sábado, 28 de maio de 2011

Fato e sentimento

Pode, acaso, o etíope mudar sua pele
ou o leopardo, suas manchas?
Então, poderíeis fazer o bem,
estando acostumados a fazer o mal?
(Jeremias 13.23).

Nos dias do profeta Jeremias, como em até poucos anos, era muito difícil mudar-se as características da própria raça. Até hoje só vi uma pessoa que o fez. O conheci pela televisão ainda criança cantando com seus irmãos. Quando ficou jovem afinou cirurgicamente os traços do rosto e, não sei como, clareou a pele.

Conheci muitos inconformados com a cor negra da própria pele. Vi quem a amaldiçoasse declarando entre lágrimas o desejo de ter nascido branco.

Igualmente conheci brancos inconformados com o que em alguns estados do nordeste é chamado de fogoió e no sul de branco azedo, desejando, pelo menos, ser morenos.

Negros, morenos ou brancos, por mais que se pinte a pele ou se faça algum tratamento radical, como fez o finado cantor a que me referi, jamais deixarão de ser negros, morenos ou brancos. Assim foram criados por Deus e assim se apresentarão diante dele.

Atendo-me ao texto do profeta Jeremias vejo que o pecado está arraigado em nossas naturezas como a cor de nossa pele. Qualquer que seja o pecado. Livrar-nos de nossa natureza pecaminosa é tão difícil quanto um etíope livrar-se da cor de sua pele ou leopardo das manchas de sua pelagem. Ou seja: o pecado faz parte do que somos.

Alguém de tendência heterossexual, que respeita os propósitos “do desenho anatômico do Criador” pode desfrutar do que o próprio Criador previu: o casamento. Pois somente dentro do casamento o sexo deve ser consumado sem ferir os propósitos estabelecidos pelo Criador.

Alguém com tendência homossexual deve pedir ao próprio Criador que mude sua tendência e se case com alguém do sexo oposto, ou lhe conceda a graça de viver em santidade. Pois tanto a concupiscência heterossexual como a concupiscência homossexual são pecados.

***

Entretanto, o texto nos leva a outras considerações.

Costumamos desdenhar de quem se envergonha de ser negro e considera os brancos membros de uma raça superior. No mínimo o julgamos digno de dó.

Apoiamos as leis que garantem igualdade de tratamento e de oportunidade especialmente aos de pele negra que historicamente tiveram seus ancestrais explorados como escravos e até hoje são discriminados e aplaudimos leis que coagem os opressores a tratarem-nos como outro qualquer cidadão brasileiro.

Mas, paradoxalmente alguns que nascem homem e se sentem mulher, ou vice versa, ultimamente tem exigido o direito, às vezes de modo afrontoso, que a sociedade os trate conforme eles se sentem. Vão mais longe: reivindicam que o Estado os conceda direitos próprios de seu sentimento de ser.

Se por um lado, coerente e corretamente o Estado deve garantir os direitos dos que são discriminados racialmente, até que ponto o Estado é obrigado garantir os direitos dos que se sentem discriminados sexualmente? Enfatizo o sentir.

Desde quando o sentir pode ser comparado ao que é? A um fato que pode ser objetivamente aferido? Não bastaria ao Estado garantir os direitos individuais de qualquer cidadão independentemente do modo como ele se sente?

Dia desses vi um documentário sobre um homem que se sentia felino. Limou os dentes, aparou as unhas, cultivou o bigode e as sobrancelhas. Fez cirurgia plástica nos olhos, tratou o conjunto lábio superior e nariz para assemelhar-se mais a um felino. Bebia leite em pires. Fiquei pensando se muitos seguissem seu exemplo e resolvessem exigir tratamento de felino nos restaurantes, nas escolas, igrejas, etc? Como se não bastasse, resolvessem criminalizar quem não os reconhecesse como felinos.

Essa é a situação que vivemos.

O Estado já assegurou o direito de se unirem com pessoas de igual sentimento sexual e tudo o que decorre de tais uniões, como pensão, herança, previdência e até adoção de filhos.

Teria o Estado o direito de impor seus costumes, agenda, e modus operandi a toda sociedade? Especialmente aos que se recusam a concordar com eles, ou não se sentem como eles?

Teria o Estado o direito de obrigar as crianças, desde pequenas, a experimentar um pouco da vida que levam a fim de prevenir uma futura discriminação?

Justiça inclemente para quem os agride por se sentirem como se sentem. Justiça inclemente para quem agride a uma criança ou um idoso, ou a qualquer semelhante. Justiça, pois o efeito da justiça é sempre paz.

Justiça aqui, pois esta é apenas sombra da que o Juiz de toda terra exerce.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sal que não salga mais

Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal;

que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade;

põem o amargo por doce e o doce, por amargo!

(Isaías 5.20).

O profeta Isaías viveu em tempos parecidos com os nossos. Nasceu no reinado de Uzias, que, considerando os poucos recursos, foi melhor administrador do que Salomão. Entretanto desatinado pelo poder quis oficiar no templo, e provavelmente Isaías tenha sido um dos oitenta “homens da maior firmeza”, que apoiaram o sacerdote Azarias em impedi-lo.

Isaías acompanhou os reinados de seu filho, Jotão, e seu neto, Acaz. Este último idólatra a ponto de sacrificar os próprios filhos à Baal. E foi na época de Isaías que a Assíria cercou o Reino do Norte e levou cativos os que sobreviveram.

Isaías viu ainda seu bisneto, Ezequias, promover o primeiro grande reavivamento em Judá. Destruiu os santuários idólatras, purificou o templo e convocou todo Israel para celebração da Páscoa, que de tão concorrida teve de autorizar os levitas a ajudarem os sacerdotes.

Jerusalém era então a capital do território da tribo de Judá e mesmo sob a repressão de Ezequias e a visão do castigo de Deus sobre as onze tribos do Norte, a superstição grassava de tal modo que era mais fácil encontrar quem buscasse auxílio nos deuses das nações vizinhas do que no Eterno. Nesse ambiente - parecido com o nosso - foi que Isaías profetizou. Veja como as palavras acima se destacam.

Após falar dos cuidados do Senhor com Israel, como os cuidados de um viticultor com sua vinha dileta, seis “Ais” são pronunciados contra os perversos de então:

O primeiro (v8 a 10), contra a ganância, vista na especulação imobiliária. O segundo (v11 a 17), contra a corrupção dos costumes, vista na bebedice e nas rodas de escárnio. E o terceiro (v18 a 19) contra a corrupção religiosa, vista no questionamento da soberania de Deus.

Já o quarto, que encabeça este artigo (v20) contra a corrupção moral é visto na relativização dos valores.

O quinto (v21) contra a arrogância, vista na autopromoção. E o sexto (v22 a 25) contra a corrupção social, vista no tráfico de influência e no suborno.

Você há de concordar comigo que todos esses temas são atualíssimos e todos devem ser estudados com vagar. Porém, há muito tempo, o quarto ecoa em meus ouvidos.

Ecoou, quando ouvi um pretenso pastor dizer que Deus estava impotente - sequer sabia! - do tsunami que matou tantos na Indonésia no final de 2004. Qual sino, não para de badalar, sempre que há uma tragédia. Pior: convence a muitos.

Ecoou e ecoa todas as vezes que vejo o nome do Eterno sendo usado como mote de comércio, pretexto de lucro ou motivo de barganha. Templos transformados em casas de leilões, recintos outrora dedicados a seu reino transformados em bancas de feira.

Como poderia falar de míseras cartilhas que ensinam a falar e a escrever errado? No máximo as crianças que aprendem “nós foi” não conseguirão empregos decentes, enquanto essas outras correm risco eterno. Porém, o erro é essencialmente o mesmo: Ao amargo chamam doce e às trevas chamam luz. Ai deles!

Entretanto, temos de cuidar de nosso meio primeiro, pois “se o sal perder o sabor para nada mais serve, se não para, lançado fora, ser pisado pelos homens”.

Ontem, enquanto aguardava na fila fui panfletado por dois travestis que divulgavam uma peça teatral protagonizada por duas missionárias, um ministro e uma obreira. Passei o tempo de fila pensando e conclui: Esse é modo como Deus está limpando sua Igreja hoje. No passado foram as perseguições pelo sangue, hoje são as perseguições pela ideologia e pelo escárnio.

Cartilha com erros gramaticais será pouco. Cartilhas piores virão, toleramos um pouco de mundanismo, estamos colhendo terrível safra.

Que Deus tenha misericórdia de nós.

sábado, 14 de maio de 2011

Destruindo fundamentos

Nosso país já teve diversas Constituições. Duas recebemos prontas: a de 1824, que nos foi outorgada por D. Pedro I, e a de 1937, que recebemos de Getúlio Vargas. As demais, de 1891, de 1934, 46 e de 88, sob a qual vivemos hoje, foram promulgadas pelo Congresso Nacional.

Podemos dizer que as que nos foram outorgadas expressam a vontade de alguém ou de um grupo e as que foram promulgadas expressam a vontade de todos nós, especialmente se os constituintes foram eleitos para fazê-las e elas não foram emendadas à força como a de 1946 o foi pelo regime militar.

Hoje, 9/5/2011, no site do Palácio do Planalto, na página da Constituição, copiei o seguinte:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

Percebeu? A Constituição de 1988 diz que o Estado deve reconhecer a união entre homem e mulher! Note que a atual Constituição, feita por congresso eleito para fazê-la, promulgada pelo mesmo congresso em nosso nome, tão emendada que é difícil de ler seu texto original, mantém intacta esta parte que transcrevi.

Como então nossos mais ilustres juízes abrigaram debaixo deste texto tão claro a união de homem com homem e mulher com mulher?

Nossa corte maior não considera preponderante a diferença anatômica dos órgãos genitais para diferençar um homem de uma mulher.

Pelo que pude ouvir enquanto os ministros liam seus respectivos votos, parece que essa qualidade objetiva, foi substituída por outras como hormônios ou coisas subjetivas como preferência ou orientação sexual.

Há mais de 15 anos, desde o curso de Linguística, ouço: “A divisão por sexo já não dá conta das complexidades modernas. O problema deve ser resolvido com a divisão por gênero”.

Não era para ser assim!

As Sagradas Escrituras dizem que Deus nos criou homem e mulher e a cada sexo seu respectivo gênero. Quando nossos primeiros pais desobedeceram ao Criador perderam a harmonia com ele e com tudo o mais que ele havia criado inclusive com aquilo que constitui suas personalidades. E nós herdamos deles essa desarmonia.

O fato de termos herdado não nos isenta de culpa, pois nós a reforçamos. Pior: no caso específico nossos legisladores até tentaram abrandar um dos erros usando a solução dada pelo próprio Criador que é o casamento entre o homem e a mulher. Mas nossos juízes maiores resolveram que nossos legisladores e o próprio Criador erraram. Os mais soberanos juízes! Aqueles que juraram defender o que os legisladores escreveram e dos quais não existe a quem recorrer!

"Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?" (Sl 11.3).

Como cidadão não sei responder a essa pergunta. A quem posso recorrer contra um erro do Supremo Tribunal Federal? Começar colher assinaturas para uma nova emenda a constituição, que proíba a interpretação subjetiva das palavras homem e mulher? Não creio que consiga. Provavelmente teria o mesmo destino da moribunda Lei da Ficha Limpa.

Entretanto, como cristão, sei responder. Temos uma Constituição que não foi promulgada por nenhum congresso humano. Sequer foi outorgada. Foi imposta pela vontade daquele que chama a si mesmo de Senhor, e que, pela sua graça, concedida em seu Filho, nos deu o privilégio de chamá-lo de Pai.

Se os fundamentos de nossa cidadania estão sendo solapados, os fundamentos de nossa fé continuam mais firmes do que nunca, e podemos dizer confiantes: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares” (Sl 46.1-2).

Devemos obediência às autoridades constituídas, pois são ministros de Deus (mesmo que não tenham sido eleitas por nós, pois quando o Apóstolo Paulo deu esta ordem, a Igreja vivia debaixo dos césares) e é nossa obrigação orar por elas com sinceridade de coração. Peçamos ao juiz maior, que tem jurisdição sobre elas, a quem prestarão contas, que lhes seja misericordioso. Afinal sua Palavra é clara: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7).

sábado, 7 de maio de 2011

As loucuras de Deus

Deus criava caso com cada coisinha! Foi a reclamação de alguém ao me cumprimentar à saída da igreja depois de eu ter pregado sobre a festa dos pães asmos.

Fiquei convencido de que preguei um péssimo sermão ou de que ele dormiu (hipótese muito provável face as qualidades soporíferas de minha voz).

Ele não entendia por que, na Antiga Aliança, Deus proibia o uso do fermento durante uma semana no ano, e eu tentei mostrar que, como sombra de coisas superiores que viriam, Deus ensinou aos judeus como se corta os vínculos com o passado que tenta dominar o presente e afetar o futuro.

Hoje podemos comprar fermento nos supermercados e nos mercadinhos. Uma amiga me disse que a mãe dela o fazia em gamela de madeira com açúcar mascavo e farinha polvilhada antes de colocar a massa do pão para repousar coberta por um pano. Entretanto, naqueles dias, fazer fermento era algo complicadíssimo.

E a primeira lição começou na saída do Egito: A páscoa era o início da Festa dos Pães Asmos. Durante sete dias não podiam comer nada levedado. Portanto, do Egito não levaram fermento.

Primeira lição: Quem sai do Egito não leva seu fermento. O apóstolo Paulo aplica esta lição ao incestuoso de Corinto: “lançai fora o velho fermento”. Nem os ídolos do Egito nem os costumes pagãos de Corinto.

O que era permitido fazer no Egito não é mais permitido no arraial peregrino. O que era comum em Corinto - apesar de ser estranho entre os pagãos - sequer deve ser visto na Igreja.

A segunda lição foi dada por nosso Senhor ao advertir seus discípulos contra o fermento dos fariseus e saduceus e explicar que estava se referindo a doutrina e a hipocrisia deles. Ou seja: Até um discípulo que priva da intimidade do Senhor pode ser afetado pelo fermento desses grupos.

Os fariseus e os saduceus eram os principais grupos políticos-religiosos da época de Jesus. Dividiam o poder com outros grupos menores. E embora concordassem em poucos pontos doutrinários foram os responsáveis pela tradição tal como Jesus a encontrou.

Mais legalistas, os fariseus, estabeleciam medidas, regras, limites e costumes. Os saduceus aproveitavam o que lhes interessavam, pois a grande maioria deles era constituída de famílias sacerdotais muito ricas e interessadas em manter o status quo.

Da oração de um fariseu (Lc 18.12) sabemos que ele - e parece que os demais - jejuava duas vezes por semana, e da ordem que o Senhor dá de fazer isso secretamente (Mt 6.17), parece que era comum alardear para atrair admiração. Entretanto a Lei só exigia um jejum por ano! Apenas no dia da expiação. Ou seja: Eles multiplicaram por 100 a exigência da lei apenas para obter a admiração dos homens.

Essa tradição hipócrita deveria ser deixada de lado pelos discípulos de Jesus.

A lição para hoje é que após nos encontrarmos com Jesus, o verdadeiro cordeiro pascal, devemos proceder como faziam nossos antepassados e queimemos o velho fermento, para que ele não contamine nem nosso presente, muito menos nosso futuro, pois somos novas criaturas.