sábado, 22 de março de 2014

Abimeleque

No tempo em que Israel era governado por Juízes e cada um fazia o que achava mais reto, Abimeleque matou seus irmãos. Setenta irmãos.

Abimeleque era filho de Gideão (aquele que fora usado por Deus para libertar Israel do jugo dos Midianitas) com uma concubina que ele mantinha em Siquém, cidade não muito distante de Ofra onde morava.

Após a morte de seu pai, Abimeleque perguntou aos moradores de Siquém o que eles prefeririam: ser governados pelos 70 filhos de Gideão, ou apenas por ele (que além de ser filho de Gideão, também era conterrâneo)? Não duvidaram e deram muitos presentes aclamando-o rei.  

Com o valor dos presentes contratou mercenários (homens levianos e atrevidos) e atacou seus irmãos e os matou. Foi muito cruel. Matou todos sobre uma pedra, como se fosse um altar e em seguida declarou-se rei.

O mais novo deles, Jotão, que havia se escondido, subiu ao monte Gerizim (o mesmo monte em que, duzentos anos antes, Josué, obedecendo as ordens de Moisés, tinha abençoado todo o povo) e, do alto do monte, gritou aos cidadãos de Siquém uma espécie de parábola. Nela, as árvores queriam um rei e convidaram à oliveira para reinar sobre elas. A oliveira respondeu que não deixaria seu azeite. A figueira e a videira responderam de modo semelhante ao mesmo convite. Finalmente, todas as árvores convidaram ao espinheiro que aceitou com a condição de que elas se abrigassem à sua sombra, do contrário ele as queimaria. E concluiu: vocês foram injustos ao esquecerem-se do que meu pai fez. Além de se revoltarem, mataram seus filhos e fizeram rei ao matador! Ao filho da escrava! Vocês se merecem. Que saia fogo dele contra vocês e de vocês contra ele. E foi morar do outro lado da região montanhosa.

Depois de três anos, Deus provocou uma aversão entre os moradores de Siquém e Abimeleque. Eles, além de fazer emboscadas em todas as estradas movimentadas, convidaram a Gaal e sua gente para aumentar o terror que impunham sobre Israel.

Esse Gaal, como todos os siquemitas, era descendente de Hamor, cujo povo, quinhentos anos atrás, quase fora exterminado por Simeão e Levi, como vingança contra seu filho Siquém (de quem herdaram o nome) que estuprara Diná, irmã deles.

Juntos, os siquemitas e os homens de Gaal colheram uvas, fizeram vinho e festivamente entraram na casa do mesmo deus, da qual haviam tirado o ouro com que presentearam a Abimeleque e o amaldiçoaram enquanto comiam e bebiam.

Zebul, o oficial de Abimeleque, o atiçou a guerrear contra eles. Os siquemitas foram vencidos e Gaal foi expulso. Os que continuaram a resistir na cidade foram mortos e a cidade foi destruída e semeada com sal. Os siquemitas que haviam ficado no templo se esconderam em uma fortificação subterrânea do mesmo templo. Avisado, Abimeleque os atacou e, cobrindo a fortificação com ramos, queimou vivos cerca de mil homens e mulheres. As palavras de Jotão haviam se cumprido: saiu fogo do espinheiro e consumiu os siquemitas.

Continuando seu ataque, Abimeleque sitiou e tomou a pequena Tebes. Seus moradores se abrigaram em uma torre contra a qual o ataque foi direcionado. Enquanto Abimeleque tentava incendiar sua porta, do teto, uma mulher acertou-lhe a cabeça com uma pedra. Ensanguentado e desesperado, Abimeleque ordenou a seu escudeiro que o matasse para que não se dissesse que morreu pelas mãos de uma mulher. Ele o atravessou com a espada.


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Não há conclusões ou aplicações nessa narrativa e em qualquer narrativa do livro dos Juízes. O texto apresenta os fatos sem emitir qualquer sinal de aprovação ou reprovação. Porém, a riqueza de detalhes é tanta que um leitor atento vê com clareza não apenas os pecados cometidos, mas o que os motivou.

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