O Espírito do Senhor está sobre mim,
pelo que me ungiu
para evangelizar os pobres;
enviou-me para proclamar
libertação aos cativos
e restauração da vista aos cegos,
para pôr em liberdade os oprimidos,
e apregoar o ano aceitável do Senhor.
Lucas 4.18-19
Ao duvidar se Jesus era realmente o Messias esperado João Batista mandou dois de seus discípulos interrogá-lo. Sua resposta foi simples: “Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho” (Mt 11.4-5).
Nessa semana recebi a visita de um sindicalista pedindo que nossa igreja participasse da manutenção de um fundo de greve. Argumentava que não devíamos nos furtar ao mando de Jesus de evangelizar os pobres (no contexto suprir o fundo para manter a greve). Como este assunto já foi tocado outras vezes achei que era uma boa oportunidade escrever sobre ele.
Só entenderemos bem por que os Evangelhos mencionam os pobres como destinatários da mensagem evangélica conhecendo o contexto da época: a exploração dos pobres através da religião.
Deus sempre levantou profetas no meio de seu povo, mas a partir da época dos Juízes eles ficam mais evidentes, e foi um Juiz/Profeta, Samuel, quem fez a transição para o período dos Reis, ungindo os dois primeiros reis: Saul e Davi. A partir de então os profetas foram sistematicamente levantados por Deus como uma espécie de consciência de cada rei. O profeta alertava o rei de seus maus caminhos.
Entretanto, aos abusos dos reis sucumbiram o desejo de riqueza dos próprios profetas e também dos sacerdotes. Veja em Amós 7.10-17 o desdém com que o profeta é tratado pelo rei de Israel que o tinha por um apaniguado e não por um porta-voz de Deus.
Veja também como Jeremias, de modo espantosamente atual, mostra o desgosto do Senhor com ambos: “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo” (Jr 5.30-31).
Foram todos castigados com o cativeiro.
No cativeiro, com o fim de preservar a memória, houve necessidade de apurar-se os registros. Exacerbou-se então o zelo com o escriba, ou doutor da lei (dentre os quais Esdras se destaca como bom exemplo), mas que se tornaram aquilo que Jesus depreca com o refrão “escribas e fariseus hipócritas” e ordena a seus discípulos a guardarem-se deles.
Nos dias de Jesus eles mantinham uma relação espúria com as famílias sacerdotais, que integravam em sua maioria o partido dos saduceus: enquanto os fariseus atentos às minúcias da lei colocavam “fardos pesados nas costas” do homem comum, as famílias sacerdotais lucravam com a exploração dessas obrigações.
Do primeiro se vê a estipulação do dízimo sobre o endro e o cominho criticado por Jesus (Mt 23.23) e a hipocrisia vil na exploração dos desamparados: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo” (Mt 23.14).
O segundo é visto na venda de animais e na presença de cambistas no pátio do templo, expulsos por Jesus debaixo do rótulo de ladrões e salteadores.
Resumindo: eles ficavam cada vez mais ricos dizendo que o povo deveriam fazer mais sacrifícios, com os quais lucravam de muitas maneiras. Jesus veio pregar ao povo a boa nova: vocês não devem mais nada a Deus, pois o verdadeiro sacrifício chegou. Ou seja: ele veio evangelizar os pobres.
Há sentido para hoje? Sem dúvida! Como é que algumas religiões ficam ricas? Não é colocando culpa nas costas de seus fiéis? Culpa que deve ser expiada por meio de indulgências, penitências, sacrifícios, correntes, e votos? É a eles que o Evangelho deve ser pregado. Cristo morreu para que eles fossem livres dessas algemas. Isso é evangelizar aos pobres.
Um comentário:
Só faltava essa! Daqui a pouco vão levar a ideia para o congresso para que fique instituído uma contribuição sindical das igreja para evangelizar.
Que Deus tenha misericórdia de nós
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