sábado, 25 de novembro de 2006

Ócio no céu

Recentemente alguém me perguntou: “lá no céu vamos ficar voando de nuvem em nuvem, com harpinhas nas mãos, fazendo nada?”

Preciso dividir a resposta. Primeiro devo chamar sua atenção para a necessidade de entendermos bem nosso destino após a morte.

O que vulgarmente chamado de “céu” é um local provisório em que as almas de todos os que morrem antes da volta do Senhor ficam aguardando a ressurreição de seus corpos: são aquelas pessoas mencionados no “quinto selo” do Apocalipse.

No último dia, na volta do Senhor, ressuscitados todos os que morreram e transformados todos os que ele encontrar vivos, iremos morar com ele em um lugar que as Escrituras chamam de: Jerusalém Celeste, Novo Céu e Nova Terra, etc.

Segundo, não há um só texto das Escrituras Sagradas que abone a idéia do “ócio celeste”, ao contrário: tanto direta como indiretamente pressupõe-se atividade.

As Escrituras são comedidas ao falar da vida futura, e, o Apóstolo Paulo, chega mesmo a mencionar a existência de coisas que, além de inefáveis, não são lícitas ao homem o referir-se a elas (2Co 12.4). Você está lembrado de que João ia escrever o que ouviu “dos trovões” e foi impedido? Ou da expressão “o que de Deus se pode conhecer...” (Rm 1.19)?

Geralmente ao lermos as Escrituras ficamos apenas com aquilo que nos agrada mais. E, é claro que, as belezas relacionadas à vida futura chamam nossa atenção. Nos lembramos facilmente de palavras como alegria, prazer, júbilo, bondade, água, fontes, festa, luz, pão, casas, mesa, vinho, justiça, graça, glória, verdade, honra, incorruptibilidade, imarcessibilidade, santidade, misericórdia. Porém, encontramos também, responsabilidade, fidelidade, competência, serviço, e, principalmente, a relação mais clara entre o servo e o Senhor.

Não ficaremos ociosos, pelo contrário, receberemos das próprias mãos do Senhor as tarefas necessárias à manutenção de seu Jardim, então restaurado e redimido.

Lembre-se: antes de nossos pais pecarem o Criador os colocara em um jardim com a incumbência de lavrar a terra - certamente o trabalho seria mais leve, pois algumas maldições conseqüentes do pecado foram a fadiga, o suor do rosto para se obter o pão e o nascimento de cardos e abrolhos - e no jardim restaurado? Não haveríamos de ter responsabilidades também?

As responsabilidades que receberemos lá serão proporcionais ao desempenho com que executamos as nossas hoje. Pense na sentença do Senhor: “Servo bom e fiel. Tu foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei”. Teremos aquilo que Adão teria se não tivesse se rebelado contra Deus.

Finalmente!

Nosso trabalho será avaliado pelo mais justo Senhor.

Não trabalharemos para o proveito de espertos.

Nosso trabalho por mais simples que vier a ser, será em cumprimento da vontade mais perfeita que existe.

Senhor! Apresse este dia!

sábado, 18 de novembro de 2006

Conhecerei como sou conhecido

Nos anos 40 ou 50 do século passado, havia um programa de rádio em que um “pastor” respondia perguntas a respeito da Bíblia. Tirava dúvidas. Um dia ele leu uma carta cujo teor podia ser resumido na seguinte frase: “como poderei ter alegria no céu se souber que meu filho está no inferno?”

A essa pergunta, infelizmente, ele ‘sugeriu’ 4 respostas. Na realidade, apenas uma poderia ser considerada resposta, pois, com tantas, ele semeou dúvidas que, até hoje, propagam-se com tal perniciosidade que as tenho como o cumprimento de Atos 20: “...dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas”.

Como já são objeto de debate público, muito a contra gosto, repetirei as 3 aqui, na esperança de firmar a verdadeira resposta.
1ª – “Na vida futura não nos lembraremos de nada do que aconteceu nesta vida”.
2ª – “Na vida futura não nos lembraremos das coisas ruins que nos aconteceram nesta vida”.
3ª – “Na vida futura não guardaremos, entre nós, os mesmos laços de relacionamento que guardamos nesta vida”.

A primeira “resposta/dúvida” é totalmente contrária ao ensino geral das Escrituras (a analogia da fé), pois, quão fútil seria comparecermos ante o tribunal de Cristo para respondermos por algo que foi apagado de nossa memória. Lembre-se: não há condenação, mas haveremos de prestar contas daquilo que ele nos confiou. Veja:

Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo. 2 Coríntios 5:10

Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Romanos 14:10

E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas. Hebreus 4:13

Compare ainda com as seguintes palavras do Senhor: “Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus”

Como saberíamos a importância de Abraão, seu filho e seu neto, ao ponto de termos por honra partir o pão com eles, se não nos lembrarmos de coisa alguma, e, conseqüentemente, deles?


A segunda parece que foi feita após se pensar nos argumentos contrários à primeira. Ou seja: nos lembraremos de Abraão e seus descendentes, mas não nos lembraremos das coisas ruins.

Porém, acaso poderíamos lembrar da fé de Abraão sem lembrar do sacrifício de Isaque? Nos lembraríamos de Jacó sem lembrar que o Senhor o amou e aborreceu a seu irmão Esaú? Eles teriam importância para nós, figurariam no capítulo 11 da carta aos Hebreus, sem as provações pelas quais passaram?

Aliás, você teria a maturidade espiritual que tem sem as dificuldades pelas quais o Senhor fez você passar?

Irmãos, será que no Reino de Deus seríamos privados de nos lembrar da Bíblia onde ninguém tem seus defeitos escondidos?

A terceira, parte da pressuposição de que na eternidade amaremos a todos igualmente, por isso, vínculos familiares, que causam perdas dolorosas, não existirão. Porém, é apenas uma tentativa de, através do que as Escrituras não dizem, resolver um problema que já foi resolvido.

A única resposta é: Lá, na vida futura, nos lembraremos de tudo com mais clareza. Nos lembraremos dos fatos obscuros, que memorizamos conforme nosso ponto de vista, com a certeza que não é possível se ter nesta vida. Lá nosso conhecimento de todas as coisas será tal, que se cumprirá finalmente: “conhecerei como também sou conhecido”.

Então ficaremos tristes? Não! Absolutamente não! Nosso Mestre e Senhor nos declarou:
São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima. Apocalipse 7.14-17

Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima. Apocalipse 21.3-4

Haveria tristeza se não fosse o supremo consolo de Deus: O Consolador!

Essa é a esperança do cristão verdadeiro.

sábado, 11 de novembro de 2006

Duas casas

Na casa em que moro sou acordado logo cedo pela algazarra alegre de muitos passarinhos. Pra falar a verdade, se não me obrigar a levantar, a cantiga deles, reforçada pelo cheiro das flores com primeiros raios de sol, aumentam a vontade de continuar na cama.

Na casa em que moro, nos dias mais quentes, costuma vir uma brisa do rio. Às vezes tenho de fechar a cortina por causa do sol e cortar a brisa pela metade, mas ela continua insistindo em enfunar o tecido leve e entrar pelo escritório refrescando os instantes de trabalho matinal.

Na casa em que moro, depois do almoço, o canto da rolinha “Fogo-pagou” convida a uns instantes de repouso, e fica difícil sair para as obrigações da tarde, que vai refrescando na medida que o sol desce atrás da casa vizinha.

Na casa em que moro, apesar de pernilongos e do abafamento normal das cidades cortadas por rios, as tardes são quietas. Os meninos saem da escola vizinha em tropel, mas o sol poente doura o Pico da Ibituruna.

Na casa em que moro, o cheiro das mangueiras floradas no começo da primavera e das mangas no verão entram no quarto e enquanto caem de maduras, a brisa do rio, aproveitando o silêncio da noite, traz, como se fosse um acalanto, o barulho das corredeiras.

E na casa em que morarei? Se nem olhos, nem ouvidos, nem a imaginação podem ter idéia do que me espera, que pensamentos poderei ter dela?

A casa em que morarei foi projetada pelo melhor arquiteto. Está sendo preparada pelo melhor construtor. Será adornada pelo “primeiro” jardineiro.

Se as manhãs daqui são doces e calmas, as de lá serão muito mais. Que aromas fabulosos superarão o das flores, ou o do café recém-coado? Que sabores substituirão o do pão de queijo ainda fumegante?

Se aqui a conversa com os sábios vem pela leitura, como será conversar pessoalmente com os que estarão lá?

Se as melodias daqui dependem de eletricidade e são a repetição mecânica de um som gravado, como será ouvir grandes cantores e músicos, com arte e competência, executarem na hora aquilo que a imaginação, livre dos limites, lhes proporcionará?

Se as tardes, iluminadas pelo vermelho do poente são arrebatadoras, como serão as tardes de um lugar que não necessita de Sol? Aliás, haverá tardes ou será um eterno amanhecer?

Se a brisa e o som que vem de um rio barrento, já enchem de paz e alegria a noite, como serão as brisas que virão do Rio da Vida? Como será o perfume da Árvore cujas folhas curará as nações?

Se hoje, cada manga que cai, qual relógio de parede, sem compromisso com a hora certa, faz lembrar a infância com suas aventuras e mistura as saudades do que foi com as saudades do que será, como serão as lembranças de lá? Cantamos nos lembrar das horas suaves de oração.

Certamente nos lembraremos de muito mais, e as lembranças que trouxerem lágrimas serão plenamente consoladas pela Santa Presença.

Fui plenamente convencido de que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória que há de ser revelada. Hoje, creio, que muito menos os prazeres os serão.

sábado, 4 de novembro de 2006

Você já pensou no futuro hoje?

Conta-se que a Ferrari já havia ganhado fama, quando um fazendeiro comprou uma e logo depois veio reclamar da embreagem. O próprio Enzo ouviu e o despachou dizendo que ele só entendia de embreagem de tratores. Com raiva e com vontade de fazer algo melhor, ele montou uma concorrente que, até hoje, produz artesanalmente seus carros após encomenda. Seu nome era Lamborghini.

Há algum tempo atrás um amigo muito querido, me confessou que passou uma noite insone, ansioso para pegar seu carro novo de manhã. É um excelente carro, mas não é uma Ferrari, muito menos uma Lamborghini. Fiquei pensando que se ele estivesse esperando por uma dessas ... acho que já teria feito o ofício fúnebre dele.

Na idade média houve uma coleção tão grande de relíquias, que, se juntássemos todas, provavelmente, teríamos diversas cruzes, muitos pregos, muitas túnicas, etc. Houve quem garantisse possuir um pouco do leite que alimentou o Senhor nos braços de sua mãe. Valiam muitíssimo! Tanto que se cobrava ingresso para admirá-las. A simples visita a uma delas em Roma “garantia perdão de pecados”.

Há algumas ainda hoje. A mais conhecida delas é o suposto lençol com que José de Arimatéia amortalhou nosso Senhor: o chamado Santo Sudário. Apesar da datação de seu tecido remonta à idade média, há uma igreja em sua homenagem e não há preço para ele.

Convencionou-se pensar que o Senhor, como carpinteiro fazia móveis. Talvez até os fizesse, mas a palavra que traduzimos por carpinteiro (tekton, de onde vem arquiteto) refere-se muito mais a construtor. Provavelmente ele tenha feito mais colunas, vigas, marcos de portas, madeiramento para estuque de cobertura, do que cadeiras como sugere um filme recente.

Vamos admitir que ele tenha feito pelo menos um tamborete, daqueles de três pernas. Você já imaginou o preço que isso teria hoje?

Observe: Meu amigo ansioso por seu carro, pessoas dispostas a pagar ingressos para ver um suposto pedaço da cruz e o valor que teria um eventual móvel que o Senhor tivesse fabricado. Entretanto, vivemos em um mundo cheio de coisas, “fabricadas” pelo Senhor e não damos a elas o valor que deveríamos dar.

Porém, o que eu quero mesmo é chamar sua atenção para o fato de que você vai morar em uma casa feita pelo Senhor: o verdadeiro construtor, do qual todos os demais, por mais grandiosas que tenham sido suas obras, são apenas tipos pálidos. Você anseia por esta casa? Passa noites mal dormidas esperando por ela?

Já me disseram que os carros são antecipadamente conhecidos, e as casas daqui, geralmente acompanhadas desde a planta. Mas a casa futura é um mistério, pois, ninguém voltou para descrever a sua.

Em parte é verdade. Entretanto o Senhor, que morreu, voltou e nos assegurou que não devemos temer, pois estaremos com ele. Nossa chegada lá será marcada pelas palavras “Servo bom e fiel. Tu foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei. Entra no gozo do teu Senhor”. Logo em seguida tomaremos assento, à mesma mesa com Abraão, Isaque e Jacó, partiremos o pão juntos e beberemos um vinho que o Senhor espera para beber conosco.

Será que não é motivo para dizermos com o Apóstolo que estar com Cristo é incomparavelmente melhor?