Deus é chamado de “refúgio”: refúgio de geração em geração. Não menos importante que o predicativo atribuído a Deus, é sua qualificação: “de geração em geração”. Um segundo qualificativo aparece: “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus”. Ele é Deus além das gerações, além da existência dos mentes, da própria terra e também do mundo. Ele é Deus além do tempo, além das “eternidades”.
O homem não recebe diretamente um predicativo, mas a consequência óbvia é que é ele quem se refugia. Já a qualificação introduz um contraste dramático: “os dias de nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; nesse caso o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente e nós voamos”.
Como as palavras não são adequadas para falar de Deus e sua existência, Moisés contrasta os tempos de existência. Enquanto Deus é “de eternidade a eternidade”, os dias da vida do homem voam!
Ao descrever os feitos de ambos o contraste se intensifica. Não é só existencial, mas também moral: Deus reduz o homem a pó, arrasta-o na torrente e expõe todas as suas iniquidades e pecados ocultos. Sobre o homem, não diz o que ele faz, mas o que ele pede: “Ensina-nos”, “volta-te”, “sacia-nos”, “alegra-nos”, “mostra-nos (apareçam as tuas obras...)”, “seja sobre nós a graça” e, por fim, “confirma as obras de nossas mãos”.
Esta comparação pressupõe:
1) Deus não apenas está na eternidade, mas existe além dela. O homem, além de estar debaixo do tempo, vive apenas pouco dele: setenta ou oitenta anos.
2) A efemeridade do homem é tal que, aos olhos de Deus, sua existência é como um sono, ou como a relva que viceja de madrugada e seca à tarde.
3) A diferença é tão gigantesca que o homem sequer conhece o poder da ira de Deus. Muito menos sua cólera.
4) O homem está sujeito a um imperativo moral estabelecido por Deus, que não tolera suas iniquidades nem seus pecados ocultos, razão pela qual todos os seus dias se passam sob a ira de Deus, que o consome de tal forma que a duração de seus anos, se assemelha a um breve pensamento.
Essa diferença formidável aponta para a graça: todos os homens estão debaixo da ira e do furor de Deus. Sempre estiveram e sempre estarão. Com exceção daqueles que se abrigaram em Jesus – o único que conhece a extensão e a intensidade da ira de Deus.
Desejo que, em todos os dias de 2014 e por todos os nossos dias, esta bênção seja nosso consolo maior: Estamos debaixo da graça de Deus: Jesus Cristo.
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