quinta-feira, 19 de abril de 2007

ENSAIO - Educadores Cristãos

Educar é sempre um processo em que o educador se "engaja" com o bem do aluno. A forma como este engajamento acontece varia de educador para educador e de aluno para aluno. A Educação Cristã não é muito diferente. Porém, seu objetivo maior não é fazer com que cada aluno se "potencialize" ao máximo com vistas a seus próprios interesses, mas levá-lo a adequar-se cada vez mais à vontade revelada de Deus. Ou seja: a Educação Cristã não existe sem a Palavra de Deus, pois dela depende e para ela existe. Ela é seu ponto de partida e sua meta.

Fico satisfeito em dividir os Educadores Cristãos em apenas dois grupos, conforme a abordagem que eles fazem da Palavra de Deus. A variação que existe em cada um desses grupos acontece apenas na intensidade com que o Educador Cristão enfatiza seu modo de ensino

O primeiro grupo constitui-se daqueles para quem o mais importante é provar que a Bíblia é a Palavra de Deus. De certa forma eles não estão errados, mas, ao partirem da dúvida, geram em seus alunos um fruto amargo do qual eles jamais se livrarão sem o auxílio da graça divina.

Geralmente, após a leitura do texto bíblico ou do tema teológico ter sido proposto, a abordagem começa com o questionamento. Invariavelmente as perguntas visam a que o aluno tenha certeza de que aquilo de que se está tratando é relevante para sua fé e para a fé daqueles que um dia aprenderão dele. Ou seja: certificar-se de que ele não está perdendo tempo. Destaca-se:
- O que mais dá suporte ao ensino deste texto?
- Que implicações práticas esse texto tem para nossos dias?
- Como esse texto pode ser explicado à luz das novas descobertas científicas? (Note a ordem)
- Você está disposto a morrer por essa verdade?
- Esse ensino é mais precioso do que o papel que o contém? (geralmente aqui é apropriado degradar o volume bíblico, rasgando-o, jogando-o no chão, sentando-se em cima dele, ou coisas semelhantes que separem bem o continente do conteúdo, o significante do significado).

Os educandos ficam fascinados com a erudição do professor que achou suporte para todas as afirmações do texto, mostrou sua utilidade em nossos dias, discorreu sobre as novidades das ciências e da graça comum, comprometeu-se com a verdade e aprenderam que aquela verdade é tão transcendental que ela pode ser veiculada de qualquer forma, através de qualquer mídia, mesmo que seja a mais abjeta.

O segundo grupo tem abordagem oposta. Não está tão preocupado em provar que aquele texto é a Palavra de Deus, pois sabem que as ovelhas de Deus identificam sua voz. Entretanto não descuida de verificar a autenticidade histórica e formal do texto. Afinal, o modo mais eficiente de lutar contra as verdades cristãs não é negá-las, mas torcê-las.

Geralmente após o texto bíblico ter sido lido, ou o tema teológico ter sido proposto, faz-se um "recenseamento" dele. Como ele foi recebido, como nossos antepassados, especialmente os mais próximos dele, o entenderam, e, principalmente, como ele se encaixa, no ensino daquele escritor (se ele escreveu outras coisas) e no "ensino geral" das Escrituras (o que tecnicamente é chamado de 'analogia da fé').

Não degrada o veículo através do qual o texto chegou até nós, entretanto não lho adora. Simplesmente o respeita como o receptáculo e veículo daquela verdade.

Todas as questões levantadas por um representante do primeiro grupo estão contidas e automaticamente respondidas no apreço que se tem àquele texto ou ensino.

Geralmente estes professores não são tão cativantes, pois, acostumados em uma "sociedade da informação fantástica", seus alunos não vêem muita graça no processo que acabaram de testemunhar. Entretanto, como a chuva que nutre a planta, a Palavra do Senhor os faz crescer.

Qual dos sistemas é o correto? Depende do objetivo. Se o educador tem quer formar discípulos de si mesmos não há dúvida que o primeiro é mais eficaz. Mas, se quiser formar pessoas que levem os próprios pensamentos cativos para obedecer a Cristo, discípulos do Autor da Palavra, sábios, no sentido bíblico, terá de optar pelo segundo, pois "o temor do Senhor é o princípio da sabedoria".

Em meus 16 anos como professor de seminário já recebi alunos que iniciaram seus estudos conforme o primeiro método. A poucos consegui transmitir o apreço e respeito devido à Palavra de Deus. O hábito da crítica e a barreira da desconfiança sempre foram obstáculos fortíssimos. Hoje a perspectiva fornecida pelos anos longe do Seminário me convenceu que o melhor é começar do zero. Se for possível.

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