Fui solicitado escrever sobre a inevitável descriminalização das drogas leves em nosso país. Minha opinião, tanto como cidadão quanto como pastor, já que procuro não dissociar tais atividades, até agora é totalmente contra. Entretanto, confesso que preciso conversar com irmãos mais sábios e envolvidos no problema.
Pessoalmente creio, que até mesmo a permissão de passeatas de convencimento é um erro, pois no fundo, no mínimo tais passeatas despertam a curiosidade para experimentá-las. E enquanto houver usuários, mesmo que experimentais, haverá tráfico.
Para se ter uma ideia do que acontecerá com a legalização das drogas basta ver o que está acontecendo com a indústria legalizada do tabaco. A luta contra o tabagismo e seus males consome a sociedade. Não consome a polícia e não provoca guerra e tiroteios, mas seria muito bom ver uma estatística que comparasse as mortes silenciosas causadas pelo tabaco com as mortes da guerra do tráfico.
Ouve-se que a maconha é menos danosa do que o tabaco. Será? Veja artigos como esse: “Brain Effects of Cannabis -- Neuroimaging Findings” (Os Efeitos da Maconha no Cérebro - Achados em Neuroimagens) que pode ser lido em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462005000100016&lng=en&nrm=iso&tlng=en
Mas, a Bíblia dá alguma orientação? Diretamente eu desconheço. Porém indiretamente, mudando o que deve ser mudado, há muitas se considerarmos a bebida.
É sabido que nos tempos bíblicos já se conhecia drogas ingeríveis ou aspiráveis, porém a única menção delas na Bíblia é a mistura de vinho e mirra que Marcos nos informa terem fornecido a Jesus na cruz, o que, com toda probabilidade, seria um entorpecente, mas ele recusou-se a tomar. Mas as Sagradas Escrituras, em diversos lugares (mais de 200 vezes), registram a palavra vinho. Com vinho Jesus estabeleceu um dos sacramentos da Nova Aliança.
Registram também o uso de “bebida forte” (18 vezes), que nos tempos do Antigo testamento era alguma bebida feita de grãos fermentados e nos tempos do Novo podia se referir tanto à bebidas fermentadas quanto à destiladas.
Porém, é significativo que tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, onde o vinho é usado como parte da alimentação caseira, se encontre muitas advertências contra a embriaguez. Por exemplo: “Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus” (1Co 6.9-10).
À luz da Bíblia, ficar debaixo de outro controle que não do Espírito de Deus - que realça o domínio próprio - é um pecado grave. Lembre-se de: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).
Não há como questionar o uso medicinal de qualquer substância, pois tudo o que existe foi criado por Deus e usado em prol da vida, conforme o mandato cultural recebido pelo homem diretamente do Criador, não é apenas um direito, mas um dever. Porém, ser dominado por qualquer tipo de droga é contra o propósito básico da criação.
Portanto, o uso médico de qualquer tipo de substância (leve ou pesada) é bíblico, desejável e obrigatório à consciência de qualquer cristão, mas o abuso recreativo, hedonista, escapista, irresponsável, temerário e inconsequente, deve ser condenado. Tão culpável deve ser o consumidor que não o faz por necessidade terapêutica, quanto quem o abastece clandestinamente.
Um comentário:
Fôlton,
Muito bom e esclarecedor. Uma parcela da sociedade que deveria ser considerada e consultada nesse assunto deveriam ser os pais e filhos de usuários de drogas. Esses conhecem bem de perto os problemas que decorrem do uso dessas substâncias.
saudades de um bom papo com v. senhoria.. rs.
Grande abraço.
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