Porém, é digno de nota que ele tenha se referido também à
“Casa do Pai”. Duas vezes ele usa essa expressão para referir-se ao templo (aos
doze anos e ao purificá-lo), e as demais vezes sempre para ensinar algo.
Ao despedir-se dos seus, ele garantiu que na Casa do Pai
havia muitas moradas e que ia adiante deles para preparar-lhes um lugar.
Para o Filho Pródigo a Casa do Pai era o lugar em que os
servos tinham pão com fartura. Entretanto, na própria parábola o Senhor Jesus a
descreve mais generosamente: era lugar de alegria. Lá o filho era aguardado com
festa e com muito mais de tudo aquilo que gastara prodigamente. Mas, repare bem
na própria Parábola: na Casa do Pai há certos procedimentos que devem ser
observados.
As roupas que ele levou, e as dissipou, na Casa do Pai são
necessárias para cobrir a nudez que um mero pano não consegue cobrir. Por isso
são providenciadas pelo próprio Pai.
Na Casa do Pai o anel e os calçados certificam reabilitação
filial. Com o anel ele está credenciado a assinar pelo pai. Calçado, ele jamais
será confundido com um servo (mesmo aqueles que têm pão com fartura) mas fica
claro que ele também é Senhor.
Na Casa do Pai vestir-se é mais do que obediência a
etiqueta. Sinaliza que o filho assumiu as obrigações decorrentes da filiação,
mesmo que aos olhos de muitos tais obrigações pareçam ostentação, elas existem
para a glória do Dono da Casa e seus filhos se comprazem, mesmo indignos delas,
em recebê-las e usá-las.
Mas na Casa do Pai, não há lugar para picuinhas entre
irmãos. O irmão mais velho, que recusa a alegrar-se com a graça e misericórdia
do Pai, lhe ofende tanto quanto aquele que o considerou morto e lhe voltou as
costas.
Portanto, na Casa do Pai há certas normas de conduta. Há um
modo de se viver lá. E esse é o sentido primário de ethos: palavra grega
da qual se deriva nossa palavra ética, que poderia ser traduzida por “conforme
os costumes da casa”. No caso da família que, tanto no céu quanto na terra
toma o nome do Pai Altíssimo, a ética de sua Casa. A ética vivida por seu Filho
Unigênito. Ou seja: a Ética Cristã.
Em síntese: Na Casa do Pai, o filho é motivo de alegria e
festa, mas não se faz o que se quer. Quem mora na Casa do Pai tem de seguir as
normas que foram estabelecidas pelo Pai. Tanto as que regulamentam o
comportamento diante do Pai, quanto o comportamento diante dos irmãos que nela
também moram.
Na Casa do Pai há muitas moradas, mas todas são regidas pela
vontade do Pai.
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