sábado, 8 de fevereiro de 2014

Quando olho para os teus céus...

Quando Davi escreveu esta frase o que se via dos céus era pouco mais do que podemos ver hoje à olho nu. Pouco mais, pois os céus de então eram mais claros. Quero dizer: a atmosfera era menos poluída e a luz mais ofuscante era uma fogueira.

Muitos anos antes de Davi, desde o tempo dos patriarcas, os céus já eram observados. Em resposta a pergunta de Jó (9.9), o SENHOR lhe questiona sobre as constelações (especificamente a do Sete-estrelo e a de Órion (Jó 38.31). E, séculos mais tarde, sua palavra através de seu profeta Amós, exorta um povo idólatra buscar, não as constelações, mas o Criador delas (Am 5.8).

O mesmo Amós (5.25-27) nos informa que, apesar dos grandes milagres e certamente da ameaça constante de juízo, durante os quarenta anos de peregrinação pelo deserto, os céus os fascinava tanto que fizeram o “deus-estrela”. Estêvão lança isso na cara dos religiosos Judeus aferrados ao templo de Jerusalém (At 7.41-43).

Na Babilônia não podia ser diferente. Os céus eram perscrutados à cada instante e o entendimento do que supunham que eles revelassem era fundamental para alguém ser tido como sábio. Veja a primeira metade do livro de Daniel, especialmente o capítulo 2, versículo 27.

Hoje temos aparelhos que nos possibilitam ver muito mais longe e outros que nos “mostram” o que nossos olhos não enxergam: o infravermelho, o ultravioleta, os raios-x, os raios gama, etc.

Hoje sabemos que nos céus há mais do que estrelas. Já catalogamos planetas, luas, cometas, quasares, pulsares, supernovas, estrelas anãs brancas, negras e marrons ...

Chegamos ao ponto de colocar telescópios  fora da atmosfera de nosso planeta para observar o mais longe possível. O mais conhecido deles foi o Hubble.

Quando, por volta de 1580, Galileu Galilei olhou os céus o fez através de um telescópio que os aproximava 20 vezes. Foi o começo de uma nova era. Galileu nunca duvidou que os céus fossem os céus do Senhor. O que ele não concordava era com a imposição que as autoridades religiosas faziam sobre a verdade. Creio que ele podia dizer também (talvez até com maior propriedade): “Quando olho para os teus céus...”.

Hoje, quando eu olho para os céus não consigo ver muita coisa, pois o brilho das luzes da cidade ofusca e apenas as estrelas mais luminosas se destacam pálidas. Às vezes, em alguns dias de férias em Alto do Caparaó, afastado das luzes, a majestade da criação aparece. O que já brilhava, brilha com mais força e cada constelação parece adquirir relevo e saltar pra fora dos céus. A multidão de estrelas mostra seu caminho na Via Láctea. E como Davi, digo: quando olho os teus céus...

Dizer esta frase não significa apenas assentir que os céus são de Deus (foram feitos por ele), mas também deixar subtendido nosso êxtase diante de algo grandioso que não podemos perscrutar. Observamos, catalogamos, mas logo vemos que as próprias distâncias estão além da nossa realidade: ultrapassam nosso tempo de vida. Não são nossas (não enquanto estivermos sujeitos a esta condição de vida).

Quando olho para os teus céus, tenho uma pálida ideia  de quem tu és e logo penso: quem é o homem para que o visites?

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