Logo de começo há a festa do casamento em Caná, onde, da
água, fez o melhor vinho.
Que alegria deve ter permeado a casa de Lázaro enquanto o
Senhor ceava. Ceou lá pelo menos duas vezes: uma quando Marta atribulada com as
comidas reclamava de Maria quedada aos pés do Senhor e outra quando Maria o
ungiu.
Que clima pesado deve ter se abatido sobre todos quando o
fariseu Simão, depois de convidar Jesus pra jantar, o recebeu com desdém. Será
que alguém conseguiu comer algo?
Acaso podemos nos esquecer do banquete dado pelo publicano
Levi, que, de tão alegre, encheu sua mesa de antigos colegas de profissão? E o
que dizer da recepção na casa de Zaqueu, o chefe dos publicanos?
E assim, quantas vezes os Evangelhos nos mostram o Senhor em
companhia de publicanos e pecadores – seus doentes que precisavam de médico – e
quantas vezes ele foi censurado por isso? Ele mesmo estava cônscio de que o
tinham por “glutão
e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores”.
Muitas vezes ensinou usando alimentos como exemplos. Com
eles explicou que a impureza não está naquilo que entra pela boca, mas no que
sai dela.
Prometeu – mesmo sendo Senhor – servir aos servos fiéis o
pão dos céus à mesa com Abraão, Isaque e Jacó. Numa de suas parábolas comparou
o Reino de Deus a um banquete de casamento e, para ensinar sobre o perigo de se
ter o coração neste mundo, contou outra parábola em que um rico satisfeito com
sua colheita exorta sua alma: “come, bebe e regala-te”.
Ensinou-nos a dar banquetes a quem não os pode retribuir e
criticou os escribas e fariseus por amarem o primeiro lugar neles.
Disse que seu corpo era verdadeira comida e seu sangue era
verdadeira bebida, e convidou aos sedentos “se alguém tem sede, venha a mim e beba”. E
selou-nos a afirmação “quem de mim se alimenta, por mim viverá”
repartindo o pão e o cálice e ordenando-nos a tomá-lo em sua memória, pois
aquilo era seu corpo e seu sangue.
Comeu muitos tipos de comida e a preparação de alimentos
serviu-lhe de motivo para parábolas. Procurou figos temporãos e conhecia bem as
estações da oliveira. Gostava de peixes: multiplicou-os duas vezes, preparou-os
na brasa e os comeu com mel. E foi reconhecido pelos dois de Emaús à mesa, ao
bendizer o alimento.
Participava das páscoas desde cedo, nas quais se comia desde
ervas amargas até um cordeiro assado. E, da última que participou, tomou um
pedaço de pão e o último cálice de vinho e, com eles, despediu-se dos seus. Com
o mesmo pão e com o mesmo vinho alimentou Judas para sua própria perdição,
agravada pelas palavras do profeta: “Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu
calcanhar”.
A mesa que lhe proporcionava o prazer da companhia
trouxe-lhe a tristeza da traição “O que mete comigo a mão no prato, esse me trairá”.
E, na cruz, em vez de vinho, que deixou como recordação de si, e com o qual
começou seus milagres, recebeu como bebida o vinagre.
Esse comportamento do Senhor reflete os valores do povo da
Antiga Aliança, para os quais muitas bênçãos são tipificadas por alimentos. A
própria descrição da Terra Prometida exaltava a quantidade de pastos bons e a
exuberância de suas flores. Era como se dela manasse leite e mel.
Aquele que experimentou a alegria do convívio a mesa, é o
mesmo que aguarda por nós, para juntos, tomarmos o “vinho novo” que ele espera
ansiosamente para nos servir.
Vem logo Senhor Jesus.
(Texto publicado originalmente em 27/2/2010)
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