sábado, 26 de setembro de 2009

Os últimos dias

Em seu discurso, na manhã de pentecostes, o apóstolo Pedro deixou claro que estamos vivendo os “últimos dias”. Ou seja: O período de tempo que estende-se do nascimento do Senhor Jesus à sua volta (o “último dia”).

O Senhor Jesus alertou-nos que esses “últimos dias” se caracterizariam por um aumento gradual das dificuldades com o surgimento de falsos cristos e falsos profetas operando milagres com o objetivo de enganar os eleitos de Deus. Tal período terá fim com eventos cósmicos notáveis e com sua volta.

O apóstolo Paulo, chama os “últimos dias” de tempos difíceis e explica que, egoísmo, avareza, vanglória, arrogância, blasfêmia, desobediência aos pais, ingratidão, irreverência, desafeição, falta de perdão, calúnia, desregramento, crueldade, inimizade ao bem, traição, atrevimento, vaidade, hedonismo, ateísmo e hipocrisia serão as marcas da sociedade desses dias.

Paradoxalmente o escritor da Carta aos Hebreus, afirma que nesses dias a revelação divina será a expressão exata do ser de Deus: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser... ” (Hb 1.1-3).

Não tenho espaço suficiente para escrever tudo o que as Escrituras dizem sobre este período. Que nós vivemos estes “últimos dias” não tenho a menor dúvida, mas estamos perto do fim deles ou não?

Todas as gerações que nos antecederam pensavam que seriam a última. O próprio apóstolo Paulo julgava-se tão próximo que esperava ver a volta do Senhor.

Mas nossa geração tem direito a algum destaque: Nunca a população de nosso planeta foi tão grande. As reservas de subsistência - água e alimentos - já foram ameaçadas diversas vezes, porém nunca de forma tão violenta. Sempre houve problemas de saúde, às vezes atingindo mais de um povo, entretanto nunca em escala planetária, muito menos na velocidade de propagação que vemos hoje.

Nunca o mundo esteve tão conectado. Não só pelos meios de comunicação como especialmente pela economia. E finalmente todos os países e nações passaram a ter um inimigo comum (talvez o primeiro passo em direção a um governo mundial): as mudanças climáticas.

Provavelmente nossa geração não seja a última, mas certamente é uma geração sui generis.

Fica-nos, ainda hoje, a advertência do apóstolo Pedro:

Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas.

Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão.

Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça (2Pe 3.9-13).

sábado, 19 de setembro de 2009

Obreiros da Iniquidade

Acaso, não entendem todos os obreiros da iniqüidade,
que devoram o meu povo, como quem come pão,
que não invocam o SENHOR?

Salmo 14.4

O termo “obreiros da iniqüidade”, usado acima pelo salmista Davi, é consistentemente repetido, dentro de contextos semelhantes, em dois outros Salmos: o 36 e o 53.

Nestes três Salmos o contexto geral é a humanidade perdida em rebeldia contra Deus, insensatamente duvidando até de sua existência.

No Salmo 14 Davi impreca contra os que devoram o povo de Deus como quem come pão. No Salmo 36 Davi os vê tombados e derruídos sem poderem se levantar. E no Salmo 53 o mesmo Davi altera apenas algumas frases do 14, de modo a estendê-lo também ao Povo de Deus que estava sitiado, pois no outro ele falava da linhagem dos justos sendo ridicularizada.

Em um Salmo os obreiros da iniqüidade ridicularizam a linhagem dos justos, no outro sitiam o povo de Deus e no outro Davi os vê derruídos.

Quando o Livro dos Salmos foi traduzido para o grego, o termo hebreu para obreiros da iniqüidade (que também pode ser traduzido por fazedores de tristezas, causadores de problemas) foi consistentemente vertido pelo que seria literalmente “obreiros sem lei”. Entretanto permite enxergar traços de outros sentidos: Os que investem na ilegalidade ou pessoas que praticam o que a lei proíbe. É claro que a lei a que se refere é a Lei de Deus.

Porém, o bem mais precioso que essa tradução legou-nos foi cunhar um termo que será repetido por nosso Senhor Jesus em um contexto prático: “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade” (Mt 7.22-23): “Praticantes da iniqüidade”.

Observe que o significado tornou-se mais determinado. Davi, o primeiro rei de Israel segundo o coração de Deus, o usou para caracterizar aqueles que “metiam a ridículo a linhagem do justo” ou “sitiavam o povo de Deus”, e os via derruídos. Jesus, a Raiz de Davi, o último rei de Israel, o real Coração de Deus, usa o mesmo termo para referir-se àqueles que alegam merecer seu favor, por terem a capacidade de, em seu nome, profetizar, expelir demônios e fazer muitos milagres.

Observe que o Senhor Jesus não disse que eles não faziam o que alegavam fazer. Observe também que eles convenceram si próprios de que, por fazerem tais coisas, possuíam algum tipo de familiaridade com Jesus. Tanto é que não hesitam em lançar na face dele que agiram em seu nome. Porém para Jesus eles eram o que Davi já havia denominado: “obreiros da iniqüidade”.

Finalmente veja uma constante: em todos os textos é dito deles que são traidores do povo de Deus. Nos Salmos 14 e 53 são descritos como quem devora o povo de Deus com a naturalidade de quem come um pedaço de pão. No Salmo 36 são descritos como o pé insolente que procura calcar e a mão ímpia que tenta repelir. E no Sermão do Monte o Senhor Jesus os descreve como lobos que se vestem de ovelhas.

A conclusão parece óbvia: Os obreiros da iniqüidade estão dentro do povo de Deus. Dentro o suficiente para devorá-los. Acham tão natural as peles de ovelha que vestem, que enganam-se a si mesmos, alimentam-se do povo de Deus como alimentam-se de pão. Devoram as ovelhas do Senhor como lobos roubadores que são. A ordem do Senhor Jesus não podia ser mais clara: Acautelai-vos deles.

sábado, 12 de setembro de 2009

Tempo de plantar

Broto de Uva Setembro chegou e com ele o calor se anuncia e as chuvas já ameaçam cair. Aproxima-se o tempo de plantar.

Nesta época a terra, qual forno, aquece e quebra as sementes. As chuvas as refrescam e as fartam de nutrientes. Logo nascerão plantas novas. As mangueiras já estão florindo, breve as manguinhas, e as demais frutas da época estarão prontas para ser colhidas.

Os frutos podem ser consumidos in natura, ou preservados. Alguns serão secos, outros serão cozidos em compotas e outros ainda serão prensados, fermentados ou destilados, nos mais variados líquidos.

Para compensar o desconforto do calor muitos aromas invadem a noite e o sono e nos renova a certeza de que o Amado de nossa alma nos provê daquilo que não conseguiríamos mesmo levantando de madrugada, dormindo tarde e penosamente nos afadigando sob o sol.

Para compensar a noite mal dormida ele nos acordar ao som dos passarinhos que nos certificam - como a pomba certificou a Noé que as águas haviam baixado - que suas misericórdias se renovaram naquela manhã.

Essa bendita variação do tempo nos traz muito mais do que sabores, aromas e sons agradáveis: renovam a certeza de que, o Pacto feito com Noé ainda vigora e pode ser por nós desfrutado.

É a graça. Todas essas coisas são mantidas pela graça divina e sem ela nada se renova.

Dia desses vi diversas mudas prontas para formar um vinhedo - essas que estão na foto - e observei que algumas já estavam brotando. Lembrei-me da mangueira frondosa vizinha de meu quarto e que, no final do ano, marcava a passagem da noite com baques surdos das mangas mais maduras derrubadas pela brisa cálida vinda do rio e lembrei-me também das palavras de nosso Senhor: “todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele (o Pai) corta e o lança fora”.

A igreja de Antioquia - aquela que enviou Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária que as Escrituras registram - sofreu esta sanção. Dela hoje só temos uma caverna com ares de impostura para turismo. E as demais igrejas? Você já reparou que nenhuma igreja mencionada no Novo Testamento continua de pé? A menos que você considere de pé a igreja de Roma.

Aguardo ver um broto no tronco que sobrou da mangueira, como vi aquele broto da vinha. Entretanto, temo que os dias estejam mais para a missão de Isaías que ao se voluntariar com “eis-me aqui, envia-me a mim”, recebeu a dura missão de falar a santa mensagem até sobrar apenas o toco. Toco como o da mangueira de meu vizinho.

Temo que as palavras de João estejam se cumprindo “E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Lc 3.9).

É tempo de plantar. Tanto nos campos quanto em nossas vidas. Plantemos na confiança de boas colheitas de cereais e frutas, mas principalmente do único fruto que se entesoura para a vida eterna.

domingo, 6 de setembro de 2009

Por que a Igreja de vocês não se moderniza?

“Por que a Igreja de vocês não se moderniza?” Foi com esta pergunta que um senhor bem vestido e perfumado encerrou nossa conversa aborrecido por eu não consentir com a apresentação de “seu cantor” no culto de nossa igreja.

Eu já havia argumentado que em um culto cristão não há apresentações e sim louvor, ao que ele respondeu: “Mas é só louvor, ele não vai cantar música do mundo”. Tentei explicar que o louvor em um culto não significa apenas o tipo de música, mas principalmente a intenção com que ela é cantada. “Mas ele vai fazer apenas uma apresentação dos últimos sucessos para que os membros da Igreja possam cantar músicas novas depois”.

Cada argumento meu era rebatido por ele.

Mantive-me dentro dos elementos bíblicos do culto e ele enfatizou o quanto perdíamos não recebendo seu cantor: “ele canta bem, vai limitar seu repertório ao que é usual nas igrejas presbiterianas conservadoras, e ...”. Daí entendi que havia um repertório para outras denominações bem como para as presbiterianas não conservadoras.

E os 15 minutos pedidos por ele me pareciam uma eternidade. Seu último argumento foi: “O rapaz ainda é novo mas canta tão bem que o pastor dele já o ungiu ministro de música: um levita ...”.

Não me contive: “Um levita? Como no templo de Salomão?”

Diante da confirmação me esqueci dos 15 minutos, e do restante da rotina matinal. Tentei mostrar-lhe o anacronismo, - pra não dizer a bobagem - que ele estava falando. Tentei, mas não consegui, pois ele levantou-se furioso e soltou a pergunta que encabeça esta narrativa: “Por que a Igreja de vocês não se moderniza?”

Ele não referia-se a nossas instalações, ou a beleza de nosso templo, muito menos a funcionalidade das salas de aula ou de nosso escritório, do contrário eu teria respondido de pronto: “Por falta de recursos”.

Sua pergunta era retórica. Ele, na verdade, protestava contra uma organização que tinha por superada.

Depois, pensando no acontecido, imaginei que possa haver quem pense assim também. Alguns irmãos confirmaram que existe. Resolvi então tornar público o assunto e responder a tal pergunta.

Em um assunto como esse a Igreja não pode “se modernizar”, pois contrariará a Bíblia. Um exame na história do povo de Deus mostra que ele passou por fases bem determinadas. Houve o tempo dos patriarcas, o tempo dos juízes, o tempo dos reis e hoje o tempo do “sacerdócio universal”.

Nesses primeiros tempos os oficiais representavam os seus diante de Deus. Hoje cada um se representa diante de Deus. Ou seja: cada um é sacerdote de si mesmo, perante o sumo-sacerdote Jesus. Portanto o Povo de Deus presta culto. Não assiste, nem é mediado diante de Deus. Cultua. Cultua em Espírito e em verdade.

No culto cristão os cânticos apesar de importantes, não são essenciais. Na realidade não têm importância alguma diante de uma vida de culto. Mesmo que não se cante coisa alguma, se dois ou três estiverem reunidos em nome do Senhor Jesus ele garante que estará com eles. Entretanto o inverso não é verdadeiro.

Não é o cântico que faz o louvor. É uma vida de louvor que se expressa em cânticos.

O cântico sem respaldo de uma vida consagrada é abominação diante de Deus, e uma vida consagrada não precisa de cânticos, embora na maioria das vezes faz com que os lábios abram-se em cânticos, que, mesmo desafinados, são agradáveis a Deus por que procedem de quem o honra.

Mas, e a apresentação? Essas são apenas shows. Jamais alcançam um status de culto. Seja a mais bela cantata de Bach ou a performance mais leonina da mais conceituada artista. E, show por show, é melhor assistir aos profissionalmente bem feitos.


BH 6/9/2009