O que é que leva alguém a enfiar agulhas no corpo de uma criança? Perguntaram-me diversas vezes nesses últimos dias.
E, como se não bastasse, para fechar o ano, já se tem notícia de outra criança e de uma mulher. O Estadão de 19/12 diz sobre a segunda criança: a polícia suspeita de que ela tenha sido “vítima de um ritual de magia negra”.
Eu não duvido da atuação dos demônios, porém duvido menos ainda da terrível maldade do coração humano. Explico:
A crença geral é a de que todos os homens possuem coração bom. Os maus fazem coisas assim por terem sofrido algum tipo de desvio na educação ou na socialização. Entretanto, não é bem isso que a Bíblia ensina. O que ela nos diz é que todos nascem com o coração “desesperadamente corrupto”.
Nosso pai Adão foi criado com o coração livre e sem qualquer tipo de propensão. Entretanto, após haver desobedecido a Deus, (desobedecido em uma exigência tão simples, que ele poderia perfeitamente ter cumprido, e que, de tão simples, mostrava apenas se ele obedeceria ou não, sem outro motivo além da própria obediência) seu universo se desequilibrou. Desequilibrou-se a tal ponto que se tornou propenso apenas para o mal.
Agostinho dizia que antes nele havia o “posso não pecar” e depois passou a existir o “não posso não pecar”.
Esta propensão para o mal atingiu também tudo aquilo sobre o que o Criador lhe colocara, e, como aconteceu antes do nascimento de seus filhos, tudo que lhe era sujeito e todos os seus descendentes herdaram tal propensão.
De tal modo que hoje, todos nós, descendentes de Adão, temos um coração tão propenso ao mal que, se não for a graça de Deus, qualquer um de nós pode espetar agulhas em um bebê sem qualquer tipo de remorso.
A Graça de Deus, a que faz “nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mateus 5.45), é a mesma que minora o mal e coíbe as mais perversas formas de bestialidade e imoralidade entre os seres humanos. Pois, na verdade, o coração do homem sem Deus não é muito diferente do coração dos demônios.
Quando neste “coração manjedoura” nasce o Senhor Jesus, ocorrem muitas mudanças. A primeira é uma verdadeira luta que se estabelece entre as propensões herdadas de Adão e a vontade do “novo morador da manjedoura”. E essa luta é fruto de uma graça que já não é mais comum a todos.
Porém, a mudança total do “coração manjedoura” só ocorrerá quando estivermos na presença do Senhor. Por isso, até quem possui essa nova natureza é também capaz de fazer coisas hediondas. Mas as faz por exceção, não por regra. Não permanece fazendo-as nem deixa de sentir a maior tristeza por ser capaz de fazê-las.
Estamos iniciando mais um ano e olhando para o que ficou. Temos muito do que nos arrepender. Mesmo que não tenhamos praticado coisas hediondas, bestiais e imorais, diante de Deus, qualquer pecado é mortal, pois exige a morte de seu filho. Arrependamo-nos confiados em sua graça e tementes do que nossa natureza ainda é capaz de fazer. Porém, não deixemos de ser gratos.
Sejamos gratos, primeiramente pelo sacrifício de seu Filho que nos assegura o perdão. E nos lembremos de agradecer pela sua ajuda nesta luta terrível, contra nossa própria natureza.
Sigamos a ordem do apóstolo: ”não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (Gálatas 6.9). O que é um bom conselho não apenas para 2010, mas para todos os anos a frente.