domingo, 24 de dezembro de 2006

O Rei, os magos e os guardas

Sempre gostei de escutar as histórias do Elias. Apesar de nossos encontros serem tão curtos, como duas páginas, ele gostava de chamar-se peregrino. Acho que era por outro motivo.

Um dia ele me lembrou de que, quando menino soube de um grande confusão. Jerusalém ficou repentinamente alvoroçada com uma caravana que entrava.

Caravana grande, das que atravessam o deserto e alguns se destacavam como líderes: "magoi", como diziam aqueles que arranhavam a língua grega.

Eles eram descendentes dos antigos alunos de Daniel, que há séculos fora levado ainda jovem para Babilônia, onde, por ter mostrado grande sabedoria, havia sido nomeado chefe deles. Eles sabiam contar o tempo olhando o movimento das estrelas.

Esse Daniel era aquele que, adivinhando e interpretando um sonho do Rei Nabucodonozor, salvou a vida de seus companheiros e dos que já eram chamados "magoi" antes dele, e que, por tentarem enganar o rei, haviam sido condenados a morte.

Foi nessa época que Daniel profetizou quando o Messias havia de vir, e marcou nos calendários deles a época em que isso ocorreria: Uma estrela em determinado posição no céu.

Tão logo a estrela apareceu, os que ainda lembravam dessa profecia, começaram as conversas sobre o que fazer. Depois de algum tempo decidiram ir conhecer o menino e homenageá-lo com presentes. Daí a caravana.

O Elias não sabia bem quanto tempo levaram para atravessar o deserto. Mas atravessaram. E quando chegaram a Jerusalém falando que o rei dos judeus havia nascido o alvoroço se instalou. Não fazia muito tempo, Herodes, que reinava em Jerusalém, havia matado a própria mulher e um filho por suspeitar que conspiravam para tomar o trono.

Raposa velha, Herodes não demorou a saber dos próprios conselheiros onde, especificamente, as profecias diziam ser o lugar do nascimento. Ele também conhecia a profecia, mas não sua data. Belém: foi a resposta unânime.

“Vão adorá-lo e depois me digam onde é para eu ir também”. Disse Herodes aos “magoi” enquanto pensava: jogada de mestre. Depois pego todo mundo.

O Senhor Deus não permitiu que ele chegasse a tanto. Porém, todos souberam que os estrangeiros estavam mais atentos aos tempos de Deus do que os sacerdotes de sua própria casa.

Ouvi o Elias com atenção.

Eu sempre escutara falar dessa história, mas com o passar do tempo ela tinha se tornado tão fantasiosa que já se falava que apenas 3 homens haviam atravessado o deserto com tantos presentes. Três tipos de presentes. Quem sabe a confusão não tenha começado aí.

De fato. Quando o Senhor assumiu nossa natureza, estrangeiros vieram de longe atestar seu nascimento trazendo-lhe presentes. Curiosamente, quando ele ressuscitou, outros estrangeiros, que, a exemplo dos primeiros, não tiveram seus nomes registrados e sequer sabemos quantos eram, receberam bastante dinheiro para ficar calados sobre sua ressurreição.

Que ironia. Uns correm risco de vida e dão do que possuem para dizer bem alto: O Messias nasceu. Outros, com medo da morte e fascinados pelo dinheiro, calam-se diante de algo muito mais difícil – afinal que provas o menino tinha de ser o Rei do Judeus? Nenhuma. Só a estrela, que sequer foi percebida em Jerusalém, pois Herodes teve de perguntar aos "magoi" a data precisa em que ela aparecera.

Porém os guardas estavam diante de um sepulcro vazio, selado com uma pedra muito grande e foram testemunhas de um evento que os deixou assombrados – como mortos – mas o vil metal, que cala a maioria dos homens, calou a deles também, e ninguém gritou: O crucificado ressuscitou!

Magos e guardas... quando me encontrar com o Elias já temos o que conversar.


* Agradeço ao Rev. Elias Medeiros sua pesquisa sobre os 'magoi'.

sábado, 16 de dezembro de 2006

Quando as palavras já não significam o que significavam

Com tanto para falar sobre a encarnação do Senhor e de como ele se tornou um de nós, preciso falar hoje sobre o caminho em que peregrinamos. Então, vamos lá.

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Há uma semana recebi um cartaz para colocar no mural. Azul claro, com um desenho estilizado de uma pomba no canto superior esquerdo, dá toda ênfase às palavras FRUTO DO ESPÍRITO escritas em estilo Vivaldi com letras douradas, bem rebuscadas.

Logo veio a minha mente a Carta aos Gálatas. Afinal, ali estava uma pomba (tradicional símbolo bíblico para o Espírito Santo desde o Batismo de Jesus) e, como na Bíblia, a palavra estava no singular: Fruto! Não frutos.

“Amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio”? Não: Ballet, Jazz, Circo, Street Dance e Dança Contemporânea. Que podem até ser frutos de um espírito amante das artes, mas nunca serão o FRUTO DO ESPÍRITO de quem assumiu nossa natureza.

Preciosismo lingüístico? Não. Alerta contra a polissemia das palavras que, fora de seu sentido, passam a servir de recursos de marketing. Bem intencionado? Pode ser. Blasfemo? Sem dúvida.

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Duas semanas atrás, após uma série de curvas na estrada que leva à BH, duas crianças, que brincavam alegres durante toda a viagem, ficaram repentinamente quietas. Pai experiente de duas, tratei logo de puxar minha mala para o outro lado. Não demorou muito e as golfadas de vômito vieram. Vieram acompanhadas das imprecações da avó, que até então cuidou deles com desvelo.

As golfadas eram acompanhadas por exclamações assim: “ô bênção”, “esse menino(a) é uma bênção”, “o sangue de Jesus tem poder”, “ah, Jeová, tem piedade”, etc.

Saí desolado: O cheiro nauseante do vômito e meus sapatos pisando nele, eram nada perto do que ecoava e repetia-se em meus ouvidos.

Perdi a paciência: “Minha senhora, pelo simples vomitado das crianças a senhora invoca o sangue de Cristo e chama de bênção aquilo que no fim a senhora queria chamar de outra coisa”?
“Melhor do que dizer palavrão”, respondeu ela.

“Mas a Senhora os disse. E disse pior. Pecou duas vezes, pois além de dizê-los ainda os fez com o nome do Senhor. Seria melhor não dizer nada. Toda criança, sob essas circunstâncias, costuma vomitar”.

Exercício explícito de “chatice”? Não. Absolutamente não: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!”

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Queremos ser mais motivados a vir às reuniões da Igreja! Dizia, do alto de sua idade, uma senhora crente, de cuja piedade já me servi muitas vezes como exemplo. Talvez saudosa das estrelinhas que ganhávamos quando criança, todas as vezes que trazíamos a revista e a Bíblia à Escola Dominical, ou, quem sabe, precisasse daquele ânimo dos comerciais “seus problemas acabaram”, que repetem à exaustão as qualidades de um produto, sempre entrecortado pelo refrão “ligue já” ou “se você ligar agora...”.

Eu não sabia o que responder – as vezes fico abestalhado diante de algumas situações – e acho que não respondi. Mas fiquei pensando em como as comunicações entre as pessoas estão se deteriorando: lança-se mão dos textos sagrados para se fazer propaganda. Reclama-se de vômito de criança chamando-o de bênção. Confunde-se a tarefa de quem Deus chamou para expor sua Palavra com a de um publicitário.

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Nossa peregrinação está chegando ao fim. Dizíamos “passarinhos, belas flores, querem me encantar”, mas refutávamos, “adeus terrestres esplendores”. Hoje temos de dizer que quizílias e exemplos mundanos nos impedem de ir mais rápido, de subir às montanhas da fé, de onde avistamos os muros fulgurantes da Jerusalém celeste.

Irmãos: lançamos mão de um arado. Não olhemos para trás.

sábado, 9 de dezembro de 2006

Entre a Manjedoura e o Túmulo (b)

Para nascer na manjedoura nosso Senhor esvaziou-se de si mesmo. Deixou de lado, voluntariamente, alguns dos atributos que o caracterizavam como Deus - por exemplo, a onipresença - e se fez carne. Passou a compartilhar a natureza do que ele mesmo criara. Passou a sujeitar-se ao que ele mesmo estabelecera.

Para repousar no túmulo nosso Senhor abriu mão, voluntariamente, de certos atributos que caracterizam os homens - por exemplo, o apego à vida - e a si mesmo se entregou. Injusta e passivamente sofreu a aplicação do castigo que era devido àqueles que o Pai lhe deu, e, finalmente, voluntariamente, rendeu seu espírito.

Sua manjedoura, emprestada de animais domésticos, teve suas palhas forradas pelas faixas em que foi envolto, mas não o reteve por muito tempo: quarenta dias depois foi levado à casa terrestre de seu Pai, onde, contemplado por fiéis, foi apresentado. Já havia recebido em seu corpo a única marca que era permitida a um judeu.

Seu túmulo, emprestado de um homem rico, recém cavado na rocha, também foi forrado - com o lençol de linho que outro José usou para amortalhá-lo - e também não o reteve por muito tempo. Novamente, quarenta dias depois compareceu à casa do Pai. Desta vez à casa celeste. Desta vez, além da própria marca da Aliança, apresentou ao Pai todas as marcas que adquirira dos que ele mesmo representou.

Entre a manjedoura e o túmulo fez muitas coisas. Aprendeu com seu pai terrestre a arte de trabalhar a madeira, e a trabalhou. O que fez nessa época ainda saberemos, porém temos certeza de que não foi sem motivo que ficou conhecido como “construtor”.

Entre a manjedoura e o túmulo, quando completou os 30 anos necessários, chamou a si aqueles que ele mesmo quis e os treinou para completar o que ele iniciou de uma vez por todas: os fez alicerces de sua nova construção.

Entre a manjedoura e o túmulo outras madeiras e outros pregos não lhe foram instrumentos dóceis, porém eram parte importante dessa construção maior: a casa eterna: verdadeira cidade para todos aqueles por quem morreu.

Enquanto as festas deste mês de dezembro nos lembram a manjedoura, não esqueçamos que para apreciá-la precisamos entender corretamente o significado do túmulo. Ela foi apenas o início.

O brilho característico da tradição natalina será falso, supersticioso e indigno do Senhor de todas as coisas, se ele não tiver nascido em nosso coração (que pode ser tão acanhado como uma manjedoura, afinal, ele não liga pra isso) nem estivermos dispostos a dividir com ele seu túmulo: mortos com ele para o mundo, mas vivos, com ele, para Deus.

Indizível alegria! Nos alegremos muito! Afinal ele trilhou, antes de nós, o caminho entre a manjedoura e o túmulo e nesse caminho há uma cruz. Quando ela nos parecer pesada, ou o caminho se mostrar árduo, lembremos das benditas palavras: “não temerei mal algum, pois tu estás comigo. O teu bordão e o teu cajado me consolam”.

Glórias a Deus. Manjedoura que é, meu coração recebeu o Senhor!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Do jardim à cidade

E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden,
na direção do Oriente,
e pôs nele o homem que havia formado.
Gênesis 2:8


O homem recebeu de Deus um jardim. Não era um matagal, pois a palavra jardim já indica certa organização das plantas, porém, com certeza carecia de cuidados.

A revolta do homem contra Deus prejudicou o jardim, pois o castigo que Deus impôs sobre ele afetou também tudo aquilo sobre o tinha recebido domínio.

Embora haja muitas definições do que seja cultura, eu ainda prefiro pensar o seguinte: um rio intacto é obra divina, já um mero canal, ou um represamento mínimo é expressão de cultura. Ou seja: produto da cultura humana é qualquer interferência na criação divina. Não limito cultura às artes (como as entendemos hoje), ou às criações intelectuais. Na obra do artesão (quem aplica a arte com os dedos ou com ferramentas que vão da enxó ao bisturi) se vê a presença de conceitos culturais.

O homem interferiu na criação divina antes do pecado ao dar nome aos animais. Porém, a maior parte de suas ações culturais aconteceu após pecar.

Lembre-se de que nos primeiros tempos a interferência humana foi tão danosa, que Deus agiu drasticamente diversas vezes: dilúvio, Babel, etc.

Não posso concordar com quem diz que a cultura é neutra, pois, manchada pelo pecado, tudo o que deriva dela traz essa mancha. Eis a razão porque o jardim confiado ao homem nunca poderá ficar de acordo com o gosto de seu dono: Deus. Porém, essa impossibilidade não exime o homem de sua obrigação: Ele TEM de cuidar do jardim de Deus. Ele TEM de lutar contra os cardos e os abrolhos.

Essa obrigação tem duas razões: a primeira é a obediência a Deus e a segunda é não esquecer que seu melhor, diante de Deus, não passa de “trapos de imundícia”.

A maior prova é que o Filho de Deus, ao assumir nossa natureza, tornou-se também um “agente cultural” como nós o somos. Porém, apesar de agir sobre um meio cultural afetado pelo pecado, ele, de si próprio, não tinha seu agir impregnado pela nossa cultura pecaminosa. Viveu como artesão. Conheceu a matéria prima, as ferramentas, os produtos que eram próprios da época, e atuou com habilidade.

Mas, você já se deu conta de que tudo o que Deus criou, quando for redimido, virá afetado pela cultura? Deus nos deu um jardim, mas no último dia receberemos uma cidade! A cidade é o aperfeiçoamento do jardim, e, como vimos o aperfeiçoamento é feito através da aplicação da cultura.

Entretanto a cidade que receberemos não é a cidade produzida por nossa cultura manchada pelo pecado, mas a produzida pelo supremo artesão. Aquele que prepara-nos lugar!

Não esqueça: é uma cidade – há bons aspectos na cultura – mas não é uma cidade qualquer. Não é feita por nós. Acaso teríamos tal capacidade? Ela não é diferente apenas em seus materiais constitutivos. Difere, acima de tudo, por sua execução. A tal ponto agrada a Deus que é chamada de Noiva.

Recebemos um jardim e não demos conta de cuidar dele, nem daremos. Vivemos na esperança de receber uma cidade. O conceito que transforma o jardim em uma cidade, por assim dizer, é nosso. Porém, não foi executado por qualquer de nós, mas pelo melhor de nós. Aquele cujas mãos jamais fizeram coisa alguma que desagradasse ao Pai. Aquele que manteve a pureza da capacidade cultural delegada ao homem e a usou para glorificar ao supremo autor de todas as coisas.

Bendito seja seu nome.

sábado, 25 de novembro de 2006

Ócio no céu

Recentemente alguém me perguntou: “lá no céu vamos ficar voando de nuvem em nuvem, com harpinhas nas mãos, fazendo nada?”

Preciso dividir a resposta. Primeiro devo chamar sua atenção para a necessidade de entendermos bem nosso destino após a morte.

O que vulgarmente chamado de “céu” é um local provisório em que as almas de todos os que morrem antes da volta do Senhor ficam aguardando a ressurreição de seus corpos: são aquelas pessoas mencionados no “quinto selo” do Apocalipse.

No último dia, na volta do Senhor, ressuscitados todos os que morreram e transformados todos os que ele encontrar vivos, iremos morar com ele em um lugar que as Escrituras chamam de: Jerusalém Celeste, Novo Céu e Nova Terra, etc.

Segundo, não há um só texto das Escrituras Sagradas que abone a idéia do “ócio celeste”, ao contrário: tanto direta como indiretamente pressupõe-se atividade.

As Escrituras são comedidas ao falar da vida futura, e, o Apóstolo Paulo, chega mesmo a mencionar a existência de coisas que, além de inefáveis, não são lícitas ao homem o referir-se a elas (2Co 12.4). Você está lembrado de que João ia escrever o que ouviu “dos trovões” e foi impedido? Ou da expressão “o que de Deus se pode conhecer...” (Rm 1.19)?

Geralmente ao lermos as Escrituras ficamos apenas com aquilo que nos agrada mais. E, é claro que, as belezas relacionadas à vida futura chamam nossa atenção. Nos lembramos facilmente de palavras como alegria, prazer, júbilo, bondade, água, fontes, festa, luz, pão, casas, mesa, vinho, justiça, graça, glória, verdade, honra, incorruptibilidade, imarcessibilidade, santidade, misericórdia. Porém, encontramos também, responsabilidade, fidelidade, competência, serviço, e, principalmente, a relação mais clara entre o servo e o Senhor.

Não ficaremos ociosos, pelo contrário, receberemos das próprias mãos do Senhor as tarefas necessárias à manutenção de seu Jardim, então restaurado e redimido.

Lembre-se: antes de nossos pais pecarem o Criador os colocara em um jardim com a incumbência de lavrar a terra - certamente o trabalho seria mais leve, pois algumas maldições conseqüentes do pecado foram a fadiga, o suor do rosto para se obter o pão e o nascimento de cardos e abrolhos - e no jardim restaurado? Não haveríamos de ter responsabilidades também?

As responsabilidades que receberemos lá serão proporcionais ao desempenho com que executamos as nossas hoje. Pense na sentença do Senhor: “Servo bom e fiel. Tu foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei”. Teremos aquilo que Adão teria se não tivesse se rebelado contra Deus.

Finalmente!

Nosso trabalho será avaliado pelo mais justo Senhor.

Não trabalharemos para o proveito de espertos.

Nosso trabalho por mais simples que vier a ser, será em cumprimento da vontade mais perfeita que existe.

Senhor! Apresse este dia!

sábado, 18 de novembro de 2006

Conhecerei como sou conhecido

Nos anos 40 ou 50 do século passado, havia um programa de rádio em que um “pastor” respondia perguntas a respeito da Bíblia. Tirava dúvidas. Um dia ele leu uma carta cujo teor podia ser resumido na seguinte frase: “como poderei ter alegria no céu se souber que meu filho está no inferno?”

A essa pergunta, infelizmente, ele ‘sugeriu’ 4 respostas. Na realidade, apenas uma poderia ser considerada resposta, pois, com tantas, ele semeou dúvidas que, até hoje, propagam-se com tal perniciosidade que as tenho como o cumprimento de Atos 20: “...dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas”.

Como já são objeto de debate público, muito a contra gosto, repetirei as 3 aqui, na esperança de firmar a verdadeira resposta.
1ª – “Na vida futura não nos lembraremos de nada do que aconteceu nesta vida”.
2ª – “Na vida futura não nos lembraremos das coisas ruins que nos aconteceram nesta vida”.
3ª – “Na vida futura não guardaremos, entre nós, os mesmos laços de relacionamento que guardamos nesta vida”.

A primeira “resposta/dúvida” é totalmente contrária ao ensino geral das Escrituras (a analogia da fé), pois, quão fútil seria comparecermos ante o tribunal de Cristo para respondermos por algo que foi apagado de nossa memória. Lembre-se: não há condenação, mas haveremos de prestar contas daquilo que ele nos confiou. Veja:

Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo. 2 Coríntios 5:10

Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Romanos 14:10

E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas. Hebreus 4:13

Compare ainda com as seguintes palavras do Senhor: “Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus”

Como saberíamos a importância de Abraão, seu filho e seu neto, ao ponto de termos por honra partir o pão com eles, se não nos lembrarmos de coisa alguma, e, conseqüentemente, deles?


A segunda parece que foi feita após se pensar nos argumentos contrários à primeira. Ou seja: nos lembraremos de Abraão e seus descendentes, mas não nos lembraremos das coisas ruins.

Porém, acaso poderíamos lembrar da fé de Abraão sem lembrar do sacrifício de Isaque? Nos lembraríamos de Jacó sem lembrar que o Senhor o amou e aborreceu a seu irmão Esaú? Eles teriam importância para nós, figurariam no capítulo 11 da carta aos Hebreus, sem as provações pelas quais passaram?

Aliás, você teria a maturidade espiritual que tem sem as dificuldades pelas quais o Senhor fez você passar?

Irmãos, será que no Reino de Deus seríamos privados de nos lembrar da Bíblia onde ninguém tem seus defeitos escondidos?

A terceira, parte da pressuposição de que na eternidade amaremos a todos igualmente, por isso, vínculos familiares, que causam perdas dolorosas, não existirão. Porém, é apenas uma tentativa de, através do que as Escrituras não dizem, resolver um problema que já foi resolvido.

A única resposta é: Lá, na vida futura, nos lembraremos de tudo com mais clareza. Nos lembraremos dos fatos obscuros, que memorizamos conforme nosso ponto de vista, com a certeza que não é possível se ter nesta vida. Lá nosso conhecimento de todas as coisas será tal, que se cumprirá finalmente: “conhecerei como também sou conhecido”.

Então ficaremos tristes? Não! Absolutamente não! Nosso Mestre e Senhor nos declarou:
São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima. Apocalipse 7.14-17

Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima. Apocalipse 21.3-4

Haveria tristeza se não fosse o supremo consolo de Deus: O Consolador!

Essa é a esperança do cristão verdadeiro.

sábado, 11 de novembro de 2006

Duas casas

Na casa em que moro sou acordado logo cedo pela algazarra alegre de muitos passarinhos. Pra falar a verdade, se não me obrigar a levantar, a cantiga deles, reforçada pelo cheiro das flores com primeiros raios de sol, aumentam a vontade de continuar na cama.

Na casa em que moro, nos dias mais quentes, costuma vir uma brisa do rio. Às vezes tenho de fechar a cortina por causa do sol e cortar a brisa pela metade, mas ela continua insistindo em enfunar o tecido leve e entrar pelo escritório refrescando os instantes de trabalho matinal.

Na casa em que moro, depois do almoço, o canto da rolinha “Fogo-pagou” convida a uns instantes de repouso, e fica difícil sair para as obrigações da tarde, que vai refrescando na medida que o sol desce atrás da casa vizinha.

Na casa em que moro, apesar de pernilongos e do abafamento normal das cidades cortadas por rios, as tardes são quietas. Os meninos saem da escola vizinha em tropel, mas o sol poente doura o Pico da Ibituruna.

Na casa em que moro, o cheiro das mangueiras floradas no começo da primavera e das mangas no verão entram no quarto e enquanto caem de maduras, a brisa do rio, aproveitando o silêncio da noite, traz, como se fosse um acalanto, o barulho das corredeiras.

E na casa em que morarei? Se nem olhos, nem ouvidos, nem a imaginação podem ter idéia do que me espera, que pensamentos poderei ter dela?

A casa em que morarei foi projetada pelo melhor arquiteto. Está sendo preparada pelo melhor construtor. Será adornada pelo “primeiro” jardineiro.

Se as manhãs daqui são doces e calmas, as de lá serão muito mais. Que aromas fabulosos superarão o das flores, ou o do café recém-coado? Que sabores substituirão o do pão de queijo ainda fumegante?

Se aqui a conversa com os sábios vem pela leitura, como será conversar pessoalmente com os que estarão lá?

Se as melodias daqui dependem de eletricidade e são a repetição mecânica de um som gravado, como será ouvir grandes cantores e músicos, com arte e competência, executarem na hora aquilo que a imaginação, livre dos limites, lhes proporcionará?

Se as tardes, iluminadas pelo vermelho do poente são arrebatadoras, como serão as tardes de um lugar que não necessita de Sol? Aliás, haverá tardes ou será um eterno amanhecer?

Se a brisa e o som que vem de um rio barrento, já enchem de paz e alegria a noite, como serão as brisas que virão do Rio da Vida? Como será o perfume da Árvore cujas folhas curará as nações?

Se hoje, cada manga que cai, qual relógio de parede, sem compromisso com a hora certa, faz lembrar a infância com suas aventuras e mistura as saudades do que foi com as saudades do que será, como serão as lembranças de lá? Cantamos nos lembrar das horas suaves de oração.

Certamente nos lembraremos de muito mais, e as lembranças que trouxerem lágrimas serão plenamente consoladas pela Santa Presença.

Fui plenamente convencido de que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória que há de ser revelada. Hoje, creio, que muito menos os prazeres os serão.

sábado, 4 de novembro de 2006

Você já pensou no futuro hoje?

Conta-se que a Ferrari já havia ganhado fama, quando um fazendeiro comprou uma e logo depois veio reclamar da embreagem. O próprio Enzo ouviu e o despachou dizendo que ele só entendia de embreagem de tratores. Com raiva e com vontade de fazer algo melhor, ele montou uma concorrente que, até hoje, produz artesanalmente seus carros após encomenda. Seu nome era Lamborghini.

Há algum tempo atrás um amigo muito querido, me confessou que passou uma noite insone, ansioso para pegar seu carro novo de manhã. É um excelente carro, mas não é uma Ferrari, muito menos uma Lamborghini. Fiquei pensando que se ele estivesse esperando por uma dessas ... acho que já teria feito o ofício fúnebre dele.

Na idade média houve uma coleção tão grande de relíquias, que, se juntássemos todas, provavelmente, teríamos diversas cruzes, muitos pregos, muitas túnicas, etc. Houve quem garantisse possuir um pouco do leite que alimentou o Senhor nos braços de sua mãe. Valiam muitíssimo! Tanto que se cobrava ingresso para admirá-las. A simples visita a uma delas em Roma “garantia perdão de pecados”.

Há algumas ainda hoje. A mais conhecida delas é o suposto lençol com que José de Arimatéia amortalhou nosso Senhor: o chamado Santo Sudário. Apesar da datação de seu tecido remonta à idade média, há uma igreja em sua homenagem e não há preço para ele.

Convencionou-se pensar que o Senhor, como carpinteiro fazia móveis. Talvez até os fizesse, mas a palavra que traduzimos por carpinteiro (tekton, de onde vem arquiteto) refere-se muito mais a construtor. Provavelmente ele tenha feito mais colunas, vigas, marcos de portas, madeiramento para estuque de cobertura, do que cadeiras como sugere um filme recente.

Vamos admitir que ele tenha feito pelo menos um tamborete, daqueles de três pernas. Você já imaginou o preço que isso teria hoje?

Observe: Meu amigo ansioso por seu carro, pessoas dispostas a pagar ingressos para ver um suposto pedaço da cruz e o valor que teria um eventual móvel que o Senhor tivesse fabricado. Entretanto, vivemos em um mundo cheio de coisas, “fabricadas” pelo Senhor e não damos a elas o valor que deveríamos dar.

Porém, o que eu quero mesmo é chamar sua atenção para o fato de que você vai morar em uma casa feita pelo Senhor: o verdadeiro construtor, do qual todos os demais, por mais grandiosas que tenham sido suas obras, são apenas tipos pálidos. Você anseia por esta casa? Passa noites mal dormidas esperando por ela?

Já me disseram que os carros são antecipadamente conhecidos, e as casas daqui, geralmente acompanhadas desde a planta. Mas a casa futura é um mistério, pois, ninguém voltou para descrever a sua.

Em parte é verdade. Entretanto o Senhor, que morreu, voltou e nos assegurou que não devemos temer, pois estaremos com ele. Nossa chegada lá será marcada pelas palavras “Servo bom e fiel. Tu foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei. Entra no gozo do teu Senhor”. Logo em seguida tomaremos assento, à mesma mesa com Abraão, Isaque e Jacó, partiremos o pão juntos e beberemos um vinho que o Senhor espera para beber conosco.

Será que não é motivo para dizermos com o Apóstolo que estar com Cristo é incomparavelmente melhor?

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

A Reforma Protestante do Século XVI (atualizado)



Apesar de termos escolhido apenas um dia no ano para comemorar a Reforma Protestante, na verdade ela foi mais um movimento, que durou séculos, do que o acontecimento de um dia.

Sem desprezar a atitude singular de Martinho Lutero ao afixar seu documento na porta da Igreja é conveniente não esquecermos que muitos antes dele contribuíram para que a situação chegasse ao ponto que possibilitou seu gesto. Não esqueçamos, também, dos demais que lhe seguiram complementando a obra que ganhou novo impulso com o que ele fez.

Isso fica claro quando vemos “Muro da Reforma”.

Calvino, avesso a homenagens, determinou expressamente que não se lhe fizesse nenhuma após sua morte. Entretanto, no início do Século 20, a cidade de Genebra, precisando reformar o que restava dos muros da cidade antiga, resolveu, mediante consulta nacional, refazê-los como um monumento à Reforma. Porém, como falar dela sem falar de Calvino? Especialmente quando coincidia com os 400 anos de seu nascimento?

Decidiu-se por um concurso, do qual participaram 71 concorrentes. O projeto escolhido (dos arquitetos Alphonse Laverrière e Jean Taillens e dos escultores Paul Landowski e Maurice Reymond) apresentou a simbologia de um muro em cuja base está gravado o nome do Senhor Jesus - em grego IHS - Em segundo plano, em baixo relevo, a divisa de Genebra “Post Tenebras Lux” (Após Trevas, Luz). Destacando-se do muro 10 estátuas, dos mais principais Reformadores, defronte a 2 estrelas em memória a Zwinglio e a Lutero.

As estátuas estão dispostas em 3 grupos e entre as estátuas dos grupos laterais estão esculpidas, em baixo relevo, cenas de momentos importantes para a Reforma.

No grupo da esquerda: o Almirante Coligny (representando a França), William, o Pensativo, (representando os Paises Baixos) e Frederico-William (representando a Alemanha).

No grupo da direita: Roger Williams (representando a Nova Inglaterra), Oliver Cromwell (representado a Grã Bretanha) e Estêvão Bocskay (representando a Hungria).

No grupo do centro estão os que se afadigaram na Palavra e no Ensino: Farrel, Calvino, Beza e Knox. Todos portam a “Pequena Bíblia do Povo Cristão”, usada então, e estão vestindo mantos genebrinos. Como um destaque sutil Calvino está meio passo à frente dos demais e mostra um texto em sua Bíblia aberta.

Talvez este muro seja a mais completa exposição do “espírito da Reforma Protestante”:
Solidez: representada na figura de um muro de pedras, alicerçado sobre uma pedra principal na qual está esculpida o nome do Senhor Jesus.

Simplicidade: vista também nas linhas simples de um muro, no uso de “baixos relevos”, nas dimensões atípicas para um monumento e no estilo despojado das esculturas.

Coletividade: representação dos diversos lugares em que a Reforma Protestante chegou e nos diversos setores da sociedade (militares, políticos, docentes e comerciais) participantes.

Direção: unidos sob a liderança da Palavra de Deus exposta por quem nela se afadiga, a Reforma Protestante não foi um movimento acéfalo, nem apenas de leigos, mas de leigos que honravam a Palavra de Deus e procuravam entendê-la como ela é, não como fora deturpada pelos interesses pessoais de quem a usou para justificar as próprias tolices afastando-se cada vez mais da simplicidade do Evangelho.

sábado, 21 de outubro de 2006

Que dias!

No ar: Um avião pequeno, em condições ainda não muito claras, chocou-se com um grande e o derrubou causando a morte de muitos.

No mar: Um barco pequeno, em condições ainda não muito claras, chocou-se com um grande e foi afundado resultando na morte da maioria de seus passageiros.

Na terra: A Coréia do Norte, em condições ainda não muito claras, explodiu uma bomba atômica com resultados pequenos mas causando grande sobressalto no mundo.

Em nosso país: Milhões de eleitores, em condições ainda não muito claras, tendem a eleger Presidente da República, o candidato do partido mais acusado de corrupção.

Em nossa cidade: Com quase 750 endereços de Igrejas Evangélicas, 26 Presbiterianas, registra, em condições ainda não muito claras, a médias iguais ou inferiores a dos índices sociais da média do país.

Como explicar? Não sei, mas creio que o choque dos aviões e dos barcos provavelmente será atribuído a falha humana, a bomba coreana, aos últimos esforços de um regime falido que insiste em sobreviver mesmo chantageando o mundo. Já as nossas eleições não tenho a menor idéia de como explicar, como, também, não sei explicar o paradoxo de nossa cidade.

Estamos no mês em que nos lembramos da Reforma Protestante do Século 16. E, a história tem mostrado que onde a Reforma Protestante desenvolveu-se, o analfabetismo, a violência, e outros malefícios, diminuíram, ao passo que a saúde, a educação, a higiene e outros benefícios cresceram.

Desde que cheguei aqui tenho pensado muito nisso. Às vezes penso que é um reflexo da situação caótica de nosso país ou da herança cultural e religiosa que recebemos, ou do “tipo de evangelho” que está sendo pregado. Sinceramente ainda não tenho certeza. Porém continuo estudando e aprendendo.

Por exemplo: Eu sempre achei que as cigarras só cantavam com o sol a pino. Estava errado. Nos dias mais quentes da semana passada, ao entardecer, algumas disputavam quem cantava mais alto. Depois das atividades da noite, acabei dormindo no sofá e acordei às 2 da manhã com uma cigarra quase se espocando de tanto cantar.

Alguém me disse que é a fêmea chamando o macho. Outro me garantiu que é o inverso. Fêmea ou macho, tanto faz, pois, enganada pelo clarão amarelo de uma lâmpada de vapor de sódio, não conseguirá seu objetivo, já que, fora dali, reina a escuridão da noite.

Será que, como as cigarras, a luz amarela está nos enganando? Sou testemunha do enorme esforço dispendido pelas “Igrejas sérias” em levar o Santo Evangelho. Sou testemunha da boa vontade de muitos irmãos que sacrificam-se em prol do trabalho que lhes é proposto. Também sou testemunha da presença da Bíblia em quase tudo o que se vê: Nomes de lojas, de pessoas, de ruas, de bairros, de igrejas... Porém, não tenho visto a Bíblia ser pregada conforme a Fé Reformada. Talvez seja essa a explicação.

Vamos voltar aos Princípios norteadores da Reforma Protestante. Ainda há tempo. Se não para evitar desastres, mas, pelo menos, para criarmos uma sociedade mais sadia, para nossos filhos.

sábado, 14 de outubro de 2006

O Caminhão


Há algum tempo atrás esta fotografia correu o mundo pela internet, e desde que a vi, aprendi a grande lição que ela transmite.

A cena, em si, não é apenas cômica, é, também, ridícula. Afinal, o que é que eles estão fazendo? Transportando uma cabine, ou essa é a forma final da “carroça de passageiros”? Estão rindo de felicidade ou (o que é mais provável), da estranheza que atraiu a atenção do fotógrafo?

A mensagem que ela me traz, traz junto angústia e tristeza pois ilustra bem o “evangelismo” atual. Veja:
1. A Estrutura externa está reconhecível: é a cabine de um caminhão (com alguma pesquisa é possível descobrir até sua marca).
2. O motor, outrora com a potência de muitos cavalos, foi substituído por um boi, que, não fosse a expressão de resignação bovina, eu diria que não está muito feliz com todo esse peso.
3. Os antigos passageiros, acostumados a ganhar o pão carregando e descarregando foram substituídos por dois anônimos. Um dos quais brinca ao volante qual motorista de carrossel.
4. O antigo motorista também foi substituído. Agora um risonho carroceiro, sentado no lugar do motor, toca com as rédeas o vagaroso e coitado boi.

É assim o “novo evangelismo”. As vezes dá para reconhecer nele alguma forma de verdade. Por exemplo: a “cabine” que lhe deu origem. Mas, e o motor? Outrora poderoso, a quem pouco pesava essa cabine, hoje boi sofredor a transporta com dificuldade.

O potente Espírito Santo que movia mentes e corações, foi substituído por um arremedo: mistura de emoções, campanhas, engodos ... Bois!

Veja a felicidade dos passageiros. Um faz de conta que “dirige” o outro aproveita o espaço.

O “carroceiro”, de riso enigmático, diverte-se na notoriedade que vale fotografia. Sorriso da pobreza flagrada em seu aspecto cômico ou riso escarnecedor de quem se delicia na gaiatice? Não sei.

Não sei também se a alegria do “novo evangelismo” é puro entretenimento, vazão emocional, ou prazer temporário que precisa ser mantido a todo custo, para que seus membros tenham “certeza” de possuírem o Espírito Santo.

Simulacro de viatura. Triste exemplo do que a miséria pode fazer. Alerta eloqüente sobre a vida espiritual que se tenta cultivar na impropriedade de meios e que só consegue provocar risos.

Risos amargos pois não expressam satisfação. Expressam logro. Expressam o inusitado. Expressam a dor.

Como é triste ver felicidade em quem caminha no erro. Como é triste ver o erro ser imposto como o certo.

Ah, Senhor; tem piedade de teu povo! Não nos deixes trocar as tuas águas vivas por cisternas rotas. Não nos deixes trocar o poder de teu Santo Espírito pela galhofa. Desperta em nós um coração pronto a fazer tua vontade e alegrar-se em ti.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

A Felicidade do Povo de Deus

Feliz és tu, ó Israel!
Quem é como tu?
Povo salvo pelo SENHOR,
escudo que te socorre,
espada que te dá alteza.
Dt 32.29

Quem de nós já não ouviu: “Sou feliz por tenho um bom casamento”, ou “Sou feliz por que realizei tudo com o que sonhei na vida”?

Outros falam da felicidade, mais como um estado momentâneo: “Estou feliz por que consegui uma promoção”, ou, “estou feliz por que hoje deu tudo certo”.

Tenho a impressão de que os primeiros associam a felicidade a um estilo de vida agradável, enquanto os últimos a confundem com alegria. Ambos tem a felicidade como o resultado de acontecimentos.

Esse não é o conceito bíblico de felicidade.

Certamente há muitos exemplos bíblicos de pessoas alegres com um acontecimento: a mulher que achou sua moeda, o pastor, que, mesmo tendo que carregar a ovelha nos ombros, volta contente por tê-la achado, e o pai do filho pródigo. Todos esses e alguns outros são exemplos de alegria pelo fim de um problema.

Entretanto há uma alegria mais perene, derivada de algo superior e demonstrada de modo mais sutil. Mais sutil, porém, não menos forte: aquela alegria que levou os apóstolos a agradecerem a Deus - depois de açoitados - por serem dignos de sofrer pelo nome de Cristo. A mesma que brotava no coração e nos cânticos de Paulo e Silas, presos e após uma seção de tortura. Na verdade é mesma alegria que Paulo receita com tanta insistência aos membros da Igreja de Filipos: “alegrai-vos no Senhor”!

Pedro a chama de "alegria indizível". Ou seja: alegria que não pode ser dita. Que não pode ser expressada. Para a qual não existem palavras.

Tal alegria, parte do Fruto do Espírito, desafia os padrões humanos de ver a vida. Manifesta-se nas ocasiões menos esperadas, de um modo perene e interno. Forma uma base para os sentimentos. Sustenta o Cristão na hora em que tudo conspira contra seu bom humor. Mantém-no em paz: aquela “paz que excede a todo entendimento”.

Alguns a chamam de Alegria da Salvação, outros preferem referir-se a ela como a Segurança do Cristão. Tal alegria é peculiar ao salvo. E própria do povo de Deus.

Mas, atenção: há diferença de outra muito parecida, que pode ser vista em pessoas distantes de Deus. Na maioria das vezes decorrente de enlaces de amor. Afinal, Deus faz nascer seu sol sobre bons e maus e vir chuvas sobre justos e injustos.

Porém, refiro-me ao fato de que o Povo de Deus, desfrutando da paz vinda da certeza da salvação em Cristo Jesus, experimenta o que é inabalável: Deus lhe é favorável. Tão favorável que não mediu esforços para resgatá-los.

Somente quem avalia a situação terrível em que se encontrava antes de Cristo salvá-lo, pode ter uma pálida idéia do quanto Deus o ama, e, como conseqüência, aquilo que era apenas alegria transforma-se em felicidade. Não uma felicidade sujeita a altos e baixos, mas uma felicidade que independe de momentos de tristeza, de mau humor, de perdas, de ameaças, de sofrimentos, ou morte, já que decorre do fato de que, em qualquer situação (perigo, espada, fome, nudez, etc.) Deus está a seu lado e nada poderá separá-lo do amor de Deus que está em Cristo Jesus.

sábado, 30 de setembro de 2006

Professar a Fé

Hoje teremos o prazer de ouvir a Profissão de Fé de diversos irmãos com idades variadas.

A Profissão de Fé é a confirmação feita por quem cresceu na Igreja, e foi batizado ainda criança na fé de seus pais, de possuir a mesma fé na qual foi dedicado à Deus. É, também, para esses e para os que a graça de Deus alcançou já adultos, a oportunidade de dizer publicamente que são discípulos do Senhor Jesus Cristo.

Provavelmente, não haja outra ocasião mais propícia a alguém começar a subjugar seu “eu”. Explico.

Quando nos dispomos a estudar algo, seja nos primeiros graus, no terceiro ou em alguma pós-graduação, não nos arrogamos conhecer o assunto. Nos sujeitamos a professores ou orientadores, que exercem autoridade sobre nós.

Não há vergonha alguma em pedir a tais pessoas que nos ensinem algo, como não há vergonha alguma pedir ajuda a um colega, que teve mais facilidade de assimilar um determinado assunto. Curiosamente, não é assim que acontece na Igreja.

Mesmo aqueles que já se declararam simples alunos do Mestre Jesus através da Profissão de Fé, muitas vezes envergonham-se de perguntar a quem, pela experiência ou pela formação, conhece melhor as Sagradas Letras e não são poucas as vezes que até os afrontam.

Quando a Reforma Protestante do Século 16, estabeleceu como um de seus alicerces o livre exame das Escrituras Sagradas, não pretendia, de forma alguma, criar um rebanho de mestres, mas de discípulos. Discípulos, que, com liberdade de acesso às Sagradas Escrituras, procurassem, humildes, o significado delas e de como elas podem e devem ser aplicadas à suas vidas. Ou seja: O livre exame das Escrituras pressupõe humildade em relação ao que é examinado.

Os irmãos que fazem hoje suas Públicas Profissões de Fé, não estão se garantindo contra o pecado - aliás, é até provável que, uma vez confessado a todos o nome do Senhor como seu Mestre, passem a ser mais odiados como o mundo odiou a quem confessam – nem estão fazendo qualquer ato mágico que lhes garanta prosperidade ou coisas afins. Estão apenas declarando publicamente que são discípulos do Senhor Jesus e, confessando publicamente, recebem a promessa dele de confessar seus nomes diante do Pai e dos santos anjos.

Aprendamos com esses irmãos que querem aprender e oremos por eles e por nós mesmos para que sejamos aprendizes humildes das verdades do Senhor até que ele venha e possamos conhecer como também somos conhecidos.

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Tempero do mundo*

Quando o Senhor Jesus quis identificar os súditos de seu Reino chamou-os de sal e luz: "vós sois o sal da terra", "vós sois a luz do mundo".

A respeito da luz lembrou-nos que colocamos as lâmpadas em locais destacados e não debaixo dos móveis, e que é impossível esconder uma cidade edificada sobre um monte. Já a respeito do sal seu destaque foi o sabor.

Certamente todos já ouvimos muitas considerações sobre essas duas metáforas: O sal preserva, realça o sabor, e alguns chegam até a dizer que "dá sede de se beber da água da vida". Sobre luz, já ouvimos que além de dissipar a escuridão, ela dissipa medos e facilita a compreensão.

Porém a melhor compreensão das palavras de nosso Senhor e Mestre ocorre quando juntamos a duas metáforas que, por serem tão diferentes, só possuem um ponto em comum: falam de coisas que influenciam sem serem influenciadas. Nem o sal toma o sabor daquilo que salga, nem a luz é afetada pela escuridão. O Mestre está dizendo que os súditos de seu Reino influenciam aquilo com que têm contato sem serem influenciados.

Pois bem: partindo dessa premissa, a quantidade dos que hoje se declaram súditos do Reino, mas na realidade são influenciados pelo que deveriam influenciar, é enorme.

Recentemente a imprensa divulgou um caso que tenho por exemplar: um parlamentar evangélico, está sendo acusado de usar um carro emprestado por mais de um ano para transportar os integrantes de uma banda musical gospel chamada "Tempero do mundo". O tal empréstimo está sob investigação como parte do "escândalo das sanguessugas", em que outros carros (ambulâncias) eram superfaturadas.

Não deixa de ser uma grande ironia: o nome da banda não é sal, é tempero!

Verdadeira paixão dos portugueses, as especiarias usadas como tempero, não apenas por amor à boa mesa, mas principalmente para tornar saborosos os alimentos já em estado de deterioração - em uma época em que não se dispunha de refrigeração artificial - impulsionaram as navegações do século 16, e, até hoje, habitam profusamente nossos pratos.

Salvo melhor juízo, a banda gospel além de colocar em evidência a bondade e o "interesse evangelístico" do parlamentar, julgando pelo nome, parece que visava também tornar o mundo mais temperado e saboroso, como cheiro verde, coentro, açafrão, ketchup, mostarda (...) deixam mais saborosos (?) o que se come.

Quem deveria sentir o mundo mais saboroso? Dificilmente seria Deus, uma vez que ele mesmo declara que "o mundo jaz no maligno". Provavelmente seja alguém que, alimentando-se do mundo, pensa agradar a Deus, ou, ainda, alguém que precise da aprovação do mundo, como um cozinheiro que tempera bem seus pratos precisa da aprovação de seus fregueses.

Resumindo: Quem é que está influenciando quem? A qual reino o "temperador" está servindo?

Irmãos, é fundamental entendermos isso para não sermos levados "como meninos, pela astúcia daqueles que induzem ao erro". O mundo não se tempera: influencia-se. Se não pudermos influenciá-lo, ele fará isso conosco e perderemos nosso sabor. Então se cumprirá: "se o sal perder o sabor, para nada mais presta, senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens".

Deus nos livre de tal sina.

*Agradeço a idéia do Anamim e os dados da Ana na confecção deste artigo.

sábado, 16 de setembro de 2006

Semeadores Cegos

Neste fim de semana nossa Igreja está promovendo uma série de Conferências sobre a ação missionária.

Apesar da Igreja, desde seus primeiros dias, ter entendido que tinha de obedecer a ordem do Senhor e “fazer discípulos de todas as nações”, não foram poucas as vezes em que ela se desviou desse alvo ou que o executou de forma errada.

Logo nos primeiros séculos, amparada pelo Imperador Constantino, que a tornou Religião oficial do Estado, ela entendeu que todos os súditos dele deveriam converter-se ao cristianismo também. Foram todos batizados então.

É óbvio que tal pratica fortaleceu a idéia de que basta ser batizado para tornar-se cristão. Ou seja: o batismo, em si, tem o poder regenerador (em teologia se diz que o sacramento, no caso o batismo, age por si independente de quem o recebe: ex opere operato).

Esta prática prevaleceu à medida que o Império Romano sobreviveu pelos séculos.

Com a descoberta de novas terras no século 16, juntamente com os desbravadores, vieram também clérigos a fim de batizar a força, tornando cristãos, os selvagens das terras descobertas: as Américas.

Os colonizadores portugueses ainda tiveram um pouco de cuidado na catequese e ensinaram alguns “princípios cristãos básicos” que logo se misturaram com as crenças animistas dos indígenas brasileiros. Os espanhóis, mais rígidos, exterminaram povos inteiros quando os achavam resistentes à fé cristã.

Com esse resumo, que certamente carece de menos generalização e de mais detalhamento histórico, quero mostrar um erro que prevalece hoje especialmente nos meios evangélicos.
Acaso podemos considerar cristãos aqueles que, coagidos pela espada, receberam o batismo?

Como então consideramos cristãos aqueles que, coagidos por uma bela peça retórica ou por um show espetacular, acabam aceitando o batismo, mas, como maus discípulos, rejeitam a pureza dos ensinos do Mestre e os misturam com suas próprias crenças? Acaso não lhes serviria a advertência bíblica: “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão”.

Não estou me esquecendo do meio cultural em que o Evangelho se expressa, porém alerto para o modo como este meio é usado: como espada para “conversões”, ou como joio para desvirtuar do bom trigo do Senhor.

“Missionar” é jogar a semente. E o Senhor Jesus é claro: a semente é a Palavra. Somos semeadores cegos, que, como aquele da parábola, joga a semente em pedras, em caminhos ou em espinheiros. Mas, exatamente por não vermos o coração de ninguém, é que jogamos em todos. Afinal, sabemos que algumas cairão em terra boa. Estas frutificarão.

Não nos foi dada a missão de converter ninguém, mas de anunciar a boa notícia: Deus proveu solução para os descendentes de Adão: o novo Adão.

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

Púlpito deitado

Já haviam me falado dele, mas o conheci aposentado. Aposentou-se e dedicou-se a “plantar” igrejas. De vez em quando vinha passar uns dias com a família e sentava-se nos últimos bancos da Igreja que eu pastoreava. Não demorou muito para que nosso conhecimento se estreitasse em amizade e para que eu o convidasse a expor a Palavra de Deus.

Como era bom ouvi-lo! Os solecismos impostos pela gramática da vida, não eram barreira à exposição do Evangelho. Uma verdadeira correnteza de textos bíblicos ligados com propriedade, beleza e acerto deixavam suas palavras mais doces e mais fortes. Memória prodigiosa: as citações vinham sempre acompanhadas do assunto certo.

Me lembrava muito meu pai, só que era baixo e atarracado, mas tinha um sorriso fácil e palavras suaves. Atendia pelo nome de Fortunato. E apesar de já ter sido ordenado todos o conheciam como Seu Fortunato.

Era viúvo, pai de uma família bonita. Avô amoroso, mas firme. Respeitado por todos. À medida que os anos se sucediam ele vinha, cada vem mais, à capital buscando tratamentos para os males próprios da idade agravados por uma aposentadoria distante dos aposentos.

Conversávamos sobre amigos comuns, textos bíblicos, experiências do pastorado: alegrias, tristezas e cicatrizes.

Finalmente as doenças o retiveram em casa. Depois na cama. Seus filhos se rodiziavam nos cuidados. Uma vez, depois de duas semanas sem vê-lo, ele me disse: “hoje tenho certeza de que não verei mais minha Igreja. Recebi de Deus meu último púlpito: esta cama”.

Até hoje não sei se minhas lágrimas eram de dor ou de alegria. Daquele púlpito deitado ele falou a muitos. Foi amável com alguns e duro com outros. Especialmente duro com os pastores que estavam levando o Rebanho do Senhor para águas turvas e pastos secos.

Depois de alguns meses seu púlpito foi relocado para um hospital. Finalmente o enviado de Deus que aos poucos lhe tirava a lucidez, o levou. Levou sem impedir uma bênção sobre cada querido e um sorriso para mim. Sorriso significador, pois dois ou três dias antes ele havia se despedido de mim com a frase: “nos encontraremos na mesa do Senhor. Espero que ele me dê a honra de lhe apresentar Abraão, Isaque e Jacó, já que eu os conhecerei primeiro”.

Se o céu já era desejado, no ano de 1999 ficou mais.

Hoje sei que não é a aposentadoria nem a doença, nem o hospital, nem qualquer outra coisa que impede o filho de Deus de anunciar seu Evangelho, de elogiar os bons, de repreender os maus e de sentir alegria em meio a dores.

sábado, 2 de setembro de 2006

Mãos

Uma das figuras que a Bíblia usa com mais freqüência é a das mãos. Não são poucos os lugares em que as Sagradas Escrituras falam delas. Surpreendentemente, as usa não só em relação aos homens mas principalmente a Deus.

Em muitos lugares se diz que foi a mão do Senhor que deu forma a todas as coisas, e a todas fez com destreza. Moisés repete muitas vezes que Deus livrou seu povo com mão forte e com mão forte também o protegeu e os disciplinou no deserto. E não foram poucos os que se dispuseram a cumprir uma ordem do Senhor se sua mão estivesse com eles.

O salmista diz que a mão do Senhor o guiaria mesmo que ele, tomando as asas da alvorada, procurasse afastar-se de sua presença. O profeta garante que a mão de Deus não está encolhida de modo que não possa abençoar. E o próprio Senhor promete a seu povo os tomar pela mão.
Não bastasse tantas afirmações, feitas em uma linguagem tão simples, usando uma figura mais simples ainda, que até mesmo os mais simples entenderiam, o próprio Senhor, encarnado, usa concretamente as mãos a que se referira de modo figurado.

Com elas abençoou. Com elas teceu um chicote e limpou a casa do Pai. Com elas lavou os pés de seus alunos. E, enquanto por elas era traspassado, perdoou-nos mostrando-nos que não sabíamos o que estávamos fazendo ao pregá-las no madeiro.

Não duvide! Eu e você e todos os seus eleitos, estávamos lá pregando suas benditas mãos, através de mãos iníquas, tão pecadoras quanto as nossas.

Com suas mãos furadas instou a Tomé que cresse, e o advertiu que mais bem-aventurados seriam os que não precisariam desse testemunho terrível.

Finalmente somos informados que haveremos de reconhecê-lo por suas cicatrizes: certamente as das mãos serão uma delas.

Como precisamos desta bendita certeza.

De suas santas mãos recebemos tudo: desde o pão de cada dia até o consolo de que carecemos nas aflições. De suas santas mãos recebemos os sinais que nos orientam a fazer sua vontade.
“Como os olhos dos servos estão fitos nas mãos de seu senhor e os olhos das servas nas mãos de sua senhora, os nossos permanecem fitos nas mãos de nosso Deus”. Delas esperamos bênção. Delas esperamos orientação. Nelas nos abandonamos e sabemos que se ele deixou que elas fossem traspassadas por nós, elas não nos afligirão sem necessidade ou razão.

Mas nunca esqueçamos de que, por vezes, somos nós suas mãos. Algumas vezes, através de nós suas mãos alcançam nosso irmão necessitado ou se levantam contra o erro.

Nunca “abafemos” seu Espírito e estaremos consagrando nossas vidas, como instrumentos dóceis de execução de sua vontade: como se fôssemos verdadeiramente suas próprias mãos.

terça-feira, 29 de agosto de 2006

Pastores e Rebanhos

Dentre as muitas formas como a Bíblia fala do Povo de Deus a figura de um rebanho se destaca, tanto pela expressividade quanto pela quantidade de vezes. Certamente precisamos ter em mente um rebanho dos dias antigos, pois tal figura já era usada desde o Velho Testamento.

Há muitas opiniões sobre a razão de seu uso, entretanto, o que eu quero destacar é o fato de que todas as vezes que a Bíblia se refere ao Povo de Deus como um Rebanho, pressupõe, direta ou indiretamente, o trabalho de um pastor. Aliás, o próprio Deus é chamado de Pastor, e todos os pastores são mostrados como seus tipos (no sentido mais estrito).

Hoje, nossa Igreja, atendendo as diretrizes estabelecidas pelo próprio Deus, reconheceu em alguns homens esta capacitação divina: pastorear seu rebanho aqui; e os chamou, votando-lhes os ofícios de Diáconos e Presbíteros.

Certamente, por mais nobres que sejam, nossos irmãos eleitos, e os demais, não são perfeitos. Só Jesus, o Supremo Pastor, o é. Porém, na medida do dom com que foram agraciados por Deus, recebem sobre si o reconhecimento e a enorme tarefa de cuidar do Rebanho do Senhor.

Como Diáconos se atarefarão das necessidades materiais do Rebanho sem perder de vista as necessidades espirituais. Como Presbíteros, velarão pelas necessidade espirituais, sem, tampouco, deixar de considerar as materiais. Ou seja, uma não é superior a outra. Cada uma expressa a natureza dos dois únicos ministérios que a Igreja possui e exercita conforme a multiforme graça de Deus: ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Tais ministérios, “da Mesa” e “da Palavra e Oração”, nunca foram esquecidos pela verdadeira Igreja de Deus, e enquanto ela estiver neste mundo, será tão fiel a sua missão quanto mais fielmente desempenhá-los. Será tão evangelizadora, tão adoradora, tão profética, quanto melhor exercitar o cuidado para com os necessitados e quanto mais se dedicar à Palavra e Oração.

Para isso esses irmãos nunca poderão esquecer que o rebanho não lhes pertence. Eles devem zelar por conduzi-lo à águas tranqüilas e à pastos verdejantes com a mesma intensidade que devem lutar para afastá-los dos maus pastos e das más águas.

Não lhes é permitido arrastar o rebanho, atrás de si, como aqueles faladores, sobre quem o Apóstolo advertiu os Presbíteros da Igreja de Éfeso (At 20.30). Também não podem empurrar o rebanho como carroceiros apressados. Mas, no meio do Rebanho, servindo de modelo, andar, ensinar, curar, cuidar... enfim: apascentar.

Os ministérios aos quais estão afetos, pressupõem, também que amem mais o Senhor do Rebanho do que o próprio Rebanho. E, como o Senhor exigiu de Pedro, só poderão receber suas ordens para apascentar o Rebanho após declararem seu amor por aquele a quem eventualmente tenham negado.

A ordem é simples: “apascenta o meu rebanho”. Mas nela estava embutida as exigências “não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho”.

Por outro lado, a ordem dada ao Rebanho, também não podia ser mais simples: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros”. (Hb 13.17)

Que Deus tenha misericórdia de seus pastores, como tem de seu rebanho.

sábado, 19 de agosto de 2006

As estações de Deus

O calor, aos poucos, vai dominando o dia e as madrugadas já não exigem o cobertor grosso. O ar insiste em permanecer seco, e, mesmo em uma ilha como a nossa, é possível sentir a umidade baixa.

A falta de chuvas grossas nos afluentes deixa a água do Rio Doce esverdeada sem o barro usual, e as chuvas esparças substituídas por chuviscos e pelo sereno da noite provocam um mormaço que aumenta a sensação de calor.

O Criador e Mantenedor de todas as coisas está tornando o ambiênte propício à germinação das sementes. Tanto das que cairam nas proximidades e adensarão o mato, quanto as que serão levadas pelos ventos, pelos pássaros ou animais, e nascerão distantes, provavelmente em lugares abertos, fechando as clareiras.

O mesmo ocorre com as que foram semeadas pelo agricultor e regadas na hora certa. Nascerão nas pantações, leivas e canteiros, não devido a sabedoria humana, mas porque, o que num instante multiplica os pães é fiel e multiplica também as sementes lançadas ao solo. Sem essa bendita providência pouco adiantaria, adubar, plantar ou regar.

Seja na solidão dos matos ou na roça bem cuidada é o Criador e Mantenedor de tudo que aquece a terra e a transforma em útero fecundo onde as sementes germinam.

Você já notou quantas vezes nosso Mestre comparou esse processo que chamamos de “natural” a verdades espirituais?

A mais impressionante – para mim – é a Parábola do Semeador. Um dos evangelistas diz que o Mestre foi explícito: “a semente é a palavra”.

Quais semeadores cegos, que desconhecem o terreno em que estão jogando a semente, mas sabem que há boa terra, semeamos. Umas cairão, nos caminhos, outras cairão nas pedras, outras nos espinheiros. Mas, haverá sempre aquelas que cairão em boa terra. Essas frutificarão abundantemente.

As vezes esta virada de clima representa bem o que acontece na vida de algumas pessoas. Deus as faz experimentarem a sequidão, o abafamento e o calor das dificuldades para que as “sementes espirituais” germinem.

São terra boa. Mas a semente precisa morrer antes de nascer, e morre exatamente nesse processo. Não foi sem razão que o Apóstolo Pedro anunciou tempos de refrigério em seu sermão após o Pentecostes.

Será que o Criador, Mantenedor e Salvador, não está tornando sua vida mais propícia a germinar a Palavra nela semeada até frutificar?

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Sobre Paternidade

Hoje comemoramos o Dia dos Pais.

Geralmente dizemos que este dia serve para homenagear os pais que ainda estão conosco e aqueles de quem temos lembranças. Porém, algumas vezes exortamos mais do que os homenageamos. Mas, entre a homenagem e a exortação há muito o que pensar sobre o assunto a que este dia nos remete.

O que significa ser pai?

Nem todos os que geraram filhos merecem esse título, e, muitos que não são pais biológicos, servem de modelo paterno.

Tenho mostrado, em estudos bíblicos, sermões e sempre que posso, como a paternidade é uma figura rica de significados e verdadeira chave para se entender certas doutrinas que, pela ignorância, muitos difamam.

O que, portanto, da paternidade humana, nos remete a um melhor entendimento de quem é Deus? Em outras palavras: por que razão Deus serviu-se do que conhecemos como paternidade para falar de si mesmo?

Em primeiro lugar, sem dúvida, a procedência. Ou seja: a criatura procede do criador como o filho procede do pai. Aliás, era nesse sentido – criador – e apenas nesse sentido, que os judeus, nos dias de Jesus, criam que Deus era Pai. Deve ter sido uma grande surpresa a todos, Jesus ensinando-os a orar a Deus com a mesma palavra que uma criança dirige-se a seu pai: abba.

Desde nossas primeiras aulas da classe de catecúmenos aprendemos que Deus é nosso pai, mas não do mesmo modo que ele é Pai de Cristo, o Verbo Eterno. Cristo é eternamente gerado por Deus, a humanidade foi criada por Deus e os eleitos receberam o poder de serem chamados filhos de Deus por adoção. Só aqui temos três formas distintas de paternidade.

Não há muita dificuldade em entender como somos filhos por adoção, pois afinal estávamos longe de Deus e ele nos buscou. Também, não há muita dificuldade em entender como a criatura, nascida após seu primeiro pai haver rebelado-se contra Deus, está hoje longe dele e sem qualquer interesse de buscá-lo. Porém, é extremamente complicado entender como Cristo é eternamente gerado pelo Pai.

Há diversas formas de explicar, porém eu ainda prefiro, pela simplicidade, pensar que Cristo procede do Pai como a palavra procede de quem fala. Afinal, ele não é chamado de o Verbo de Deus? As Escrituras não dizem que sem ele nada do que foi feito se fez, e a primeira coisa não foi feita pela palavra?

De fato: nosso Senhor é a Palavra de Deus. Palavra que não volta para ele vazia, mas faz tudo o que lhe apraz. Entretanto só entendemos melhor esta Palavra - em tudo diferente da nossa, mas origem e eficácia de qualquer comunicação - se mantivermos firmes a idéia de que Deus e sua Palavra relacionam-se de tal modo que apenas o que sabemos da paternidade pode nos dar um vislumbre desse maravilhoso mistério.

Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! (Romanos 11.33)

Responsabilidade inaudita! Nós, “que somos maus”, servirmos de exemplo para a atuação do Pai Celeste junto aos seus filhos. Nós, pecadores, sermos exemplos através dos quais se possa ver um pouco dos mistérios de Deus.

Nos alegremos por tão grande privilégio que o Pai Celeste nos confere. Porém, temamos ante tão grande missão.

Feliz dia dos pais!

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Sanguessugas e lobos

Muitos brasileiros ficaram estupefatos ao saber que alguns dos que receberam sua confiança através do voto, se apropriavam de parte do valor pago por algo tão básico e necessário quanto uma ambulância.

Muitos brasileiros evangélicos ficaram mais estupefatos ainda, para não dizer indignados, quando souberam que boa parte desses espertos formavam a chamada "bancada evangélica".

Não era pra ser assim.

Tais pessoas receberam a confiança de seus eleitores exatamente afirmando que, acima de tudo, eram honestos. Nas últimas eleições, como sempre é feito, todos enfatizaram a própria honestidade, como se isso fosse o pré-requisito básico para serem eleitos e não a obrigação de todo cidadão. Enganaram seus patrícios.

No caso dos evangélicos envolvidos nisso, a falta é ainda mais grave. Além de já terem cometido a falta comum aos demais, o discurso deles, que levou muitos a lhes confiar o voto, é mais repugnante.

Primeiro, mesmo não sendo explícita, a proposta deles, ao levantarem a bandeira de evangélicos, é a de limpar, moralizar, as vezes até mesmo “santificar” o que chamam de “a política”.

Em segundo lugar, muitas vezes o Nome de Deus é vilipendiado mesmo antes da eleição ao apresentarem-se como os “escolhidos de Deus”.

Até algum tempo atrás só o primeiro grupo fazia parte do folclore político. Porém, para vergonha nossa cumpre-se no segundo grupo a palavra do Apóstolo: O nome de Deus é blasfemado por causa deles. Viraram motivo de piada (modo como o brasileiro sublima sua indignação). Agora já fazem parte do folclore político brasileiro: o “evangélico” que diz merecer o voto por ter escutado a ordem de Deus para sanear a política, mas, que na verdade, ouvem a voz do próprio bolso para ajuntar malas de dinheiro ou para superfaturar ambulâncias.

Piores do que os falsificadores de remédios, do que os adulteradores de sangue. Esses só conseguem roubar ou os bens materiais e matar o corpo. Porém essa súcia de malfeitores roubam e matam a boa fé de crentes simples e facilmente manipuláveis: dóceis quais ovelhas de um rebanho.

Além de sanguessugas, cabe muito bem neles o título de lobos.

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Qual é a sua turma?*

Hoje é o dia do Adolescente Presbiteriano. É dia de elogios e de comemorações. Porém, é dia de refletir. Hoje há, pelo menos, três tipos de adolescentes dos quais você deve fugir. Mas, fugir mesmo. Fugir enquanto é tempo.

Primeiro: o tipo Suzane: Apesar de rica, viajada, culta, carro importado, boas escolas, boa igreja, pode ter sua vida descrita, numa palavra: Eu.

Logo após o funeral já quis saber se podia usar a herança. Herança dos pais que ela havia matado.

Esse tipo de adolescente desenvolve-se mais rapidamente quando seus pais sempre dizem sim. Ou por se sentirem obrigados a compensar a ausência, ou por amarem mais a seus filhos do que a Deus, que manda discipliná-los. Porém, isso não é desculpa para que todo adolescente fique assim. O adolescente que ama a Deus, sabe que deve obediência a seus pais e que antes de atender a seu próprio Eu, tem de atender a Deus e aos Pais.
Você tá na turma da Suzane?

Segundo: o tipo Cravinhos: Pobres, desejosos de riqueza, pouco estudo, poucas perspectivas de ascensão social, percebem na moça rica um modo de ficar ricos também. O preço? Matar os pais dela.

Era a fome com a vontade de comer. Ela não gostava de ser contrariada, e os pais eram uma barreira. Eles bem que poderiam remover a barreira.

Não se sabe exatamente de quem foi a idéia. Talvez de todos. Era muito atraente: ela ficava livre do estorvo dos pais e eles entravam em uma grana boa. Um deles logo comprou uma tremenda moto!

São os adolescentes criados sem objetivo de vida. Sem a disciplina do Senhor. Querem se dar bem sem o trabalho correspondente.

Você está na turma deles? Espera uma chance sem criar os meios dela aparecer? Está disposto a fazer o errado para pegar uma grana fácil?

Terceiro: o tipo Liana e Felipe (esses, até na idade, adolescentes mesmos): Nem pobres, nem ricos. Estudantes de boas escolas. Filhos de pais cuidadosos e presentes. Mas, loucos por uma aventurazinha. Aventura não permitida pelos pais. Saída? A mentira.

A dela: vou dormir na casa de amigas e estudar para uma prova na segunda-feira. A dele: vou viajar com a turma antes que a gente se separe de vez. Na verdade, foram se curtir, em um lugar muito bonito e isolado. Tão isolado que ninguém viu ou ouviu serem mortos.

E então? Você tá na turma deles? Esconde suas malandragens debaixo do tapete da mentira?

Não preciso nem citar a Bíblia para mostar o quanto esses tipos de comportamento são condenados por Deus. Mas é bom lembrar: uma mentirinha, precisa de outras cada vez maiores para ser encoberta. Um errinho precisa ser consertado logo, ou cresce. Uma vida de mentiras e erros nunca acaba bem.



Meu filho, escute o que o seu pai ensina
e preste atenção no que a sua mãe diz.
Os ensinamentos deles vão aperfeiçoar o seu caráter,
assim como uma boa roupa melhora sua aparência física.
Provérbios 1.8e9 (tradução livre)
-
*Idéia original do Rev. Jáder Borges Filho
-

Andar e parar

Deus guia seu povo de diversas formas. Algumas vezes abre portas onde menos se espera e em outras fecha-as obrigando-nos a ficar parado. Correr pelos caminhos que nascem das portas abertas é uma obrigação tão grande quanto parar quando todas estão fechadas.

Correndo, aproveitamos, quais semeadores cegos, jogar a semente, nos caminhos, nas pedras, nos espinhos e as vezes em terra boa.

Parados, precisamos refletir sobre a situação em que nos encontramos.

Talvez a primeira pergunta que ele quer que façamos seja: Por que fui obrigado a parar? Há muitos motivos pelos quais o Senhor nos manda parar.

As vezes precisamos apenas descansar um pouco. As vezes, qual Marta, precisamos entender o quanto é importante desfrutar de sua companhia. É claro que devemos cuidar de sua obra. Mas devemos fazê-lo sob sua orientação. Sob a luz de seu rosto.

As vezes devemos aprender um pouco mais. Como dizemos: amolar as ferramentas.

Porém, na maioria das vezes, ele nos para a fim de quebrantar nosso eu. Ensinar-nos que somos nada. Mostrar o quanto dependemos dele e o quanto precisamos deixar o orgulho.

Ambos: correr e parar, são fundamentais na vida do discípulo do Senhor.

Os oficiais da Igreja (Parte 3)

À luz de tudo o que já vimos, os oficiais da Igreja, hoje, têm por função dar continuidade a obra de Cristo nos moldes em que ela foi “formatada” por seus Apóstolos e dentro da “cosmovisão histórica” revelada através de seus profetas. Por isso a Igreja é única: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef 2.19-20).

Por “formatada” deve ser entendido que ela é governada conforme moldes muito peculiares que atendem ao que os Aspóstolos do Senhor aprenderam dele.

A importância destes moldes poder ser avaliada: em sua primeira viagem missionária, depois de passar por diversas cidades o Apóstolo Paulo foi apedrejado na última, e, dado como morto, foi jogado da cidade. Socorrido pelos irmãos, já no dia seguinte ele começou o caminho de volta passando pelas mesmas cidades em que fora perseguido preocupado em eleger presbíteros em cada Igreja. À luz disso poderiamos menosprezar as funções dos oficiais da Igreja? Nos atreveríamos a substituir este tipo de governo?

Por “cosmovisão histórica” dos profetas deve ser entendido que o Senhor da história a dirige linearmente em direção a um ponto. E que tudo o que aconteceu no passado visou preparar seu povo para a plenitude dos tempos em que a revelação seria dada pelo seu próprio Filho em pessoa, no qual além de habitr corporalmente a plenitude da divindade é a expressção exata de seu ser.

Portanto a verdadeira obrigação dos oficiais da Igreja não é com o rebanho, mas com o Senhor do Rebanho.

Devem atender as ovelhas na medida e conforme sua santa vontade, sem buscarem outro norte a não ser sua Palavra, sem se importarem com qualquer outra coisa que não o atinjir a “estatura de Cristo”.

Ser oficial da Igreja, portanto, é uma honra que o Senhor concede, mas ao mesmo tempo é a maior prova de obediência que o Senhor exige de seus filhos.

terça-feira, 11 de julho de 2006

Os oficiais da Igreja (Parte 2)

No Boletim de domingo passado mostrei que os oficiais da Igreja são presentes dados por Deus a seu povo. Hoje chamo sua atenção para que, ao dar tais presentes, Deus tem intenções determinadas: são “presentes úteis”.

1. São úteis para a Igreja: Deus visa o bem de seu rebanho como um todo. Devem ser capazes de levar o rebanho à águas tranqüilas e à pastos verdes. Devem ser capazes de afugentar os lobos vorazes e não fugir deles como fazem os mercenários. Como nos ensinou nosso Senhor e Mestre:
“O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário foge, porque é mercenário e não tem cuidado com as ovelhas (Jo 10.11-13).

É claro que o Senhor estava falando de si mesmo, mas este é o modelo para aqueles que tem sob seus cuidados o rebanho de Deus.

Porém, são úteis também na repreensão aos erros que se propagam no rebanho. Às vezes devem “curar” uma doença que já contaminou grande parte do rebanho.

2. São úteis para as ovelhas individualmente: Espera-se dos oficiais que pastoreiam o rebanho do Senhor, que saibam cuidar também de cada ovelha. Afinal o que quer dizer com “apto para ensinar”? Ou por que é que exige-se que ele governe bem sua própria casa? Que traga seus filhos sob controle?

Como acontece à coletividade, a repreensão e a disciplina dos pastores deve chegar a cada ovelha em particular: corrigir as que ainda podem ser corrigidas e isolar as que podem transmitir infecções ao restante do rebanho.

Entretanto, a utilidade dos oficiais esbarra na:
1. A frouxidão do exercício das obrigações. Apesar de advertidos da maldição de Deus sobre os que fazem sua obra relaxadamente, tem sido cada vez mais difícil ver um que ame a Deus mais do que às ovelhas. E por amá-las tanto tolera seus erros, contemporiza suas desobediências e algumas vezes até elogia a ovelha que, de caso pensado, rebela-se contra a vontade do dono do rebanho.

Deve ser diferente: “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas".

Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério. (2 Ti 4.2-5).

2. A “dura cerviz” do rebanho: Como parece ser fácil, muitos querem ser oficiais. “Excelente obra almejam”! Porém é necessário que preencham uma série de qualidades (veja todas em 1Tm 3).

Como organização sui generis a Igreja parece as vezes com uma associação, outras vezes com uma empresa ou com um clube. Entretanto ela não pode ser dirigida assim. Seu único propósito é adorar a Deus. Sua única força reside no poder do Espírito. Seu único manual de operações é a Bíblia.

Você está disposto a fazer a vontade de Deus? Permita que seus irmãos reconheçam em você alguém chamado e apto para pastorear o rebanho do Senhor. E pastoreie-o!

domingo, 2 de julho de 2006

Os oficiais da Igreja (Parte 1)

Aprofundando mais o estudo da obra do Espírito Santo, e aproveitando que nossa igreja aproxima-se da data em que elegeremos oficiais, achei por bem escrever, durante alguns domingos, sobre esse tema.

“Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei.” Estas foram as palavras do Senhor Jesus a seus Apóstolos: a vinda do Espírito Santo estava condicionada à sua volta aos céus.

“Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”. Segundo nosso Senhor e Mestre essa é sua missão direta em relação ao mundo.

“Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido ... Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.” Sua função primária, em relação à Igreja, é dar continuidade a obra do Senhor.

O Senhor, por sua morte, remiu todos os que o Pai lhe deu (aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida: a que chamamos de “Igreja invisível”). Porém era necessário que ele voltasse aos céus.

Para que seus remidos pudessem se estimular mutuamente, enquanto aguardam sua volta, (formando o que chamamos de “Igreja visível”) ele não os deixa órfãos, mas envia-lhes o Consolador com a missão de uni-los em um grupo totalmente diferente de todos os agrupamentos próprios do homem: a Igreja.

A Igreja (visível) caracteriza-se por reunir aqueles por quem o Senhor morreu e também outros: desde simpatizantes até “inimigos da cruz de Cristo”. Apesar de remidos, todos ainda são pecadores e, portanto, mais propensos a impor suas próprias vontades, do que a fazer a vontade daquele que formou e mantém a Igreja.

Para corrigir este comportamento “ele mesmo concedeu ... outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé ... para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”.

Esses pastores e mestres a que o texto se refere (se refere também a outras dádivas de Deus) são os oficiais ordenados.

Os pastores - todos os oficiais de um modo geral - têm a tarefa de levar o rebanho a águas tranqüilas e a pastos verdes: zelam pelo bem estar geral do rebanho.

Os diáconos pelo “servir as mesas”: atender às necessidades do rebanho.

Os presbíteros pela disciplina, administração e representação conciliar da Igreja.

Os mestres são os presbíteros que “se afadigam na palavra e no ensino” para que a Palavra de Deus tenha preeminência.

Detalharei melhor esses ofícios nos próximos boletins. Porém, como introdução, posso dizer que a missão deles, apesar de ser de difícil realização, é de fácil compreensão. Paradoxalmente, aí reside um dos grandes problemas que a Igreja enfrenta hoje: compreender o que significa, para Deus, pastorear seu rebanho.

Finalizando: eles nunca podem se esquecer que são presentes de Deus para o rebanho. Deus é quem dita o que eles devem fazer.

sábado, 24 de junho de 2006

O Pentecostes hoje (Parte 3)

No último Boletim mostrei uma das muitas maneiras pelas quais uma Igreja Presbiteriana se “pentecostaliza”. Prometi para o Boletim de hoje dizer se o pentecostalismo é bíblico ou não.

Pois bem: antes é necessário um pouco de perspectiva histórica.

A origem do movimento pentecostal, como conhecemos hoje, é incerta. Há quem o filie ao Rev. Edward Irving, pastor Presbiteriano Escocês, outros aos Shakers, cujo culto era caracterizado por cânticos, danças e tremores (shake em Inglês) e eram uma dissidência dos Quakers, que, ao contrário, tinham suas reuniões caracterizadas pela meditação e silêncio. Outros, sem qualquer respaldo histórico, confundem com as Assembléias de Deus.

Ou seja: Historicamente o movimento pentecostal de hoje nada tem a ver com o pentecostes bíblico (tanto é que sequer comemoram esse evento que tem dia e hora marcados na Bíblia).
O pentecostalismo de hoje dá tanta ênfase aos dons espirituais (especialmente aqueles que destacam quem os pratica), que assemelha-se à pratica que levou o Apóstolo Paulo a repreender severamente a Igreja de Corinto.

Enquanto os dons trazidos pelo Pentecostes bíblico visavam facilitar a propagação do Evangelho entre as nações, especialmente quebrando a barreira dos idiomas, os dons exercidos pelo pentecostalismo atual promovem a divisão.

Entretanto a pergunta que prometi responder é se “o pentecostalismo de hoje é bíblico ou não”.
Vamos a ela.

A reposta é mais complicada do que um “sim” ou um “não”, já que ele possui algumas características bíblicas, e, não é um sistema único, mas composto de várias correntes.

Uma das características bíblicas é o desejo sincero de uma vida pessoal mais santa e mais simples. Porém, há uma série de práticas claramente condenadas pelas Escrituras. Por exemplo:

1. Cl 2.18 “Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade ... baseando-se em visões ...”

2. 1Co 14.27e28 “No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete. Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus.”

E assim, a lista de práticas acintosamente contrárias a ensinamentos da Bíblia seria grande. Porém, talvez, os maiores problemas não estejam naquilo que pode ser facilmente diagnosticado e corrigido, mas na “cosmovisão” característica, que, por falta de espaço, mostrarei pouquíssimos pontos.

1. As revelações, visões e experiências pessoais são uma fonte de ensino e autoridade mais acatada do que a Bíblia. Veja: isso assemelha-se ao catolicismo romano para quem a Bíblia é uma das regras de Doutrina e Prática.

2. Tudo o que aconteceu na História da Redenção, pode e deve se repetir hoje. Veja: Deus não muda, mas nós mudamos. Quando não tínhamos a escrita e, portanto um registro confiável dos feitos e ordens divinas, ele permitiu que vivêssemos por muitos anos. Quando não éramos capazes de influenciar povos idólatras sem imitar-lhes, ele nos isolou do resto da humanidade.

Entretanto ao vir a plenitude dos tempos ele nos capacitou, especial e instantaneamente, a influenciar o mundo anunciando suas grandezas em idiomas que nunca havíamos ouvido. E, ao nos espalhar pelo mundo inteiro, assimilando os vários idiomas e culturas, protegidos contra a idolatria, tais capacidades deixaram de ser especiais e passaram a ser produzidas pela graça comum.

Essa progressão histórica do povo de Deus não faz parte das considerações do pentecostalismo atual.

3. Julgar-se o centro de tudo e de todos. Já ouvi uma senhora agradecer a Deus por tê-la preservado de cometer adultério com uma inundação. Uma das piores de São Paulo sofreu e que matou a muitos, mas para ela foi Deus quem mandou para evitar que ela se encontrasse com o amante.

4. Tornar Deus servo a quem tudo deve ser determinado, de quem tudo deve ser exigido e quem cede posse do que se deseja.

5. Passar a confiar em si próprio: na qualidade de sua própria oração, no poder de sua própria palavra, nos méritos de seu jejum, na sua fidelidade ao dízimo, na força de seu ajoelhar, rolar no chão, levantar as mãos, saltar, etc.

6. Desprezar o próprio Espírito Santo fez através do que os antigos disseram ou fizeram, em nome de uma ligação pessoal atual e “mágica” com Deus.

7. Trocar a racionalidade – característica que separa o homem do restante da criação – pela emotividade, ou sensorialidade.

A luz de tudo isso, que resposta eu poderia dar? Bíblico? Tão bíblico quanto a Igreja de Corinto, onde as mazelas eram toleradas e a Igreja dividia-se cada vez mais devido a um grupo que chamava-se “os espirituais”. O Apóstolo Paulo testifica que eram salvos, mas não poupa-lhes repreensões que são alertas para nós hoje. Bíblico apenas por está registrado na Bíblia.

Não os imitemos.

O Pentecostes hoje (Parte 2)

O evento que relembramos no primeiro domingo deste mês - verdadeiro marco histórico para a Igreja - tem sido pretexto para muitas agitações no meio do Povo de Deus.

Afinal, o que significou, para a Igreja, o dia de Pentecostes senão seu nascimento na forma em que a conhecemos hoje? Entretanto, o que significa, hoje, o movimento dos últimos séculos que se autodenominou “pentecostal”, senão uma fonte de divisões e brigas dentro da Igreja?

Você conhece alguma Igreja Presbiteriana que não tenha sofrido divisões devido a este movimento? Eu desconheço alguma que tenha passado incólume.

Aproveitarei estes próximos domingos para tentar analisar como ele se manifesta e influencia as Igrejas Presbiterianas.

Sem obedecer uma ordem de importância, cito, primeiro, uma má aplicação de nosso sistema de governo, como um dos meios que facilitam sua entrada em nossas Igrejas.

Nossos oficiais são eleitos por suas respectivas igrejas para apascentar o Rebanho de Deus em virtude de características muito bem definidas na Bíblia (hospitaleiro, cordato, apto para ensinar, etc.), para uma missão igualmente bem definida: "... com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina..." (Ef 4.11a14).

Ninguém deve ser eleito oficial de uma igreja, por quaisquer outras qualidades que não as que Deus mesmo determina em sua Palavra, e ninguém deve aceitar tal missão se não for para fazer o que igualmente ele determina.

Entretanto, por serem eleitos, muitos sentem-se "devedores" a seus eleitores; e, ao mesmo tempo, os eleitores sentem-se no direito de cobrar-lhes o que crêem ser o melhor para a Igreja.

Por vivermos em uma democracia, trazemos para a Igreja conceitos políticos do quotidiano. Exemplifico:

Há alguns anos atrás, em uma reunião do Conselho de uma Igreja em que fui pastor, boa parte dos membros tomaram partido de alguém que defendia práticas claramente condenada na Bíblia. Durante os debates na reunião um dos presbíteros argumentou que, se esse irmão tinha tantos adeptos na Igreja, ele tinha o direito de ter representação no Conselho.

Observe que este pensamento atribui ao Conselho um papel equivalente ao do Congresso Nacional, onde devem estar representadas todas as idéias, sem quaisquer distinção. Porém a Igreja não é assim: a Igreja é confessional.

Ela não representa a vontade de seus membros e sim a vontade de Deus como está registrada nas Escrituras Sagradas, conforme a interpretação dos Símbolos de Fé.

A Constituição de nosso País é explícita ao declarar que “todo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos... (Art. 1º - § único)”. Na Igreja todo poder provêm de Deus e em Seu Nome é exercido, mediante obediência a sua vontade revelada na Bíblia.

Mesmo que 100% do rebanho venha a ter um determinado pensamento é dever do Conselho permanecer fiel à Palavra de Deus.

Mas, dirão alguns: o movimento pentecostal não é contrário à Palavra de Deus.

Este já é outro assunto. Se Deus permitir o analisarei na próxima semana.

segunda-feira, 5 de junho de 2006

O Pentecostes hoje (Parte 1)

Hoje, qüinquagésimo dia após a Páscoa, é dia de festa para os judeus. Chamam-na de Chag ha-Shavuót (Festa das Semanas) ou de Chag ha-Bicurim (Festa das primícias) ou ainda de Chag ha-Catsirim (Festa das colheitas). Porém, como essas palavras sempre foram muito complicadas para os gregos, o nome Pentecostes pegou desde antes do nascimento de Cristo.

Embora a Bíblia só fale dela como a festa que marca o fim da colheita do trigo, os judeus a comemoram também como o dia em que Moisés recebeu as tábuas da lei – pois vêem uma coincidência de datas desde a saída do Egito, que foi na Páscoa, até a chegada ao Monte Sinai – e lembram-se também de Rute, a moabita que afirmou sua fé no judaísmo diante de Noemi (teu povo é o meu povo, teu Deus é o meu Deus) e casou-se com Boaz nesta data, vindo a ser a avó de Davi.

Para eles é uma data propícia ao estudo da Torah (o nosso Pentatêuco) e passam a noite lendo-o. Lêem também o Livro de Rute e, lembrando seu gesto, consideram a melhor data do ano para que os adolescentes façam seu Bar-Mitzvah (o equivalente a nossa Profissão de Fé).

Há relatos de que o povo de Israel, nos dias do templo, costumava sair de suas aldeias levando os primeiros frutos de seus campos, encontravam-se na maior cidade da região, e subiam em direção à Jerusalém, onde eram recebidos com cânticos pelos Levitas.

A cerimônia da Festa, realizada nas dependências do Templo, incluía, na hora do sacrifício, o oferecimento a Deus de dois pães com a farinha do trigo da nova colheita, que, diferentemente dos demais, eram fermentados (Lv 23.15-17).

Jerusalém ficava cheia. Como era uma festa celebrada após a colheita, muitos a preferiam como uma das três festas a que eram obrigados celebrar em Jerusalém. Havia abundância trazida pelos Judeus de todas as partes do mundo por onde foram espalhados desde o cativeiro babilônico, pois vinham a Jerusalém com o ‘segundo dízimo’: onde devia ser gasto (Dt 14.22-29).

Na primeira celebração desta festa após a morte de Jesus o Espírito Santo foi derramado sobre a Igreja. Não podia haver melhor data: todos os que se interessavam, e conheciam a Torah, estavam lá, vindo das mais diversas partes do mundo, e testificaram ouvir as “grandezas de Deus” na língua da terra de onde vinham.

De repente a moabita Rute e os pães fermentados faziam sentido: era achegada dos gentios. Era o Povo de Deus, adquirindo nova face: transformando-se. Já não estavam limitados a uma nação. Das pedras Deus suscitara filhos a Abraão. Ainda eram judeus, entretanto agora o que caracterizava a todos era o “ouvir a Deus”, como Moisés quando estava no Sinai.

A esta primeira “audição” seguiu-se outra, em Samaria, onde os judeus misturados com gentios também ouviram falar as “grandezas de Deus”. Depois na casa de Cornélio, o centurião Romano, “temente a Deus” (que tinha tudo para ser judeu mas não podia), e, finalmente, os “pagãos” de fato, começando pelo Procônsul Sergio Paulo e os 16 de Éfeso.

Todos ouviram as grandezas de Deus. Todos ouvem hoje. Se Babel, por um tempo impediu, já não impede. O que começou de modo especial, hoje é mantido pela graça comum: através do trabalho de muitos tradutores as “grandezas de Deus” se tornam acessíveis a um número cada vez maior de falantes de outras línguas.

Essa é a natureza primária do Pentecostes: criar um povo apto a ouvir as grandezas de Deus.

sábado, 27 de maio de 2006

A Bíblia: desde a infância

Desde muito cedo aprendi com meus pais a ter grande apreço pela Bíblia. Ainda criança já tinha consciência de sua singularidade. Nunca joguei uma fora - mesmo as mais usadas ainda permanecem comigo - nem deixei que alguém jogasse.

Estava, e ainda estou, bem certo de que seu valor transcende o do papel, porém como respeito ao que ela nos traz - a revelação divina - meu apreço estendia-se e estende-se às mídias em que esta revelação está registrada.

De vez em quando olho a Bíblia que usei quando adolescente. É bom ver marcado em suas páginas os textos que me traziam força para as lutas daquela época. É bom relembrar como eu os entendia e como os aplicava em minha vida. É bom entender os problemas ou vitórias, ou descobertas, que fizeram com que aqueles textos se destacassem a mim. Foram muitos.

Absolutamente, não quero me colocar como exemplo, porém, mostrar como a vida de uma criança, adolescente, jovem e agora adulto pode ser vivida na presença de Deus sem os perigos do misticismo, sem as bobagens da superstição e sem a hipocrisia da falsa piedade.

O misticismo não conduz a Deus. Quando muito conduz à própria pessoa que engana-se a si própria. A superstição leva à coisas como deixar a Bíblia aberta em direção a porta, no Salmo 90, para evitar a entrada de ladrões. A falsa piedade leva a uma vida voltada para impressionar os outros. Esses três usos, são os modos mais eficiente do inimigo de nossas almas nos levar a fazer o que ele quer, servindo-se da Palavra de Deus.

Hoje vejo a Bíblia, não com ingenuidade que meus pais, querendo ou não, passaram a mim, e, pela qual, serei eternamente grato. Tampouco como aquele fantástico espelho dos meus problemas de adolescente e jovem. Todas essas formas de vê-la, é certo, continuam, porém como pequena semente de uma árvore tão grande que já perdi a noção de seu tamanho.

Dela me vem instrução para o dia-a-dia, porém vem discernimento para o rumo que os "tempos" estão tomando. Com ela os noticiários são mais relevantes e claros. Com ela o lazer adquire gosto especial de dádiva divina. Com ela as artes são mais artes: a música é mais do que som, as cores têm vozes e os desenhos ganham expressão.

Porém, acima de tudo, as dúvidas - vento insistente que não refresca - são dissipadas mais facilmente. Afinal, tenho a Bíblia como a única Palavra registrada de Deus, e, por ele mesmo, autenticada.

Por que é que você acha que dentre tantas coisas que ele podia nos deixar preferiu deixar-nos um livro?

sábado, 20 de maio de 2006

Sobre a violência

Certamente você já leu a história de Noé. Afinal, desde criança, ouvimos falar de sua arca. Hoje ele é símbolo da luta pela preservação das espécies. Porém há, em sua histórica, uma determinação divina que, paradoxalmente, soa aos ouvidos modernos como aberração. Veja:

Eis a história de Noé. Noé era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos; Noé andava com Deus. Gerou três filhos: Sem, Cam e Jafé.

A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência.

Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque todo ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra.

Então, disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os farei perecer juntamente com a terra. (Gn 6.9-13)

A causa primária da ira de Deus sobre os contemporâneos de Noé foi a violência deles. Todos foram eliminados, menos Noé, sua esposa, seus filhos e suas noras.

Não foi uma tsunami que atingiu um país, ou um continente. Foi o extermínio da humanidade. O Criador estava repovoando seu planeta a partir de uma família que lhe era temente.

Deus destruiu as antigas raças antediluvianas, mais violentas do que o homem moderno, e alterou a biologia, reduzindo drasticamente a expectativa de vida humana.

Porém o que chama minha atenção, além da antiguidade do problema, é o fato de que raras vezes relacionamos a violência com nossa inata disposição pecaminosa, que no texto é chamado de “todo ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra”.

Preferimos culpar as estruturas sociais: Costumamos debitar na conta do stress cotidiano, ou na conta dos desvios comportamentais impingidos por uma sociedade estruturalmente má, a violência cometida por pessoas cultas e abastadas, ou pelo menos pertencentes à chamada classe média.

A violência cometida por desprovidos de saber e de bens, diferentemente, debitamos na conta da falta de investimentos sociais.

Há quem sustente essas conclusões com textos semelhantes aos seguintes:

“O cetro dos ímpios não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda a mão à iniqüidade” (Sl 125.3).

Ou:

“... não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus” (Pv 30.7-9).

Estes textos parecem garantir que, até mesmo o justo, quando oprimido, acaba rebelando-se, e ao empobrecido é natural o furto.

Porém, não está claro que os escritores estão, hipoteticamente, prevendo situações extremas?
Podemos, sobre essas afirmações argumentativas, firmar doutrinas que vão contra a totalidade do ensino ético da lei de Deus?

Dizer que os atos de violência, de que fomos testemunhas nos últimos dias - e todos os demais - resultam apenas da pobreza é o mesmo que zombar dos que nasceram, e continuam pobres, e não se valeram, nem se valem, da violência.

A violência é inerente ao ser humano descendente de Adão, e, portanto, pecaminoso. Ela já aparece em nossa mais tenra infância. A “disfarçamos” pela educação recebida de nossos pais e da sociedade em que nos inserimos.

Entretanto, se a sociedade fica cada vez mais violenta, glorifica cada vez mais a violência e a impunidade, ou se o legítimo representante do Criador - o estado: ministro de Deus - não a reprime, em breve teremos gerações mais violentas do que suas anteriores.

Devemos compreender que a violência é domada apenas pelo Espírito Santo do Senhor que, habitando em nossos coração frutifica “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio”.

Porém, se, de modo análogo ao que acontece na sociedade, os legítimos representantes do Senhor diante de seu Rebanho preferem um “outro evangelho”, buscam um “outro deus”, e atribuem ao Espírito “outros frutos” - que muitas vezes estão carregados de violência - teremos logo a derrocada da Igreja diante do século: o sal sem sabor a que referiu-se nosso Senhor e Mestre.

Portanto queridos irmãos, “Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito (Gl 5.25)”.