sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Imagino a reação dos sábios na Babilônia quando um deles contou que viu determinada estrela em determinada posição. Era o cumprimento de uma profecia feita há mais de quinhentos anos por um sábio que havia salvado da morte a todos os demais sábios de sua época e fora nomeado chefe de todos eles. Esse sábio fora trazido da Judeia após Nabucodonozor tê-la invadido. Seu nome era Daniel. Naqueles dias eles eram chamados de Caldeus (o nome magoi veio depois da invasão grega).

As discussões devem ter sido demoradas, pois poucos esperavam que uma profecia tão antiga se cumprisse. Ela dizia: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos. Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos. Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas” (Dn 9.24-26).

Imagino que após a discussão tenham escolhido alguns dentre eles para ir saudar esse novo rei com presentes valiosos. Deve ter sido uma caravana grande, pois além de guardar os presentes deveria atravessar o deserto.

Mateus nos informa que a chegada deles a Jerusalém deixou todos alarmados. Não era pra menos. Eles procuravam pelo “recém-nascido Rei dos Judeus” e Herodes, que tomara o poder com ardis e assassinatos, via conspiração por todos os lados. Poucos anos antes havia ordenado a morte da esposa e de um filho por suspeita de rebelião.

Herodes armou uma cilada imaginando que restava apenas descobrir em qual casa de Belém ele estava: “Ide informar-vos cuidadosamente a respeito do menino; e, quando o tiverdes encontrado, avisai- me, para eu também ir adorá-lo”. Ele havia nascido em Belém, mas seus pais eram de Nazaré e depois de cumpridos os preceitos levíticos de pureza da mãe e de resgate do primogênito, voltaram para lá. Para uma casa em Nazaré a estrela os guiou.

Imagino a ira de Herodes ao saber pela manhã que os magoi não foram para Belém, que ficava ao sul de Jerusalém, mas para o norte: caminho de volta para o oriente. Ele não deixou por menos. Como havia indagado, com precisão, a data em que a estrela foi vista, mandou matar todas as crianças de Belém e seus arredores que houvessem nascido a partir dessa data. Diversas crianças de até dois anos.

Nazaré, apesar de ser um entreposto comercial e receber gente de toda aquela região, era uma cidade pequena. Situada na encosta de uma elevação, vendo as fotos de hoje, penso nas casas fazendo um perfil contra o céu escuro e a estrela marcando uma em especial para quem vem pelo caminho do sul.

Imagino o alvoroço que uma caravana de camelos com os sábios e seu séquito, deve ter causado.

Ouro, incenso e mirra. Os três tipos de presentes não indicam que eram apenas três magoi. Podiam ser dois ou dez. Porém, lembram-nos a profecia de Isaías (mais antiga do que a de Daniel): “A multidão de camelos te cobrirá, os dromedários de Midiã e de Efa; todos virão de Sabá; trarão ouro e incenso e publicarão os louvores do SENHOR (Is 60.6)”. E finalmente a adoração! Isso impressiona. Homens sábios adorando uma criança de colo.

Dentre as muitas razões que Mateus tinha para narrar este episódio, creio que esta é a principal. O Rei dos Judeus foi conhecido pelos sábios de outros povos apesar de haver sido rejeitado pelo seu.

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