O Tiago que a escreve identifica-se com “servo de Deus e do
Senhor Jesus Cristo”. Acho que é o mesmo Tiago lembrado por Pedro ainda
de madrugada quando se viu livre da prisão (At 12.17). Esse Tiago era um dos
mais destacados líderes da Igreja de Jerusalém ao ponto de Judas, em sua carta,
identificar-se simplesmente como seu irmão (Jd 1). Foi ele quem apresentou o
parecer acolhido pelo Concílio de Jerusalém (At 15.13) e dele Paulo declara que
era tido como uma das colunas daquela Igreja (Gl 2.9).
No Novo Testamento encontramos quatro pessoas chamadas Tiago:
o pai do apóstolo Judas (Lc 6.16 e At 1.13), o filho de Zebedeu, irmão de João
(que foi morto pouco tempo antes dessa perseguição); o apóstolo que era filho
de Alfeu; e este, que era um dos irmãos de Jesus, também filho de Maria e José
(Mc 6.3) e foi chamado pelo Senhor após sua ressurreição (1Co 15.7).
O objetivo da Carta de Tiago é confirmar a fé (palavra
repetida 15 vezes) de seus leitores, que, como já disse, passavam por
provações. Certamente essas provações eram decorrência da perseguição que
estavam sofrendo.
Sua primeira preocupação é mostrar que a provação deve ser
recebida como uma oportunidade dada por Deus para nos tornar mais
perseverantes. E, com este objetivo em mente, ele passa a discorrer sobre
diversos assuntos presentes em tempos de dificuldades: a prática de boas obras,
a oração, a fala, os planos futuros, etc.
Entretanto, o que selecionei como destaque foi a
discriminação decorrente da posse de bens. Veja a hipótese proposta por Tiago: “Se, portanto, entrar na vossa sinagoga algum homem com anéis de ouro
nos dedos, em trajos de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso, e
tratardes com deferência o que tem os trajos de luxo e lhe disserdes: Tu,
assenta-te aqui em lugar de honra; e disserdes ao pobre: Tu, fica ali em pé ou
assenta-te aqui abaixo do estrado dos meus pés, não fizestes distinção entre
vós mesmos e não vos tornastes juízes tomados de perversos pensamentos?” (Tg
2.2-4).
Tiago nos mostra que já nos primeiros dias da Igreja havia
pobres e ricos entre seus membros e dificuldades de convivência entre eles.
Aliás, isso também pode ser visto no pecado do casal Ananias e Safira, em que
desejavam ser reconhecidos como desprendidos dos bens materiais e ao mesmo
tempo mantê-los.
O ensino bíblico sobre riquezas sempre foi que Deus é o dono
de tudo e nós somos seus administradores. Os que chamamos de ricos, na
realidade são apenas administradores de mais bens e com mais contas a prestar.
Portanto, tratar alguém que tem mais (apenas por ter mais), em detrimento de
alguém que tem menos (apenas por ter menos), destinando-lhe o chão como assento,
significa cometer, pelo menos, 3 pecados:
1º - Glorificar-se a si mesmo assumindo o papel de juiz da
importância alheia.
2º - Julgar alguém pelo que ele tem! Não pelo que ele é.
Deus, através de sua palavra, nos exorta continuamente a sermos juízes sobre a
essência e, desprezando o mal, acolhermos o bem. Somos constantemente proibidos
de julgar pela aparência.
3º - Fazer distinções no Corpo de Cristo. Ou, como diz o
próprio Tiago: “fazer distinções entre vós mesmos” (2.4).
Cristo morreu por cada membro de sua Igreja. Ao privilegiarmos um em detrimento
de outro, pecamos.
A Carta de Tiago é um testemunho de que esse pecado sempre
existiu na Igreja, mas também é uma exortação a que não o cometamos. Não
ofendemos apenas a nosso irmão pobre, menosprezando-o por ele ter poucos bens
sob sua guarda, pecamos também contra o rico destacando-lhe em função de algo
que não lhe pertence. Porem principalmente ofendemos muito mais a Deus, que fez
igual a todos e trata igualmente a quem diferençamos.
Não façamos isso.
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