Depois do dia de Pentecostes alguns
convertidos permaneceram em Jerusalém e muitos voltaram para suas cidades de
origem onde estabeleceram igrejas. Este deve ter sido o início de Igrejas como
a de Roma. Lucas nos informa (At 28.13-14) que encontraram “alguns irmãos” em
Putéoli (próximo a atual Nápoles) e que foram recebidos pelos crentes de Roma
na Praça de Ápio.
Até o fim do primeiro século
temos notícias de pelo menos 50 igrejas em diversas cidades desde Jerusalém a
Roma. Dentre essas, temos detalhes em Atos dos Apóstolos, das igrejas na Galácia,
Filipos, Tessalônica, Corinto e Éfeso e pelas cartas de Paulo sabemos algo das
igrejas em Colossos, Laodicéia e Creta. O Apocalipse fala das 7 igrejas na Ásia
menor.
Portanto, em cerca de 60 anos –
de 40 a
100 AD – podemos catalogar umas cinquenta igrejas diferentes, fundadas em
situações diferentes, em cidades diferentes, falando idiomas diferentes, com poucas
coisas em comum: todas dentro do império romano e todas usando um sistema de
governo semelhante.
Sobre essa primeira
característica comum, veja aqui uma análise que fiz em agosto de 2011. Quanto à segunda
característica, Lucas nos diz que a Igreja de Jerusalém tinha Apóstolos (At
8.1, 11.30, 15.1, etc.) e
presbíteros (At 15.1). Também tinha diáconos, pois os 7 homens (At 6.1-7) foram
eleitos com missão de servir às mesas.
O ofício de Apóstolo foi tão restrito aos Doze chamados por Jesus, quanto o
patriarcado foi restrito aos filhos de Jacó. Além dele temos apenas Matias e
Paulo (que, como os dois filhos de José, foram agregados ao patriarcado
também). Os textos em que outros são chamados apóstolos (Barnabé em At 14.14 e Tiago, o irmão do Senhor, em
Gl 1.19) são claramente lato sensu.
Seria como dizer que Moisés e Josué foram patriarcas de Israel. Só houve uma
substituição entre os doze: Judas. Quando o último apóstolo morreu considerou-se
extinta a época deles e os que ousaram identigicar-se como apóstolos foram
expostos como obreiros fraudulentos, ministros de Satanás (2Co 11.4-15) e mentirosos
(Ap 2.2).
Os presbíteros são explicitamente mencionados nas Igrejas de Listra,
Icônio e Antioquia (At 14.21-23), Éfeso (At 20.17), Creta (Tt 1.5) e nas
diversas igrejas do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (1Pe 5.1 em
conjunto com 5.5). A palavra presbítero basicamente significa idade mais velha,
porém seu uso mais comum refere-se à maturidade. A Septuaginta (tradução grega
do Antigo Testamento) usou diversas palavras derivadas da raiz presb: velhos (Sara e Abraão), ou líderes
(os auxiliares de Moisés). No Novo Testamento (NT) refere-se aos membros do
Sinédrio, aos seres celestiais do Apocalipse, e principalmente a certos líderes
cristãos, encarregados de supervisionar e pastorear a Igreja (At 20.28, 1Pe 5.1-3, etc.).
A palavra diácono aparece 34 vezes (5 vezes na Septuaginta) com o sentido
básico de serviço (os servos no Livro de Ester, o maior no reino dos céus, os
serventes na festa de Caná, etc.) Porém, em cinco lugares ela claramente
refere-se a um ofício na Igreja (os que preenchem as qualificações dadas a
Timóteo (1Tm 3.8-10) e aquele a quem a Carta aos Filipenses foi endereçada (Fp
1.1). Os primeiros diáconos foram eleitos na Igreja de Jerusalém (At 6.1-6).
O texto bíblico menciona bispos nas Igrejas de Éfeso e FIlipos e
indiretamente na de Creta (quando Tito recebe instruções). A palavra episkopos e suas correlatas (de onde
veio nossa palavra bispo) era usada desde a Grécia clássica para designar
aquele que supervisiona, superintende, vela ou vigia por algo (Artemis vigiava
pela fidelidade dos contratos). É mais usada na Septuaginta (14 vezes) sempre com
o sentido de ter o encargo de, comandar, superintender, inspecionar, do que no
NT (5 vezes) onde significa basicamente pastorear. De todas as vezes fica a
impressão de um presbítero que tinha uma incumbência específica.
É notável que durante todo esse
tempo, em uma área com quase 5 mil quilômetros de extensão, igrejas de
nacionalidades e idiomas tão díspares,
possuíssem forma de governo tão semelhante. Não pode ter sido apenas
coincidência. Creio que a Doutrina dos Apóstolos incluía também uma alusão ao
sistema de governo do Antigo Testamento em que os presbíteros já estavam
presentes e os diáconos possuíam missão análoga à dos levitas.
Os presbíteros, que
supervisionassem bem, deveriam ser dignos de honra (ou honorários) dobrados,
especialmente os que se dedicassem ao estudo da Palavra de Deus e ao ensino
(1Tm 5.17). Deveriam ser tidos em alta conta, ter sempre um voto de confiança
diante de denúncias isoladas (mas, quando culpados, a disciplina deveria se
pública, diante de todos).
Não podemos esquecer que eles
receberam exortações pungentes sobre como exercer seus ofícios: Paulo diz que
eles deveriam ter vidas tão ilibadas ao ponto de não serem passíveis de
qualquer repreensão. Deveriam ser maridos de uma só mulher e pais de filhos
dóceis. Irrepreensíveis, também, ofício do presbiterato. Afáveis, pacíficos,
generosos, hospitaleiros, sóbrios, apegados à doutrina cristã, dispostos a
defendê-la e a promover sua aplicação. Pedro ordena-lhes atender o rebanho com
dedicação e liberalidade sem segundas intenções, especialmente financeiras. E João
diz que devem ser comprometidos com a verdade.
Todas as qualidades estão
relacionadas a cuidado e nenhuma delas a desempenho. Diferentemente de hoje, os
líderes do povo de Deus, não são executivos dirigindo uma empresa ao sucesso.
São homens santos cuidando de um rebanho que não lhes pertence.
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