Duas mulheres se destacam no Apocalipse expressando conceitos totalmente opostos.
A meretriz que tem por montaria uma besta escarlate repleta de nomes de blasfêmia com sete cabeças e dez chifres. Veste-se de púrpura e de escarlata. Adorna-se de ouro, de pedras preciosas e de pérolas. Segura um cálice de ouro transbordante de abominações e de imundícias das suas prostituições. Na testa (uma tiara?) divulga seu nome: Babilônia, a Grande, a Mãe das Maretrizes e das Abominações da Terra. Embriaga-se com o sangue dos santos mártires de Jesus.
Após explicar a João que a besta, em quem ela monta, representa os reinos deste mundo, o anjo esclarece que a meretriz é a grande cidade que domina sobre eles.
Sempre houve uma cidade que fascina os poderosos e lhes nutre de poder e status. Talvez Babel tenha sido a primeira. Depois, até hoje, muitas formaram fila. Nos dias de João Roma era uma delas. Babilônia é apenas um arquétipo.
A meretriz vista por João é a síntese de tudo que, em todos os tempos, atrai e seduz o povo de Deus. Seduz com um cálice de ouro, como a prometer a mais deliciosa bebida, mas seu conteúdo é o próprio produto de suas prostituições: o conluio com os poderosos.
João está vendo o que ele mesmo chamou de a "concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida" (1Jo 2.16). A melhor figura: a que vende a si mesma. Ou seja: uma meretriz.
A outra mulher - que João viu antes - no céu, é uma parturiente. Ela veste-se do sol, pisa na lua, adorna-se com uma coroa de doze estrelas e grita sofrendo com dores de parto.
Enquanto ela se exaure dando à luz um filho que há de reger todas as nações, um dragão, grande, vermelho, com sete cabeças diademadas e dez chifres, cuja cauda arrasta um terço das estrelas dos céus, aguarda para devorar-lhe o filho tão logo nasça. O filho nasce e é arrebatado para Deus e a mulher foge para o deserto, onde Deus lhe havia preparado refúgio.
Enquanto está segura, Miguel e seus anjos pelejaram contra o dragão e seu “um terço”. Venceram e os atiraram para a terra. Vendo-se na terra, o dragão perseguiu a mulher, que recebeu asas e voou até o deserto fora da vista do dragão.
Desde o dia em que Deus disse “porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15) até o nascimento de Jesus a principal ocupação de Satanás foi deter-se diante da linhagem da qual nasceria o Messias.
Quantos descendentes da mulher Deus arrebatou livrando-os das mãos do dragão? A família de Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés... Davi... O próprio Jesus da fúria de Herodes. João está vendo a luta da mulher através dos tempos e de como Deus a preservou em sua missão de mãe. Missão totalmente antagônica a missão da meretriz.
João também está vendo a luta do povo de Deus, sempre protegido por ele – alguns até mesmo arrebatados tão logo nascem – da sanha feroz do inimigo.
Mas também João vê a derrota do inimigo que arrasta consigo um terço dos anjos para lutar contra as forças de Deus. Tão logo, cumprindo a profecia ele se torne um descendente da mulher - adquira um calcanhar - o inimigo lutará para ferir mais do que isso, com todas as suas forças, antes que sua cabeça seja esmagada.
A mulher gloriosamente vestida, portanto não se trata de Maria em si, mas de todas aquelas que, durante todos os tempos – simbolizados aqui pelo sol, lua e estrelas – em meio as mais diversas dificuldades – simbolizadas aqui pelos sofrimentos do parto – conduziram seus filhos a uma vida de submissão ao Senhor em luta direta contra os ataques do dragão.
As duas mulheres apontam para a realização plena ou negação total da vontade de Deus. A mulher gloriosa a realiza inclusive concebendo filhos nos quais se materializam os planos do altíssimo. A meretriz nega a partir da subversão da maternidade e, seduz o povo de Deus a adorar àquele que se rebelou contra o Altíssimo.
3 comentários:
Folton
Creio que devo discordar de sua interpretação. O conjunto de símbolos composto por sol, lua e doze estrelas havia aparecido ela primeira vez em Genesis, no sonho de Jose. Nesse sonho, claramente simboliza sua família, isto e, as doze tribos de Israel. O uso do mesmo símbolo não pode ser coincidência.
Parabéns pelo blog. Você faz analises interessantes.
Os símbolos devem ser entendidos dentro de seu contexto. Se você trouxer o contexto de Gênesis pra cá, necessariamente a mulher estará vestida do pai, pisando na mãe e coroada dos filhos! Não funciona.
Ab
Fôlton
Folton
Não considero que cada relação, na descrição simbólica, deve ter um sentido específico. De qualquer forma, grato pela resposta.
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