sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

Coração sábio

Sabemos que os judeus usavam (e ainda usam) as fases da lua como base de seu calendário. Entretanto o ciclo lunar, que tem 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 2,9 segundos, leva 354 dias para perfazer o que chamam de ano, eles necessitam, a cada 3 anos, de acrescentar um mês - e, de vez em quanto, ainda acrescentam alguns dias para que as estações não deixem de corresponder a seus meses.

Este calendário se chama calendário lunar, e alguns crêem que é o único autorizado pela Bíblia já que o Salmo 104.19 diz: “Fez a lua para marcar o tempo”.

Entretanto desde antes de Cristo, já se sabia calcular o ano solar. Fincava-se uma haste no chão e marcava-se o lugar da primeira sombra ao nascer do dia. Depois marcava-se o lugar onde a sombra se esmaeceu ao final do dia. Entre as 2 marcações, a divisão era o meio dia.

Porém o mais importante é que essas marcações, ao correr do ano formavam um ângulo mais fechado indicando dias menores e um ângulo mais aberto, quando os dias eram maiores.

Contando-se os dias desde um ponto até sua repetição (por exemplo: desde quando os dias começaram a ficar menores até quando eles voltaram a ficar menores de novo), se obtém o valor aproximado de 365 dias, que é o calendário solar.

Ou seja: os 365 dias, que hoje chamamos de ano, não correspondem ao que os judeus na época de Cristo tinham como o período em que se repetia as 4 estações, e orientava a agricultura, a pecuária, e as festas religiosas. Principalmente estas, que eram contadas de acordo com a lua, precisavam cair em determinadas estações. Por exemplo: a Páscoa deveria cair antes do plantio do trigo e o Pentecostes no começo de sua colheita.

Hoje, nós acrescentamos um dia em fevereiro a cada 4 anos para compensar as 6 horas a mais que temos depois de 365 dias. Porém, na realidade, o assunto é mais complicado, pois 6 horas é um arredondamento, já que a terra gastou no ano de 2000, 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45 segundos para rodear o sol. E desde o ano que convencionamos chamar de ano 1, a velocidade da terra diminuiu cerca de 0,5 segundos por século, acumulando no ano 2000, 10 segundos de atraso. Tanto é que na virada de 2006 tivemos um ajuste de 1 segundo.

Bobagem! Diria alguém que vê pouca importância nestes valores pequenos. Porém os valores se somam: em 1582 (oitenta e dois anos após a descoberta do Brasil), o Papa Gregório XIII determinou que aquele ano, de 4 de outubro passasse diretamente para 16 de outubro, eliminando os dias 5 a 14, para realinhar o calendário com o ano solar. Observe que nestes 9 dias foi suprimido um domingo.

Esse calendário de Gregório só foi plenamente aceito na maioria dos países católicos em 1584, e nos países protestantes em 1752, após a Inglaterra ter eliminado os dias 3 a 13 de setembro para realinhar seu calendário que também era diferente.

Geralmente, quando pedimos como Moisés “ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos coração sábio”, o espiritualizamos o sentido. Não há dúvida de que Moisés estava se referindo a uma vida em que os dias sejam passados debaixo da “conta” do Senhor. Porém, como haveríamos de alcançar corações sábios sem lembrar dos acontecimentos bons e ruins, e de suas respectivas lições, que nos ocorreram nos dias que recebemos de Deus?

Tanto melhor será se consideramos os anos que nossos antepassados viveram e registraram para nosso conhecimento. Se entendermos como funciona a ordem temporal de Deus e os dias que ele estabeleceu para o ritmo de nossa vida e nosso “desfrutar” de sua presença.

Você reparou que em nenhuma dessas frações de tempo (ano solar, ano lunar ou mês) há qualquer divisão natural que nos induza a observar o “Dia do Senhor” a cada período de 7 dias? Pois é: se quisermos fazer isto teremos que esquecer o “livro da natureza” e obedecer ao “Livro Sagrado”. Ou seja: “aprender a contar nossos dias para alcançarmos coração sábio”.

Gregório, e seus assessores erraram e hoje que dizemos ser o primeiro dia de 2006 anos após o nascimento de Nosso Senhor, estamos, mais ou menos a 2003 anos dele. Mais ou menos, pois nem disso temos certeza.

Vivamos, portanto, como se estivéssemos a 1 minuto de sua volta. Pois ela é certa. E nela daremos conta do que fizemos com os dias que o Senhor nos concedeu.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Vou celebrar o nascimento de meu Senhor

Vou celebrar, de fato, o nascimento de nosso Senhor.

Vou, em primeiro lugar, manter na mente a razão que o levou a encarnar-se: não haver outra solução para nós.

Vou me lembrar constantemente de que isso significa o quanto eu sou incapaz e o quanto ele me ama.

Vou procurar, com todas as minhas forças, responder a este ato com todo o respeito e devoção que ele merece.
- Não vou trocar a alegria que brota em minha alma pela alegria efêmera da comida e da bebida.
- Não vou desejar feliz natal sem de fato querer que a pessoa a quem me dirija tenha realmente um feliz natal, nem que eu tenha de contribuir para isso.
- Não vou limitar minha contribuição a presentes, a banquetes a festas. Contribuirei com amor abnegado, com bondade, com meu desejo mais sincero e com o anúncio claro de que Jesus nasceu para que o Pai seja glorificado nas alturas e aqueles, aos quais ele quer bem, tenham paz na terra.
- Vou trocar a algazarra das festas inconseqüentes pelo sorriso sincero e pelas palavras bondosas.
- Vou trocar os gritos por cânticos de louvor e os cânticos vazios por orações gratas como chuvas de verão e intensas como lágrimas de alegria.

Vou tê-lo como o maior bem que recebi. Como aquilo que eu menos merecia. Como aquilo que não posso viver sem.

Vou depositar a seus pés meu “eu”. E depois de entregar-me. Entregarei tudo aquilo de mais caro que ele me deu: minha família, meus amigos e meu futuro.

Vou deixar de ser “rei mago de minha vida” para tornar-me seu servo alegre em dividir com ele a manjedoura em que sua mãe o deitou e a cruz em que eu o preguei.

Não me furtarei a servi-lo. Seu gosto será o meu. Suas ordens o meu prazer. Sua vontade meu deleite.

E quando chegar o final do dia de seu aniversário me lembrarei que o dia de amanhã não será menos importante. Não será diferente. Começarei tudo de novo, pois, afinal, ele não nasceu apenas em Belém ele nasceu também em meu coração.

... se fez carne

Porque as Escrituras afirmam que “o Verbo se fez carne”, alguns homens maus concluíram que o mesmo aconteceu conosco. Já existíamos antes de assumir o corpo que nossas mães nos deram.

Tecnicamente esta heresia é conhecida como “pre-existência da alma”, e se ela não é abertamente confessada hoje, podemos vê-la em muitas afirmações como: “fulano é tão bom que deveria ter ficado no céu”.

Ela também é defendida pelos que pensam que Deus criou todas as almas, e que elas esperam sua vez de entrar em um corpo. Alguns chegam mesmo a dizer que a pessoa é boa ou má, em função do que fez enquanto esperava pelo seu respectivo corpo.

Porém há também aqueles que pregam a reencarnação das almas dos que já morreram. Tais almas voltam constituindo pessoas melhores ou piores conforme foi o comportamento que tiveram na vida passada.

Isso, na realidade, não apenas nega a verdadeira mensagem do Natal, mas nega também o sacrifício de Cristo e a Graça de Deus.

Porém infelizmente já se vê tais absurdos dentro da Igreja. Afinal a quantidade de horas que se gasta com o estudo da Bíblia é muito inferior à quantidade de horas que se gasta sendo doutrinado através de programas que vão de desenhos animados infantis até novelas.

A Secretaria de Missões desses anti-cristos é equipada com as melhores mídias e com os mais eficientes comunicadores.

Porque as Escrituras afirmam que “o Verbo se fez carne”, alguns homens maus concluíram que nosso Senhor e Mestre tomou de Maria um “invólucro” de carne: apenas o corpo. A parte espiritual de Jesus era o Verbo de Deus).

Entretanto as Escrituras nos ensinam que o filho de Maria era homem perfeito. Se nós, os homens, somos constituídos de corpo e alma, foi exatamente isso o que nasceu de Maria.
Eu sei que é complicado imaginar alguém que seja corpo e alma - como todos nós somos - e ao mesmo tempo o Verbo de Deus. Porém é aí que reside o mistério das duas naturezas do Redentor.

Não entendemos, mas exatamente por não entendermos é que nossos antepassados escreveram em nossa Confissão de Fé: “As duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas - a Divindade e a humanidade - foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão, composição ou confusão; essa pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, porém, um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem.”

Este é o mistério do Natal: o Verbo Divino não assumiu um corpo vazio e sim a nossa natureza. O Verbo Divino nasceu!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

Tipos de vida

Quando nosso Senhor e Mestre falou “eu vim para que tenham vida e vida em abundância”, ele estava falando mais do que de uma vida alegre e intensa, como interpretam aqueles que vêem as Escrituras superficialmente. Examinando-as bem, vemos que elas falam de três tipos de vida e conseqüentemente de três tipos de morte. Jesus veio nos garantir os três tipos de vida - este é o sentido mais profundo de sua declaração - e nos livrar dos 3 tipos de morte.

Adão recebeu de Deus dois tipos de vida: Vida biológica e a vida espiritual. Se tivesse resistido a tentação receberia imediatamente o terceiro: vida eterna.

A vida biológica é a que todos possuímos. Ninguém, nem mesmo os mais céticos, questiona a existência dela, mas ninguém sabe explicar o que ela é. Cada dia se descobre mais acerca dos mecanismos de seu funcionamento, mas, até hoje, não há uma definição do que ela seja.

A vida espiritual é aquela que Adão tinha antes de voltar-se contra Deus. É também a vida que todos aqueles que foram ligados ao Segundo Adão, Jesus, recebem. Ao pecar cumpriu-se em Adão: “...certamente morrereis”. Ao receber Jesus cumpre-se: “ele vos deu vida estando vós mortos em vossos delitos e pecados”. Note: recebemos vida, pois estávamos mortos.

Portanto a primeira morte foi espiritual - o pecar - e causou a segunda morte: a biológica. A primeira ressurreição também é espiritual - a conversão - e é a condição para que aconteça a segunda ressurreição: a ressurreição do corpo.

A vida eterna atingirá a todos os que morrerem biologicamente estando vivos espiritualmente. O espírito estará com Deus enquanto o corpo - representante físico da vida biológica - decompõe-se na terra. Porém, no último dia, quando o Senhor recuperar tudo o que ele mesmo fez, receberemos o que Adão teria recebido se não tivesse cometido o pecado.

Semelhantemente a morte eterna atingirá todos os que morrerem biologicamente estando mortos em seus delitos e pecados. Não se trata de extinção, mas de uma condição, pois viver e morrer eternamente é estar com Deus ou estar sem Deus por toda a eternidade.

Cristo assumiu nossa natureza, para desfazer o erro de Adão, e do mesmo modo como Deus imputou a todos os descendentes de Adão o erro dele e suas conseqüências, imputará também a nós os méritos de Cristo e suas conseqüências também.

O Natal foi o começo dessa caminhada de Cristo: “fez-se reconhecido em figura humana” até a morte e morte de cruz.

Digamos como o poeta cristão:
Cristo, eternamente honrado do seu trono se ausentou!
E entre os homens, encarnado, Deus conosco se mostrou.
Quão bondosa Divindade! Quão gloriosa Humanidade!
Salve Cristo, Emanuel, Luz do mundo, Deus fiel

sábado, 26 de novembro de 2005

O que é vida?

Definir o que é a vida, ou mais precisamente, o que é estar vivo, sempre foi uma tarefa difícil. Já os primeiros filósofos gregos, tentaram chegar a uma explicação. Houve quem dissesse que é mais fácil dizer o que é “estar morto”, porém até nisso há discordâncias.

Veja: Há algum tempo atrás bastava não respirar para ser considerado morto. Depois viu-se que era necessário esperar o coração parar de bater. Hoje basta o cérebro parar de funcionar, que, mesmo respirando ou pulsando, já se considera falecido o moribundo.

Entretanto, apesar de vital, o cérebro é apenas um órgão do corpo que a alma utiliza para comandar e para tornar comunicáveis os pensamentos que ela mesma elabora. Ou será que já reduzimos o “homem” a reações químicas e achamos que o cérebro é a origem de tudo o que somos até de nossa identidade, vontade e pensamentos? Seria o “software” cerebral aquilo que a Bíblia chama de Imagem de Deus? Ou o cérebro apenas exterioriza o que de fato somos através de nossas palavras e atos?

Essa é uma questão vital para o cristão.

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Salvo engano, Aristóteles quem primeiro registrou preocupações sobre o que é a vida. Ele imaginava três formas de vida: a vegetativa, a animal e a humana (os termos que ele usou foram outros, mas vou usar destes por amor a clareza).

Para ele a vida vegetativa seria aquela que é comum aos vegetais e pela qual o ser humano passa antes do terceiro mês da gestação. A vida animal, aquela que consiste especialmente na presença de movimentos autônomos, como é próprio de todos os animais e do ser humano após o terceiro mês de gestação. Finalmente a “vida humana” seria a que ocorre apenas aos seres humanos depois de “vindos à luz”.

Não deixa de ser provocativo pensar que talvez aqui esteja a razão para a maioria dos países que proibiram ou que ainda proíbem o aborto, o permitirem até o terceiro mês da gravidez. Afinal ainda é um vegetal. E talvez esteja aqui a razão principal da diferença entre embrião e feto, como distinguimos os não nascidos antes e depois dos três meses.

Tão difícil quanto dizer o que é vida, é dizer quando é que ela se inicia. Há uma espécie de consenso entre as múltiplas correntes cristãs que a vida é a chegada da alma, e alguns acreditam que seja quando o espermatozóide penetra o óvulo, outros preferem crer que a vida tem início na nidação - quando o já ovo “aninha-se” na parede do útero - pois a fecundação ocorre nas trompas, e, grande parte dos óvulos fecundados é expelido sem que a mulher se dê conta. Na idade média se pensava que alma “entrava” no homem ao terceiro mês (seria influência de Aristóteles?) e na mulher um mês depois.

Como aconteceu ao Autor da Vida? Os Evangelhos são sucintos. Apenas Lucas, que era médico, se preocupa em transmitir algum detalhe: “... Maria, ... conceberás e darás à luz um filho, ... Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra” Lc 1.30-35.

Temos por certo que Maria contribuiu com seu óvulo para o nascimento de Jesus, pois afinal foi assim que ele adquiriu a natureza humana.

Observe que as palavras indicam que o ato gerador ainda ia acontecer. Não vejo por que razão admitir que tal óvulo entrasse no útero de Maria para somente então ser miraculosamente fecundado ali. Para mim a vida inicia-se na fecundação ainda nas trompas. Se assim “muitas vidas são desperdiçadas”, não é de se pensar na quantidade delas que não foram “desperdiçadas no fluxo menstrual”, mas que estão em franca rebelião contra Deus?
Jesus, o autor da vida, criou o sistema mediante o qual os pais geram vida biológica. E, por amor a nós, sujeitou-se a esse sistema para, como um de nós, receber “vida biológica”. Não deixe de considerar que ele fez tudo isso para, como um de nós, vencer a morte e conduzir-nos de volta ao Pai.

Celebre o Natal como nunca você celebrou! Esqueça de tudo, mas não esqueça do amor do Senhor por você.

sexta-feira, 18 de novembro de 2005

A vida estava nele

Em 1791, o cientista italiano Luigi Galvani estava estudando a anatomia de uma rã. Aconteceu que ao espalhar as bandejas com os pedaços ao longo de uma mesa, ficou perto de uma Garrafa de Leyden, - uma versão mais primitiva do aparelho que deixa eriçados os cabelos de quem o toca.

As Garrafas de Leyden que se conhecia então armazenavam grandes quantidades de eletricidade e davam choques enormes.

Enquanto ele estudava os músculos da rã, ao contato com o bisturi as pernas se mexeram. Recuperado do susto ele deduziu que, de alguma forma a eletricidade da Garrafa de Leyden, tinha passado através do bisturi, e afetado os músculos da rã.

Pensou que um raio - cuja descarga elétrica é mais potente - poderia fazer o mesmo a uma distância maior. Na primeira tempestade colocou as pernas da rã penduradas com fios de cobre sobre uma grade de metal do lado de fora da janela. Mexeram-se. Porém continuaram mexendo-se mesmo sem raios. Fascinado, chamou isso de “eletricidade animal” crendo que ela residia nas pernas da rã.

Alguns meses depois, seu compatriota Alessandro Volta, iria explicar, que, neste caso, a eletricidade que fazia os músculos das pernas da rã se contraírem, vinha da união dos metais diferentes em que elas estavam presas. Entretanto ficou a idéia de que a eletricidade era a responsável pela vida, já que movimento e vida estavam associados há muito tempo.

Alguns anos depois, em 1831, foi lançado o livro de Mary Shelley: Frankenstein. Nesse livro a idéia central é a criação da vida. Narra como um cientista uniu diversas partes de cadáveres formando um ser, que, após receber forte descarga elétrica passou a viver.

Até hoje muitos cientistas defendem uma idéia semelhante: milhões de anos atrás nosso planeta era coberto por líquidos ricos em substâncias propícias ao surgimento da vida - é a isso que chamam de “sopa primordial” - que ao receberem fortes descargas elétricas de raios, produziram as primeiras bactérias, das quais todos os seres vivos evoluíram.

Mas será que a vida é apenas eletricidade?

Essa pergunta é fundamental para os cristãos, porque ao comemorar o Natal, comemoram o nascimento daquele de quem é dito: “a vida estava nele” (Jo 1.4).

O que as Escrituras nos informam é suficiente para se dizer que a vida é algo maior. Ela pode até se servir da eletricidade para movimentar a musculatura, para fazer o cérebro pensar, mas de forma alguma ela pode ser confundida com um mero movimento de elétrons, que, em última análise, é o que produz a eletricidade.

Há modos mais profundos e precisos de se encarar o assunto, mas, podemos dizer que a vida se apresenta em duas formas. A primeira e mais geral que podemos chamar “o sopro de Deus” e a segunda - característica apenas do ser humano - “a imagem de Deus”. Apenas para facilitar: a primeira é o princípio biológico, compartilhado com os outros animais, e a segunda é o princípio espiritual.

Em ambos os sentidos a vida estava em nosso Senhor. Pois “nada do que foi feito sem ele se fez” (Jo 1.3), inclusive a vida biológica. No outro sentido sabemos que ele encarnou-se - assumindo a “nossa biologia” - para restaurar em nós aquilo que nossos primeiros pais danificaram ao ponto de quase não ser mais reconhecida: a imagem de Deus.

O Natal deve sempre nos lembrar do dia em que nossa natureza foi resgatada por quem “veio para que tivéssemos vida e a tivéssemos em abundância.” (Jo 10.10).

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Doenças da alma

Por dever de ofício visito pessoas com diversos tipos de enfermidades. Algumas graves - às vezes terminais - outras nem tanto. Algumas contagiosas, outras não. Umas, fruto de descuido, outras de acidentes.

Por dever de ofício encontro almas doentes. Já vi almas em estado terminal e já vi almas que passam apenas por um período: como se fosse um resfriado.

Se há uma variedade muito grande de doenças do corpo - e parece que a cada dia surge uma nova - há também grande diversidade de doenças da alma. Como há níveis de gravidade em um caso, há também no outro.

Há doenças crônicas tanto no corpo quanto na alma, como também há casos agudos. E, já percebi que do mesmo modo que algumas doenças ficam incubadas no corpo, algumas demoram a aparecer na alma apesar de já estarem lá.

Há doenças que só se manifestam no corpo e outras que só se manifestam na alma, embora sempre que o corpo sofra, a alma fique abatida e vice-versa. Mas algumas atuam em ambos e às vezes não se pode dizer qual deles sofre mais.

Meu contato maior é com as doenças da alma. Essas desfilam diante de mim e as vejo em crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos. Seus sintomas, sempre físicos, são secreções verbais purulentas, olhares dissimulados e inquietos, curiosidade exarcebada, irritações superficiais, ou até estados febris com agitações histéricas.

Como ocorre com as doenças físicas há também a transmissão pelo contágio. Já vi crianças terem suas almas contaminadas por seus próprios pais. Já vi adolescentes e jovens expondo-se aos agentes transmissores mais virulentos como se nadassem em rios poluídos de esgoto. Já vi adultos e velhos, que, carcomidos, deixam cair pedaços necrosados da alma enquanto passam.

O contágio nunca se dá pela ingestão. Pelo contrário ele acontece através dos sentidos - as janelas da alma - e especialmente através da palavra.

Às vezes é apenas o doente quem as sofre, às vezes atingem a família e os amigos. Outras vezes alastram-se pela Igreja e contaminam quem está mais debilitado.

Fazer um catálogo das doenças da alma não é uma tarefa fácil, mas diferentemente das físicas, que parecem não ter limite em sua etiologia, elas, que podem aparentar muitos aspectos, originam-se sempre em dez princípios bem conhecidos agrupáveis em dois grandes tipos.

Há três fatos que surpreendem a quem estuda as doenças da alma. Primeiro, poucos doentes admitem que o são, e, muitas vezes, só procuram tratamento quando, de alguma forma, as doenças da alma passam a prejudicar seus interesses materiais: seja a saúde financeira, familiar ou física (quase sempre nessa ordem).

O segundo é que poucos têm o mesmo apreço pela saúde da alma como têm pela saúde do corpo. Muitos pagam prontamente convênios, ou até mantêm alguma importância reservada para eventualidades. Escolhem casas, escolas, academias, restaurantes, e outras coisas, levando em conta a salubridade do corpo. Entretanto, quase ninguém se preocupa com a salubridade da alma. Nunca vi ninguém procurar vacinas para as doenças da alma e quando tento aplicá-las sou mais repudiado do que os agentes do Dr. Oswaldo Cruz.

E o terceiro, é que geralmente se busca cura em outros doentes. Via de regra nos doentes mais graves que não apenas podem fazer muito pouco como contaminam ainda mais a alma doente.

Por dever de ofício trato tais doentes - antigamente chamavam meu ofício de Cura d'Almas - que na maioria das vezes demandam, como condição básica, uma alimentação saudável, balanceada e rica em nutrientes para a alma debilitada e os remédios adequados a cada caso. Porém, diferentemente do que ocorre com a maioria das doenças físicas, os remédios não agem por si. Não fazem efeito sozinhos. Eles exigem a participação do doente, que quase sempre se julga sadio, não nota o perigo que corre, nem o perigo que oferece aos demais.

Como está sua alma? Já fez um check-up? Já a examinou à luz do “manual” de quem fabricou você?

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Tempos de refrigério

Enquanto o sol de rachar, que obrigara muitos pedestres a atravessar a rua procurando uma sombra, declinava no poente, um mormaço quente abafava a respiração e uma cigarra escandalosa parecia que ia explodir de tanto cantar.

O suor teimava em escorrer pelo corpo, que já tendo sido refrescado por três vezes no chuveiro frio, e prometia ser o companheiro de cama que afastaria a bem amada para a outra extremidade do colchão, encharcaria o forro e obrigaria os lençóis a ficarem no guarda-roupa.A porta da sala aberta, na esperança de canalizar qualquer brisa que entrasse pela cozinha, reforçada pelo ventilador de teto ligado em sua maior velocidade, pouca diferença fazia, pois o eventual ar que circulava era quente: parecia o sopro de um secador de cabelos.

A noite seria longa.

De repente, sem que se avisasse ou se esperasse, um relâmpago brilhou bem longe surpreendente. Não demorou muito, uma vários clarões davam certeza de tempestade.

As gotas esparsas foram apenas uma introdução, seguidas de um aguaceiro violento. Com a chuva veio o vento e aproximaram-se os raios e trovões: A cada clarão um estrondo que parecia sacudir o ambiente. Chovia torrencialmente. As ruas ficaram alagadas. Os respingos trazidos pelo vento por maior que fosse o beiral incomodava a alguns, mas satisfazia a maioria que ainda porejava suor.

Entretanto, curiosamente, o calor continuava. Não tão forte, mas estava lá. A chuva que lavava as ruas e o ar, ainda demoraria a esfriar as paredes.

Mais uma lição de nossa Ilha.

Você já reparou o quanto as Escrituras falam negativamente a respeito do calor? Ele é uma das ameaças do Senhor em Deuteronômio 28.22, e um dos flagelos divinos em Apocalipse 16.8e9. Entretanto o homem que teme ao Senhor não o receia (Jeremias 17.7e8).

Contrariamente a sombra é uma bênção prometida em Isaías 4.5e6, e de Isaías 25.4, cantamos que o Senhor é como sombra no calor.

Sua maior força, entretanto, é como metáfora da vida espiritual. O Apóstolo Pedro, em At 3.20, promete tempos de refrigério aos arrependidos e um dos cuidados do Bom Pastor é refrigerar alma de suas ovelhas.

O que é refrigério para a alma? Somente cada um pode responder a si próprio. Alguns atormentados pela dúvida serão refrigerados pela certeza. Outros com a consciência abrasada por um pecado renitente, ou por uma pré-disposição pecaminosa são refrigerados pela graça e vitória. E, ainda outros, que nas palavras de Tiago (3.6), a língua colocou em "chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno", encontrarão refrigério nas Palavras Sagradas.

Espero que a situação em que você se encontra não seja tão desesperadora. Mas se for não se esqueça: pouco adiantará a chuva mais torrencial. Ela pode até refrescar. Mas o calor continuará presente. Só o Bom Pastor refrigera a alma.

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Quando eu era menino

Quando eu era menino falava o que minha imaginação ditava. Afinal não é assim que todo menino fala? Eu não era exceção.

A verdade era minha, e eu fazia com que ela servisse a meus propósitos. Fabricá-la era muito útil na hora de explicar ao professor porque não fiz o dever de casa, ou à minha mãe porque o quarto não foi arrumado.

É claro que à medida que eu crescia, dentro de minha meninice, a verdade se tornou mais fugidia. Eu havia descoberto que a fantasia é perdoada, e as vezes até admirada em idades menores. Agora era imprescindível que houvesse alguma verossimilhança: uma verdade pela metade. Fabricá-la tinha passado a ser muito arriscado. Era melhor dobrá-la. Melhor ainda se a parte fantasiosa fosse insinuada para que o outro deduzisse a mentira e eu apresentasse apenas metade da verdade.

Minha também era a “lábia”. Não era necessariamente mentira o que eu falava, mas com jeitinho eu conseguia fazer meu time. Quando o jeitinho não funcionava o “grito” era uma boa solução. Uma bronca bem dada, ou uma mancada revelada na presença de outros fazia qualquer adversário concordar comigo. As vezes uma ameaça era necessária, mas as melhores não eram as ameaças físicas, mas revelar a todos aquelas besteiras que quase todos os meninos fazem e têm vergonha. Como fazer xixi na cama.

Quando eu era menino sentia que podia dominar o mundo. Me imaginava como aqueles heróis que dominam qualquer coisa que corra, flutue ou voe. E era bom pensar que eu seria admirado como os heróis que via nos filmes ou que eu imaginava das histórias dos adultos.

Porém, só imaginava os bons feitos: fechar a boca de leões, passar pelo meio do fogo, mandar o sol parar, caminhar em cima das águas, tirar montes do meio do caminho.

Levar bronca pelo erro cometido era para os outros. Vagar pelos desertos era para aquele moleque que me perturbava na classe.

Me assustei uma vez em que leram de Paulo passando fome, frio, açoites e outras dificuldades, pois já sabia de cor como ele fugira em um cesto por uma janela de uma muralha.

Quando eu era menino pensava que tinha a fé mais forte, a família mais perfeita, os melhores amigos e a capacidade de nunca “pisar na bola”.

Pensava que todas as regras e limites eram impostos por quem queria aparecer.

Pensava que não devia respeito a essa cambada de fingidos que “se acham” os bons.

Ah, quando eu era menino ...

Quando eu era menino
falava como menino,
sentia como menino,
Pensava como menino.
Quando cheguei a ser homem,
desisti das coisas próprias de menino. 1Coríntios 13.11

sábado, 22 de outubro de 2005

Rico para com Deus

Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui.

E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo:

O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?

Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus. - Lucas 12.15-21

De modo simples nosso Senhor e Mestre divide-nos conforme a riqueza que possuímos. E, certamente, nos será de grande proveito saber em que grupo ele nos classificou, e esse fazendeiro nos ajudará a entender seus critérios.

A primeira coisa que destaco é que ele já era rico, e ao tomar um rico como exemplo o Senhor está dando a seus ouvintes judeus uma lição que hoje nos escapa, pois para os judeus todos os ricos foram abençoados diretamente por Deus com a riqueza.

A segunda coisa que chama minha atenção é uma espécie de solidão. Ao receber a notícia da boa safra ele "arrazoava consigo mesmo" e decide guardá-la. Ninguém tem acesso a seu 'centro de decisões'. Sobre isso o Senhor adverte: "Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza".

O rico para consigo mesmo pode dizer à sua alma: "tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te". Mas só pode dizer isto! Ele é refém de si próprio. Seu horizonte está limitado a "muitos anos", jamais consegue sequer atinar com a eternidade.

Entretanto a sanção do Senhor vem principalmente de seu comportamento com o que recebeu a mais. E aqui há mais uma característica do que é rico para consigo mesmo: nunca, coisa alguma é suficiente.

Observe que este homem não pode ser acusado de irresponsável ou esbanjador. Pelos padrões atuais ele até que é alguém sensato: não saiu gastando nem aproveitou o "excedente de caixa" para "torrar". Foi previdente e guardou para o futuro. Neste aspecto ele pode servir de exemplo para quem não pode se conter. Porém seu erro foi achar-se o centro e não um dos muitos instrumentos de Deus. Ele perdeu a chance de ser um "cooperador" de ninguém menos que o próprio Deus. É como se ele não tivesse importância ou utilidade para qualquer outra pessoa além de si próprio. Afinal ele era rico apenas para consigo. Não para com Deus.

E você? Em qual grupo Deus o classificou? No grupo dos que são ricos para si próprios? Ou no grupo dos que vêem a riqueza como uma oportunidade de trabalhar com ele?Se pensa que, diferentemente do fazendeiro rico, mal dá para atender suas necessidades, lembre-se de outras palavras do Senhor:

Quem é fiel no pouco
também é fiel no muito;
e quem é injusto no pouco
também é injusto no muito.

Se, pois, não vos tornastes fiéis
na aplicação das riquezas de origem injusta,
quem vos confiará a verdadeira riqueza?

Se não vos tornastes fiéis
na aplicação do alheio,
quem vos dará o que é vosso?

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

Reformemos a Igreja


Quando Martinho Lutero divulgou suas 95 teses o ”ambiente” já estava preparado para recebê-las. Havia uma grande revolta contra as condições impostas pelos governantes, cujo poder derivava de acordos políticos-familiares-religiosos, e já havia um sentimento de nacionalidade.

As famílias mais poderosas e com melhores alianças políticas, unidas ao poder papal, que possuía cerca de um terço das terras européias, determinavam o que queriam. A religião “legitimava” as decisões tomadas. Sob certos aspectos há grande semelhança com o que ocorre hoje em nosso país.

A descoberta chave de Lutero foi a Bíblia. Ele estava sujeito às decisões mais arbitrárias. Alguns queriam-no como professor desde que ensinasse o que lhes era útil. A Igreja o tinha como doutor de verdades ensinadas pela própria Igreja, e, se ele as questionasse recebia como resposta que foi uma “comunicação de Deus diretamente ao Papa” que estabeleceu tal dogma.

A Bíblia o libertou.

Logo ele descobriu que somente as Sagradas Escrituras são a única coisa que deve prevalecer sobre a consciência do Cristão.

E nesse aspecto a semelhança com o que ocorre no meio evangélico brasileiro é maior. Se naqueles dias havia a autoridade papal que falava em nome de Deus, hoje há revelações. Se naqueles dias havia quem se valesse da ignorância de analfabetos para esconder deles as verdades bíblicas, hoje há inescrupulosos que falseiam o sentido das Escrituras e não apenas escondem as mesmas verdades, mas deturpam a autoridade delas.

Naqueles dias havia grupos que sinceramente queriam melhorar o estado da Igreja. Entretanto, não precisavam apenas de uma “injeção de ânimo”, ou como chamamos hoje de avivamento, precisavam de uma Reforma.

E a reforma veio.

Em lugar de palavras de homens, a Bíblia tomou o centro e a preeminência. Em lugar de devaneios místicos a Bíblia passou a ser estudada. Em lugar da emoção gerada pelas grandes solenidades, a pregação sistemática da Palavra de Deus.

Precisamos hoje de outra reforma. Não sou o primeiro a declarar isso. Muitos já o fizeram antes de mim. A Bíblia está cada vez mais escondida. Cada vez mais se escuta “testemunhos”, conselhos baseados no que “aconteceu comigo”. Convites simpáticos, shows impressionantes, e coisas do gênero.

É preciso trazer a Bíblia para o centro.

Que ela afaste os “simpatizantes” e atraia os eleitos, pois ela é a porta que fecha o Reino de Deus aos impenitentes e abre aos que reconhecem a voz do Bom Pastor e vivem por ela.

sexta-feira, 7 de outubro de 2005

Sobre o desarmamento

Nestas últimas semanas diversos irmãos me perguntaram sobre a lei do desarmamento, e alguns até me pediram que falasse sobre ela. Por muitas razões achei melhor escrever.

Quem usa a internet tem visto a enxurrada de textos a favor e contra o desarmamento. Uns se apóiam em estatísticas e condenam o uso de armas. Outros mostram o quanto essas estatísticas estão sendo torcidas.

As mídias de massa, como televisão e rádio, não cessam de repetir o slogan: “Diga não às armas e sim à vida”. Como se quem dissesse sim as armas fosse tacitamente contra a vida. Aliás, já é possível ver certo estigma lançado sobre quem é a favor da venda de armas.

Tenho visto muitos cristãos piedosos dizerem que a bíblica proíbe possuir armas. Acho até compreensível que pensem assim, pois as profecias a respeito da vida futura, falam de transformar as armas em ferramentas agrícolas. Mas, enquanto não chegar esse dia?

Afirmo que não há qualquer texto bíblico que, analisado criteriosamente, proíba ao cristão ter e usar corretamente uma arma. Aliás há muitos que, pelo exemplo ou por ordem direta, obrigam ao discípulo do Senhor a ter e saber usar.

Eu não sei o que, de fato, anima nossa época - pois a mesma tendência pode ser vista em outros países - a banir todas as armas, porém questiono a eficácia desta tendência. Não posso fazê-lo como especialista em segurança ou em qualquer área correlata, mas à luz das Sagradas Escrituras, não podemos tratar a ninguém como livre das más inclinações, o que é um pressuposto do desarmamento.

A única obrigação que as Sagradas Escrituras imputam ao Estado é o da segurança. Examine-as: A família é que deve promover instrução e saúde, diferentemente do que prega o Liberalismo e o Neoliberalismo. O Estado não pode ser onipresente como quer o socialismo e especialmente o comunismo. Entretanto, com esta lei, dentro do âmbito legítimo confiado por Deus ao Estado, ele parte da premissa que já resolveu todos os problemas de segurança e deve desarmar os cidadãos.

A cada argumento levantado é possível levantar também um contra-argumento, menos à Palavra de Deus. Não somos chamados a ser beligerantes, mas pacíficos. Não somos chamados ao uso de armas, mas a proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz. Porém Deus nos deu responsabilidades e uma das principais é nos empenharmos pela vida, mesmo que para isso tenhamos de lançar mão de armas.

“A seguir, Jesus lhes perguntou: Quando vos mandei sem bolsa, sem alforje e sem sandálias, faltou-vos, porventura, alguma coisa? Nada, disseram eles.

Então, lhes disse: Agora, porém, quem tem bolsa, tome-a, como também o alforje; e o que não tem espada, venda a sua capa e compre uma. Pois vos digo que importa que se cumpra em mim o que está escrito: Ele foi contado com os malfeitores. Porque o que a mim se refere está sendo cumprido.

Então, lhe disseram: Senhor, eis aqui duas espadas! Respondeu-lhes: Basta! - Lucas 22.35-28

Votar sim ou não é uma decisão exclusivamente sua. Não se omita, nem deixe que os demais decidam por você. Mas, por favor, não vote favor do desarmamento achando que é uma exigência bíblica, pois não é.


sexta-feira, 30 de setembro de 2005

Vida nova, novos valores

Ao nos redimir, Deus nos fez parte de sua família. Fomos adotados. Ou como costumamos dizer fomos salvos. Mas isso é apenas o começo, pois alguém que foi adotado jamais tirará todo o proveito da vida com sua nova família se não se ajustar seus valores.

Um dos valores de Deus é a honestidade. Honestidade com ele, com nosso próximo e conosco mesmo. Porém não apenas uma honestidade externa, mas de propósitos de pensamentos e desejos.

Ele exige de nós um comportamento marcado pela simplicidade, pela humildade, pela clareza, e pelo que se relaciona com o que é bom e agradável.

Ao citar diversos valores as Escrituras Sagradas fazem questão de associá-los à nova vida que temos. Veja Filipenses 4.8 “...tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento”.

É impossível alguém desfrutar das bênçãos da nova vida sem cultivar estes valores. Mas há outros. Não há uma clara preferência, ao longo das escrituras, pelo rebanho em vez do bando? Por águas tranqüilas em contraposição a águas agitadas? Por pastos verdes em vez de fome? Pelo silêncio em vez das gritarias? Pela doçura em vez do amargor? Pela luz em vez das trevas? Pelo refrigério em vez de ardência? Pela harmonia em vez do ruído? Pela alegria em vez do choro? Por vestes brancas em vez de andrajos?

Ao falar de coisas celestiais, não se repetem “em cima” em vez de “em baixo”? Direita em vez de esquerda? Beleza em vez de feiúra? Vida em vez de morte? Mais em vez de menos? Louvores em vez de murmúrio? Bem em vez de mal? Ordem em vez de confusão? Perfumes? Águas? Árvores?

Semelhantemente ao prometer coisas desta vida aos que amam o Senhor, não se repete fartura em vez de escassez? Saúde em vez de doença. Perdão em vez de culpa? Fecundidade em vez de esterilidade? Honra em vez de zombaria? Verdade em vez de mentira? Ensino em vez de ignorância? Razão em vez de credulidade? Pratica em vez de sentimentos? Sabedoria? Sobriedade?

Tais valores permeiam o texto das Escrituras Sagradas e são básicos para se desfrutar a bênção de ser parte da família do Senhor. Não constituem condição para que alguém seja salvo, mas são marcas de quem já é salvo.

Não nos enganemos: não há lugar para a ética ou para a estética do mundo dentro do Reino de Deus.

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Por uma evangelização consciente

Uma das funções mais deturpadas ao longo da história da Igreja tem sido, sem dúvida, a proclamação do evangelho.

Quando o Senhor ordenou a seus apóstolos que anunciassem as boas-novas havia certas características que desde cedo foram confundidas e que, em nossos dias, estão longe de serem praticadas.

O Senhor mandou como seus enviados, pessoas que anunciassem com sua autoridade. Não quem implorasse ou usasse de expedientes que aviltam seu Nome, degradam sua obra e desdizem sua mensagem.

Hoje nos incluímos no rol dos que receberam esta sagrada incumbência e fazemos bem, pois ela foi dada a nós também mas muitos não aceitam as restrições que o teor da mensagem impõe a seus proclamadores.

O Senhor mandou que seus enviados anunciassem “boas notícias”. Mas as boas-notícias foram logo desvirtuadas. Transformadas em convite ou em um simples anúncio como outro qualquer.

As vezes são os proclamadores que não possuem entendimento claro do que anunciam e, por isso, anunciam a solução das necessidades humanas (prosperidade, saúde, e outras). As vezes são os ouvintes que, não conhecendo as “más-notícias” (a perdição em que se encontram), não fazem a mínima idéia do valor das “boas-notícias”.

Você está lembrado do que aconteceu a Paulo em Listra? (At 14): Aquele povo ficou tão impressionado com o milagre feito por ele que foi necessário repreendê-los e chamar a atenção deles para que o verdadeiro Evangelho prevalecesse. O mesmo aconteceu em Atenas (At 17): a pregação no Areópago - verdadeira agressão aos costumes atenienses - foi uma exposição doutrinária da soberania e dos decretos de Deus, para que o evangelho não virasse mais uma das muitas novidades que tinham prazer em examinar.

Após a morte do último apóstolo, a história nos informa que o Evangelho serviu a muitos propósitos. Desde dominação política, a partir da época Constantino, até instrumento de exploração comercial.

Hoje ele é utilizado de tantas formas que fica difícil de ver o verdadeiro Evangelho. Em um mundo hedonista como o nosso, ele é manobrado para atender a um público cada vez mais ávido de diversão. Em um mundo cada vez mais comercial ele destaca as igrejas locais que possuem uma preocupação organizacional e mercadológica.

Na parábola de Jesus as aves do céu encontram abrigos nos ramos da hortaliça que representa o Reino de Deus. Hoje o mercado agarra-se aos galhos da Igreja como uma planta parasita que não apenas mina sua força, mas compromete sua própria existência.

Não deixemos de proclamar o Santo Evangelho. Aqui, ali e acolá. Mas não nos deixemos envolver pelos valores do mundo, pois
“o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente”. 1Jo 2.17

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

Nossa redenção se aproxima

Olhando os escombros após a passagem do furacão, entre sujeira, árvores arrancadas, casas aos pedaços e carros jogados nos lugares mais inusitados, o que era escondido pelos esgotos veio à tona e o que era disfarçado pelos belos jardins apareceu.

Os locais outrora limpos, bem gramados e arborizados estavam pelo avesso.

Seja na televisão, ou nas fotos impressas, as imagens eram chocantes e as notícias das mortes já esperadas, por mais esperadas que fossem, ainda causavam tristeza.

Entretanto essa era apenas uma das muitas “catástrofes naturais” noticiadas nas últimas semanas. Você está lembrado dos incêndios em Portugal? Das enchentes na Alemanha? Do vendaval no Paraná?

A lista é grande.

Parece que as notícias de uma catástrofe nova nos fazem esquecer a anterior.

Parece também que os prejuízos e o número de mortos influem em nossa lembrança: de tão acostumados a notícias ruins nossa memória chegou ao ponto de só reter as piores.

Nos acostumamos tanto a ver tragédias que já fazemos um ranking delas, e chegamos a dizer: essa foi pior (menos ruim) do que a aquela.

As tragédias devem nos lembrar de muitas coisas. Primeiro, de pedir a Deus misericórdia sobre aqueles que a sofrem. Afinal, se aconteceu conforme a vontade soberana dele, é a oportunidade que ele mesmo nos dá de, condoídos daqueles que sofrem, colocarmos aos seus pés nossas súplicas, participando de seu reinar.

Segundo, de saber que nós não estamos imunes aos problemas que atingem os demais. Eles podem acontecer, e acontecem a nós também. Ou você já esqueceu da enchente?

Terceiro: saber que estamos vivendo tempos especiais. Devemos sempre ter em nossa lembrança as palavras do Senhor:

“Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima”
Lucas 21:25 e 28

sábado, 10 de setembro de 2005

As casas de Jesus

Meu Senhor, o criador de todas as coisas, nos dias de sua carne não poderia ter tido outra profissão que não a de carpinteiro.

Naqueles dias o carpinteiro era uma espécie de construtor. Era quem mais trabalhava na construção de uma casa, ficava aos seus cuidados a confecção das colunas e vigas que alinhariam as paredes e receberiam o peso da cobertura. Era ele também quem fazia os marcos e as portas, e, eventualmente, alguns móveis.

Ou seja: nos dias de sua carne o Senhor fazia o que sempre fez e sempre fará: construir habitações. Afinal, não era Ele a santa Palavra dita pelo Pai, que ao ser pronunciada criou todas as coisas? Afinal, não é ele também quem disse ir preparar-nos lugar, para, quando voltar, receber-nos para si mesmo?

...

Tenho certeza de que, como carpinteiro, muitas vezes, cansado, após um dia de trabalho, ele olhou para o fruto de seu suor e ficou feliz. Lembrou-se do que já havia feito. Pensou no que haveria de fazer.

É provável, que muitas vezes, cansado, após terminar uma casa, ouviu um pedido de desconto, e, compadecido, mesmo tomando prejuízo, deu o desconto. Era de sua natureza compadecer-se. Era de sua natureza fazer casas. Era sua alegria ver moradores nas casas que construíra.

Certamente, muitas vezes, cansado, após terminar tudo, levou calote. Em casos assim, mais do que prejuízo, sentiu dor. Dor de ser enganado, dor de ver, naqueles por quem se fez carpinteiro, a mesquinhez, a fé obtusa que não é capaz de buscar coisa alguma além da casa material, que não é capaz de reconhecer a graça.

Todos esses sentimentos, o preparavam para o misto de satisfação e dor; para o grito terrível de abandono na cruz e para as palavras de satisfação: está consumado.

Ele ficou feliz em me salvar. Ele ficou feliz em salvar você! Ele sofreu com o calote que eu lhe dei. Ele sofreu com o calote que você lhe deu. Entretanto, nossa casa está pronta e aguarda por nós. E ele mesmo nos receberá com festa.

De mãos com as cicatrizes de cruz - cruz que era nossa - é que receberemos “as chaves” de nossa casa.

sexta-feira, 2 de setembro de 2005

Fé, razão e emoções

Ouço dizer que a fé é o oposto da razão. Que a razão é produto da experiência, do teste, do exame, ao passo que a fé deriva-se do “desespero” diante de condições adversas, de alguma “crença irracional”, ou do obscurantismo em que algumas pessoas ainda vivem. Até que eu concordo que esse seja o tipo de fé mais visto em nossos dias. Mas, absolutamente, não é a esse tipo de fé a que a Bíblia se refere como a que caracteriza a vida do que foi justificado.

A fé da qual a Bíblia fala possui duas marcas distintas: Primeira, ser dom de Deus e a segunda é vir através do ouvir a Palavra de Deus.

Deixando mais claro: Por ser dom de Deus, a verdadeira fé não é de todos (2Ts 3.2), mas apenas de quem foi agraciado por ele. Apenas de quem foi levado por ele ao caminho apertado, que, trilhado pelos poucos que às costas levam uma cruz e seguem o Senhor, em direção a porta estreita. O pequeno rebanho a quem o Senhor agradou-se dar o Reino.

Por vir através do ato de escutar a palavra de Deus, entenda-se, não apenas o mero ato impossível ao surdo, mas o raciocínio daqueles que atenderam as exortações do Senhor, como as que ele fez através do profeta Isaías, e arrazoaram sobre a situação de seus pecados e sobre o seu perdão. Como aconteceu também aos que o Apóstolo Paulo evangelizou, chamado a considerarem o cumprimento das profecias. Semelhantemente aos que, como nos ensinou nosso Mestre e Senhor, perceberam que, se Deus cuida dos pássaros e das flores – e, como valemos mais do que pássaros e flores - cuidará de nós também.

Geralmente a maior de todas as objeções que se faz a esse tipo de raciocínio é que não há um povo que não tenha suas crenças e a noção do “religioso”. De fato: todos possuem algum tipo de fé, porém somente os salvos possuem a fé a que a Bíblia se refere.

Não podemos nos esquecer que o homem afetado pelo pecado não perdeu as qualidades com as quais Deus o dotou originalmente. Ele apenas não as usa correta ou completamente. Por exemplo, ele continua capaz de cumprir o propósito para o qual foi criado, mas não totalmente: para relacionar-se com o meio ambiente e com o próximo, ele precisa ser tutelado pela lei. Para relacionar-se com Deus ele precisa ser mediado por Jesus.

O que restou no homem após o pecado, e que foi transmitido a todos os que nasceram depois, é o tipo de fé que conduz às crendices, ao fanatismo e a todos os enganos, crimes e atrocidades, que já se fez e ainda se faz em nome de Deus.

A fé dos eleitos os convida a arrazoar sobre que Deus fez. A fé do homem sem Deus o induz a confiar no que ele mesmo pode fazer. A fé que justifica o pecador não o impede de pensar: ao contrário leva-o a entender seu estado miserável e a graça de Deus. A fé do homem sem Deus substitui o pensar pelo sentir e o torna um dependente eterno. A fé salvadora não teme o arrazoado científico, pois vê nele os rastros de Deus, e cresce com seus desafios. A fé natural não resiste o sopro da lógica.

Plantaremos figos, para colher uvas? Tampouco obteremos de nossos sentimentos, por mais puros e mais nobres que sejam, qualquer traço da fé que nos aproxima de Deus.

Semeemos sua Palavra! Sem temor, sem sofismas, sem medo de sermos tidos por antiquados. Os que a ouvirem, e a entenderem, frutificarão a 30, a 60 e a 100 por um.

sábado, 27 de agosto de 2005

Desistir?

Quando o Senhor assumiu nossa natureza, encontrou um ambiente social convulsionado. Muitos alegavam ser o Messias tão esperado - você, certamente, se lembra da lista feita por Gamaliel - e atraíam discípulos. A credulidade e a superstição eram coisas comuns. Os demônios eram culpados pelos acontecimentos ruins e a religião era fonte de grande lucro. Na verdade, eu poderia dizer, sem medo de errar, que, guardadas as diferenças intrínsecas, o ambiente social era muito parecido com o de hoje.

Hoje, como os discípulos do Senhor fizeram, pregamos o santo Evangelho e muitos gritam que eles é que são os enviados de Deus. E, como os discípulos de Jesus fizeram, muitas vezes sentimos vontade de proibi-los de pregar. Mas as palavras do Mestre, ditas aos discípulos de então, ecoam em nossos ouvidos: "não proibais".

Hoje a indignação que às vezes nos toma, leva-nos, como levou aos boanerges, a pedir autorização do Senhor para descer fogo do céu sobre os malfeitores. Mas a repreensão de Jesus volta novamente a falar mais alto.

Como pastor, vejo ovelhas que, rejeitando admoestações particulares e do púlpito, se enrolam em práticas estranhas: correntes, simpatias e coisas semelhantes. Preocupam-se apenas em resolver seus próprios problemas, aqui e agora, sem se darem conta de que, quando oram, pedem a Deus que venha o seu Reino e seja feita sua vontade.

Outras pessoas, como os atenienses evangelizados pelo Apóstolo Paulo, carecem quase que desesperadamente de novidades. Se há algo novo é isso que receberá atenção deles. Como se o Evangelho fosse fastidioso. É o doente recusando o pão saudável e gostoso. Não é o evangelho “gerado” por Deus, mas sim um “evangelho clonado”, sintetizado no laboratório das idéias sociais ou no laboratório do “eu acho”. Nunca passaram da mera letra da Bíblia - se é que já a leram - e se arrogam possuir “novas revelações”.

O que fazer? Desistir de tudo? Confesso que as vezes dá vontade. Mas novamente a palavra do Senhor fala mais alto: fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. Participa dos sofrimentos em favor do Evangelho. Permanece naquilo que aprendeste desde criança. Prega, insta (seja oportuno ou não). Corrija. Repreenda. Pois nos últimos dias a sã doutrina não será suportada, e os mestres que ensinam apenas o que os alunos querem ouvir é que serão bem-vindos e queridos.

...

Você quer participar desta luta inglória diante dos homens? Se quiser não abandone sua congregação. Não abandone a Palavra de Deus. Não lute contra o mundo com as armas do mundo. Cumpra cabalmente seu ministério. E, finalmente, ouça o que o Espírito diz às Igrejas: “sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida”.

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

A fé cristã e o ensino

As Sagradas Escrituras falam muito pouco sobre a infância de Jesus. Falam de sua circuncisão aos 8 dias de vida, sua ida para Egito aos 2 anos, sua volta de lá aos 4 ou 5 anos, quando seus pais decidiram morar em Nazaré. Depois só falam dele quando já tinha 12 anos.

Falam menos ainda sobre sua pessoa. Bem criança, falam que ele crescia em estatura e graça diante de Deus e dos homens. Porém, o destaque maior fica para sua capacidade de, pré-adolescente, já debater com os doutores da lei causando-lhes admiração.

Falam que ele era carpinteiro. Como tal deve ter construído muitas portas, vergas, esteios, coberturas, e, quem sabe, até móveis. Entretanto não foi por suas habilidades como construtor - apesar de, também, haver construído o universo - que hoje ele é lembrado.

Como carpinteiro, deve, também, ter recebido pedidos de desconto, parcelamento, atrasos de pagamento e até calotes - que foram nada se comparamos ao "calote" dado por Judas, por Pedro e pelos outros Apóstolos e por nós que lhe sobrecarregamos com nossos pecados. Embora isso seja muito destacado em sua biografia, se você examinar com calma verá que, também, não é disso que mais nos lembramos.

Ele fez muitos milagres. Não "milagres" que se expliquem pela sugestão, mas milagres reais: cegos, paralíticos e diversos deficientes de nascença voltaram a ver, a andar, às suas atividades normais. Até mortos voltaram a viver. Entretanto não há qualquer registro de alguém ter se dirigido a ele chamando-o de milagreiro.

Ele chamou a cada um dos 12 apóstolos. Chamou-os para longe de suas famílias. Chamou-os para andar, para dormir ao relento, para satisfazerem a fome com grão de trigo cru debulhado do pé. Ninguém recusou seu chamado. Entretanto ele não passou à história como líder carismático.

Ele fez muitos sermões. Sermões que hoje cada dia ganham mais relevo ao mostrarem nossas mazelas mais íntimas e ao mesmo tempo a situação do mundo. E, embora, ele não tenha passado a história como orador eloqüente, não há a menor dúvida que o título de Mestre é dele, e dele apenas. Há outros mestres. Alguns viveram antes dele e alguns, naqueles dias, já haviam descoberto coisas que só agora a humanidade compreendeu, mas nenhum ensinou o mais precioso: a vontade do pai.

Não conseguimos ler uma página inteira dos Evangelhos, sem encontrarmos alguém chamando-o: - Mestre ... Seus íntimos, identificaram-se como seus discípulos (alunos). João, que era seu primo, refere-se a si mesmo como o discípulo amado.

E, um dia, após haver lavado-lhes os pés – coisa que naqueles dias só se exigia de um servo – ele diz: “vocês me chamam de senhor e mestre. Fazem bem, por que eu o sou. Se eu, o Senhor e o Mestre ...”


Observou? Jesus não recusou esse título. Aliás, ao se despedir ele ordenou: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações ... ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”.

Os primeiros sabiam disso tão bem, que deles é dito que “perseveravam no ensino (doutrina) dos Apóstolos”, e não são poucas as vezes que encontramos o ensino como o ponto vital para a santidade da fé.

Todos os que, na história da Igreja, honraram ao Senhor, ficaram conhecidos primeiramente pelo que ensinaram. Porém, até isso, nossos dias perversos se encarregaram de inverter. Valorizamos os comunicadores de massa como nossos pais valorizaram os oradores eloqüentes. Valorizamos os bons administradores, e os que conseguem encher mais malas de dinheiro.

Pobres de nós: abandonamos os mananciais da Palavra de Deus, e cavamos cisternas rotas que não podem reter as águas. A cada dia, é necessário uma música nova. A cada show um número novo. A cada pronunciamento uma bobagem ou heresia nova. A cada pecado uma perversão nova.


Voltemos ao verdadeiro Mestre! Arrazoemos! Aprendamos dele! Acharemos descanso para nossas almas.

quinta-feira, 28 de julho de 2005

O gafanhoto e as sempre-vivas

Quando viemos morar aqui, encontramos no lugar do jardim um verdadeiro "lajedo" de concreto. Arrancado, deu 3 caçambas de entulho de construção.

Livre, a terra, que já era boa, foi adubada. A grama plantada foi acompanhada de azaléias, girassóis, sempre-vivas, acerola, mamão, guaco, cebolinha, tomate e outras plantas, que, escolhidas por minha esposa, dava à casa um aspecto mais familiar do que um simples jardim.

Como eu gostava - e gosto - de abrir o portão e ver que toda aquela aridez do concreto - que até dava certa impressão de limpeza - agora dá lugar a plantas, ainda pequenas, mas já viçosas, floridas e frutíferas.

Fico feliz quando vem à minha mente o Salmo 84: "Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados, o qual, passando pelo vale árido, faz dele um manancial; de bênçãos o cobre a primeira chuva".

Não era um vale, nem ainda é um manancial, mas o concreto árido foi substituído por plantas que alegram, refrescam e frutificam.

Há alguns dias, entretanto, uma sempre-viva amanheceu no talo: completamente desfolhada. Tristeza, raiva e culpa nas formigas. O rio havia subido e, quem sabe, expulsas de seu buraco, tivessem encontrado abrigo em nosso humilde e incipiente jardim/pomar/horta. Talvez salpicando canela moída na grama elas nos deixassem. Pensamos.

No dia seguinte, outro pé de sempre-viva teve o mesmo destino: desfolhado até ao talo.

Por que só as sempre-vivas? Justo as mais vivas? Justo as que estavam começando a florescer?

Por que só à noite?

Era de se pensar.

Atentando melhor descobrimos que era um gafanhoto que se banqueteava furtivamente. Era um só, mas já estava quase acabando as folhas: - ah! Danado! Mão certeira o jogou na grama.

Interessante: Deus nos fez para cuidar de um jardim, e seu povo, mesmo após o pecado, é comparado a plantas como oliveiras ou videiras. De modo mais próprio nosso Senhor e Mestre diz que ele é a videira verdadeira e nós somos os ramos. Porém, quando as Escrituras falam de predadores, as metáforas se agravam: o jardim vira rebanho, e não somos alertados contra gafanhotos e sim contra lobos.

Vejo, entretanto, na voracidade do gafanhoto de nosso jardim uma figura muito adequada. Ele devorou o viço das sempre-vivas e foi-se.

Só o vimos uma vez.

Agora, será preciso um pouco de paciência e cuidado para que as sempre-vivas voltem a florescer. Mas não é essa a tarefa de quem cuida de um jardim?

sexta-feira, 22 de julho de 2005

Cum fortius

Como escrever palavras de conforto nesses dias tão atribulados? Entretanto não é uma das maiores necessidades do rebanho do Senhor? Esse é um grande dilema que, pessoalmente, enfrento como pastor.

As últimas semanas foram quase angustiantes. Nelas, os escândalos políticos, já costumeiros, foram entrelaçados com escândalos que envolvem os que se dizem evangélicos.

Mais uma vez, ficou claro: o que está sendo mostrado como de Deus, na realidade traz vergonha para seu santo Nome: a essência do Evangelho (Boas Notícias) foi substituída pela cobiça, usura, comércio e falta de vergonha.

Tristeza, dor e vexame são sentimentos comuns a todos os que amam o Senhor e oram as palavras de seu Filho: "santificado seja o teu nome".

Porém, há como enfrentar tudo isto com bom ânimo. Sugiro o seguinte:

1. Lembrar que conforto é mais do que aconchego. Na verdade seu sentido original vem das palavras latinas "cum+fortius", ou seja, "com força". Numa hora como essa precisamos de forças, não de ser "ninados".

2. Lembrar que o sofrimento faz parte integrante da caminhada do rebanho do Senhor, que, com Sua permissão é atacado por inimigos de dentro e por inimigos de fora. Não foi ele mesmo que disse que no mundo teríamos aflições? Que nos enviava como ovelhas para o meio de lobos?

3. Lembrar as palavras divinas nos transmitidas pelo Apóstolo Pedro: Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando.

Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome.

Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio, sim, o pecador? 1Pe 4.12-18


4. Orar – e viver a oração - junto com o salmista: Não sejam envergonhados por minha causa os que esperam em ti, ó SENHOR, Deus dos Exércitos; nem por minha causa sofram vexame os que te buscam, ó Deus de Israel. Psalm 69:6

Estes cuidados têm me dado paz e me poupado de angústias maiores. Recomendo-os com ênfase.

Agora, para finalizar: não nos enganemos a nós mesmos, nem deixemos que nos enganem: o Senhor Jesus disse que os lobos se disfarçam de cordeiros. Mantenha sua atenção naquilo que você tem certeza que é um lobo voraz, mas desconfie de quem se apresenta como cordeiro e age como lobo.

sábado, 16 de julho de 2005

Comércio de almas

Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas,
assim também haverá entre vós falsos mestres,
os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras,
até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou,
trazendo sobre si mesmos repentina destruição.
E muitos seguirão as suas práticas libertinas,
e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade,
também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias...

2ª Carta de Pedro, capítulo 2, versículos 1a3

Essa profecia, ultimamente tem ficado cada vez mais clara para mim. Criado em um lar em que a Bíblia sempre foi lida, respeitada e acatada, aprendi a ver um certo simbolismo no número 7. Geralmente ele está ligado à religião e sempre traz a idéia de totalidade.

Na Bíblia (2ª Edição da versão revista atualizada traduzida por Almeida) o número 7 aparece 436 vezes. Só no Apocalipse ele é mencionado em 31 lugares: 7 igrejas, 7 candeeiros de ouro, 7 estrelas, 7 anjos das 7 igrejas, 7 Espíritos de Deus, 7 tochas de fogo, 7 selos, 7 chifres, 7 olhos, 7 trombetas, 7 trovões, 7 mil pessoas, 7 cabeças, 7 taças de ouro, 7 flagelos, 7 montes e 7 reis.

Entretanto, por mais que eu procure, não encontro, em nenhum lugar, a menção a 7 malas de dinheiro. Isso faz parte da crônica policial.

Veja bem: não me envergonho do Evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, única oportunidade de salvação provida por Deus ao pecador. Porém me envergonho, profundamente, do que se está fazendo em nome do Evangelho.

“No espírito e poder” de Tetzel, levantam-se hoje e vendem novas indulgências. Não que livre os crédulos do inferno, mas que lhes garantam prosperidade, saúde e tudo aquilo de que se sinta falta.

Como se não bastasse, elaboram, através de métodos engenhosos, coisas novas e novos modos de levar os crédulos a sentirem falta de outras, só para vendê-las depois.

São os falsos mestres dissimuladamente com fogueiras santas, benzeções, exorcismos e pajelanças sem fim, negando o Soberano Senhor e, com suas práticas, trazendo infâmia sobre o Caminho da Verdade.

São os falsos mestres com avareza exposta em fardos de dinheiro, ora em sacos carregados nas costas, ora em caixas, ora em malas.

Será que não compreendemos o alerta que Deus está dando a seu povo, com as 7 malas de dinheiro? Número que tanto prezam?

Observe como a profecia se cumpre em detalhes: se passam por mestres, mas ensinam com ficção a fim de fazerem comércio, pois são movidos pela avareza. E, além de trazerem má fama ao caminho da verdade, acabam renegando ao Senhor.

E enganam. Como alertou nosso Senhor e Mestre, através do Apóstolo Mateus (24.24): “se possível os próprios eleitos”.

Enganam aos insensatos, que, como os que saíram da escravidão escorchante do Egito, também sentem saudades de panelas de carne e reclamam do sabor fastidioso do pão do céu.

Às vezes, fico pensando se não merecem mesmo serem transformados em mercadorias com as quais se faça comércio!

- Ah! Senhor;
Tem misericórdia de teu povo, que não atenta para tuas palavras e namora com o pecado, com os falsos mestres, com as “palavras fictícias”, e, cada vez mais, chega perto da “repentina destruição”.

Fortifica, cada vez mais aqueles que, com os corações aos pés da cruz, angustiam-se com o opróbrio que jogam sobre nome de teu Filho amado.

quinta-feira, 7 de julho de 2005

... e trocaremos nossos jeans ...

"...e trocaremos nossos jeans pelas vestes brancas do Senhor "

Essa é a frase com a qual se encerra uma música evangélica cantada por um grupo jovem há alguns anos atrás.

Quando comprei esse disco, ainda de vinil, o grupo que a cantava era considerado o mais irreverente da época. Época em que "gospel" era apenas a palavra inglesa usada para designar os quatro primeiros livros do Novo Testamento. Época, em que a irreverência incluía aversão pelo "mercado religioso", e os discos eram feitos mais para comemorar uma data ou divulgar o trabalho de determinado grupo musical.

O grupo "Vencedores por Cristo" fazia uma turnê pelo Brasil e lançava um disco com as musicas mais cantadas. O próprio grupo, chamado Rebanhão, tinha por hábito, fazer um "arrastão" nas praias do Rio de Janeiro e levar quem "estivesse a fim" para a Igreja.


Hoje essa frase que parece mais uma piadinha inofensiva, tinha então uma conotação de grande irreverência. Entretanto, ela expressa muito do que mudou nesses últimos 15 anos.

Naquela época era mais comum pensar que, por ocasião do retorno de nosso Senhor Jesus, o mundo atual seria substituído por outro diferente, assim como os jeans seriam substituídos pelas vestes brancas.

Embora, essa idéia ainda esteja presente no nosso meio, ela tem sido cada vez mais diluída de diversas maneiras em diversas proporções.


Há alguns já que não fazem uma separação absoluta entre os jeans e as vestes brancas. Outros, como que fugindo do mundo, querem as tais vestes brancas aqui e agora, abominando não apenas o jeans, mas tudo o que é representado por ele. Ainda outros, esquecendo-se que a volta do Senhor está aproxima, querem eternizar o jeans.


Porém, poucos estão pensando que os jeans desse mundo podem ficar cada vez mais brancos até que, no dia certo, os troquemos pelas “vestes brancas do Senhor”. Não posso concordar com quem diz que as vestes brancas que receberemos, na verdade, serão jeans brancos.

Reparou? Vivemos em uma época confusa em que os pensamentos não estão mais claramente delineados. Ao contrário: eles se misturam, e, essa confusão afeta a cabeça de muitos.


Você já deve estar pensando que, na verdade, eu proponho um ponto final nisso e dizer: Jeans é Jeans. Vestes brancas são vestes brancas. Um dia os trocaremos.

Não! Creio que a mistura característica de nossos dias mostra desconhecimento de fatos bíblicos, mas também mostra um desejo muito grande de conhecer melhor tais fatos. Cumpre-se hoje a Palavra do Senhor transmitida pelo profeta Amós: "Eis que vem dias, diz o SENHOR Deus, em que enviarei fome sobre a terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do SENHOR. Andarão de mar a mar e do Norte até o Oriente; correrão por toda parte, procurando a palavra do SENHOR, e não acharão. Naquele dia, as virgens formosas e os jovens desmaiarão de sede...".


É isso que está acontecendo hoje. Cabe-nos, cada vez mais, "ouvir as palavras do SENHOR" e, procurar embranquecer nossos jeans até o dia em que, de seu filho Jesus, recebamos novas vestes. Por enquanto, só sabemos que serão brancas ... e de linho.

sábado, 2 de julho de 2005

Deus falou e ainda fala (continuação)

O Verbo eterno procedente do Pai, por isso também chamado Filho, sem o qual nada do que foi feito se fez, é partícipe do Conselho, ao qual criatura alguma teve, tem ou terá acesso, como nos informa o SENHOR através do Profeta Jeremias (23). Daí vem seu santo nome: Maravilhoso Conselheiro.

Tal conselho ordena e dirige todas as coisas, quer nos céus, quer na terra, e as dispõe de tal modo que todos os planos do SENHOR se concretizam e sua vontade é realizada:

“Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” Is 46.9-10.

A tal conselho se refere o “façamos” da criação, e o “confundamos” de Babel. E por este Conselho nossa eleição foi estabelecida antes da existência de qualquer coisa:

“... fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” Ef 1.11

Executor das deliberações deste eterno e santíssimo Conselho, nosso Senhor Jesus, ofereceu-se a si mesmo, e não se poupou afim de que tudo o que foi deliberado aconteça:

“Então, Jesus lhe disse: Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão. Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder?” Mt 26.52-54

“Agente Executivo” do Conselho Eterno, guardião de todas as suas deliberações, quem faz acontecer todas as coisas que de antemão foram deliberadas, desde a queda de um fio de cabelo até a redenção daqueles que foram escolhidos, dá certeza as profecias, não por conhecer o futuro em que elas ocorrerão, mas por construir tal futuro.

Esse mesmo, que a tudo pode, sujeita seu querer, submete-se ao que foi decidido, não questiona, ou sequer ousa argüir a quem planejou, mas agrada-se em fazer sua vontade. E faz!

Veja a monstruosidade do pecado dos falsos profetas, que se arrogam fazer o que só o Senhor Jesus tem direito de fazer:

Primeiro pecam contra o Conselho da Santíssima Trindade e, mentindo, aventuram-se a dizer o que acontecerá, sem ter participado de suas deliberações, ou sabido delas por quem delas participou.

Segundo, usurpam de quem teve de assumir nossa natureza, e morrer, condenado pelos que deveriam adorá-lo, e condenado pelo próprio Pai, mesmo sendo “o resplendor da [sua] glória e a expressão exata do seu Ser” o qual sustenta “todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3), para revelar-nos todos os mistérios e toda sabedoria, “pois nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Cl 1.9).

Deixaria eu de lado tudo isso? tamanha riqueza e multiforme graça, para buscar o seu Fulano ou a dona Beltrana, donos de orações poderosas, correndo o risco, de, como Saul, tropeçar em Endor e cair no inferno? Jamais!

Deus preserve a todos nós. É o desejo e a oração sincera do pastor do rebanho que se reúne na Igreja Presbiteriana da Ilha dos Araújos.

sábado, 25 de junho de 2005

Deus falou e ainda fala

No dia em que o SENHOR falou pela primeira vez, do nada houve luz. Era a Voz Criadora, que não lhe volta vazia, mas faz tudo o lhe apraz. O Verbo. Continuou falando e continuou criando. Criação perfeita. Atestada por seu “muito bom”.

Após o pecado ele continuou a falar. Falou juízo: “maldita é a terra por tua causa”. E, durante muito tempo, enquanto a sociedade pecadora e pecaminosa se organizava, o silêncio divino imperou. As poucas exceções que foram abertas visavam preservar os ancestrais do casal que materializaria sua Voz Criadora: seu Verbo.

Muitos séculos se passaram e falou juízo novamente aos de Babel: dividiu e espalhou a todos sobre a face da terra, onde, mesmo espalhados, cultivaram a violência a tal ponto que, novamente ele falou juízo: o dilúvio.

Recomeçada após o dilúvio, a criação não precisou ser tentada pelo inimigo, bastou-lhe a natureza corrompida. E por séculos, a homens pouco mais socializados, mas ainda habitantes de tendas e iletrados, falou-lhes por criaturas especiais, pela mesma razão: preservar a linhagem que escolhera para seu Verbo, no tempo próprio, recriar os que perderam a capacidade de ouvi-lo.

Novamente muitos séculos se passaram e um homem, especialmente chamado e preparado assumiu a função de falar e, pela primeira vez, registrar por escrito suas palavras: Moisés. Começava um segundo estágio: De comunicações indiretas a fala face a face. Da oralidade a escrita.

Após Moisés, o SENHOR continuou a servir-se de homens chamados de acordo com sua vontade, que, dentro do que já havia sido escrito, falavam o que ele queria, já que poucos sabiam ler.

Entretanto, seu povo, apesar de pecadores, na terra que ele mesmo lhes reservou, já progredira. Já habitavam casas, já possuíam cultivos, e a uma parte dele, os levitas, fora ordenado espalharem-se no meio de todos. Deviam ensinar a ler e a estudar sua Palavra escrita. Agora eles tinham uma diretriz imutável - porque escrita - dedicando-se a ela saberiam com certeza sua vontade.

Mas, como até hoje, a Palavra escrita era “esquecida”. Porém o SENHOR não ficava sem testemunho de si: falava juízos pelos profetas.
Povo de dura cerviz: desprezaram a Palavra escrita, não desprezariam também aos que a proclamavam?


Desprezaram!

Amaram a quem não lhes falava dela e aborreceram-se, e até mesmo mataram, aqueles que os chamavam de volta à Palavra.

Séculos depois o Reino é dividido. Idolatria crassa e vergonhosa nas 11 tribos do norte: cativeiro pelos assírios. Falta de confiança na Palavra de Deus e idolatria pior em Judá: cativeiro pelos Babilônios que já tinham escravizado os assírios.

No cativeiro a Palavra escrita ganhou importância, mais por saudades ou resistência política, do que por amor a seu Autor: Sinagogas, escribas, debates e um “silêncio profético” de 4 séculos.

O povo de Deus, ainda pecador, já havia voltado à sua terra. Mas já não estudavam a Palavra escrita. Tinham-lhe outro uso: amuletos mágicos, objeto de crendices e coisas semelhantes.

Chega a “plenitude dos tempos”. Da linhagem cuidadosamente preservada, nasce a Expressão exata do SENHOR. Nasce aquele em quem habita corporalmente a plenitude da divindade. Nasce o Verbo em forma de carne.

Agora, o “haja luz” é repetido em “haja vida”. Como Lázaro, muitos lázaros voltam a viver. O Verbo esclarece o que não se entendia da Palavra escrita e mostra que não basta cumprir seu sentido externo. Importa cumprir sua intenção. Porém, só ele é capaz de cumprir. Afinal, foi ele quem a produziu.

De muitos, escolhe 70. De 70 escolhe 12. Novos moisés! Interpretam o que foi escrito. Escrevem o que se torna necessário a se compreender os novos tempos plenos.

O povo fiel ao que está escrito conta com sua bênção. Povo que aumenta, diminui ou torce recebe castigo. Castigo dos maiores: não compreender sua vontade e andar desorientado.

Os profetas já não falam do Verbo que se encarnaria, mas do verbo que se encarnou. Porém, continuam desprezados pelos que preferem escutar a si próprios, e amados, como nunca, pelos que ouvem neles a Palavra que primeiro foi escrita e depois se encarnou. A Palavra que dizia “haja luz” e hoje diz “haja vida”. A Palavra que não volta vazia.

quinta-feira, 16 de junho de 2005

Os governantes e a Graça Comum

Quando Salomão era rei de Israel ele escreveu: "Se vires em alguma província opressão de pobres e o roubo em lugar do direito e da justiça, não te maravilhes de semelhante caso; porque o que está alto tem acima de si outro mais alto que o explora, e sobre estes há ainda outros mais elevados que também exploram".

O que vimos esta semana foi apenas o "tornar-se público" de algo que, pelos comentários feitos, não é novo em nossa pátria, e, pela Bíblia, não é novo na humanidade.

Causa tristeza e dor. Causa desesperança e revolta. Porém, causa também a certeza da misericórdia divina.

Deus, apesar de tudo, "faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos". Não há dúvida também da ira divina sobre os que não aproveitam suas benditas graças para fazer o que é bom. Pelo contrário, não fazem caso de cometer o que desagrada ao Senhor que misericordiosamente continua lhes abençoando.

"Acaso não fará justiça o juiz de toda terra?"

- Não voto mais em ninguém! Me disse um amigo. Não creio que esta seja a melhor opção. Mesmo que aquele em quem confiamos nosso voto não se revele digno dele, devemos nos lembrar de que Deus o constituiu seu
ministro atendendo nossa vontade expressa nas urnas. Ele haverá de acertar-se com Deus.

Acertar-se-á não apenas por ter desprezado sua graça, mas por ter feito isso sendo um ministro seu.

Acertar-se-á pois apesar de receber de Deus o sol, a chuva, e muito mais, é um ministro de Deus para o bem comum. Para promulgação de leis, para desvelar-se pelos interesses dos menos privilegiados, que sofrem
as vicissitudes da vida.

Reparou? São todos beneficiários da graça comum, e, portanto objetos do cuidado do Espírito Santo que é o aplicador dela. Mas são também instrumentos de distribuição de outros aspectos da mesma graça, e, portanto instrumentos do mesmo Espírito.

Quão importante é a missão deles! Quanto Deus lhes cobrará! "A quem muito foi dado muito será exigido". Disse-nos nosso Senhor e Mestre.

Apesar de Deus os conhecer melhor do que nós, não deixemos de apresentá-los, todos, diante de Deus. Quando Nero era Cesar, Deus nos ordenou através do Apóstolo Paulo: "Orai pelos governantes e por todos os que estão investidos de autoridade". Certamente, é nosso dever pedir que Deus lhes conceda integridade, senso do dever e os abençoe. Porém é hora, também, de fazer nossa queixa diante do Senhor.

Ele nos atenderá!

domingo, 12 de junho de 2005

Talvez mais esquecido aspecto da missão do Espírito Santo

Tenho ainda muito que vos dizer,
mas vós não o podeis suportar agora;
quando vier, porém, o Espírito da verdade,
ele vos guiará a toda a verdade;
porque não falará por si mesmo,
mas dirá tudo o que tiver ouvido
e vos anunciará as coisas que hão de vir.
Ele me glorificará,
porque há de receber do que é meu e vo-lo há de
anunciar.
João 16.12-14

Na noite da última ceia, o Senhor estava preocupado em ensinar a seus Apóstolos certas coisas que eles não tinham assimilado muito bem. Por exemplo, o conceito de ser o maior no reino de Deus. Dois irmãos "constrangeram" a própria mãe a pedir lugares especiais, a sua direita e a sua esquerda no reino porvir. Parece que Pedro também nutria certo sentimento de superioridade, pois tinha dito que mesmo que todos
abandonassem o Senhor ele jamais o faria. Afirmação esta que lhe custou muito caro, pois o Senhor o humilhou ao questionar-lhe, depois de ressuscitado se ele o amava mais do os demais.

Foi a noite em que o Senhor prometeu o Consolador. Foi a noite em que o Senhor rogou ao Pai não apenas por eles, mas por aqueles que ainda viriam a crer por intermédio da palavra que eles pregariam.

Porém eles ainda não podiam suportar tudo o que o Senhor queria dizer-lhes. Note que não era o Senhor quem não podia dizer-lhes. Eles é que não entenderiam. Precisavam passar pelo trauma de ver seu Mestre
crucificado. Precisariam do espanto de vê-lo ressuscitado. Precisariam do testemunho interno do Espírito Santo.

O curioso é que a declaração do Senhor "limita a ação do Espírito Santo": ele não falaria de si mesmo, mas apenas o que ouvira. Certamente de quem o enviaria: o Filho e o Pai.

Não tenho a mínima intenção de reduzir a obra ou a glória que devemos dar ao Santo Espírito, mas não podemos, nunca, a pretexto de glorificar-lhe, ou de seguir a moda de nossos dias, esquecer esta unidade fundamental entre as 3 pessoas da Santíssima Trindade.

O Espírito Santo jamais comunicou qualquer coisa, a quem quer que seja, que não tenha partido do bendito "Conselho Eterno".

Porém repare as terríveis conseqüências desta declaração: o Espírito Santo capacitaria os Apóstolos, a produzirem os escritos neo-testamentários, expondo a verdade que aprenderiam, e que não poderiam suportar no momento em que o Senhor lhes falava, revelando os acontecimentos futuros, e glorificando ao Senhor e Mestre, registrando seus ensinos.

Louvado seja Deus! Temos hoje sua santa palavra. Não produzida por qualquer um, sob qualquer condição, mas por homens escolhidos pelo Senhor e capacitados pelo Espírito Santo a expor a verdade a que chegaram.

sábado, 4 de junho de 2005

Mais outro aspecto esquecido da missão do Espírito Santo

Deus ordenou a seu povo na Antiga Aliança, usar sua lei como sinal. Dt 6.4-8:

Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR.
Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.
Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.
Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos.

Observe que os mandamentos do Senhor deveriam marcá-los na mão (prática), e na fronte (pensamento) desde crianças. Ou seja: os atos e as doutrinas deveriam ser aquelas que o Senhor determinou.

Na Nova Aliança essas marcas, também aparecem. Veja:

1. Ap 7.2e3: Vi outro anjo que subia do nascente do sol, tendo o selo do Deus vivo, e clamou em grande voz aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra e ao mar, dizendo: Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos na fronte os servos do nosso Deus.

2. Ap 9.3e4: Também da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra, e foi-lhes dito que não causassem dano à erva da terra, nem a qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão-somente aos homens que não têm o selo de Deus sobre a fronte.

3. Ap 14.1: Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai.

4. Ap 22.1: Nela [na Nova Jerusalém], estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão, contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele.

Talvez você esteja pensando que não possui tal marca. Eu afirmo com toda segurança: O Espírito Santo é essa marca. Veja:

1. Ef 1.13: ... em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa
2. Ef 4.30: E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.
3. 2Tm 2.19: Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor.

Se o Espírito Santo habita no coração de alguém, tal pessoa é dirigida por ele. A conseqüência inevitável é o fruto do Espírito. Ou seja: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5.22e23). Observe que todas estas qualidades, inclusive amor - que deve ser entendido no sentido bíblico - são comportamentos de cada pessoa, e o comportamento indica um coração regenerado, pois nosso Senhor nos ensina que pelo fruto se conhece a árvore.

Isto é uma marca. Jesus se torna reconhecido em nós através dela e através dela ficamos cada vez mais parecidos com nosso Senhor.

Este é mais um aspecto pouco falado da missão do Espírito Santo: selar o povo de Deus “para o dia da redenção”.