Quando se lê as sete cartas do Apocalipse, partindo da pressuposição que elas foram escritas primariamente à pastores - o que espero que você tenha feito desde que comecei tratar deste assunto - muitas coisas mudam de aspecto.
Continuarei abordá-las depois, em outra fase. Porém, não posso deixar de falar no fim desta primeira sobre algo que salta aos olhos: o que os pastores pensam de si mesmos e o que Jesus pensa deles.
Talvez o caso mais claro seja o do pastor da igreja de Laodicéia: “...pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu”. Veja: Aos próprios olhos ele era rico, abastado e independente, mas o Senhor o via nu, cego, pobre e miserável. O coitado sequer sabia que era infeliz.
Mas nem sempre o texto é tão claro.
O pastor da igreja de Éfeso parece ter sido um homem íntegro que via na fidelidade às verdades recebidas, e a perseverança nelas a qualquer custo, a realização de seu ministério. Talvez fosse o que hoje chamaríamos de conservador. Jesus o elogiou por isso, mas o criticou por esquecer-se da razão pela qual isso deve ser feito: o amor. O primeiro amor. O amor que tinha quando começou a fazer tais coisas.
Invertido é o caso do pastor da igreja de Esmirna. Provavelmente diríamos hoje que ele tinha “baixa autoestima”, ou então que as condições em que vivia não o permitiam pensar muito além do que o horizonte humano deixava. Entretanto o diagnóstico do Senhor é diferente: “mas tu és rico”. A riqueza que o Senhor mede não é a que enche as carteiras, como a dos depositantes do gazofilácio, mas a que transborda de corações como da viúva ou desse pastor anônimo, que tinha de suportar blasfemos, falsos judeus e satanistas.
Sobre o pastor da igreja de Pérgamo, a despeito de conservar o nome do Senhor em meio a dificuldades inimagináveis hoje, mantinha uma postura pluralista inclusivista, pois permitia em seu rebanho balaamitas e nicolaitas. A ordem do Senhor era clara: deveria se arrepender. Isso pressupõe que ele se orgulhava de ser conciliador de opostos pois os pecados dos balaamitas eram exatamente levar seu rebanho à idolatria.
O pastor da igreja de Tiatira, a despeito de suas muitas obras, que o qualificariam hoje como um homem piedoso, tem seu pecado é claramente mostrado como o da tolerância para com o erro, pois permitia um verdadeiro “copastorado” de uma mulher que se dizia profetiza mas agia como a rainha idolatra Jezabel. A ausência de repreensão direta a ele (pastor) e a intervenção direta de Jesus no rebanho com ameaças terríveis, me dá a impressão que ele tinha o que chamamos hoje de “falta de pulso”. Talvez tivesse de si mesmo um conceito fraco. Era um trabalhador, mas era fraco como o rei Acabe. Quem sabe essa seja outra razão para o Senhor chamar essa mulher de Jezabel.
Triste sina a do pastor da igreja de Sardes, que pode ser resumida em poucas palavras. Ele se imaginava vivo, mas o Senhor o via morto.
Outro pastor misterioso é o de Filadélfia, mas pelo lado bom. Parece que ele pensava de si próprio com moderação. Sabia que tinha pouca força e o Senhor lhe atestou isso. Também era assolado por falsos judeus e satanistas, mas guardou a palavra do Senhor.
Sete pastores, sete avaliações e parece que apenas um pensava concordemente com o Senhor. Cinco pensavam de si mais do que deveriam e o Senhor os repreendeu. O de Esmirna pensava aquém e o Senhor o animou.
Ainda bem que o Senhor Jesus anda no meio das igreja e tem na mão cada pastor. Assim ele interfere em seu rebanho e no pastoreio do mesmo. Assim ele cumpre sua própria promessa: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência” Jr 3.15.
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