Perdi meus pais após 30 anos de idade, e, se não houve o que
fazer em termos legais, houve o que providenciar por mim mesmo, a fim de
mitigar a falta de ambos. Lembro-me das noites em que eu orava em favor de
ambos. Depois que meu pai morreu gastei certo tempo para me acostumar em
agradecer pela vida dele e pedir em favor de minha mãe. Anos depois precisei me
acostumar de novo: passei a agradecer pela vida dos dois.
Em termos materiais a morte deles não afetou minha vida. Mas
em termos afetivos e espirituais sou completamente incapaz de descrever o que
aconteceu.
Hoje, dia de pentecostes, relembraremos o cumprimento da
promessa de Jesus: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” (Jo
14.18).
Embora a proteção aos órfãos seja um tema quase recorrente
no Antigo Testamento, a palavra grega aqui - “orphanos” - pode ser usada
para referir-se a qualquer um que perdeu seus pais, e seu uso no Novo
Testamento é muito restrito (além daqui, ocorre apenas na carta de Tiago). E o
sentido nos dois textos pressupõe incapacidade, ou necessidade.
Se Jesus promete não deixá-los órfãos, obviamente está se
colocando na posição de pai, e colocando-os na posição de quem carece de um.
O Senhor, nos dias de sua carne, desempenhou o papel do Pai
ao ponto de dizer a Filipe: “Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos
o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu
vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as
suas obras” (Jo 14.9-10).
Ao reassumir a glória, que teve com o Pai desde a fundação
do mundo, para que os seus não ficassem órfãos ele os enviou seu Espírito.
À implicação de que os seus não suportariam a orfandade,
segue-se um desdobramento: o Espírito Santo supriria o papel de Pai que ele
havia desempenhado. Portanto o remédio para a orfandade do Senhor Jesus era - e
ainda é - a presença do Espírito Santo.
Mediante o Espírito Santo os seus não foram apenas
capacitados a desempenhar a missão que dele receberam, mas tornaram a desfrutar
de sua presença e de sua paternidade.
Capacitados e protegidos, aqueles por quem morreu, desfrutam
mediante o Espírito Santo, das mesmas bênçãos que os discípulos e os apóstolos
desfrutaram tempos atrás.
Essa é mais uma das grandes bênçãos que o Espírito Santo nos
traz. Bênção que quase não é lembrada em nossos dias confusos.
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