No boletim passado resumi os pré-requisitos que Deus estabelece para quem almeja ser presbítero em sua Igreja, os quais foram registrados pelo Apóstolo Paulo em suas cartas a Tito e a Timóteo. Entretanto, suprimi as razões pelas quais eles são exigidos. Vamos destacá-las hoje.
Na carta à Tito, lemos:
“5Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi: 6alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados. 7Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância; 8antes, hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si, 9apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem. 10Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores, especialmente os da circuncisão. 11É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” (Tt 1:5-11).
Este texto deixa claro porque os presbíteros devem ter tais qualidades e porque Tito deveria constituí-los.
Tito deveria constituí-los para “por em ordem o restante das coisas”, e devido a “existência de muitos insubordinados” que pervertiam “casas inteiras” apenas por ganância.
Isso já indica alguns aspectos da missão de um presbítero: Por em ordem e proteger a igreja de insubordinados gananciosos.
Porém, para isso ele deve ser irrepreensível como despenseiro (no original ‘ecônomo’ que significa também mordomo) de Deus e possuir uma lista de características pessoais (não arrogante, não irascível, etc.), que, pelo contexto exprime características de vida em família.
Na carta enviada a Timóteo lemos:
“2... seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; 3não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; 4e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito 5(pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); 6não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo. 7Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo” (1Tm 3:2-7).
Observe que a ênfase é colocada no desempenho familiar. O texto começa exigindo que seja “marido de uma só mulher” (bom esposo) e termina exigindo que saiba criar seus “filhos sob disciplina com todo respeito” (bom pai). E argumenta: se não souber “governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus”?
Daqui já pode-se concluir que a seleção dos presbíteros deve ser feita entre os pais. A casa é o campo de prova na qual a igreja pode reconhecer se alguém é apto, ou não, a ser um presbítero conforme os critérios de Deus.
Há muitos anos atrás vi alguém defender uma candidatura com as seguintes palavras: “Indico o irmão fulano, pois todos sabem de sua importância como empresário bem sucedido que começou do zero e hoje destaca-se dentre muitos, inclusive na dedicação à igreja”.
Se ele tivesse ficado na última frase – dedicação a igreja – restaria compará-lo com sua dedicação à família. Se fosse equivalente não haveria mais o que questionar.
Entretanto, cada vez mais os valores mundanos, sejam empresariais, sejam circenses, são vistos como pré-requisitos para quem assume a liderança da igreja: deve ser bom administrador ou bom animador. Ou seja: satisfazer aos eleitores e não necessariamente a Deus, contrariando o ensino bíblico que os eleitores devem escolher o candidato que mais atenda a prescrições divinas.
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Um segundo assunto, específico da carta a Timóteo, é o perigo a que o presbítero está sujeito: a ação do diabo. Esta pode acontecer de duas formas: levando-o a se orgulhar da posição a que foi elevado e incorrendo no mesmo erro que o diabo incorreu, ou, nas palavras de Calvino: “exposto à reprovação pública, endureça cada vez mais o coração e se entregue mais livremente à toda iniqüidade, o que equivale a colocar-se debaixo das armadilhas do demônio. Pois, que esperança resta a quem peca sem sentir vergonha?”
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Excelente obra é o presbiterato, porém de tão pesada só pode ser desempenhada na dependência total da graça de Deus.
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