalmente em 1/7/2011)
Em 1863 o missionário Rev. Alexander Blackford, cunhado do Rev. Ashbel Green Simonton, ao mudar-se do Rio de Janeiro para São Paulo, ouviu falar de um “padre protestante”. Era o Pe. José Manoel da Conceição que morava perto de Rio Claro.
O Pe. José tinha então 41 anos. Havia nascido na capital, mas foi criado em Sorocaba pelo tio José Francisco, que era padre. Aos 18 anos foi estudar teologia e aos 20 foi ordenado sub-diácono começando o exercício de seu ofício nas proximidades de Sorocaba.
Seu contato com a Bíblia aconteceu no Seminário. Com os protestantes aconteceu através de uma família luterana com quem fez amizade nos primeiros anos de ministério (destacava o respeito que eles tinham para com o Dia do Senhor). Com as doutrinas protestantes aconteceu quando procurou aprender a língua alemã: seu professor usava como texto de leitura os sermões de Lutero.
Aos 23 anos foi ordenado presbítero e enviado pelo Bispo para uma das igreja de Limeira onde começou a pregar de tal modo que passou a ser chamado de “Padre Protestante”. Irritado, o bispo decidiu transferi-lo para Piracicaba, onde continuou sua pregação e de onde foi transferido para Monte-Mór, e depois para outras cidades.
Essas transferências, que deveriam lhe servir de alerta, propiciaram que sua mensagem evangélica fosse disseminada por diversas cidades de São Paulo e mais tarde influenciariam seu ministério itinerante, pois voltou a essas mesmas cidades pregando novamente e levando muitas pessoas ao Evangelho.
Por fim, aos 41 anos, o Bispo o nomeou para um cargo administrativo e ele mudou-se para as proximidades de Rio Claro onde possuía um sítio e onde deu-se o Encontro com o Rev. Blackford.
No ano seguinte, aos 42 anos, em visita ao Rev. Blackford em São Paulo, decidiu abraçar o protestantismo. Nesse mesmo ano voltando a São Paulo comunicou ao Bispo sua decisão e foi ao Rio de Janeiro onde conheceu o Rev. Simonton e fez sua Pública Profissão de Fé. Nesta ocasião pediu para ser rebatizado, pois entendia que fora batizado em uma fé completamente diferente (vale observar que este pedido fez com que os missionários passassem a rebatizar todos os crentes vindo do catolicismo e tornou-se uma prática da Igreja Presbiteriana do Brasil até os dias atuais). Após a cerimônia dirigiu-se à Igreja explicando as razões pelas quais deixou a igreja de Roma e recebeu a Fé Protestante.
Durante as viagens, que passou a fazer com os missionários, era frequentemente tranquilizado em suas crises de consciência pelo seu passado.
No ano seguinte o primeiro presbitério brasileiro foi organizado em São Paulo e recebeu o nome de Presbitério do Rio de Janeiro, em atenção à cidade da corte imperial. Era composto pelas Igrejas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Brotas, e dos Pastores Rev. Blackford (Presidente), Rev. Simonton, e Rev. Francis Schneider. A Igreja de Brotas era a maior e fora fundada mormente graças aos esforços de Conceição.
Nesta primeira reunião o Presbitério, em 17 de dezembro (hoje dia do Pastor Presbiteriano) o ordenou pastor, após exame e sermão de prova, com grande repercussão no público católico.
Sua excomunhão pela Igreja de Roma não demorou e seu ministério evangélico itinerante por todas as cidades que conhecia e virtualmente todas as cidades do Estado de São Paulo, diversas do Rio de Janeiro e do Sul de Minas Gerais e algumas no Paraná, ganhou força. Poucas vezes de trem, algumas a cavalo e a maioria delas a pé, de casa em casa, de sítio em sítio, de fazenda em fazenda.
Onde era bem recebido, além de anunciar o evangelho, retribuía a hospedagem servindo de enfermeiro ou de simples varredor do quintal.
Quando sua sentença de excomunhão foi publicada nos jornais escreveu “A Sentença de Excomunhão e sua Resposta”, que acabou tornando-se um livreto muito divulgado.
Como suas viagens lhe prejudicavam a saúde, e a experiência dos missionários mostrava que não adiantava fixar-lhe um lugar, o incentivaram a ir aos EUA. Ficou lá por quase um ano. Pastoreou igrejas da comunidade portuguesa no Illinois, mas principalmente valeu-se de seus conhecimentos de vários idiomas para traduzir diversas publicações e chegou a revisar a tradução de um Novo Testamento para a Sociedade Bíblica Americana.
De volta ao Brasil em 1868 (já com 46 anos), após a reunião do Presbitério, voltou as suas viagens. Já não estava “afinado” com o rumo do trabalho dos missionários, que agora enfatizavam a estruturação da Igreja Brasileira. Ele continuava a evangelizar e mandar seu relatórios com o nome dos novos convertidos.
Solitário, era frequentemente acometido de angústias (o que hoje chamamos de depressão) agravadas pelas perseguições de romanistas, que chegaram a agredi-lo fisicamente e até mesmo a apedrejá-lo. Na cidade mineira de Campanha foi dado como morto após um apedrejamento.
Aos 51 anos (em 1873) o Presbitério o convocou ao Rio de Janeiro com o fim de cuidar de sua saúde e morar em uma casa que o Rev. Blackford alugara. Na viagem, a pé, em 24 de dezembro, faminto cansado e fustigado pelo calor da baixada fluminense, desmaiou e foi levado a um quartel do exército em cuja enfermaria foi bem tratado. Na madrugada do dia 25 o Senhor o chamou para uma casa melhor.
No artigo anterior mostrei como a IPB, sempre cuidadosa de sua confessionalidade, acabou fazendo o que todas as denominações evangélicas já faziam: Estampar o rosto de Jesus. Hoje quero examinar o pensamento que está por traz disso.
Não tenho a menor dúvida de que nosso Senhor Jesus, mesmo sendo Deus, ao assumir nossa natureza em nada diferia de um homem qualquer. Nem quem convivia com ele via algo diferente: “Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.9).
Não tenho também a menor dúvida de que aquele simples homem era o Deus vivo: “…porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2.9); e seu corpo expressava o Pai: “… porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2.9).
Minha dúvida é se temos autoridade de fazer imagem dele.
O raciocínio de quem acha que pode é o seguinte: Estamos proibidos de fazer imagens de Deus Pai (e de qual quer outra coisa para com fins de adoração), mas Deus Pai se encarnou: adquiriu uma figura humana. “Se estivéssemos na manjedoura certamente tiraríamos uma foto do bebê”.
Esse raciocínio padece em vários pontos: 1) A figura humana de Deus ainda é Deus. Portanto a proibição estende-se também a ela. 2) Se ele continua sendo Deus, fazer uma representação dele só pode ser para adoração, pois para outra coisa cometeríamos um ato de “lesa-divindade”. 3) Não estávamos na manjedoura e naqueles dias não havia máquinas fotográficas.
Sobre esse último ponto há que pensar que a maioria das nações ao redor possuíam alto grau de desenvolvimento nas artes plásticas.
Os Gregos, muito antes de Jesus nascer, esculpiam estátuas de mármore onde se podia ver com detalhes os músculos do corpo, as veias e desenvolveram a técnica de “sugerir” ao espectador a representação dos fios de cabelo e da expressão do olhar (Procure fotos da escultura “Laoconte e seus filhos” e você poderá comprovar minhas afirmações). Entretanto, Deus fez Jesus nascer em um povo, que foi por ele proibido de ter esse tipo de arte figurativa e não em um povo onde ele poderia ser retratado com precisão.
Agrava-se o fato de que não há qualquer descrição de Jesus, durante “os dias de sua carne” nas Escrituras Sagradas. Podemos deduzir que, sendo judeu legítimo ele fosse moreno, e como carpinteiro trouxesse as marcas de sua profissão: mãos ásperas e corpo musculoso. Mas usar textos como de Isaías 53.2, para dizer que seu rosto não tinha os padrões de beleza daqueles dias é meio forçado. Como também deduzir de 7.34 que ele estava acima de seu peso.
Porém, há uma descrição nos versículos iniciais do Apocalipse, que devem causar muito mais meditação por parte de quem a lê do que apreciação estética. Mas lá está descrito Jesus glorificado e muito do que lá aparece é simbólico como a espada de dois gumes que sai de sua boca. Obviamente isso é uma metáfora do poder de sua palavra.
Finalmente, será que nossas crianças ganham algo de concreto ao ver figuras de Jesus retratado com os mais diversos rostos? Será que elas não estão sendo preparadas, ainda que involuntariamente, para ver Jesus no primeiro falso Cristo que se apresentar, como estamos advertidos que acontecerá?
Que tipo de fé é esta que está sendo cultivada sobre matéria? Pior: Matéria ilusória?
Nossos filhos, hoje, possuem uma apreciação maior pela obra terrível desempenhada por Jesus ou possuem apenas mais liberdade ao ponto de trata-lo como “o cara”?
Vamos pensar atentamente nesse assunto, pois a modernidade aplicada a ele não trouxe resultados bons e nos levou a quebra sistemática do Segundo Mandamento.
Nas Igrejas de Fé Reformada há um debate silencioso sobre se as Escrituras permitem-nos fazer imagens de Jesus.
Na Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), até a primeira década de 1900, havia um consenso de que não podia. Porém, esse consenso foi corroído com o tempo e por fim demolido com uma estratégia bem articulada, que visava a permitir a exibição de filmes do então CAVE (Centro Áudio Visual Evangélico). Olhando a história encontramos:
1º A Assembleia Geral julgando inconveniente o uso de gravuras bíblicas (Doc. 1918:26).
2º A Comissão Executiva do Supremo Concílio (CE/SC) de 1956 determinando verificar a conveniência da IPB filiar-se ao CAVE (56-035).
3º A CE/SC de 1957 homologa a parte do relatório do presidente do SC que informa ter filiado a IPB ao CAVE (Doc. 57-036).
4º No Supremo Concílio seguinte (1958) encontramos uma consulta do Sínodo Oeste do Brasil (DOC 58-100) “sobre emprego da representação de Cristo em figuras ou imagens como vem sendo feito pelo CAVE, em filmes exibidos nas igrejas”.
A decisão do SC deixa-nos entrever parte das divergências e produz uma proibição, no mínimo, esdruxula: “Quanto ao Doc. 6 consulta do SOB, sobre emprego da representação de Cristo em figuras ou imagens como vem sendo feito pelo CAVE, em filmes exibidos nas igrejas. Considerando a alta importância das lições objetivas na educação da criança e do adolescente, método largamente empregado na atualidade pela pedagogia moderna; Considerando que as lições objetivas vêm sendo usadas nas igrejas com grande oportunidade no ensino das verdades religiosas! Considerando ainda, que a ‘letra e o espírito’ do 2° mandamento citado, pelo consulente, referem a imagens e figuras com fins exclusivos de culto e adoração, o SC resolve: 1) Declarar não haver nenhuma incoerência no uso da figura ou filmes bíblicos com finalidades educativas. 2) Determinar que não se use, nos métodos audiovisuais, flanelografia e outros, a representação das pessoas da Santíssima Trindade”.
Esta resolução nos leva a diversas conclusões:
1ª A IPB não queria filiar-se ao CAVE devido a seus filmes retratarem a Jesus, mas sua direção queria. Tanto é que depois de filiada houve a consulta do Sínodo Oeste do Brasil. Vale explicar que nos antigos flanelógrafos, usados para ensinar crianças, Jesus era sempre mostrado de costas.
2ª A resposta do SC, não é teológica nem confessional, mas pragmática: “vem sendo usadas nas igrejas com grande oportunidade no ensino das verdades religiosas!”.
3) Usa-se o mesmo argumento usado pela Igreja de Roma para manter suas imagens: Ensino.
4) E então surge uma verdadeira pérola: “Determinar que não se use ... representações da Santíssima Trindade”. Ou seja: O SC está declarando (talvez por lapso) que Jesus encarnado não é parte da Santíssima Trindade!
A partir de então, todas as publicações sentiram-se livres para estampar o rosto de Jesus onde queriam e os filmes do CAVE passaram a ser exibidos na maioria das Igrejas Presbiterianas.
Mas, qual é o problema? Simples! Nosso Catecismo, interpreta o Segundo Mandamento: “Pergunta 109. Quais são os pecados proibidos no segundo mandamento? Resposta: Os pecados proibidos no segundo mandamento são: ... fazer qualquer representação de Deus; de todas ou de qualquer das três Pessoas, quer interiormente em nosso espírito, quer exteriormente em qualquer forma de imagem ou semelhança de alguma criatura...”.
Portanto o que temos diante de nós é: uma desobediência flagrante ao que juramos ser a exposição fiel das Sagradas Escrituras (ou um fato teológico novo do qual discorda toda cristandade: Jesus depois de adquirir sua natureza humana deixou de ser uma das Pessoas da Trindade).
Mas, será que Jesus encarnado não é a chance de vermos a Deus?
Isto é o que vamos examinar no próximo Domingo.
1º - Se for presbiteriano (membro da Igreja Presbiteriana do Brasil) não pode, pois o Concílio Maior desta denominação já condenou diversas...