Abimeleque era filho de Gideão (aquele que fora usado por
Deus para libertar Israel do jugo dos Midianitas) com uma concubina que ele
mantinha em Siquém, cidade não muito distante de Ofra onde morava.
Após a morte de seu pai, Abimeleque perguntou aos moradores
de Siquém o que eles prefeririam: ser governados pelos 70 filhos de Gideão, ou
apenas por ele (que além de ser filho de Gideão, também era conterrâneo)? Não
duvidaram e deram muitos presentes aclamando-o rei.
Com o valor dos presentes contratou mercenários (homens
levianos e atrevidos) e atacou seus irmãos e os matou. Foi muito cruel. Matou
todos sobre uma pedra, como se fosse um altar e em seguida declarou-se rei.
O mais novo deles, Jotão, que havia se escondido, subiu ao
monte Gerizim (o mesmo monte em que, duzentos anos antes, Josué, obedecendo as ordens de Moisés, tinha
abençoado todo o povo) e, do alto do monte, gritou aos cidadãos de Siquém uma
espécie de parábola. Nela, as árvores queriam um rei e convidaram à oliveira
para reinar sobre elas. A oliveira respondeu que não deixaria seu azeite. A
figueira e a videira responderam de modo semelhante ao mesmo convite.
Finalmente, todas as árvores convidaram ao espinheiro que aceitou com a
condição de que elas se abrigassem à sua sombra, do contrário ele as queimaria.
E concluiu: vocês foram injustos ao esquecerem-se do que meu pai fez. Além de
se revoltarem, mataram seus filhos e fizeram rei ao matador! Ao filho da
escrava! Vocês se merecem. Que saia fogo dele contra vocês e de vocês contra
ele. E foi morar do outro lado da região montanhosa.
Depois de três anos, Deus provocou uma aversão entre os
moradores de Siquém e Abimeleque. Eles, além de fazer emboscadas em todas as
estradas movimentadas, convidaram a Gaal e sua gente para aumentar o terror que
impunham sobre Israel.
Esse Gaal, como todos os siquemitas, era descendente de
Hamor, cujo povo, quinhentos anos atrás, quase fora exterminado por Simeão e
Levi, como vingança contra seu filho Siquém (de quem herdaram o nome) que estuprara
Diná, irmã deles.
Juntos, os siquemitas e os homens de Gaal colheram uvas,
fizeram vinho e festivamente entraram na casa do mesmo deus, da qual haviam
tirado o ouro com que presentearam a Abimeleque e o amaldiçoaram enquanto
comiam e bebiam.
Zebul, o oficial de Abimeleque, o atiçou a guerrear contra
eles. Os siquemitas foram vencidos e Gaal foi expulso. Os que continuaram a resistir
na cidade foram mortos e a cidade foi destruída e semeada com sal. Os
siquemitas que haviam ficado no templo se esconderam em uma fortificação
subterrânea do mesmo templo. Avisado, Abimeleque os atacou e, cobrindo a
fortificação com ramos, queimou vivos cerca de mil homens e mulheres. As
palavras de Jotão haviam se cumprido: saiu fogo do espinheiro e consumiu os
siquemitas.
Continuando seu ataque, Abimeleque sitiou e tomou a pequena
Tebes. Seus moradores se abrigaram em uma torre contra a qual o ataque foi
direcionado. Enquanto Abimeleque tentava incendiar sua porta, do teto, uma
mulher acertou-lhe a cabeça com uma pedra. Ensanguentado e desesperado,
Abimeleque ordenou a seu escudeiro que o matasse para que não se dissesse que morreu
pelas mãos de uma mulher. Ele o atravessou com a espada.
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Não há conclusões ou aplicações nessa narrativa e em
qualquer narrativa do livro dos Juízes. O texto apresenta os fatos sem emitir
qualquer sinal de aprovação ou reprovação. Porém, a riqueza de detalhes é tanta
que um leitor atento vê com clareza não apenas os pecados cometidos, mas o que
os motivou.
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