sábado, 9 de julho de 2011

O Sono e o despertar

Mais uma manhã. Os primeiros sons que eu percebo são de passos femininos: curtos e secos. De saltos contra o asfalto da rua. A seguir passos pesados e abafados denunciam o pequeno grupo de operários da construção próxima que logo me atualizarão sobre o mundo do futebol, mesmo que nenhum time tenha jogado na noite anterior.

Os primeiros clarões, que já invadiram a janela, da qual as alergias me roubaram a cortina, ameaçam gradualmente meus olhos, que tentam se proteger debaixo de um edredom - verdade! As manhãs estão frias o suficiente para um edredom fininho - e o cansaço do sono iniciado bem depois de meia noite me convida a virar pro outro lado. Mas, aí já é tarde: Junto com o trinado de dezenas canários e a algazarra dos pardais, chega o aroma forte e bem vindo do café. Há sono que resista?

Antes de me levantar agradeço ao Senhor, por mais um dia em que suas misericórdias se renovaram.

E se renovaram mesmo!

A preocupação com tantas coisas feitas pela metade ou por fazer; com a distância que divide a família; com o sofrimento de ovelhas doentes ou aflitas; deu lugar à confiança, e o sono que chegou agitado foi se acalmando pela certeza de que é “inútil se levantar de madrugada, trabalhar até tarde, comer o pão de lágrimas, pois aos seus amados, Deus dá enquanto dormem”.

Foram poucas horas de sono, mas foi um sono profundo e sem sonhos: reparador.

Os problemas de ontem não desapareceram, mas ganharam novas abordagens. Suas soluções podem agora ser examinadas sob novas perspectivas.

Quantas vezes fui dormir com um “problema insolúvel” e pela manhã ele parecia algo tão banal que se desfez com um simples telefonema.

Com um sono profundo Deus trouxe a nosso pai sua companheira. A bendita Jael libertou seu povo do jugo de Sísera depois dele cair em profundo sono. E por não conseguir conciliar o sono Nabuconozor conheceu a Daniel. Por não conseguirem segurar o sono os apóstolos do Senhor não conseguiram vigiar em oração com ele no Getsêmani. Vencido pelo sono Êutico caiu do apartamento no terceiro andar em que a Igreja de Trôade estava reunida.

Mas, de tudo o que as Escrituras falam sobre o sono, o que mais me impressiona é compará-lo à morte dos remidos. Sabemos muito bem que eles morreram mesmo. Mas como breve ressuscitarão, as Escrituras chamam a morte de sono. Como se da morte acordassem.

E, especulo eu: do que primeiro teremos consciência? Dos passos dos transeuntes? Da claridade do dia? Do canto dos pássaros? Do aroma do café? Não! Creio que será da bendita voz - aquela que já foi ouvida por Lázaro - “vem pra fora”!

Eu irei.

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