As discussões devem ter sido demoradas, pois poucos
esperavam que uma profecia tão antiga se cumprisse. Ela dizia: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa
cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar
a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e
para ungir o Santo dos Santos. Sabe e entende: desde a saída da ordem para
restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e
sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em
tempos angustiosos. Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e
já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o
santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações
são determinadas” (Dn 9.24-26).
Imagino que após a discussão tenham escolhido alguns dentre
eles para ir saudar esse novo rei com presentes valiosos. Deve ter sido uma
caravana grande, pois além de guardar os presentes deveria atravessar o
deserto.
Mateus nos informa que a chegada deles a Jerusalém deixou
todos alarmados. Não era pra menos. Eles procuravam pelo “recém-nascido Rei dos
Judeus” e
Herodes, que tomara o poder com ardis e assassinatos, via conspiração por todos
os lados. Poucos anos antes havia ordenado a morte da esposa e de um filho por
suspeita de rebelião.
Herodes armou uma cilada imaginando que restava apenas
descobrir em qual casa de Belém ele estava: “Ide informar-vos cuidadosamente a
respeito do menino; e, quando o tiverdes encontrado, avisai- me, para eu também
ir adorá-lo”. Ele havia nascido em Belém, mas seus pais eram de
Nazaré e depois de cumpridos os preceitos levíticos de pureza da mãe e de
resgate do primogênito, voltaram para lá. Para uma casa em Nazaré a estrela os
guiou.
Imagino a ira de Herodes ao saber pela manhã que os magoi não foram para Belém, que ficava
ao sul de Jerusalém, mas para o norte: caminho de volta para o oriente. Ele não
deixou por menos. Como havia indagado, com precisão, a data em que a estrela
foi vista, mandou matar todas as crianças de Belém e seus arredores que
houvessem nascido a partir dessa data. Diversas crianças de até dois anos.
Nazaré, apesar de ser um entreposto comercial e receber
gente de toda aquela região, era uma cidade pequena. Situada na encosta de uma
elevação, vendo as fotos de hoje, penso nas casas fazendo um perfil contra o
céu escuro e a estrela marcando uma em especial para quem vem pelo caminho do
sul.
Imagino o alvoroço que uma caravana de camelos com os sábios
e seu séquito, deve ter causado.
Ouro, incenso e mirra. Os três tipos de presentes não
indicam que eram apenas três magoi.
Podiam ser dois ou dez. Porém, lembram-nos a profecia de Isaías (mais antiga do
que a de Daniel): “A multidão de camelos te cobrirá, os dromedários
de Midiã e de Efa; todos virão de Sabá; trarão ouro e incenso e publicarão os
louvores do SENHOR (Is 60.6)”. E finalmente a adoração! Isso
impressiona. Homens sábios adorando uma criança de colo.
Dentre as muitas razões que Mateus tinha para narrar este
episódio, creio que esta é a principal. O Rei dos Judeus foi conhecido pelos
sábios de outros povos apesar de haver sido rejeitado pelo seu.
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