sábado, 1 de outubro de 2011

Pecando contra a soberania de Deus

O aspecto mais sutil do pecado é visto na cobiça.

Sem o desejo de progredir estagnamos até mesmo na vida cristã. Em diversos textos os crentes são exortados a progredirem na fé, e a desejarem coisas superiores. Porem, tal desejo nunca pode ter a forma de cobiça.

Um exame rápido no dicionário nos ensina que cobiça é o “desejo sôfrego, veemente, de possuir algo”. Entretanto a análise da palavra bíblica original que proíbe-nos cobiçar simplesmente nos manda “não desejar”, porém adiciona moduladores: a casa, a mulher, o servo, a serva, o boi, o jumento, “nem coisa alguma que pertença ao teu próximo”.

Para a Bíblia o que está em jogo não é o desejo de progredir, mas de ter aquilo que o Senhor confiou ao próximo. Em síntese: Se furtar é um pecado contra a mordomia, a cobiça é um pecado contra a soberania de Deus, que distribuiu o que quis a quem lhe aprouve.

Cobiçar é não estar contente com a própria situação. Cobiçar é querer o que o próximo tem. Cobiçar é atribuir a Deus o erro de ter confiado ao próximo aquilo que, na opinião do cobiçoso, deveria estar debaixo de seus cuidados.

Conforme a definição de nosso dicionário há uma diferença clara entre cobiça (desejo sôfrego de possuir algo) e a inveja (desejo violento de possuir o bem alheio). Porém, conforme a palavra bíblica, cobiça é irmã gêmea da inveja (se houver diferença entre elas).

Ora, a inveja (e biblicamente a cobiça) é acima de tudo o pecado que não se realiza externamente, pois todos os demais trazem algum tipo de prazer externo, ainda que maligno e efêmero, como o da desforra, do êxtase, da vingança ou da usurpação. Mas o invejoso ou cobiçoso devora-se e nutre-se do próprio desejo - se dele tirar qualquer proveito - pois, talvez nem disso se possa dizer que teve os “prazeres transitórios do pecado” (Hb.11.25).

Quando o apóstolo Paulo escreve: “Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Rm 13.9) traduz a palavra a que me referi pela por outra grega que significa basicamente desejo (podendo ter até conotações sexuais), mostrando com isso que cobiça nada mais é que um tipo de desejo.

Você já deve ter notado que o que tenho chamado de aspectos do pecado nada mais é do que a aplicação dos 10 mandamentos e que me ative à segunda tábua (a que fala dos pecados contra o próximo).

Agora, veja mais uma de minhas razões para acreditar que se trata de um pecado só (contra Deus) em múltiplos aspectos: Naqueles dias, quando sequer se sabia pensar direito (estou falando dos israelitas e não dos filósofos gregos) Deus já os ordenou a não cobiçar!

Entendeu? Faz algum sentido proibir a um bando de peregrinos que não se matem uns aos outros. Também faz sentido proibir-lhes que não tomem as mulheres uns dos outros, ou que não roubem o pouco que carregam deserto afora. Mas, que sentido faz proibir cobiçar os animais que facilitam a jornada de uma família vizinha?

Somente o Senhor Deus é capaz de chegar a tal nível de exigência de seus filhos, como no Novo Testamento ele chega a determinar aquilo em que não devemos pensar, como acontece na Carta aos Filipenses!

Não foi sem razão que o apóstolo Paulo disse: “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado” (Rm 7.14).

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