No distante ano de 1978, quando fui viver em São Paulo, me assustei com a campainha do portão tocando logo cedo. Eu já estava acordado: Seu Mário, meu vizinho, havia gritado tão alto com alguém, que acordei assustado pois ele era a calma em pessoa.
Como a campainha continuava a ser tocada, saí de casa e desci os três lances de escada até o portão. Encontrei uns três ou quatro meninos falando ao mesmo tempo.
- Tio, me deseja bons princípios!
Entendi os gritos de Seu Mário, cuja casa também tinha escadas e ainda era bem cedo de 1º de janeiro de 1979.
Nunca havia sido chamado de tio – sou filho único – nem sabia o que era “desejar bons princípios”.
Inocentemente disse aos meninos: - Bons princípios!
- Não! Gritaram. - Dá um trocadinho.
- Ah! Bons princípios é a mesma coisa que um trocadinho?
- Claro! Respondeu o mais esperto – que não era o maior – como é que a gente vai começar bem sem dinheiro?
Fazia sentido. O que não fazia sentido era ter sido acordado poucas horas depois de ter ido dormir por um bando de pirralhos pedindo dinheiro. Disse que não podia dar: - Quem sabe no próximo ano.
No fundo esses garotos estavam pondo em prática algo que aprenderam em casa, e, que, querendo ou não, todos nós concordamos. Lembra-se da música? “Adeus ano velho, feliz ano novo ... muito dinheiro no bolso...”.
Hoje pedimos a Deus que nos dê mais dinheiro. E ainda que alguns não gostem de fazê-lo, não há a menor diferença entre isso e o que nossos antepassados faziam ao orar por boas safras, bom clima e por estações bem definidas (Aliás o Diretório Litúrgico de Westminster, que nossa Igreja resumiu nos Princípios de Liturgia, obrigava os pastores orar por esse assunto em todos os cultos).
Eles viviam diretamente da terra, e da terra tiravam diretamente o que ia para suas mesas.
Nós, precisamos de um intermediário: o dinheiro. Sem ele não compramos o produto da terra.
Mas, por que no começo do ano?
Tem algo a ver com a idéia de começar bem. Idéia que não é totalmente anti-bíblica, pois na Antiga Aliança consagrávamos ao SENHOR, os primogênitos e as primícias, e Deus nos ensina através do Apóstolo Paulo que “se forem santas as primícias da massa, igualmente o será a sua totalidade; se for santa a raiz, também os ramos o serão”. (Romanos 11.16)
Portanto, desejo a todos um bom princípio de ano. Não como aqueles garotos inoportunos que procuravam a caridade alheia, mas debaixo das bênçãos do Senhor.
Estou certo de que a importância de ser o começo do ano é mais simbólica do que real.
Entretanto, espero também que não fiquemos apenas com a esperança e as “boas resoluções” do primeiro dia do ano novo. Pelo contrário: trabalhemos em cada dia de 2007 buscando em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça.
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