sábado, 7 de janeiro de 2012

O dia perdido de Samoa


Você se lembra de que na virada do ano de 2006 os relógios do planeta foram ajustados em 1 segundo? Nesta virada para 2012 aconteceu outra coisa peculiar: Samoa perdeu a sexta-feira!

Samoa é um arquipélago a leste da Austrália que desde o século 18 tem sido objeto de exploradores holandeses e franceses. Apenas no século 19 houve um esforço missionário consistente feito pela London Missionary Society. Sempre foi considerado ponto estratégico, no mínimo para reabastecimento, e durante a Segunda Guerra Mundial a base militar americana lá instalada, no Porto de Pago Pago, teve grande importância para os exércitos aliados do Pacífico Sul. Recentemente, nos anos das viagens à lua, essa mesma base foi importante no resgate de 5 missões do programa Apolo.

Essa ilha menor, Tutuila, fortemente ligada aos Estados Unidos, seja pela base naval seja pelo comércio com o Havaí, atraía as duas maiores, Savai’i e ‘Upolu, vulgarmente conhecidas como Samoa Ocidental, geograficamente mais próximas da Austrália e da Nova Zelandia, mas temporalmente distantes um dia inteiro: Elas estavam na zona de Tempo do Havaí e, portanto, no fim do dia. Se você viajasse de Samoa a Tonga ou a Fiji (menos de duas horas de avião) chegaria lá no dia seguinte. Se fosse o inverso ficaria um dia mais novo pois chegaria no dia anterior.

As Ilhas de Samoa eram as últimas a receber, por exemplo, a comemoração do Ano Novo. Enquanto a Ilha de Tonga e Fiji (há poucos quilômetros de distância), a Nova Zelandia a Austrália, toda Ásia, toda Europa, o Canadá os Estados Unidos, o Brasil, os países Andinos e até o Alaska recebiam antes o Ano novo, apenas o Havaí e Samoa comemoravam juntos por último.

Mas o que aconteceu não foi uma questão de comemoração. Com o incremento das relações com a Austrália e nova Zelândia, os samoanos, alguns anos atrás, mudaram a mão de direção das ruas (e os carros passaram a ter volante do lado direito) e agora entraram no fuso horário deles também. Só que para fazer isso tivera de perder um dia: perderam uma sexta-feira.

Mas por que isto é tão importante? Para mostrar a força das convenções. Repare bem: Dirigir do lado direito ou esquerdo da rua, ou estar em uma ou outra faixa de tempo é apenas uma convenção.

Esta é uma das razões - talvez a menor delas - pelas quais, nós, de Fé Reformada, dizemos que o importante é manter o princípio de santificar ao Senhor um dia em cada sete: é impossível dizer que o sábado que vivemos hoje é o mesmo dia que Jesus passou no túmulo. Pior: é impossível dizer que seja o mesmo que Deus descansou após haver criado todas as coisas.

Se você for observar algum dia em especial e santifica-lo ao Senhor, saiba, que a escolha de tal dia passa por, no mínimo, uma convenção humana. Que dia observaremos? O do Jardim do Éden (que devia ficar nas bandas do oriente médio)? Ou o dia do local que estamos? Ou se morássemos em Samoa, antes da mudança de fuso horário, o dia anterior?

Quando eu falei sobre os muitos calendários que já obedecemos (Boletim de 31/12/2007 - aqui) mostrando assim essa impossibilidade, alguns argumentaram que só havia mudado o número do dia, mas o dia da semana era o mesmo. Pois bem: agora temos um caso concreto: os samoanos por perderem a sexta-feira estão comemorando o sábado e o domingo errados.

Precisamos entender claramente o que é o princípio (este imutável) e o acidente (este adaptável as necessidades).

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