sábado, 7 de dezembro de 2013

Os Evangelhos o Nascimento de Jesus

Dos quatro Evangelhos, apenas dois falam do nascimento de Jesus: Mateus e Lucas. Marcos inicia sua narrativa com o batismo. João, diferentemente de todos, inicia a sua falando do Verbo ainda na eternidade, antes da criação de qualquer coisa.

As narrativas do nascimento são complementares. Por exemplo: apenas Mateus fala dos magos e apenas Lucas fala dos pastores.

Mateus introduz seu relato com uma genealogia altamente elaborada em que os principais antepassados de Jesus são relacionados em três grupos, de catorze gerações, a partir de Abraão. Em seguida conta o drama vivido por José ao saber da gravidez de Maria, como planejava deixá-la e como um anjo do Senhor o dissuadiu.

Após um salto narrativo de quase dois anos, relata a visita dos magos, a subsequente fuga para o Egito, a matança das crianças e o retorno do Egito.

Diferentemente de Lucas, cujos paralelos são internos, Mateus faz com que o relato do nascimento seja paralelo ao da ressurreição: o começo da vida de Jesus é mostrado em contraste com o final. Veja, como exemplo, três partes do relato:

A genealogia, que é a primeira parte, é mostrada em correspondência com a Grande Comissão, que é a última: enquanto a genealogia nos fala do passado até os dias de Jesus, a Grande Comissão nos fala dos dias de Jesus até a “consumação do século”.

A segunda e a penúltima parte (o nascimento e a ressurreição) não se correspondem apenas no conteúdo: viver. Mateus não os descreve nem dá qualquer detalhe, apenas diz que ambos aconteceram.

A terceira e a antepenúltima parte (os magos e os guardas) são justapostas por terem em comum as riquezas. Os magos divulgaram o nascimento de Jesus e lhe trouxeram presentes. Os guardas receberam dinheiro para não divulgar sua ressurreição.

O relato de Lucas, logo em seu início, apresenta-nos a principal preocupação do escritor: “acurada investigação de tudo desde sua origem” (Lc 1.3). Certamente ele conversou com os protagonistas, especialmente com Maria, pois chega a narrar seus pensamentos: “Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou- se muito e pôs- se a pensar no que significaria esta saudação” (Lc 1.29).

Sua narrativa é iniciada com o motivo que o levou a escreveu o Evangelho e com a descrição de seu método de pesquisa. Começa então falando das origens próximas de Jesus, ou seja: seu precursor: João Batista. Mais especificamente, seus pais.

Em uma primeira etapa narra os anúncios. O anúncio a Zacarias, pai de João e a gravidez de Isabel. Então o relato dá um salto de seis meses e narra o anúncio a Maria e sua visita a Isabel (e seu cântico).

Em uma segunda etapa narra os nascimentos: O nascimento de João (e o cântico de seu pai). Depois o nascimento de Jesus e a visita dos pastores.

A narrativa é construída de forma paralela: João é anunciado a Zacarias, seu pai. Jesus é anunciado diretamente a Maria. A mudez de Zacarias, (decorrente de sua incredulidade) é contraposta ao cântico de Maria (decorrente de sua crença nas promessas) ao visitar Isabel. E, enquanto há uma óbvia correspondência entre o cântico de Zacarias (cantado depois do nascimento de João) e o de Maria (cantado antes do nascimento de Jesus), aparece outro paralelo: a alegria do pai que canta e a alegria dos pastores ao visitar o recém-nascido Jesus.

A narrativa de Lucas dá três saltos temporais: 0ito dias para narrar a circuncisão de Jesus, quarenta dias para narrar seu resgate no templo (onde acontecem os encontros com Simeão e com Ana) e doze anos para relatar o acontecido na viagem a Jerusalém, quando Jesus tinha 12 anos.

A genealogia feita por Lucas só aparece após a narrativa do batismo e não é elaborada como a de Mateus. Nela Jesus é filiado a Adão.

Se tradicionalmente Mateus visava leitores judeus (daí o estilo, as muitas citações proféticas e a filiação de Jesus a Abraão), e o Teófilo, destinatário de Lucas, era alguém importante no governo romano (apenas duas outras pessoas recebem o mesmo pronome de tratamento – excelentíssimo – e ambas são governadores), que interesse um leitor moderno poderia ter nestes relatos?

Pessoalmente eu tenho muitos. Porém, no mínimo, estes relatos nos instam a apreciar com reverência esse acontecimento tremendo – a encarnação do Senhor – sem perdermos a sobriedade. Enquanto Marcos e João, sequer ousaram a mencionar, Lucas, mais do que Mateus, chegou a detalhes íntimos. Porém, preferiu narrá-los indiretamente, com as palavras dos protagonistas:

- Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?

- Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.

O mesmo Espírito Santo, que à tudo dá vida, descendo sobre Maria e o Altíssimo, envolvendo Maria com sua sombra, levam Maria a conceber. O Verbo eterno torna-se um de nós (natureza da qual ele nunca mais se separará) para que voltemos a ser como ele é.

 

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