sexta-feira, 23 de maio de 2008

“Absurdos pentecostais” - Parte 2

Vimos, domingo passado, que, o Senhor agraciou sua Igreja com seu Espírito Santo e o inimigo de nossas almas, com grande auxílio de nossa própria natureza pecaminosa, fez, e continua fazendo tudo o que pode, para desvirtuar o verdadeiro propósito da sua atuação em nossas vidas.

Vimos também que dos grandes avivamentos nasceram muitas correntes. Tantas correntes quantas pessoas foram influenciados por eles: Um verdadeiro “cristianismo individual”.

Porém, didaticamente, podemos falar de ondas, ênfases, ou, para usar a terminologia bíblica: “ventos de doutrinas”, que atingiram a Igreja sucessivamente.

A primeira ênfase foi dada na santidade pessoal. Eram os chamados movimentos “Holyness”, que destacavam a necessidade de uma “segunda bênção” - após a qual não se pecava mais - e que, necessariamente, era atestada pelo falar em línguas. Ainda hoje encontramos vestígios dessa ênfase. Entretanto, a experiência diária e a vida pecaminosa de muitos líderes diminuíram sua força.

Anos depois veio a ênfase nas curas, no desafio às doenças e, em casos extremos, aos animais peçonhentos. Argumentam: a Bíblia não garante vitória àquele que beber veneno ou for mordido por serpentes? Mas como todos os exageros passam esse também, aos poucos, foi caindo no esquecimento.

A ênfase mais atual, aparentemente a mais “mundana”, fixa-se na prosperidade. Sua máxima é que o salvo não pode passar dificuldades financeiras, pois é filho do dono da prata e do ouro.

Essas três ênfases ainda podem ser vistas, e, apesar de terem chegado sucessivamente ao Brasil, e criado comunidades diferentes, não é difícil encontrar o uso de todas elas em um mesmo local.

Vale notar que a primeira ênfase - a busca de vida santa - foi a que mais males causou às igrejas protestantes tradicionais, já que é a mais difícil de ser discernida. As duas últimas fazem mais sucesso entre os grupos sociais mais pobres, ou mais sujeitos às instabilidades como aqueles que dependem de vendas ou cumprimento de metas.

Vale notar também que há alguns absurdos tipicamente brasileiros. Por exemplo, o “dente de ouro”, onde o atestado de que alguém recebeu a bênção de Deus é ter uma obturação amarelada.

Parece que ainda virão outras ênfases, pois só o tempo nos permitirá classificar adequadamente o “riso santo”, o “vômito santo”, as “imitações santas” - seja de leões ou águias - e os “santos espetáculos” onde, a pretexto de culto, o teatro toma conta do culto com danças ou representações.

Todas trouxeram para dentro das igrejas tradicionais, no mínimo, duas mazelas. 1) Valores invertidos: onde a preocupação principal passou a ser agradar o rebanho e não a Deus. 2) Dúvida: Será mesmo que a Bíblia é mesmo a única e suficiente regra de fé?

Os pastores que orientam seu ministério pela Bíblia sofrem muito com isso, especialmente quando vêem crentes verdadeiros fascinados e os Concílios inserindo na Agenda traçada por Jesus compromissos que ele jamais assumiria.

Há alguns anos atrás a Comissão Executiva do mais alto Concílio de nossa denominação foi levada a assistir um filme em que a lição principal era deixar de lado a tradição e seguir em frente, rumo aos novos tempos. O filme contava como uma prostituta escondida em um convento reavivava o coral das freiras de tal modo que chegaram a se apresentar ao Papa.

Se permitirmos, Hollywood assume a cátedra. Depois disso o melhor que conseguiremos fazer será nos apresentar em outros ritmos. Então já estará esquecia a verdadeira e real finalidade do Espírito Santo: transformar corações e levar Igrejas a uma vida mais santa.

sábado, 17 de maio de 2008

“Absurdos pentecostais” (Parte 1)

Como foi que, em nome do Espírito Santo, os evangélicos, outrora tão ciosos do nome que deveria ser zelado, chegaram à práticas absurdas como venda de “Sal da prosperidade”, “fronhas ungidas para trazer sonhos proféticos”, ou uso de “correntes de oração para alcançar vitórias”, e outras que, o só mencionar, é vergonha? Como chegou-se a isto?

Não seria difícil historiar o movimento pentecostal se o espaço não fosse tão pequeno. Então farei apenas um esboço, e disponho-me a fornecer todas as minhas fontes a quem quiser estudar mais.

Os primeiros absurdos estão registrados na própria Bíblia. Começaram com Ananias e Safira, que, invejando o dom da contribuição, fingiram possuí-lo e acabaram mortos por mentir ao Espírito Santo.

Logo depois há o caso de Simão. Mágico, ilusionista, impressionado com os milagres, propõe aos apóstolos comprar “esse poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo”.

Hoje não se espera a proposta dos modernos Simões. Pelo contrário: faz-se propostas a eles e cada vez mais - através de cursos, congressos, livros, apostilas, DVDs, e semelhantes - se estimula a que façam o que o primeiro desejava. Naqueles dias, Simão foi repreendido severamente por Pedro e foi advertido do perigo que corria.

Os demais absurdos registrados na Bíblia estão todos na Carta à Igreja de Corinto. De todas as Igrejas do Novo Testamento, apenas a de Corinto apresentava o que hoje chamaríamos de “problemas pentecostais”.

Apesar de ter sido fundada pelo próprio Paulo, algum tempo depois de sua partida estava fragmentada em partidos - pelo menos quatro - que se hostilizavam mutuamente.

Toleravam imoralidades terríveis, como o incesto, mas brigavam para ver quem era mais “espiritual”. Aliás, o nome de um dos partidos era “Os Espirituais”. Eles habitualmente menosprezavam quem não tinha os dons que julgavam mais importantes. Especialmente o dom de línguas.

Paulo os repreendeu severamente. Mostrou-lhes os erros em que incorriam, e lhes impôs freios tais, que até hoje são eficientes para coibir abusos.

Depois do período bíblico, até a Reforma Protestante, tais movimentos sucederam-se: Montano com suas duas discípulas, Priscila e Maximila (que alegava ser o porta-voz do Espírito Santo e completaria as profecias apocalípticas de João), os begardos, as beguinas, os cátaros, a Irmandade do Espírito Livre, Joaquim de Fiore e outros.

No século 16, os Reformadores os rotulavam de entusiastas, fanáticos, espiritualistas, frenéticos e libertinos (pois sempre eram acompanhados por um baixo padrão moral dos costumes).

No século 17 surgiram os Quackers, para quem a Bíblia estava sujeita “à interpretação da silenciosa voz interior do crente”. Deles, uma dissidência menos silenciosa, deu origem aos Shakers (os que sacodem ou que são sacudidos).

No século 18 apareceram os Grandes Avivamentos destacando a necessidade de se ter obrigatoriamente uma experiência pessoal (sentir) além da fé (crer). Aliás, para eles a tal experiência era o que provava a existência da fé. O resultado foi um cristianismo tão subjetivo que as doutrinas passaram a falar mais da experiência do homem do que do conteúdo da fé.

Daí pra cá, nunca se estudou, ou se escreveu, tanto sobre o homem e seus problemas. E hoje, mesmo diante da mais completa exposição do que é a verdadeira fé, se cobra uma “aplicação” relevante para o dia-a-dia do ouvinte, como se uma vida de fé não bastasse.

Todos esses absurdos podem ser vistos hoje e eles estão mais próximos de nós do que supomos. Às vezes, disfarçados com novas roupas, recebem nosso aplauso.

(Continua na próximo domingo)

sábado, 10 de maio de 2008

Como vento e como fogo

Não é raro encontrarmos nas Escrituras Sagradas algumas palavras que deixam claro a dificuldade de expressar o que elas descrevem. Por exemplo: “a cidade é de ouro puro, como vidro transparente”? Ou as que Paulo ouviu e disse que além de inefáveis eram ilícitas ao homem pronunciá-las.

Lucas, na descrição da descida do Espírito Santo sobre a Igreja em Jerusalém, também enfrentou essa dificuldade. Sabemos que ele procurou informar-se com exatidão, com os que viveram os acontecimentos. Cremos que ele foi assistido pelo próprio Espírito Santo na descrição feita. Mas atente para a descrição feita.

A casa em que todos estavam reunidos não foi sacudida por vento. Mas “enchida” por um som semelhante ao som que faz um vento tempestuoso.

Tampouco foi incendiada. Mas línguas ‘como de fogo’, separadas umas da outras, apareceram e pousaram: uma sobre cada cabeça.

Estes dois símbolos são sinérgicos e não podem ser apreciados separadamente, pois falam da mesma coisa.

O som de vento, certamente lembrava a judeus o Espírito de Deus (Ruach em hebraico: que é uma onomatopéia de respiração).

Era-lhes comum a lembrança de textos como: “Então, Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o SENHOR, por um forte vento oriental que soprou toda aquela noite, fez retirar-se o mar, que se tornou terra seca, e as águas foram divididas” (Ex 14.21). Ou do profeta Samuel a quem foi mostrado “os fundamentos do mundo” quando Deus descobriu-lhe as profundezas do mar pelo “iroso resfolegar das suas narinas” (2Sm 22.16).

Para eles o vento era símbolo do Espírito de Deus: seu sopro e sua respiração, que vivifica. Mas na casa em que se aglutinavam 120 pessoas o vento se faz presente pelo seu som.

Já ouvi de muitas pessoas, e eu mesmo tive a experiência, de “sentir” um ambiente - no meu caso uma igreja - “cheia de som” em que os grandes pulmões de um órgão de tubos transmitia a impressão de que se podia tocar naquela “matéria etérea” que a tudo enchia e pervadia.

O fogo também fazia parte da “memória simbólica” deles. O fogo da sarça não a consumia, o fogo do tabernáculo, cheio da “presença de Deus”, não consumiu a Moisés nem o povo sobre o qual se levantava como coluna. Mas reduziu à cinzas, como castigo terrível, os filhos desobedientes de Arão. E, como sinal de aprovação, consumiu as ofertas sobre o altar.

Porém, naquele bendito dia “eram línguas como de fogo”. Como se fossem miniaturas daquela enorme coluna que acompanhava o povo pelo deserto. João vem novamente em nosso auxílio: “Vi como que um mar de vidro mesclado de fogo” (Ap 15.2). Inefáveis experiências. Eventos indescritíveis.

Mesmo não descritos em sua totalidade, foram fatos reais, que de alguma forma foram expressos através de analogias com outros fatos semelhantes já acontecidos.

Agora, pare e pense: Os elementos vento e fogo não estavam totalmente presentes. Porém, paradoxalmente, as palavras estavam. Eram idiomas! Hoje, talvez, coreano, russo, finlandês, árabe, etc.

Não houve uma “tradução simultânea”. O milagre não foi no ouvir, mas no falar: verbo repetido 6 vezes nesse texto. O Espírito Santo capacitou a falarem imediatamente idiomas, que, via de regra, são aprendidos depois de muito esforço e muito tempo de estudo.

Eles não falaram coisas sem sentido: evangelizaram. Proclamaram a Jesus e as “grandezas de Deus”. Finalmente podiam ir “pelo mundo inteiro e pregar o evangelho a toda criatura”. Não ficaram em Jerusalém em sons desconexos fingindo idiomas.

Certamente esse tema também estava no pensamento do Apóstolo ao advertir a Igreja de Corinto: “Deus não é de confusão” (1Co 14.33).

Essa advertência é também para nós.

sábado, 3 de maio de 2008

A ascensão de Jesus

Uma vez Jesus contou uma parábola sobre um homem que deixou noventa e nove ovelhas e saiu em busca de uma que se havia perdido. Seu objetivo era falar da maior alegria que há nos céus “por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”.

Entretanto, creio que nesta parábola há excelentes pontos de comparação com a própria obra do Senhor Jesus.

Primeiro Jesus é o verdadeiro Pastor - o Bom Pastor - do qual todos os pastores - aqueles que se preocupam em livrar as ovelhas da perdição - são apenas tipos.

Ele, como o homem da parábola, também veio em busca de sua ovelha que se perdeu, e, como o homem da parábola, tomou sua ovelha nos próprios ombros e a levou de volta para casa alegre e espalhando alegria.

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Quando chegou a hora certa e os tempos se completaram o Verbo se fez carne. O Pai lhe formou um corpo. Os anjos o contemplaram e rejubilaram-se. E ele, o Verbo, deleitou-se em fazer a vontade do Pai.

Assumiu nossa natureza, fazendo-se um de nós. Tomou sobre si as nossas dores, e foi moído pelas nossas iniqüidades. “Entregue por causa das nossas transgressões, ressuscitou por causa da nossa justificação”.

Hoje nos relembramos do dia de sua volta à glória que tinha junto do Pai antes que houvesse mundo. Hoje nos lembramos de que, ao lado do Pai, ele intercede por nós.

Voltou.

Os anjos o viram e novamente rejubilaram-se. O Pai o viu e o recebeu satisfeito. Tão satisfeito quanto ele próprio ficou ao ver o fruto do penoso trabalho de sua alma.

O bom pastor achou a ovelha que se havia perdido. Deixou as outras noventa e nove e saiu pelos lugares perigosos da perda e do dano - amaldiçoados com cardos e abrolhos - e achando-a, colocou-a nos ombros e a trouxe para casa.

Salvação completa.

Não apenas possibilidade de salvação: Redenção.

Depois de tudo consumado, não havia mais o que fazer senão reassumir o que era antes. Mas reassumir como um de nós. E, como um de nós, com nossa natureza adquirida ao tabernacular conosco, recebeu do Pai todo poder no céus e na terra. Nele “reside toda plenitude”.

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Quinta-feira passada completou-se 40 dias deste a data em que relembramos a ressurreição do Senhor. E, conforme as Escrituras, após haver dado ordens aos seus discípulos e aos seus apóstolos, ascendeu aos céus.

Hoje é dia de meditarmos na segurança que sua volta aos céus nos dá. Lá - um de nós, que em tudo foi tentado, mas em nada pecou e sabe compadecer-se dos que também são tentados - por nós intercede e por nós aguarda.

Nos aguarda certo de que o que fez não foi em vão.

Resta-nos apenas cumprir o nosso tempo - como ele cumpriu seu próprio tempo - e nos mudarmos para lá.