“Façamos-lhe, pois, em cima, um pequeno quarto, obra de pedreiro, e ponhamos-lhe nele uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro; quando ele vier à nossa casa, retirar-se-á para ali” (2Re 4.10). E assim aquela família rica de Suném fez para o profeta Eliseu o que nos tempos de Jesus chamou-se cenáculo.
A palavra cenáculo vem do latim (cænaculu deriva-se de cœna ceia) e refere-se ao lugar em que a família ceava. Infelizmente traz aos falantes de português a ilusão de cenário: nada mais distante. A palavra grega significa simplesmente quarto alto.
Embora nas casas ricas houvesse uma espécie de mezanino designado pelo mesmo nome, o mais comum era o cenáculo externo, com acesso por uma escada na lateral da casa, em que, nos dias quentes, se usava até como local de dormir.
Em um cenáculo Jesus instituiu a Santa Ceia quando celebrou a páscoa com seus discípulos. Em outro, em Jope - muitos anos mais tarde - Pedro ressuscitou Dorcas. De outro, em Trôade, durante o sermão de Paulo, que prolongou-se até meia noite, Êutico caiu de uma janela. E, foi para um cenáculo que os discípulos voltaram logo após o Senhor ter subido aos céus. Mas veja bem o texto: “Então, voltaram para Jerusalém, ... Quando ali entraram, subiram para o cenáculo...” (At 1.12-13). Não era qualquer um. Era “o cenáculo”.
Gosto de pensar que era o mesmo em que Jesus serviu a Santa Ceia. Imagino que ele fosse parcialmente aberto, pois creio que também foi lá que o Espírito Santo foi derramado.
De Atos 2.1 ficamos sabendo que “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar”. O contexto imediato que explica a expressão “mesmo lugar” é a reunião em que Matias foi escolhido, que - tudo indica - aconteceu no mesmo cenáculo e revela o hábito recém-criado de reunirem-se lá.
Em Atos 2.6 lemos “Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua”. Ora, se tudo aconteceu em um cenáculo semi aberto, fica fácil de se entender como a multidão de peregrinos judeus, que veio a Jerusalém celebrar a festa de pentecostes, teve conhecimento do que estava ocorrendo.
Às 9 horas da manhã, foram imediatamente habilitados a falar o idioma de um dos grupos lingüísticos ali representados.
Saíram às ruas. E, à medida em que “as grandezas de Deus” eram anunciadas na língua da pessoa a quem falavam, iam se dirigindo ao único lugar de Jerusalém que comportava uma multidão da qual três mil foram batizados: o pátio do templo.
Bendita casa que abrigou o Senhor Jesus durante a páscoa da qual ele disse ter “desejado ansiosamente comer” com seus discípulos antes de seu sofrimento.
Bendita casa que recebeu de volta os onze e os demais discípulos, em suas primeiras reuniões, serviu de local para a escolha de Matias e finalmente foi o lugar preferido pelo Espírito Santo, em detrimento da pompa, riqueza e do cerimonial que acontecia no templo, para derramar-se sobre os seus.
Bendita casa em que o Evangelho começou a ser proclamado até chegar a nós, que vivemos nos confins do mundo.
Benditas sejam também as nossas casas onde o Espírito Santo manifesta seu poder produzindo seu divino fruto em cada um de seus moradores, os verdadeiros “santo-dos-santos” onde habita o Senhor.
Benditos cenáculos, onde qualquer pessoa - de qualquer cultura, língua ou nação - nascido “não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus mediante o lavar regenerador de seu Espírito” - o qual “de pedras suscita filhos a Abraão” - repetem a última ceia do Senhor esperando pela primeira a ser celebrada nas casas que ele disse que iria preparar.
Um comentário:
Pr. Folton,
Seus textos são sempre enriquecedores de conhecimento.
Deus o abençoe.
Em Cristo,
Clóvis
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