domingo, 29 de junho de 2014

As duas casas

Todos conhecemos a Parábola da Casa sobre a Areia, contada pelo Senhor Jesus. Dela podemos tirar grandes ensinamentos.

Para concluir o Sermão do Monte Jesus contou uma parábola que funciona como uma aplicação. É como se ele estivesse fazendo a seus ouvintes o que Natã fez com Davi: Lá – dá até pra imaginar Natã com o dedo em riste – Davi ouve “és tu o homem”. Aqui, é como se Jesus estivesse dizendo: Estou falando sério! 

Na parábola duas casas são comparadas: uma que foi construída com o alicerce sobre a areia e outra com o alicerce sobre a rocha, e, apesar de outras diferenças, o terreno diferente é o que Jesus utiliza como significante principal, pois mostra a existência de dois tipos de ouvintes de sua palavra: o que pratica e o que não pratica aquilo que escuta. O que pratica é semelhante a casa alicerçada sobre a rocha e o que não pratica assemelha-se à casa cujos alicerces fora colocados sobre a areia.

As entrelinhas indicam que a casa edificada sobre a rocha sofreu um ataque maior, e a palavra “mega” torna explícito que a ruina sofrida pela casa edificada na areia foi pior (implicando que não seria tão grande se tivesse acontecido com a outra). Porém, grosso modo, podemos dizer que ambas as casas sofreram igualmente, ou seja: com esta parábola o Senhor nos desilude da ideia de que aqueles que praticam suas palavras estão livres de tempestades.

O ensino principal é: Praticar os ensinos do Senhor é essencial para sobreviver às tempestades que se abaterão, e se abatem, sobre nossas vidas.

Obviamente podemos aplicar isto a todos os ensinos de Jesus, porém, pelo contexto, ele estava referindo-se primeiramente, ao Sermão do Monte onde há tantas prescrições sobre o que fazer e o que não fazer, que é quase temerário tentar resumir, mas em linhas gerais obedecem às seguintes disposições:

O discípulo de Jesus está obrigado a:

- Influenciar o meio em que vive (sendo sal e luz) sem ser influenciado por ele.

- Cumprir o verdadeiro espírito da Lei dada aos antigos e não só seu aspecto externo.

- Não fazer da vida religiosa elemento de promoção pessoal.

- Não priorizar a vida presente e seus cuidados ou riquezas, em detrimento do Reino de Deus e sua justiça.

- Acautelar-se dos julgamentos apressados e dos falsos profetas.

Estas diretrizes nos garantem passar incólume diante “das tempestades” que se abatem sobre todos. Observe que não são diretrizes para se entrar no Reino de Deus, mas diretrizes claras para quem é súdito deste reino. As tempestades, portanto, são o método usado por Deus para separar seus súditos dos demais.

sábado, 21 de junho de 2014

Semear e colher

Ainda no colégio aprendi que toda ação produz uma reação igual em sentido oposto. Por isso, quando se solta o ar de um balão ele vai pro lado contrário à saída do ar. O mesmo acontece com a turbina de um avião e com tudo que produz qualquer tipo de força em uma direção determinada. Porém, a reação é sempre igual a ação.
Entretanto, essa igualdade é própria do “mundo físico”. No mundo espiritual, como também no meio social, a reação, na grande maioria das vezes, é maior. Por exemplo, as vinganças: geralmente o vingador tende a exagerar. Essa é a razão básica do “olho por olho, dente por dente”. Diferentemente do que se pensa, esta lei não obrigava a que houvesse sempre uma reação, mas a limitava. E não foi dada primariamente às pessoas, mas aos juízes. Ou seja: seu objetivo primeiro era coibir os excessos.
Ao longo de toda Bíblia vemos muitas alusões à correspondência entre a entre a ação e a reação, numa espécie de relação de causa e efeito. Tanto positiva quanto negativamente.
Os resultados do anúncio do Evangelho, segundo nosso Senhor Jesus Cristo, são como a semente plantada. Dão frutos a cem, a sessenta e a trinta por um. Ou seja: para cada semente plantada haverá o nascimento de, pelo menos de outras 30: um crescimento de, pelo menos, 3.000% (Mateus 13.23).
Semelhantemente, o Reino de Deus é como a semente de mostarda: a menor de todas as sementes, que se transforma na maior de todas as hortaliças (Marcos 4.31-33).
Muitos séculos antes o salmista já usava a semeadura para exemplificar as bênçãos do Senhor: semeia-se com lágrimas, mas a colheita é feita com júbilo. Semeia-se uma simples semente, colhem-se feixes (Salmo 126-5-6). Mas o profeta Ageu nos ensina que, distantes de Deus, semeamos muito e recolhemos pouco (Ageu.5-7).
Porém, o apóstolo Paulo, lembra-nos da relação essencial entre a semente a planta, quando nos diz que se colhe exatamente o que se semeou e que é possível semear o bem ou o mal (Gálatas 6.7-8).
E, como o Evangelho ou o Reino de Deus, que se multiplica com a semeadura, o mal também. O profeta Oséias é quem nos adverte dizendo: Arastes a malícia, colhestes a perversidade” (Oséias 10.13). Ou ainda: Porque semeiam ventos e colherão tempestades” (8.7).
Hoje estamos colhendo os frutos amargos das sementes lançadas por nossos pais, e ao mesmo tempo estamos semeando sementes piores, que serão colhidas por nossos filhos. Se não quisermos colher tempestades não semeemos ventos. Não semeemos malícia e não colheremos perversidade.

sábado, 14 de junho de 2014

Ser cheio do Espírito Santo

O resultado imediato da descida do Espírito Santo foi a proclamação das grandezas de Deus pela Igreja, mesmo que para isso tivessem de usar idiomas nunca aprendidos: o Espírito Santo a capacitou a fazê-lo.

O Senhor Jesus tinha sido explícito: Eles receberiam o poder de testemunhar (especialmente sua ressurreição): E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias. [...] recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra (Atos 1.4-8).

Você já deve ter percebido que essa relação de causa e efeito (ser cheio do Espírito Santo e ter poder de testemunhar o Evangelho) foi desvirtuada ao longo do tempo. Desvirtuada ao ponto de se acreditar que, após ser cheio do Espírito Santo, se começa a resmungar, grunhir e produzir sons desconexos: o tal dom de línguas.

Esses grupos sequer lembram em que data o Espírito Santo desceu (eu nunca vi qualquer grupo pentecostal comemorar este dia), mas afirmam, com certeza, que apenas quem fala em línguas (as que ninguém entende) foi batizado por ele.

A história nos mostra que já houve outras tentativas de se falar desses acontecimentos pós-pentecostes. Por exemplo, (dentre os que se lembram da data), até hoje, em alguns países da Europa (e, até onde pude ver, em alguns lugares nos EUA) a segunda-feira faz parte da comemoração do Dia de Pentecostes (que sempre cai em um domingo). É chamada de withmonday. Nela, alguns grupos vestidos de túnicas de batismo, desfilam (ou desfilavam) atestando que tinham sido batizados com o Espírito Santo.

Em uma biografia do Dr. Martyn Lloyd-Jones, encontra-se uma descrição mais comedida:

Comemorávamos o Pentecostes na segunda-feira. Era um dia muito especial para os membros da Escola Dominical de Sandfields, em Aberavon. [...] as pessoas logo se organizaram e começaram a andar. Primeiro homens, depois mulheres com suas crianças, dúzias delas, guiadas pelas mães, tias, professoras, irmãs mais velhas. Cada uma das meninas usava um vestido novo, feito especialmente para a ocasião. Alegres e autoconfiantes como uma menina usando um vestido novo! Até mesmo os meninos se arrumavam para o evento.

E assim andávamos, em ordem, cantando “Onward! Cristian Soldiers” (Erga-se o Estandarte),  “Who is on the Lord`s Side?” (Quem está do lado do bom Salvador?) ou “Stand up, Stand up for Jesus” (Avante, avante, ó crentes). Marchávamos pelas ruas do nosso bairro, passando pelas casas das crianças, felizes por vermos alguns membros e seus familiares às portas de suas casas, acenando para nós e encorajando os pequenos cantores que passavam! (Bethan Lloyd-Jones. Memórias de Sandsfield. PES).

Marchar pela cidade cantando hinos de louvor, ou de exortação aos demais cristãos, não implica necessariamente em situações pecaminosas, como agir como loucos (o que, além de tudo, é condenado como uma atitude que atrai vergonha. Veja: 1º Coríntios 14.23ss). Porém, não é uma prova absoluta de que isso tenha acontecido.

De qualquer modo, a prova mais concreta de que o Espírito Santo fez morada em alguém, além da capacidade de testemunhar, é a vida desta pessoa. Veja: ...o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gálatas 5.22-23).

Em uma época de tantas fantasias, de gestos vazios e de engano, não nos deixemos iludir. Especialmente em um assunto tão importante quanto este.

sábado, 7 de junho de 2014

Não vos deixarei órfãos

Alguns dicionários restringem o sentido da palavra “órfão” à menores de idade ou a incapazes. Àqueles que, pela falta dos pais, carecem de algum amparo ou de quem responda por eles.

Perdi meus pais após 30 anos de idade, e, se não houve o que fazer em termos legais, houve o que providenciar por mim mesmo, a fim de mitigar a falta de ambos. Lembro-me das noites em que eu orava em favor de ambos. Depois que meu pai morreu gastei certo tempo para me acostumar em agradecer pela vida dele e pedir em favor de minha mãe. Anos depois precisei me acostumar de novo: passei a agradecer pela vida dos dois.

Em termos materiais a morte deles não afetou minha vida. Mas em termos afetivos e espirituais sou completamente incapaz de descrever o que aconteceu.

Hoje, dia de pentecostes, relembraremos o cumprimento da promessa de Jesus: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” (Jo 14.18).

Embora a proteção aos órfãos seja um tema quase recorrente no Antigo Testamento, a palavra grega aqui - “orphanos” - pode ser usada para referir-se a qualquer um que perdeu seus pais, e seu uso no Novo Testamento é muito restrito (além daqui, ocorre apenas na carta de Tiago). E o sentido nos dois textos pressupõe incapacidade, ou necessidade.

Se Jesus promete não deixá-los órfãos, obviamente está se colocando na posição de pai, e colocando-os na posição de quem carece de um.

O Senhor, nos dias de sua carne, desempenhou o papel do Pai ao ponto de dizer a Filipe: “Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras” (Jo 14.9-10).

Ao reassumir a glória, que teve com o Pai desde a fundação do mundo, para que os seus não ficassem órfãos ele os enviou seu Espírito.

À implicação de que os seus não suportariam a orfandade, segue-se um desdobramento: o Espírito Santo supriria o papel de Pai que ele havia desempenhado. Portanto o remédio para a orfandade do Senhor Jesus era - e ainda é - a presença do Espírito Santo.

Mediante o Espírito Santo os seus não foram apenas capacitados a desempenhar a missão que dele receberam, mas tornaram a desfrutar de sua presença e de sua paternidade.

Capacitados e protegidos, aqueles por quem morreu, desfrutam mediante o Espírito Santo, das mesmas bênçãos que os discípulos e os apóstolos desfrutaram tempos atrás.

Essa é mais uma das grandes bênçãos que o Espírito Santo nos traz. Bênção que quase não é lembrada em nossos dias confusos.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Mais atual do que eu imaginava

Devido a uma viagem não postei o texto semanal, porém gostaria de sugerir um releitura de "Coisas importantes" http://folton.blogspot.com.br/2010/05/coisas-importantes.html que escrevi sobre a copa de 2010.

Fôlton