Recebo em aconselhamento muitas pessoas que culpam suas famílias por seus erros. Às vezes dizem: “pastor, com a família que tenho não dá pra levar uma vida cristã”.
Nosso Senhor também passou por problemas semelhantes e entende tais dificuldades. E por ter vivido tais problemas sabe até que ponto uma desculpa como essa é verdadeira.
Como toda família de então a família de Jesus esperava que ele, como filho primogênito resgatado aos quarenta dias quando seus pais o levaram ao templo, se casasse e constituísse sua própria família, para que os irmãos mais novos fizessem o mesmo.
Com a morte de seu pai - o que parece ter acontecido no início de sua juventude - isso era verdadeira obrigação, pois ao primogênito cabia cuidar da mãe e das irmãs solteiras. Afinal, para isso é que ele recebia metade da herança.
Entretanto, Jesus chegou solteiro aos 30 anos, abandonou a oficina, saiu de casa e foi morar em Cafarnaum. Marcos registra: “Então, ele foi para casa. Não obstante, a multidão afluiu de novo, de tal modo que nem podiam comer. E, quando os parentes de Jesus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si” (Mc 3.20-21).
A atividade de Jesus causava certa vergonha a seus familiares. E se há dúvida sobre quem eram os parentes que vieram prender a Jesus, o restante do texto esclarece: “Nisto, chegaram sua mãe e seus irmãos e, tendo ficado do lado de fora, mandaram chamá-lo. Muita gente estava assentada ao redor dele e lhe disseram: Olha, tua mãe, teus irmãos e irmãs estão lá fora à tua procura. Então, ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mc 2.31-35).
Percebeu? Os parentes eram sua mãe (silêncio sobre seu pai), seus irmãos e irmãs.
João, o evangelista, cuja família tinha parentesco com a de Jesus, é mais explícito sobre essas lutas familiares: “Dirigiram-se, pois, a ele os seus irmãos e lhe disseram: Deixa este lugar e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque ninguém há que procure ser conhecido em público e, contudo, realize os seus feitos em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Pois nem mesmo os seus irmãos criam nele” (Jo 7.3-5).
As lutas familiares se intensificaram com a morte de José e com a recusa de Jesus em assumir o papel tradicional que era esperado dele. Seus irmãos o viam como um simples “magico” em busca de fama e a família se desestruturou a tal ponto que, na cruz, o Senhor deixou sua mãe aos cuidados de João.
Entretanto, parece que a história acaba bem: Paulo diz que Tiago era irmão de Jesus (Gl 1.19), e que foi convertido pelo próprio Jesus após ressuscitar (1Co 15.7), embora ele mesmo apresente-se apenas como “servo de Deus e do Senhor Jesus”.
Judas – o outro irmão de Jesus - também se apresenta como “servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago”. Quanto a José e a Simão, os outros irmãos nomeados por Mateus e Marcos, a Bíblia nada fala sobre eles muito menos sobre as irmãs.
Mas a melhor de todas as notícias é que ele sabe, por experiência própria, o que é desentendimento familiar. E hoje podemos compreender melhor a afirmação bíblica: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.15).
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