domingo, 25 de fevereiro de 2007

Duas Comissões

Voltamos do acampamento de carnaval com ânimo novo. Lá nos divertimos e descansamos, mas também pensamos sobre a Palavra de Deus e sobre nossas responsabilidades.

Seria difícil dizer o que falou mais ao meu coração, porém, de tão oportuna, vale a pena registrar, para os irmãos que não puderam ir, uma das palestras feita pelo Rev. Carlos del Pino, baseada no texto da grande comissão conforme foi registrado por Mateus.

Ele chamou nossa atenção para a posição em que o relato do suborno da guarda do túmulo de Jesus está colocado.

Abra sua Bíblia e veja: é o último capítulo. Nos 10 primeiros versículos Mateus conta como se deu a ressurreição de Jesus. Na última porção do capítulo Mateus narra o encontro de Jesus com os 11, e o que conhecemos como a “Grande Comissão”.

Porém, entre a ressurreição do Senhor e sua Comissão, os guardas, sem que ninguém os mande, vão avisar as autoridades judaicas que ele ressuscitara.

Esses dois anúncios da ressurreição do Senhor podem ser contrastados sob diversas formas:

1. O Anúncio da ressurreição do Senhor pelos guardas corresponde em um primeiro aspecto ao mesmo anúncio feito pelas mulheres, mas em um segundo aspecto corresponde também à mensagem central da Igreja de então: “...davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus”.

2. Ninguém ordenou que os guardas anunciassem a ressurreição do Senhor. A Igreja, porém, recebeu tal ordem, e depois da diligência inicial, foi preciso sofrer perseguição para sair mundo afora.

3. Era de se esperar que os guardas fossem anunciar a seus oficiais superiores, não às principais autoridades religiosas judaicas. Mas, isso seria uma confissão de dever não cumprido - cuja penalidade era a morte - e avisando aos mais interessados na derrota do Mestre, eles além de fazerem uma ameaça velada de tornar pública sua vitória sobre a morte, vislumbravam alguma recompensa para ficarem calados.

Duas formas de se anunciar a mesma verdade. Uma em obediência ao Senhor. Outra por “sórdida ganância”. Uma sofrendo pela verdade. Outra, esperando, firmemente a menor desculpa, para contar uma mentira.

Francamente, tenho visto com grande regularidade a “grande comissão do guardas”, mas peço a Deus, de todo coração que ele não nos deixe quietos. Pelo contrário, apesar de tantos falsos divulgadores do Evangelho, não deixemos de cumprir a verdadeira Grande Comissão do Senhor.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Inversão de valores

A morte do garoto João Hélio trouxe a tona medo, revolta, idéias sobre penalidades mais severas, mas não uma discussão sobre o papel do Estado como “Agente Vingador de Deus”.

Hoje o Estado é o que “O Legislador” determinou. Entretanto, “O Legislador” representa quem o elegeu e carrega em si seus valores ao ponto de vermos nas casas legislativas, em escala menor, tanto as mazelas como as qualidades de seus eleitores.

Temos de considerar também que “O legislador” não é um só, e sim a mistura de um número enorme de interesses, desde os mais nobres aos mais escusos, desde os mais sensatos aos mais casuísticos.

Portanto, o que ele produz reflete tanto o que ele é quanto o que seus eleitores são. E na luta para agradar “gregos e goianos”, nada mais normal do que buscar uma legislação mais neutra possível, mais isenta de valores religiosos que se consiga, pois nem todos os eleitores são religiosos e, além do mais, é melhor não ferir religião qualquer.

O problema é que todos os nossos conceitos, mesmo os que pareçam menos religiosos, são frutos de uma sociedade formada dentro de valores religiosos cristãos. E, um dos valores do cristianismo, por exemplo, é a “não vingança”.

Hoje dizemos que esta é uma das marcas de uma sociedade avançada, onde reina a justiça. Porém, é um valor cristão.

Mas infelizmente paramos aí - não vos vingueis - enquanto a instrução total é: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19).

Ou seja: Deus reivindica para si a administração da vingança. Mas, paradoxalmente, a delega ao Estado: “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela; porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra aquele que pratica o mal”. (Rm 13.1-4).

Esse texto foi escrito quando Nero estava no poder, que conquistou através dos meios mais escusos que se possa imaginar. Porém ele “vinha de Deus”, “foi ordenado por Deus”, “era ministro de Deus” e não trazia a espada por enfeite.

Esta instrução do Novo Testamento é rejeitada porque Nero matou muitos cristãos, que fizeram o bem e não “tiveram louvor dele”. Mas isso não anula o princípio. Como governante mau ele prestou contas a Deus e seus próprios erros serão vingados por Deus em atendimento as orações dos mártires que clamam por vingança, mesmo acolhidos debaixo do trono divino (Veja Ap 6.10).

A aplicação da justiça, pura e simples – para um olho, um olho; para um dente, um dente; e para uma vida, uma vida – não é sinal de barbárie, mas de obediência a Deus. O Estado não pode eximir-se deste papel, pois é sua obrigação.

Hoje, como cidadãos modernos, não falamos mais em vingança, mesmo que Deus tenha estabelecido um vingador. E, refletindo nossa vontade “O legislador” isentou o Estado dessa obrigação: a quem Deus determinou a missão de vingador transformamos em educador.
Resultado: 1) o crime fica impune, 3) a ressocialização não ocorre, e 3) a família, que recebeu a missão de educar, as vezes, age como vingador.

Tenho consciência de que esse assunto é muito mais complexo. Porém, do mesmo modo que Deus proíbe que nos vinguemos, e nos obriga a preparar nossos filhos para viver em sociedade, proíbe ao Estado deixar impune o criminoso.

Essa morte tão bárbara nos alerta a educar melhor nossos filhos e ao Estado a não abrir mão de sua obrigação.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

A que compararei o Reino de Deus?

No segundo ano de seu ministério o Senhor, ensinando através de parábolas, pergunta: “A que compararei o Reino dos Céus? A que é semelhante?”

Não é uma pergunta retórica – daquelas que se faz quando se quer ouvir uma determinada resposta – e sim a dificuldade de expor realidades espirituais para quem nasceu e continua em pecado, em rebelião contra Deus.

Como haveriam de entender se os olhos estavam cegos, os ouvidos surdos e o coração endurecido? Era preciso recobrar-lhes a vista, restaurar-lhes a audição e falar-lhes ao coração. E a voz que disse “haja luz” e houve luz, passa a apresentar o que ele mesmo chamou de “mistérios do Reino”: seu Espírito Santo levará a mensagem dos ouvidos ao coração de cada ovelha de seu Rebanho: aquelas que ouvem sua voz e o seguem.

Um dos mistérios do Reino é ter aparência fraca como a semente ou como o fermento. A semente de mostarda. A menor de todas. Porém, forte bastante para brotar sozinha, sem que o semeador saiba como. Forte também para se tornar a maior de todas as hortaliças e suportar aves em seus galhos. Explicando, ele diz que a semente é a Palavra de Deus.

O fermento sempre em pitadas, no entanto leveda a tudo com que entra em contato.

Outro mistério é ser altamente desejável para os que o conhecem. Como um tesouro escondido no campo, ou como uma pérola de grande preço.

Outro mistério ainda é ser como uma rede de pesca, que a tudo pega, porém, assim como a semente, jogada nos quatro tipos de campo, só vingou em dois e só frutificou em um, assim também apenas alguns peixes são selecionados.

Aproximando-se da morte e sendo cada vez mais questionado, as parábolas, através das quais o Senhor falava do Reino dos Céus, ganham cores mais fortes. Passam a falar de perdão e recompensas no Reino.

Em uma o Reino dos Céus é comparado a um rei que resolveu ajustar as contas com seus servos. Como não podiam pagar perdoou-lhes as dívidas. Mas em seguida toma vingança do que lhe devia mais e que se recusava a perdoar uma pequena dívida de um conservo.

Noutra, compara o Reino dos Céus a um “dono de casa” que sai de madrugada, na metade da manhã, ao meio dia, na metade da tarde e ao entardecer, e contrata trabalhadores para sua vinha. Aos contratados de madrugada prometeu um denário, aos demais prometeu o que for justo. Entretanto, para o desapontamento dos primeiros que esperavam mais, ele pagou a todos igualmente.

E, por fim, as cores fortes assumem ares dramáticos quando ele passa a falar de castigo. Compara o Reino dos Céus a um rei que celebrou as bodas de seu filho, que, indignado com o pouco caso que os convidados fizeram de seu convite e do tratamento dado a seus servos que levaram o convite, enviou suas tropas, exterminou a todos e queimou-lhes a cidade.

Mas o desfecho, a última parábola, registrada por Mateus, sobre esse assunto, compara o Reino dos Céus a dez virgens, que saem para encontrarem-se com o noivo. Cinco delas, prudentemente, levam suprimento de reserva para suas lâmpadas e à meia-noite encontram-se com o noivo, enquanto as outras cinco, néscias, procuravam azeite para suas lâmpadas que se apagavam.

De tão rico o Reino dos Céus, só pode ser descrito, em seus muitos aspectos àqueles que esperam por ele. Que anseiam por ele. E mesmo para esses, o Reino é mostrado por figuras. Figuras que vão de sua formação, como a semeadura, até sua consumação: o castigo dos que desdenharam dele e o encontro dos súditos prudentes com o rei.

Semelhante a muitas coisas que conhecemos, mas diferente de outras tantas. Principalmente daquilo que gostaríamos que ele fosse. Pois, afinal, o Reino dos Céus não é uma democracia, onde os governantes são tão bons quanto seus governados e refletem suas peculiaridades e mazelas.

O Reino dos Céus, que já está presente no coração de seus súditos, ainda não se manifestou visivelmente a todos. Questão de tempo. Logo ele se manifestará.

Nos preparemos para recebê-lo.