sábado, 27 de fevereiro de 2010

À mesa com Jesus







Você já reparou a quantas festas, banquetes, jantares ou ceias os Evangelhos narram que nosso Senhor compareceu? Logo de começo há a festa do casamento em Caná, onde, da água, fez o melhor vinho.
Que alegria deve ter permeado a casa de Lázaro enquanto o Senhor ceava. Pelo menos duas vezes: uma quando Marta atribulada com as comidas reclamava de Maria quedada aos pés do Senhor e outra quando Maria o ungiu.
Que clima pesado deve ter se abatido sobre todos quando o fariseu Simão, depois de convidar Jesus pra jantar, o recebeu com desdém. Será que alguém conseguiu comer algo?
Mas, acaso podemos nos esquecer do banquete dado pelo publicano Levi, que, de tão alegre, encheu sua mesa de antigos colegas de profissão? E o que dizer da recepção na casa de Zaqueu, o chefe dos publicanos? E assim, quantas vezes o Senhor está em companhia de publicanos e pecadores – seus doentes que precisavam de médico – e quantas vezes ele foi censurado por isso? Ele mesmo estava cônscio de que o tinham por “glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores”.
Muitas vezes ensinou usando alimentos como exemplos. Com eles explicou que a impureza não está naquilo que entra pela boca, mas no que sai dela. Prometeu – mesmo sendo Senhor – servir aos servos fiéis o pão dos céus à mesa com Abraão, Isaque e Jacó.
Em uma de suas parábolas comparou o Reino de Deus a um banquete de casamento e, para ensinar sobre o perigo de se ter o coração neste mundo, contou outra parábola em que um rico satisfeito com sua colheita exorta sua alma: “come, bebe e regala-te”.
Ensinou-nos a dar banquetes a quem não os pode retribuir e criticou os escribas e fariseus por amarem o primeiro lugar neles.
Disse que seu corpo era verdadeira comida e seu sangue era verdadeira bebida, e convidou aos sedentos “se alguém tem sede, venha a mim e beba. E selou-nos a afirmação “quem de mim se alimenta, por mim viverá” repartindo o pão e o cálice e ordenando-nos a tomá-lo em sua memória.
Comeu muitos tipos de comida e a preparação de alimentos serviu-lhe de motivo para parábolas. Procurou figos temporãos e conhecia bem as estações da oliveira. Gostava de peixes: multiplicou-os duas vezes, preparou-os na brasa e os comeu com mel. E foi reconhecido pelos dois de Emaús à mesa, ao bendizer o alimento.
Participava das páscoas desde cedo, nas quais se comia desde ervas amargas até um cordeiro assado. E, da última que participou, tomou um pedaço de pão e o último cálice de vinho e, com eles despediu-se dos seus e com o mesmo pão e com o mesmo vinho alimentou Judas para sua própria perdição, agravada pelas palavras do profeta: “Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu calcanhar”.
A mesa que lhe proporcionava o prazer da companhia trouxe-lhe a tristeza da traição “O que mete comigo a mão no prato, esse me trairá”. E, na cruz, em vez vinho, que deixou como recordação de si, e com o qual começou seus milagres, como bebida recebeu vinagre.
Muitas bênçãos são tipificadas na Bíblia por alimentos. A própria descrição da Terra Prometida dizia da quantidade de pastos bons e da exuberância de suas flores, que era como se dela manasse leite e mel.
Aquele que experimentou a alegria do convívio a mesa, é o mesmo que aguarda por nós, para juntos, tomarmos o “vinho novo” que ele aguarda ansiosamente para nos servir.
Vem logo Senhor Jesus.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A ira do Cordeiro

Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos

e todo escravo e todo livre

se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes

e disseram aos montes e aos rochedos:

Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono

e da ira do Cordeiro,

porque chegou o grande Dia da ira deles;

e quem é que pode suster-se?

Apocalipse 6.15-17

Parece ser uma contradição de termos: Cordeiro e ira. Parece que não se encaixa no que a mentalidade moderna imagina ter sido Jesus. Entretanto o texto não poderia ser mais claro: o Cordeiro ira-se.

Já nos dias de sua carne irava-se. Talvez o episódio mais conhecido seja o da purificação do templo, mas outros episódios mostram mais claramente sua ira. Por exemplo: as discussões com os fariseus. Escute suas palavras: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (João 8.44).

Mateus, no capítulo vinte e três de seu Evangelho, narra não uma discussão, mas uma imprecação de nosso Senhor. Nesta imprecação, por sete vezes o Senhor usa a frase “ai de vós escribas e fariseus hipócritas”. Na primeira vez condena a vaidade que tinham. Na segunda condena a exploração das viúvas a pretexto de orações. Na terceira condena seu “afã missionário” que disseminava a condenação eterna.

Uma frase, que entra como pausa, revela-se terrível, pois reserva aos mesmos destinatários o título de “guias cegos” e condena a valorização que eles davam aos símbolos de culto em detrimento daquilo que simbolizavam.

Ao retornar às sentenças “ai de vós escribas e fariseus hipócritas” ele condena outros comportamentos: Na quarta condena a observação meticulosa de detalhes em detrimento dos “preceitos mais importantes da Lei: justiça, misericórdia e fé”. Na quinta condena a preocupação com a limpeza externa em detrimento da limpeza da alma. Na sexta condena o cultivo da imagem em detrimento do interior ao ponto de chamá-los sepulcros caiados: brancos por fora e pútridos por dentro. Na sétima condena a hipocrisia de fazer monumentos a justos que foram mortos por seus pais que viviam como eles também viviam. E termina em terrível condenação: Serpentes. Raça de Víboras! Como escapareis a condenação do inferno?

Há relatos do Senhor Jesus triste com a incredulidade do povo e há relatos que o mostram condoído dos que ele mesmo descreve: “Como ovelhas sem pastor”. Mas só o encontramos irado com os que deveriam zelar pela religião e não faziam.

Será que não podemos traçar algum tipo de paralelo com o que ocorre hoje? Podemos e devemos.

Tenho pena de quem procura a Deus nessas modernas fábricas de louvação e pajelança e duvido da intenção da maioria de seus líderes, pois vejo que todas as oito características condenadas por Jesus nos de sua época são encontradas neles também.

Há, entretanto um agravo: os de hoje são piores do que aqueles de quem Jesus disse que não haveriam de escapar da condenação do inferno.

Sobre aqueles, Jesus ordenou: “Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem” (Mateus 23.13). Quanto aos de hoje, não podemos imitar. Nem o que ensinam muito menos o que praticam sob o risco de nos tornarmos réus da ira do Cordeiro diante da qual “ninguém pode suster-se”.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Pedro e o futuro

Tenho a forte impressão de que todos nós gostaríamos de receber ordens diretas do Senhor. Como seria bom conhecer o que ele deseja de nós e que fim ele nos reserva. Na verdade ele já fez isso a algumas pessoas e hoje quero falar de uma delas.

Após sua ressurreição, e embora tivesse mandado uma mensagem a Pedro por Maria Madalena, e até lhe aparecido, junto com os demais discípulos, ainda não havia falado diretamente com ele. A consciência de Pedro o remoía, desde que negara a Jesus. A falta de uma palavra pessoal de Jesus o desnorteava.

Em uma madrugada, em que ele procurava esquecer-se de tudo afadigando-se no trabalho, Jesus o chamou (veja mais sobre isso). Mas não foi um chamado qualquer. Foi mais um acerto de contas.

Se três vezes ele o negara, três vezes ele seria questionado sobre seu amor. E a cada vez em que ele declarava-lhe amor o Senhor o encarregava de cuidar de suas ovelhas.

A terceira declaração de Pedro foi diferente. Não estava carregada de certezas, mas do reconhecimento da própria fraqueza e de submissão. A esta última, além da ordem de cuidar do rebanho, o Senhor acrescentou “Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres”. E João a interpreta: “Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus” (Jo 21.18-19).

Que declaração fascinante! Dada por quem sabia que isso iria acontecer, não por ter previsto, mas porque determinou.

Pedro ficou sabendo que chegaria a velhice, que sua morte não seria de causas naturais, que seria manietado e levado, contra sua vontade, ao patíbulo. Pedro teve mais informações sobre seu futuro do que temos sobre o nosso.

Após tais informações o Senhor acrescentou: “Segue-me”. Pedro obedeceu literalmente e viu que João, sem ser chamado, seguia a Jesus também. Por preocupação, ciúmes ou por qualquer outro motivo que não sabemos, ele perguntou a Jesus: “Senhor e a respeito deste?" (v21 tradução minha).

Se Jesus já tinha parecido ríspido na tríplice confrontação de Pedro, e mais ainda ao declarar seu futuro, sua rispidez aumentou: “Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu” (v22 Versão Corrigida).

Todas as vezes que falo do grande consolo que recebemos quando o Espírito Santo confirma em nosso coração o chamado de Deus, sempre alguém me interrompe: - e os coitados que não foram chamados? Deus vai deixar que todos sejam condenados?

É o comportamento de Pedro: Recebemos do Senhor a certeza bendita que fala mais alto a nossos corações do que ordens gritadas a nossos ouvidos. Mas, nossa curiosidade - especialmente se estiver associada ao ciúme - é implacável!

Quantos pedros trocam a alegria de seguir o Senhor pela curiosidade mórbida sobre seu irmão? Será que ele foi mais agraciado por Deus? Será que ele está com inveja de mim?

Nunca me esqueço de um Senhor que se orgulhava de ser humilde e fazia questão de relembrar a todos desta sua qualidade, até mesmo em suas orações.

Felizmente o Senhor não desiste dos que chama. Até os servos inúteis escutarão sua voz: “esqueça os outros e siga-me”.

Não troque a alegria de segui-lo pela maior curiosidade que sinta ou pelo maior prazer que lhe for proposto. A cruz junto dele é mil vezes preferível a qualquer riqueza, prazer ou satisfação.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Seja feita a tua vontade.

Nada é tão difícil para um cristão quanto dizer a Deus, com sinceridade “seja feita a tua vontade”. Especialmente como um pedido.

Hoje já não conhecemos o que é obedecer apenas por obedecer. Para cada preceito a que obedecemos exigimos um sentido, uma coerência lógica bem fundamentada.

Agora veja a situação: se necessitamos ser convencidos da razoabilidade daquilo a que vamos obedecer, como poderemos entender toda extensão do que significa pedir “seja feita a tua vontade”?

Talvez até estejamos dispostos a fazer tal pedido quando os resultados forem indiferentes. Como recentemente ouvi a respeito de um carro novo: “eu queria um verde claro, mas o vendedor me disse que o modelo novo só era fabricado naquele tom meio azulado. Então pensei: seja feita a vontade de Deus”.

Reparou? Será que isso é uma submissão à vontade de Deus? Aliás, não é um exemplo claro de se tomar o nome de Deus em vão?

Quando é a vida de um querido que está ameaçada, ou nosso próprio destino que está sendo definido, pensamos duas vezes antes de dizer - se dissermos - “seja feita a tua vontade”.

Fazer a vontade do Pai foi o motivo pelo qual o Senhor assumiu nossa natureza sujeitando-se às vicissitudes próprias de nosso estado. Veja o que ele mesmo diz: “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou” (Jo 6.38).

Fazer a vontade do Pai era seu prazer: “Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4.34).

Às vésperas da cruz ele orou: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua” (Lc 22.42).

De fato, não há declaração mais difícil para um cristão dizer com sinceridade. Entretanto, da vontade de Deus, depende nossa própria existência e não apenas nossos relacionamentos, prosperidade ou saúde.

As Escrituras afirmam que o bom cônjuge é dádiva de Deus, bem como nos exortam a pedir sua bênção sobre as obras de nossas mãos. E a saúde? Acaso viria de outrem que não o próprio Criador? Ou seja: dependemos de sua vontade até para escolher com quem vamos dividir nossos dias (escolha que cremos fazer em total liberdade). Poderíamos então fugir de sua vontade?

Submeter nossa vontade à dele significa obedecer sem perguntar a razão. O que nossos pais deviam ter feito antes de pecar e o que somente os cristãos verdadeiros (aqueles em quem o Espírito Santo fez morada), conseguem fazer. Talvez esta seja a maior diferença entre um cristão e um não cristão: obedecer sem perguntar o por que.

Este tipo de obediência, que poucos cristãos conseguem e nenhum não cristão é capaz sequer de entender, as vezes machuca. Mas a dor é de pronto recebida como amiga pois é o mesmo tipo de dor que o Senhor sofreu. Junto com ela vem grande consolo espiritual que excede a todo entendimento e nos faz crescer no conhecimento e na graça daquele que sofreu por nós apenas para tornar concreto seu pedido ao Pai: “seja feita a tua vontade”.