As palavras de nosso Senhor “até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5.18) apontavam para a cruz, pois antes ele tinha sido bem claro: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17). Você já se deu conta de que Jesus estava sujeito à Lei?
Na cruz, ponto central de sua perfeita obediência ao Pai, Jesus cumpriu totalmente a Lei. Agora nada nos separa de Deus. Nem a Lei. Jesus já resolveu esse problema e fez mais: Aboliu a antiga forma de cultuar a Deus, pois era apenas sombra de sua cruz. Então, pela incomensurável graça de Deus, mediante seu sacrifício, os is e os tis da lei já estão perfeitamente resguardados.
Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos? (Rm 6.1-2).
- Se Jesus cumpriu a lei, o que ainda é pecado?
- Transgredir a vontade de Deus ainda é pecado. Por exemplo, voltar ao culto abolido pela cruz é pecado.
- Então, há ordens no Antigo Testamento cujo o cumprimento delas é pecado?
- Sim. E o Novo Testamento nos dá exemplos claros. Veja a desavença entre os apóstolos. Pedro estava pecando não apenas por hipocrisia, mas por tentar impor a cristãos gentios uma dieta judaica e Paulo o repreendeu: “Quando, porém, Cefas chegou a Antioquia, eu o enfrentei abertamente, pois merecia ser repreendido. Porque antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele estava comendo com os gentios; mas, quando eles chegaram, Cefas foi se retirando e se separando deles, por temer os que eram da circuncisão. E os outros judeus também fizeram como ele, a ponto de até Barnabé se deixar levar pela hipocrisia deles. Mas, quando vi que não agiam corretamente, conforme a verdade do evangelho, disse a Cefas na frente de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como os judeus, por que obrigas os gentios a viver como judeus?” (Gl 2.11-14 - Almeida Sec. XXI).
- Como então posso saber o que, do Antigo Testamento, devo me abster e o que ainda representa a vontade de Deus?
- Pelos quatro usos da lei de que falei no domingo passado. O uso cúltico (ou cerimonial) está abolido e voltar a ele é blasfemar contra o sacrifício do Senhor. Os demais usos (o teológico, que nos mostra o quanto somos pecadores; o civil, que está presente nas leis de nossos respectivos países; e o “revelador da vontade de Deus”, que nos ensina o modo como Deus quer que nos relacionemos com ele e com nosso próximo) estão em vigência. Não nos afligem com maldição, da qual estamos livres, mas expressam a vontade de nosso Senhor.
- Mas como saber qual é o uso da lei que determinado texto está fazendo?
- Lendo-o, sob a iluminação do Espírito Santo! Ao celebramos hoje seu derramamento sobre a Igreja, também nos lembramos: “…quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir” (Jo 16.13).
Há textos no AT que são muito difíceis. Por exemplo, o capítulo 19 de Levítico, em que todos os usos da lei estão presentes, e a cada ordem repete-se: “Eu sou o SENHOR”.
Os 2 versículos iniciais obrigam à santidade. O versículo 3 obriga a honrar o pai e a mãe e a guardar o dia de descanso. O versículo 4 proíbe a idolatria. Aqui a Lei mostra qual é a vontade Deus.
No versículo 5 até o 8 há uma série de disposições sobre o que fazer por ocasião da oferenda de um sacrifício pacífico. Obviamente já foi abolido, pois faz parte do culto antigo.
Nos versículos 9 e 10 há instruções a respeito de como fazer a colheita de um campo com vistas a beneficiar os pobres e os estrangeiros. Essas disposições estão em vigor, mas incorporadas pelas leis de nossos países.
Os versículos 11 e 12 proíbem furtar, mentir, usar de falsidade com o próximo e jurar pelo nome do SENHOR. Mostram-nos a vontade de Deus.
Dos versículos 13 a 18 vemos uma série de leis cujo objetivo é a boa convivência social: Não oprimir nem roubar o próximo, não retardar o pagamento dos salários. Não amaldiçoar o surdo, nem colocar tropeço diante do cego, mas temer a Deus. Não julgar a favor do pobre, por ele ser pobre, nem atender os interesses do rico por ele ser rico. Não fofocar. Não colocar em risco a vida do próximo. Não compactuar com os segredos pecaminosos do próximo, mas repreendê-lo de modo a não levar seu pecado. Não vingar-se de seu próximo, mas amá-lo como a si mesmo. Novamente a lei está mostrando-nos a vontade de Deus.
O versículo 19 é um mistério. Versa sobre a mistura de animais e sementes de espécie diversa, bem como sobre tecidos feitos com fibras animais e vegetais (lã e linho). Se a razão para não misturar é garantir a higiene dos rebanhos e campos, esta lei está em vigor nas leis de nossos países. Entretanto se a razão foi manter Israel isolado, o que explicaria também a roupa, essa lei foi abolida pela ordem de ir mundo afora. Nossa defesa agora não é mais o isolacionismo, mas a intercessão de Jesus: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”.
Do versículo 20 a 22 há uma disposição sobre a fornicação com uma escrava. O princípio, que mostra a vontade de Deus, continua em vigor: a relação sexual fora do casamento é pecado, mesmo com um objeto de sua posse como eram considerados os escravos naquela época.
Os versículos 23 a 25 apresentam dois usos da Lei: O uso civil: não comer do fruto nos três primeiros anos da planta, e o uso cúltico: entregar as primícias ao Senhor. O uso civil continua em vigor absorvido pelas nossas leis. Sobre a oferta das primícias, que alguns a ligam ao uso cúltico e, portanto, abolida, há discussão: O Livro de Hebreus mostra claramente que a Lei dos Dízimos existia antes de Moisés e hoje entregamos os nossos ao próprio Jesus, a quem Abraão, e todos os Levitas, também os entregaram.
Os versículos 26 a 28 proíbem comer carne com sangue, agourar, adivinhar, cortar o cabelo em redondo, aparar a barba, autoflagelar-se, mesmo em sinal de dor por um morto, ou fazer tatuagens. Certamente todos esses preceitos visavam isolar Israel dos povos ao redor. Parece que apenas a carne com sangue obriga os cristãos quando estiverem em contato com judeus (veja At 15). (Nunca encontrei um observador desse ponto que reclamasse de uma picanha pingando).
O versículo 29 não só é atualíssimo como traz uma advertência sobre a propagação do erro.
O versículo 30 está abolido por seu uso cúltico e Estêvão foi morto por mostrar como a parte final dele tinha sido abolida.
Do versículo 32 ao 34 encontramos disposições sobre os velhos e sobre os estrangeiros. Certamente nossas leis as incorporaram.
Os versículos 35 ao 37 versam sobre o comércio. Mais especificamente sobre justiça nas medidas de comprimento, peso e volume de atacado e varejo.
Assim é todo Antigo Testamento. Demanda um olhar novo sob uma perspectiva nova. Retrospectiva: a partir da cruz.
Não foi sem razão que os apóstolos providenciaram diáconos para atender as necessidades materiais da Igreja. Em At 6.2 eles dizem “Não tem sentido abandonar a palavra de Deus para servir às mesas” e no v4 “nos dedicaremos à diaconia da palavra”. Se o v4 transmite mais a ideia de ensino, o v2 transmite a de estudo. E era isso o que certamente faziam, desde que Jesus lhes mostrou como vê-lo nas Escrituras (Lc 24.44-45).
Façamos o mesmo sob a luz do Santo Espírito.
4 comentários:
Cristo nos libertou para sermos livres do pecado e de Satanás e não para sermos transgressores da Sua Palavra ou da Sua Lei Moral contida nos Dez Mandamentos. O conselho de “estudar mais a Bíblia” é sempre válido desde que seja da maneira de Deus e não A distorcendo como fez o diabo no deserto com Jesus (Mat. 4:5,6) e com Eva no Éden (Gen. 3: 1 a 5). Observe que diversas pessoas “deturpam as demais Escrituras” usando os escritos do Apostolo Paulo para distorcer a Verdade sobre o Sábado do 7º Dia. Pedro escreveu: “…nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como tambem deturpam as demais Escrituras, para propria destruição deles”(II Pedro 3:15,16). Contudo, veja:
Osmar Ferreira-nadanospodemoscontraverdade@bol.com.br
Pastor, queria ter uma dúvida esclarecida, se possível. O "graças a Deus" está na boca do povo. Esse agradecimento é feito pós gols, curas, livramentos, "vitórias", conquistas e etc. Qual a visão de Deus para tais agradecimentos e para as pessoas que os fazem? Pessoas que falam tais palavras porem suas obras testificam que não são tementes ao Mestre.
Abraço.
Davi.
Davi, Por um lado eu só tenho a lamentar que as graças de Deus sejam tão barateadas ao ponto não se considerar o quando ele deve ser respeitado. Por outro há o que considerar que nem um cabelo de nossa cabeça cai se não for da vontade dele.
Entre sua ação imanente e a falta de repeito acho que a posição correta para o cristão ainda é a ordem Bíblica de guardar a boca.
abraços
Fôlton
Osmar,
Respondo contrariado e sem vontade de alongar nossa conversa, pois tuas observações demonstram claramente que você não leu direito o que escrevi.
Aliás... Você deixa a barba crescer? Você come nectarina (a fruta)? Come em churrascarias? Se respondeu afirmativamente a qualquer uma das três perguntas, saiba que já infringiu as leis do AT.
Estude a Carta de Paulo aos Gálatas e depois falaremos.
Que Deus te ajude.
Fôlton
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