sábado, 7 de junho de 2014

Não vos deixarei órfãos

Alguns dicionários restringem o sentido da palavra “órfão” à menores de idade ou a incapazes. Àqueles que, pela falta dos pais, carecem de algum amparo ou de quem responda por eles.

Perdi meus pais após 30 anos de idade, e, se não houve o que fazer em termos legais, houve o que providenciar por mim mesmo, a fim de mitigar a falta de ambos. Lembro-me das noites em que eu orava em favor de ambos. Depois que meu pai morreu gastei certo tempo para me acostumar em agradecer pela vida dele e pedir em favor de minha mãe. Anos depois precisei me acostumar de novo: passei a agradecer pela vida dos dois.

Em termos materiais a morte deles não afetou minha vida. Mas em termos afetivos e espirituais sou completamente incapaz de descrever o que aconteceu.

Hoje, dia de pentecostes, relembraremos o cumprimento da promessa de Jesus: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” (Jo 14.18).

Embora a proteção aos órfãos seja um tema quase recorrente no Antigo Testamento, a palavra grega aqui - “orphanos” - pode ser usada para referir-se a qualquer um que perdeu seus pais, e seu uso no Novo Testamento é muito restrito (além daqui, ocorre apenas na carta de Tiago). E o sentido nos dois textos pressupõe incapacidade, ou necessidade.

Se Jesus promete não deixá-los órfãos, obviamente está se colocando na posição de pai, e colocando-os na posição de quem carece de um.

O Senhor, nos dias de sua carne, desempenhou o papel do Pai ao ponto de dizer a Filipe: “Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras” (Jo 14.9-10).

Ao reassumir a glória, que teve com o Pai desde a fundação do mundo, para que os seus não ficassem órfãos ele os enviou seu Espírito.

À implicação de que os seus não suportariam a orfandade, segue-se um desdobramento: o Espírito Santo supriria o papel de Pai que ele havia desempenhado. Portanto o remédio para a orfandade do Senhor Jesus era - e ainda é - a presença do Espírito Santo.

Mediante o Espírito Santo os seus não foram apenas capacitados a desempenhar a missão que dele receberam, mas tornaram a desfrutar de sua presença e de sua paternidade.

Capacitados e protegidos, aqueles por quem morreu, desfrutam mediante o Espírito Santo, das mesmas bênçãos que os discípulos e os apóstolos desfrutaram tempos atrás.

Essa é mais uma das grandes bênçãos que o Espírito Santo nos traz. Bênção que quase não é lembrada em nossos dias confusos.

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