domingo, 29 de abril de 2007

A Palavra: no princípio e no fim

A Palavra dAquele que sempre existiu, sempre existiu também. Por proceder dEle, a metáfora que eles mesmos usam para darem-se a entender é a paternidade e a filiação. O Falante é o Pai. A Palavra é o Filho. E, apesar de a Palavra proceder do Falante, como um filho procede de um pai, o Falante nunca esteve só sem sua Palavra e sua Palavra sempre o acompanhou e sempre foi sua expressão. Todas as características do Falante sempre estiveram, estão e sempre estarão também em sua Palavra.

A Palavra nunca voltou para o Falante vazia. Pelo contrário, sempre fez o que lhe aprouve. Quando Ele quis que houvesse luz, bastou dizer “haja luz” e o dizer já era a Palavra e a Palavra do nada fez luz.

Impossível dissociar a Palavra do Falante. Impossível imaginar a Palavra sem o Falante. Mas, apesar de possuir tal companhia, em tudo semelhante a Si e sempre diante de Si, o Falante – só Ele sabe por que – resolveu Falar “sucessão e mudança”. A Palavra, incontinenti, criou o que chamamos de tempo. E, dentro de uma sucessão de tardes e manhãs – coisas próprias do tempo – conforme o Falante Falava, muitas mudanças ocorreram: As águas de cima – o firmamento – foram separadas das águas de baixo, que também foram separadas da parte seca: a terra.

Bastou o Falante falar “vida” e a Palavra povoou o firmamento, as águas e a terra de seres vivos adequados a esses ambientes. E, para reger a vida sujeita a “sucessão e mudança”, o Falante disse: “nossa imagem e semelhança”. Imediatamente a Palavra, do barro, fez o homem.

Tudo o que era feito trazia a marca da Palavra e conseqüentemente a marca do Falante, e os expressava como as palavras expressam aquilo a que se referem. Eram palavras menores. O homem, entretanto, expressava mais e melhor, pois sendo imagem e semelhança dEles não apenas vivia, mas compartilhava com a Palavra e com o Falante do mesmo Espírito que os unia e inseparavelmente estava com Eles desde sempre. Era uma palavra temporal maior. Como se fosse um eco da Palavra eterna, tinha em comum a mesma missão: criar, manter e reger, na “sucessão e mudança” aquilo que o Falante havia proferido.

Livre para dizer, sob as limitações do tempo, o que a Palavra eterna disse sem a limitação dele, preferiu dizer o oposto. Preferiu ter outro significado. Preferiu a efemeridade e contingência do ressoar do sino e do retinir do bronze.

Presumiu-se inalterável, apesar de alertada do contrário, e o que conseguiu foi esvaziar-se a si, e aos que regia, de seus significados originais. E, como passaram a desdizer a mensagem da Palavra eterna, o Falante também as desdisse.

Daquilo que tinham em comum com o Falante, guardaram muito pouco e, mesmo esse pouco, foi danificado: perderam a capacidade de expressar o Falante. Os trapos em que se tornaram passaram a ser expressão de sua própria rebeldia e de sua própria desgraça. Deixaram de ser ecos da Palavra eterna e encheram o mundo de ruídos sem qualquer significado que não a própria rebeldia.

Frustrariam os desígnios do Falante?

Se a Palavra eterna nunca voltou-Lhe vazia, acaso esses ruídos insignificantes continuariam a desafiar o Falante proclamando nas trevas – em que passaram a existir – sua própria rebelião em vez das virtudes dAquele que Fala desde sua maravilhosa luz? Não! Nunca! Jamais!

O Falante novamente falou. Falou ao ponto de abalar tudo o que já fizera e sua Palavra esvaziou-se de Si mesma e assumiu a natureza das palavras rebeldes. Não deixou de ser Palavra eterna, mas por poucas tardes e manhãs – coisas próprias do tempo a que agora estava sujeito – adquiriu o que restara de significativo das palavras efêmeras e rebeldes, e recebeu a desdita do Falante.

Ao retomar seu significado eterno, eternizou o que adquiriu e restaurou o significado daquelas que quis.

Tornou-se uma palavra temporal, para dar-lhes significado eterno. E deu-lhes. Tornou-se uma palavra temporal para mostrar o significado mau, soberbo e arrogante da rebeldia contra o Falante. E mostrou nas que não quis atribuir significado eterno.

Hoje as palavras que a Palavra eterna livrou da insignificância voltaram a significar aquilo para o que foram criadas. Não conseguem ainda ser como antes, pois, apesar de seu significado ter sido restaurado, sua forma ainda está danificada e nelas o ruído e a ambigüidade ainda se destacam.
Entretanto, dia-a-dia, ajudadas pela Palavra eterna, abandonando os significados errados, soberbos e arrogantes, de si mesmas ou do mundo, bendizem o Falante.

E, nas tardes e manhãs de um dia futuro – no tempo ou fora dele – bendirão melhor do que bendiziam quando foram criadas, pois, na companhia da Palavra eterna, louvarão o Falante no meio da congregação.

sábado, 21 de abril de 2007

Minha cruz

A cruz do Senhor era de madeira. O mesmo material com que ele trabalhava, e que estava acostumado a cortar em pedaços de tamanho adequado ao que pretendia fazer. Porém ele a recebeu inteira, no tamanho suficiente para suportar o peso de seu corpo.

Pregos fixaram o Senhor a cruz. Provavelmente ele também os tenha usado na fixação de um umbral ou das vigas mestras de um telhado. Naquela época os pregos eram caros e, feitos sob encomenda, demoravam a ficar prontos.

Hoje, enquanto leio este texto, penso na cruz que sou obrigado a tomar como discípulo do Senhor. Ela não é de madeira. Na maioria das vezes nem sei do que ela é feita, mas a reconheço prontamente. Nunca tive e nunca terei domínio tal sobre sua matéria de modo que eu possa cortá-la e com ela fazer algo que tenha outra serventia. Seu material parece ter sido feito exclusivamente para mim, e só serve para, pendurando-me, manter-me exposto ao escárnio de quem passa e me vê.

Hoje, sou fixado a essa cruz, por um único tipo de prego: a vontade Deus. Se ela não prevalecesse sobre a minha, há muito eu já teria descido da cruz.

O Senhor de todas as coisas foi mantido por pregos em uma cruz de madeira, mas ele estava livre de qualquer coação humana. Ficou nela porque quis: de boa-vontade, por mim.

Seu servo inútil, que sou, que sequer faço o que deveria fazer, quero distância de cruzes e pregos. Entretanto o Senhor, com terno amor, me mantém em uma – infinitamente menos dolorosa do que a que ele suportou voluntariamente – visando meu bem.

O Senhor suportou sua cruz até o fim. Quando pregado orou a favor de quem o pregava. Quando convidado ou desafiado a sair dela sequer dava ouvidos.

Seu servo inútil, que sou, à simples visão de minha cruz, debato-me, estrebucho, e às vezes pergunto: por que eu? Quando zombado envergonho-me. Quando convidado a sair dela alegro-me. Mas a cruz é meu refúgio. Lá não posso fazer meu próprio querer, não posso conformar-me à este século, e na cruz estou livre dos assaltos do inimigo.

Não fui crucificado para ser salvo, mas por que já estou salvo. Não fui crucificado como castigo, mas para minha proteção, pois não há local mais seguro.

Lá ficarei até que, mortificado, renda a Deus meu próprio eu e morra para tudo aquilo que hoje ainda me afeta e me subjuga. Então serei ressuscitado em glória, como meu Senhor o foi.

Estou em boa companhia: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”. Gl 2.20.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

ENSAIO - Educadores Cristãos

Educar é sempre um processo em que o educador se "engaja" com o bem do aluno. A forma como este engajamento acontece varia de educador para educador e de aluno para aluno. A Educação Cristã não é muito diferente. Porém, seu objetivo maior não é fazer com que cada aluno se "potencialize" ao máximo com vistas a seus próprios interesses, mas levá-lo a adequar-se cada vez mais à vontade revelada de Deus. Ou seja: a Educação Cristã não existe sem a Palavra de Deus, pois dela depende e para ela existe. Ela é seu ponto de partida e sua meta.

Fico satisfeito em dividir os Educadores Cristãos em apenas dois grupos, conforme a abordagem que eles fazem da Palavra de Deus. A variação que existe em cada um desses grupos acontece apenas na intensidade com que o Educador Cristão enfatiza seu modo de ensino

O primeiro grupo constitui-se daqueles para quem o mais importante é provar que a Bíblia é a Palavra de Deus. De certa forma eles não estão errados, mas, ao partirem da dúvida, geram em seus alunos um fruto amargo do qual eles jamais se livrarão sem o auxílio da graça divina.

Geralmente, após a leitura do texto bíblico ou do tema teológico ter sido proposto, a abordagem começa com o questionamento. Invariavelmente as perguntas visam a que o aluno tenha certeza de que aquilo de que se está tratando é relevante para sua fé e para a fé daqueles que um dia aprenderão dele. Ou seja: certificar-se de que ele não está perdendo tempo. Destaca-se:
- O que mais dá suporte ao ensino deste texto?
- Que implicações práticas esse texto tem para nossos dias?
- Como esse texto pode ser explicado à luz das novas descobertas científicas? (Note a ordem)
- Você está disposto a morrer por essa verdade?
- Esse ensino é mais precioso do que o papel que o contém? (geralmente aqui é apropriado degradar o volume bíblico, rasgando-o, jogando-o no chão, sentando-se em cima dele, ou coisas semelhantes que separem bem o continente do conteúdo, o significante do significado).

Os educandos ficam fascinados com a erudição do professor que achou suporte para todas as afirmações do texto, mostrou sua utilidade em nossos dias, discorreu sobre as novidades das ciências e da graça comum, comprometeu-se com a verdade e aprenderam que aquela verdade é tão transcendental que ela pode ser veiculada de qualquer forma, através de qualquer mídia, mesmo que seja a mais abjeta.

O segundo grupo tem abordagem oposta. Não está tão preocupado em provar que aquele texto é a Palavra de Deus, pois sabem que as ovelhas de Deus identificam sua voz. Entretanto não descuida de verificar a autenticidade histórica e formal do texto. Afinal, o modo mais eficiente de lutar contra as verdades cristãs não é negá-las, mas torcê-las.

Geralmente após o texto bíblico ter sido lido, ou o tema teológico ter sido proposto, faz-se um "recenseamento" dele. Como ele foi recebido, como nossos antepassados, especialmente os mais próximos dele, o entenderam, e, principalmente, como ele se encaixa, no ensino daquele escritor (se ele escreveu outras coisas) e no "ensino geral" das Escrituras (o que tecnicamente é chamado de 'analogia da fé').

Não degrada o veículo através do qual o texto chegou até nós, entretanto não lho adora. Simplesmente o respeita como o receptáculo e veículo daquela verdade.

Todas as questões levantadas por um representante do primeiro grupo estão contidas e automaticamente respondidas no apreço que se tem àquele texto ou ensino.

Geralmente estes professores não são tão cativantes, pois, acostumados em uma "sociedade da informação fantástica", seus alunos não vêem muita graça no processo que acabaram de testemunhar. Entretanto, como a chuva que nutre a planta, a Palavra do Senhor os faz crescer.

Qual dos sistemas é o correto? Depende do objetivo. Se o educador tem quer formar discípulos de si mesmos não há dúvida que o primeiro é mais eficaz. Mas, se quiser formar pessoas que levem os próprios pensamentos cativos para obedecer a Cristo, discípulos do Autor da Palavra, sábios, no sentido bíblico, terá de optar pelo segundo, pois "o temor do Senhor é o princípio da sabedoria".

Em meus 16 anos como professor de seminário já recebi alunos que iniciaram seus estudos conforme o primeiro método. A poucos consegui transmitir o apreço e respeito devido à Palavra de Deus. O hábito da crítica e a barreira da desconfiança sempre foram obstáculos fortíssimos. Hoje a perspectiva fornecida pelos anos longe do Seminário me convenceu que o melhor é começar do zero. Se for possível.

sábado, 14 de abril de 2007

Os Inimigos da Cruz de Cristo

Será que alguém pode odiar a cruz de Cristo? Talvez ser-lhe indiferente. Mas, odiar? Infelizmente há quem a odeie, sim! Pior: nas Igrejas e muitas vezes são líderes delas.

Quando o Apóstolo Paulo escreveu à Igreja da cidade de Filipos disse claramente: “Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo” Fp 3.18.

Àquela época, parece que o Apóstolo tinha em mente seus patrícios que insistiam em exigir que os novos cristãos passassem pelo judaísmo, pois ele diz “o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia”, aludindo às leis alimentícias e à circuncisão.

Ainda hoje podemos ver os “que ... exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças” (1Tm 4.3). Entretanto, hoje eles apresentam uma face mais moderna.

Aos coríntios, que muito valorizavam o saber, Paulo expôs o Evangelho não com “sabedoria de palavra”, mas com “a palavra da cruz” para não anular sua mensagem.

Aos gálatas, que estavam sendo assediados por esses judaizantes, deixa claro que a intenção deles, impondo obrigações, era desviar a atenção do “escândalo da cruz”, e ostentarem-se na carne e não serem discriminados. Mas, ele, Paulo, não se gloriava em nada além da cruz, pois nela o mundo havia sido crucificado para ele e ele para o mundo.

Aos efésios, preocupados em como entender as promessas igualmente feitas aos judeus e gentios, Paulo garante que a cruz nivelou tudo. A tal ponto de que nela judeus e gentios foram reconciliados “em um só corpo com Deus”.

Aos colossenses ensinou que tudo o que devíamos a Deus, e nos prejudicava, desde a mais simples ordenança, que nunca conseguimos cumprir, Jesus encravou, pregou, (do mesmo modo como ele foi pregado) na cruz, expondo ao desprezo, triunfando sobre os rudimentos que nos mantinham debaixo de jugo.

Você entendeu? Se alguém ensinar, como é ensinado hoje, que é necessário, reencarnar-se, purgar pecados, deixar de comer isso ou aquilo, pagar tanto, ou guardar qualquer tipo de obrigação, para que ser salvo, tal pessoa é inimiga da cruz de Cristo, pois está fazendo sombra sobre ela: a maior de todas as coisas. Também está dizendo que ela não é suficiente. Zomba da sabedoria de Deus e faz pouco caso do sofrimento de Jesus.

É claro que obedecemos as ordens que o Senhor nos deu: evitamos pecar, observamos os períodos que ele mesmo estabeleceu para nos fortalecermos comunitariamente junto dele, arcamos com as despesas decorrentes disso, etc. Porém o fazemos porque já estamos salvos.
Fomos pendurados com ele naquela cruz. Somos amigos dela. Preferimos estar nela a desfrutar os maiores e melhores prazeres que o mundo nos ofereça fora dela.

Se o Senhor, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não levando em conta o quanto isso era escandaloso para os judeus e “idiota” para os gentios, acaso podemos recusá-la? Somos melhores do que ele? Temos vergonha de sua cruz? Somos inimigos dela?

Finalmente, tenho visto que para fugir desta vergonha os “neo-evangélicos” escondem-se atrás da “celebração da ressurreição de Cristo”. Tudo a pretexto de festejar e parecer mais agradável ao mundo, copiando suas músicas, seus shows, suas modas, até os chavões com que se apresentam e apresentam seus sucessos. Trocam o púlpito, onde a cruz é anunciada pelo palco onde é escondida nos bastidores ou estilizada nos cenários.

Dia desses recebi um convite cuja frase final resumia seu conteúdo: “Jesus fez tudo. Agora só nos resta celebrar”.

Deixem-me dizer claramente: nem a ressurreição aconteceria sem a cruz. Jesus tinha de morrer numa cruz. Se o inimigo tivesse conseguido matá-lo quando tentou (Herodes, os da sinagoga de Cafarnaum, ou através de qualquer outro modo que não a cruz), sua morte teria sido vã.
Ele tinha de morrer condenado por um tribunal religioso, o Sinédrio (pois assim estava sendo condenado por Deus no aspecto formal da religião), por um tribunal civil, pois assim estava sendo condenado por nós, e finalmente deveria receber a maldição divina que recebia todo aquele que ficava “pendurado no madeiro”.

Certamente, só seremos amigos da cruz de Cristo, quando dissermos e vivermos “CRUX SOLA NOSTRA TEOLOGIA”.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Os mais miseráveis de todos os homens

Quando o Apóstolo Paulo escreveu à Igreja de Corinto, ao falar sobre a ressurreição, coisa em que eles não criam, foi duro e disse: Se nossa esperança em Cristo limita-se apenas às coisas desta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. (tradução minha).

A Igreja de Corinto dizia-se cristã, como muitas hoje se dizem também. Possuía qualidades inegáveis, como algumas hoje também possuem. Tinha seus defeitos - como é próprio de qualquer ajuntamento humano - e, talvez, defeitos até mais graves do que os que são tolerados na Igrejas mais “modernas” de hoje: a presença de um incestuoso na comunidade.

Depois de exortações sobre cada um dos problemas, sua atenção volta-se para uma crença que, era uma verdadeira contradição de termos. Uma estupidez, e, pela única vez, nesta carta ele os chama de “insensatos”.

A palavra que ele usa é um pouco mais pesada do que nossas traduções deixam entender, pois também pode ser traduzida por “tolos ou ignorantes”. Seu sentido básico é “falta de capacidade de entender algo”. Não sei se poderíamos chegar ao vulgar “idiotas” ou “burros”, mas está muito perto disso.

Enquanto alguns dizem que Paulo perdeu a cabeça, ou a paciência, eu prefiro ver a mesma ira, expressa pelo Senhor Jesus quando expulsa os vendedores do templo a chicotadas.

Não era concebível que alguém que se identificava-se como “cristão” esperasse do Senhor apenas o que concerne a esta vida.

O raciocínio é tão simples que ignorá-lo prova a tal “falta de capacidade de entender algo”. Siga os passos do raciocínio:
1º Passo: Ser cristão, é o mesmo que dizer que Cristo ressuscitou, pois se ele morreu e continuou morto, o que foi que ele fez demais? O mundo não está cheio de mestres e mártires?
2º Passo: Se, como cristãos, diziam que Cristo ressuscitou, por que não acreditavam que ressuscitariam também? Afinal, ele ressuscitou pra que?
3º Passo: Se o destino do cristão é ressuscitar para estar junto de Cristo, por que a esperança deles estava limitada apenas às coisas desta vida?

Percebeu?

É uma contradição de termos dizer-se cristão e não esperar pela ressurreição.
O caso a seguir é verídico e exemplifica bem:

- Por que você veio à Igreja?
- Porque eu estava falindo e fiz um acordo com Jesus e hoje minha loja está crescendo como nunca.
- E a senhora?
- Eu estava doente e fui curada.

E assim seguiram-se muitas perguntas semelhantes no programa de rádio transmitido ao vivo.

Porém, uma senhora respondeu:
- vim para agradecer a Deus pela salvação em Cristo.
- Salvou de que? Perguntou o repórter.
- Salvou da morte eterna.
- Mas, não tem mais nada?
- Não.
- Não foi curada, o casamento não foi consertado? Insistiu.
- Não! Nunca fiquei doente e sou solteira.
- Então veio pedir um emprego?
- Também não. Meu pai me deixou uma herança boa e eu ajudo uma creche do meu bairro.

O repórter desconversou e procurou outra pessoa. Aquela não tinha nada fantástico para falar. Ela fora apenas salva. Ela tinha apenas a vida eterna.

Entendeu o que é limitar a esperança em Cristo apenas a essa vida?

Se ele quiser que sejamos sadios, prósperos ou que vivamos tranqüilos, ele certamente fará isto. Porém se não quiser já temos o mais importante: ressuscitaremos e estaremos para sempre com ele.

Não somos os mais miseráveis de todos os homens. Não temos de viver cada dia como se fosse o último dia de vida. Nossa vida não acabará nunca.

domingo, 1 de abril de 2007

As invasões de Jerusalém

Há 100 anos antes a Assíria tinha levado cativas as 11 tribos de Israel que formavam o Reino do Norte. Agora os Babilônios, que dominaram a Assíria, sitiavam Jerusalém. O cerco era total e já durava 1 ano e meio. Não fosse um aqueduto escavado na rocha já tinham capitulado.

A persistência venceu: fizeram uma brecha no muro e invadiram Jerusalém. Jeremias narrou que 7 príncipes da Babilônia entraram e sentaram-se à porta do meio.

Os homens de guerra e o Rei Zedequias fugiram à noite, mas foram alcançados. O Rei viu seus nobres serem mortos, em seguida seus filhos, e, para ficar como última imagem, furaram seus olhos e foi levado em algemas para a Babilônia.


Essa não foi a única vez que Jerusalém foi invadida. Mas, apresenta-nos um contraste notável com o que comemoramos hoje.

Diferentemente do cerco militar dos Babilônios, Jesus cercou Jerusalém de bondade. Curou, ensinou e pregou em todos os seus arredores e dentro dela. Testemunhou-lhes a vontade do Pai.

Revelou-lhes a verdadeira dimensão da lei. Criticou suas autoridades e limpou, por duas vezes, o templo em que havia de ser condenado, como condenados eram os cordeiros do sacrifício e concitou-lhes ao arrependimento.

Diferentemente dos Babilônios, não cobiçou suas riquezas, mas os encheu de oportunidades. Na verdade tornou a todos mais ricos e mais responsáveis por tesouros que sequer se deram conta de estar recebendo e muito menos entendiam a preciosidade deles: Ensinos profundos através de parábolas simples, discursos didáticos ou virulentos e milagres tão surpreendentes que um dos evangelistas registrou “hoje vimos paradoxos”.

Mas não entrou em Jerusalém pela força, muito menos em montaria de guerra. Não botou suas autoridades para fugir. Não matou seus nobres, nem cegou seu rei.

Que força poderia deter aquele que vem cumprir profecias que lhe diziam respeito? O que se pode esperar de alguém que elege um jumentinho para cavalgar até o lugar onde terríveis cavalos de guerra pisaram? Quem fugiria daquele cuja presença abalou e abalaria mais uma vez o céu e a terra? Quem seria tido por nobre diante daquele que, por possuir tudo, podia abrir mão do que quisesse desde o berço até a sepultura? Quem via nitidamente estas coisas? Já estavam cegos.

Cegos também estavam os que imaginavam que aquele homem montado em um jumentinho iria levá-los à vitória contra os invasores romanos.

A cegueira deles, entretanto foi alterada. Na sexta-feira, os que gritaram Hosana gritaram crucifica-o. Viram o próprio engano. Porém mais enganados ficaram. Mais cegos se tornaram. Sequer guardaram a imagem dos filhos sendo mortos. Gritaram: “caia seu sangue sobre nós e sobre nossos filhos”. Caiu.

Hoje, distanciados pelo tempo, vemos com clareza, mas não nos enganemos. A cegueira continua por perto.

Jesus não é nosso “chapa” e sim nosso Senhor. Chega a nós manso, mas exige nada menos que nosso coração. E aos seus pés há de se dobrar tudo o que existe.

É melhor fazermos isso hoje, para não sermos obrigados a fazer mais tarde.

Hoje, ouvindo sua voz, não endureçamos nosso coração.