sábado, 5 de julho de 2014

Direita e destra

(Ensaio sobre semiótica bíblica)
 
Desde o tempo dos patriarcas, o Povo de Deus, tinha significados indiretos (que, às vezes, são os mais importantes) para as coisas mais simples Uma delas era a direita.

Com a mão direita Jacó abençoou o filho mais novo de José, e quando este tentou corrigi-lo, ouviu que fazia de propósito.

Quando os sacerdotes eram consagrados o sangue do cordeiro era usado para marcar a orelha direita, o polegar direito e o pé direito deles. A coxa direita do cordeiro sangrado (além de outras partes) era movida diante do SENHOR e queimada em holocausto. Tratando-se, porém de um sacrifício pela culpa, a coxa direita do animal fazia parte da porção que cabia ao sacerdote oficiante.

Moisés, que tinha à sua direita o braço glorioso de Deus e canta que a Lei de Deus está à direita dele. Porém, séculos depois, Jesus garante a seu inquiridor – o sumo sacerdote – que, desde então estaria em tal lugar. E, Davi, Pedro, Paulo e o escritor da Carta aos Hebreus, declararam que, de fato, Jesus estava à direita de Deus; e foi à direita de Deus que Estêvão o viu. Mas, na mão direita de Deus, também está o cálice do qual seus inimigos beberão.

A direita sempre é mostrada como a mão da força e das realizações. O profeta Isaías declarou que Deus promete tomar seu povo com sua mão direita, mas, também declara que Deus tomou a Ciro pela mão direita para os castigar.

O rei Joás colocou um gazofilácio à direita de quem entrava no santuário, e séculos depois, de pé, à direita do altar do incenso, o anjo revelou ao sacerdote Zacarias que ele seria pai de João.

Davi canta que Deus se coloca à direita do pobre. E, Asafe lhe faz coro ao pedir que sua direita seja auxiliada pelo SENHOR, e ao dizer que na direita de Deus colocava sua esperança.

A direita, porém é cobiçada pelos inimigos. Mesmo diante de Deus, Satanás se opunha ao sacerdote Josué postando-se à sua direita. O desejo do salmista é que os ímpios se deparem com um acusador à direita, pois, na verdade, a direita deles é “direita de falsidade”. A besta que emerge da terra marcará, além da fronte, a mão direita daqueles que não são do Cordeiro.

A confiança do salmista em Deus era tamanha que, mesmo com dez mil caídos à sua direita, tinha certeza de não ser atingido.

Pela mão direita, Pedro levantou o paralítico que esmolava à porta do templo, e Jesus levantou João, que caíra por terra ao vê-lo glorificado.

À direita de Jesus ficarão suas ovelhas e lá ouvirão seu chamado. E sua mão direita (a mesma que recebeu o caniço das zombarias) sustenta as sete estrelas e o livro da vida.

Para Jesus é melhor amputar a mão direita do que pecar por ela, e a ofensa à face direita não deve prevenir seu discípulo contra o golpe maior.

Os discípulos, que gastaram a noite em trabalho vão, foram bem sucedidos quando obedeceram a ordem de Jesus e jogaram a rede à direita do barco.

Por sua mão direita o salmista jurou que não se esqueceria de Jerusalém. Deus, por sua direita, jurou que nunca mais daria o cereal de seu povo aos estrangeiros. E, com a mão direita levantada, anjos juraram à Daniel e a João.

A forma sintética “destra”, além da mão direita, refere-se ao que alguém faz com vontade e determinação, também é muito produtiva.

A destra de Deus estendeu os céus e alcançou-lhe vitória. A destra de Deus faz proezas, é gloriosa em poder, é elevada. Apanha e despedaça o inimigo, salva, sustenta e liberta seus amados. Ampara aqueles cujas almas se apegam a Deus. Foi ela quem adquiriu o monte santo, e levou seu povo à posse da terra prometida.

A destra de Deus está cheia de justiça, nela há delícias perpetuamente, há refúgio para os salvos. Porém, o próprio Deus firmou sua destra, como adversário, contra seu povo e os levou para o cativeiro na Babilônia.

Para o salmista a demora em Deus responder dava-lhe a impressão de que ele havia mudado sua destra, ou a conservava em seu seio, mas deseja que ela esteja sobre todos.

Os antigos dirigiam-se a Deus chamando-se de “povo da tua destra”.

A destra dos ímpios está cheia de suborno, mas a destra de comunhão foi oferecida por Tiago, Cefas e João à Paulo.

Depois de ter oferecido um único sacrifício pelos pecados Jesus foi recebido no céu e assentou-se à destra do trono da Majestade. Foi exaltado a “Príncipe e Salvador”, ficando-lhe subordinados anjos, potestades e poderes.

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