Quando eu era menino falava o que minha imaginação ditava. Afinal não é assim que todo menino fala? Eu não era exceção.
A verdade era minha, e eu fazia com que ela servisse a meus propósitos. Fabricá-la era muito útil na hora de explicar ao professor porque não fiz o dever de casa, ou à minha mãe porque o quarto não foi arrumado.
É claro que à medida que eu crescia, dentro de minha meninice, a verdade se tornou mais fugidia. Eu havia descoberto que a fantasia é perdoada, e as vezes até admirada em idades menores. Agora era imprescindível que houvesse alguma verossimilhança: uma verdade pela metade. Fabricá-la tinha passado a ser muito arriscado. Era melhor dobrá-la. Melhor ainda se a parte fantasiosa fosse insinuada para que o outro deduzisse a mentira e eu apresentasse apenas metade da verdade.
Minha também era a “lábia”. Não era necessariamente mentira o que eu falava, mas com jeitinho eu conseguia fazer meu time. Quando o jeitinho não funcionava o “grito” era uma boa solução. Uma bronca bem dada, ou uma mancada revelada na presença de outros fazia qualquer adversário concordar comigo. As vezes uma ameaça era necessária, mas as melhores não eram as ameaças físicas, mas revelar a todos aquelas besteiras que quase todos os meninos fazem e têm vergonha. Como fazer xixi na cama.
Quando eu era menino sentia que podia dominar o mundo. Me imaginava como aqueles heróis que dominam qualquer coisa que corra, flutue ou voe. E era bom pensar que eu seria admirado como os heróis que via nos filmes ou que eu imaginava das histórias dos adultos.
Porém, só imaginava os bons feitos: fechar a boca de leões, passar pelo meio do fogo, mandar o sol parar, caminhar em cima das águas, tirar montes do meio do caminho.
Levar bronca pelo erro cometido era para os outros. Vagar pelos desertos era para aquele moleque que me perturbava na classe.
Me assustei uma vez em que leram de Paulo passando fome, frio, açoites e outras dificuldades, pois já sabia de cor como ele fugira em um cesto por uma janela de uma muralha.
Quando eu era menino pensava que tinha a fé mais forte, a família mais perfeita, os melhores amigos e a capacidade de nunca “pisar na bola”.
Pensava que todas as regras e limites eram impostos por quem queria aparecer.
Pensava que não devia respeito a essa cambada de fingidos que “se acham” os bons.
Ah, quando eu era menino ...
Quando eu era menino
falava como menino,
sentia como menino,
Pensava como menino.
Quando cheguei a ser homem,
desisti das coisas próprias de menino. 1Coríntios 13.11
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Um comentário:
ah, que vontade de deixar de ser um menino...
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