sábado, 23 de maio de 2015

A sabedoria (Parte 1)

Na Bíblia, ser sábio não é o mesmo que ser culto. A sabedoria é sempre mostrada como uma "atitude".

A seguir um belíssimo texto que enaltece (e, de certa forma, descreve) a sabedoria.

A sabedoria

1A sabedoria está clamando,
o discernimento ergue a sua voz;
2nos lugares altos, junto ao caminho, nos cruzamentos
ela se coloca;
3ao lado das portas, à entrada da cidade, portas adentro,
ela clama em alta voz:
4A vocês, homens, eu clamo;
a todos levanto a minha voz.
5Vocês, inexperientes, adquiram a prudência;
e vocês, tolos, tenham bom senso.
6Ouçam, pois tenho coisas importantes para dizer;
os meus lábios falarão do que é certo.
7Minha boca fala a verdade,
pois a maldade causa repulsa aos meus lábios.
8Todas as minhas palavras são justas;
nenhuma delas é distorcida ou perversa.
9Para os que têm discernimento, são todas claras,
e retas para os que têm conhecimento.
10Prefiram a minha instrução à prata,
e o conhecimento ao ouro puro,
11pois a sabedoria é mais preciosa do que rubis;
nada do que vocês possam desejar compara-se a ela.
12Eu, a sabedoria, moro com a prudência,
e tenho o conhecimento que vem do bom senso.
13Temer o SENHOR é odiar o mal;
odeio o orgulho e a arrogância,
o mau comportamento e o falar perverso.
14Meu é o conselho sensato;
a mim pertencem o entendimento e o poder.
15Por meu intermédio os reis governam,
e as autoridades exercem a justiça;
16também por meu intermédio governam os nobres,
e todos os juízes da terra.
17Amo os que me amam,
e quem me procura me encontra.
18Comigo estão riquezas e honra,
prosperidade e justiça duradouras.
19Meu fruto é melhor do que o ouro, do que o ouro puro;
o que ofereço é superior à prata escolhida.
20Ando pelo caminho da retidão,
pelas veredas da justiça,
21concedendo riqueza aos que me amam
e enchendo os seus tesouros.
22O SENHOR me criou como o princípio de seu caminho,
antes das suas obras mais antigas; 23fui formada desde a eternidade,
desde o princípio, antes de existir a terra.
24Nasci quando ainda não havia abismos,
quando não existiam fontes de águas;
25antes de serem estabelecidos os montes e de existirem colinas
eu nasci.
26Ele ainda não havia feito a terra, nem os campos,
nem o pó com o qual formou o mundo.
27Quando ele estabeleceu os céus,
lá estava eu;
quando traçou o horizonte sobre a superfície do abismo,
28quando colocou as nuvens em cima e estabeleceu as fontes do abismo,
29quando determinou as fronteiras do mar
para que as águas não violassem a sua ordem,
quando marcou os limites dos alicerces da terra,
30eu estava ao seu lado, e era o seu arquiteto;
dia a dia eu era o seu prazer
e me alegrava continuamente com a sua presença.
31Eu me alegrava com o mundo que ele criou,
e a humanidade me dava alegria.

32Ouçam-me agora, meus filhos:
Como são felizes os que guardam os meus caminhos!
33Ouçam a minha instrução, e serão sábios.
Não a desprezem.
34Como é feliz o homem que me ouve,
vigiando diariamente à minha porta,
esperando junto às portas da minha casa.
35 Pois todo aquele que me encontra,
encontra a vida e recebe o favor do SENHOR.
36 Mas aquele que de mim se afasta,
a si mesmo se agride;
todos os que me odeiam
amam a morte.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Je ne suis pas Charlie


Praticamente todo o ocidente está dizendo: Je suis Charlie e pra falar a verdade, dá vontade de dizer também. Afinal, quem não se comoveu com o acontecimento terrível? Porém, há o que pensar.

É tido como certo que a violência decorreu das charges publicadas pelo semanário. Foi uma vingança. Não apenas das últimas, que me pareceram mais ofensivas aos cristãos, mas de tantas outras que marcaram a história do jornal.

A charge deforma o assunto exagerando alguma característica peculiar, ridicularizando uma situação, ou argumentando ad absurdum. A charge vale-se do burlesco, da sátira, da paródia e do duplo sentido para apresentar pessoas ou acontecimentos no limite entre o risível e o infame. Não é incomum encontrar quem, retratado numa charge, sinta-se difamado. Aliás, foi isso o que aconteceu com as primeiras charges, feitas no século XIX: Governantes poderosos sentiram-se difamados e os chargistas amargaram a prisão.

É muito difícil estabelecer a "honestidade" de uma charge. A que apresenta objetivamente uma situação ridícula poderia ser considerada "honesta". Entretanto, a que transpira os conceitos subjetivos do autor pode ser perfeitamente uma provocação ou mesmo uma difamação.

As muitas inaugurações da mesma obra feita por um político pode ser um ótimo tema para uma charge, mas mostrar o profeta dos muçulmanos engajado em um beijo homossexual dificilmente servirá para alguma coisa além de produzir ódio.

Salomão nos ensinou que "Pois assim como bater o leite produz manteiga, e assim como torcer o nariz produz sangue, também suscitar a raiva produz contenda" (Provérbios 30.33), ora é exatamente isso que os chargistas mortos faziam.

Em hipótese alguma quero justificar a morte deles. Os atiradores estão totalmente errados. Porém, o que poderia se esperar de um povo educado desde cedo a desejar morrer em guerra? O que aconteceu em 2005 na Dinamarca, onde cerca de 50 pessoas morreram, após as charges publicadas no Jyllands Posten, não serviu de advertência?

Ora, a decantada liberdade de expressão, tão cara as sociedades democráticas, e mais especialmente aos irresponsáveis, nunca será superior ao senso comum, acumulado em milênios de civilização que também nos ensina: "quem fala o que quer, ouve o que não quer". Muito menos supera às palavras de quem criou a humanidade: "Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado" (Mateus 12.37-37).

Vivemos dias em que o errado é apenas o que contraria a lei ou costumes bem estabelecidos. Mas, paradoxalmente hoje é quase uma obrigação agredir os costumes. Ser rebelde tornou-se desejável e necessário a formação do jovem, e sinal de criatividade no adulto. Portanto, hoje, o deboche, o escárnio e a difamação, mesmo contrariando leis e costumes bem estabelecidos, procuram abrigo sob o manto da criatividade, do humor e especialmente da "liberdade de expressão".

Para o cristianismo, antes das leis e antes dos costumes vem o pecado. Determinada ação, ou comportamento, mesmo não sendo ilegal, nem agredindo qualquer costume bem ou mal estabelecido, pode ser pecado. Para o cristianismo o pecado manifesta-se também nas palavras: faltar com a verdade, promover o engano, difamar a Deus e o nosso próximo são pecados claramente estabelecidos nas Sagradas Escrituras. E qualquer tipo de promoção da mentira está filiada diretamente ao inimigo de nossas almas: "Ele [o diabo] foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (João 8.44).


Portanto, eu não posso dizer "Je suis Charlie". Lamento, deploro e abomino o que aconteceu aos chargistas e a seus companheiros, mas não posso concordar com o que eles faziam. Igualmente reprováveis são os assassinos e espero que, os que ainda estiverem vivos, sejam colocados sob os magistrados e paguem por seus atos.