sábado, 24 de agosto de 2013

Pecadores eternamente salvos

Você já deve ter reparado que esta série de artigos visa apenas abordar os chamados “Cinco Pontos do Calvinismo” de uma forma menos técnica. Espero estar conseguindo pois este é o último deles.

Porém, antes de falar dele vamos nos lembrar do que já vimos:

No primeiro artigo tentei mostrar como o pecado, apesar de nos parecer algo menor do que um crime, é tão odioso aos olhos de Deus, que custou-lhe a morte de seu Filho.

No segundo artigo espero que você tenha tido pelo menos um vislumbre de que a situação do homem sem Deus não pode ser pior: Além de espiritualmente morto ele está inerte. Depende totalmente de Deus. Está completamente abandonado à misericórdia de Deus. Seu estado é muito pior do que o de um bebê que está sendo parido, pois o bebê está vivo e de alguma forma contribui com seu nascimento, ainda que involuntariamente.

No terceiro texto espero ter deixado claro que o sacrifício de Jesus não foi feito apenas para criar uma possibilidade de salvação. Possibilidade esta que pode ser aceita ou rejeitada, pois se fosse assim todos a rejeitariam. Ou melhor: sequer tomariam conhecimento dela já que estão mortos em seus delitos e pecados, são por natureza filhos da Ira e inimigos de Deus.

Do quarto texto espero ter deixado claro que, ao toque salvífico do Senhor, não há outra opção para os mortos além de ressuscitar. Ou seja: ninguém resiste ao chamado gracioso do Senhor.

Hoje, considerando tudo isso, espero que fique claro que a obra que o Senhor realiza no pecador tem consequências eternas. O resgate é para sempre. No fundo é a recuperação do que nossos primeiros pais perderam no Éden.

Já mencionei as palavras de Jesus, mas não custa repeti-las: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.” (Jo 6.37) e “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” Jo 10.27-28). Percebeu? A obra de Jesus tem consequências eternas. Ele salva o pecador para vida eterna. E nem mesmo o pecador tem a possibilidade de alterar tal destino. A obra do Senhor é total e completa: Dentre os mortos, surpreendentemente, ele escolhe alguns e os ressuscita e os faz perseverar para a vida eterna.

Talvez a dificuldade maior em se aceitar esta doutrina, resida no fato de que, mesmo depois salvos, alguns caem em desgraça e passam a viver uma vida contrária a vontade de Deus. Mas não foi exatamente isso o que ocorreu ao Filho Pródigo? Acaso, longe de casa, depois de ter desfeiteado a seu pai, dissipado seus bens e chegado ao ponto de se alimentar da comida dos porcos, ele deixou de ser filho?

É claro que não podemos esquecer daqueles, a respeito dos quais, as Escrituras mesmo nos alertam: “são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato” (Jd 1.12) “para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre” (Jd 1.13). Foi a respeito de pessoas assim que o apóstolo João escreveu: “...saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos” (1Jo 2.19). Entretanto aquele que já é selado pelo Santo Espírito da Promessa, esse só tem um destino: a glória.

Não nos esqueçamos nunca de que ele persevera porque Deus é quem o sustenta. Se não fosse o Espírito Santo, ele sequer conseguiria chamar a Deus de Pai (com propriedade), pois continuaria morto em seus delitos e pecados.

Aleluia! Deus salva pecadores.

sábado, 17 de agosto de 2013

Pecadores inevitavelmente salvos

Espero que ao ter lido o primeiro artigo desta série (Pecadores), você tenha entendido que pecado não é um simples esbarrão em Deus do qual você possa pedir desculpas, muito menos um gesto de desobediência à vontade dele semelhante ao que fazíamos com nossos pais quando crianças. Pecado, na verdade, é um estado de rebeldia contra o Criador, que criou o homem para ser espiritualmente vivo e ele escolheu ficar espiritualmente morto para Deus.

Do segundo texto espero que você tenha compreendido que alguém que se matou espiritualmente, não é capaz de reviver-se, mas precisa de Deus – o autor da vida – para ressuscitá-lo.

Do terceiro texto espero que tenha ficado claro que o sacrifício de Jesus não foi feito apenas para criar uma possibilidade de salvação, que mortos (como se mortos pudessem fazer algo) possam aceitar ou rejeitar.

Hoje desejo deixar bem claro que ao toque salvador do Senhor, não há outra opção para os mortos além de ressuscitar.

A Bíblia nos relata que o Senhor Jesus, durante “os dias de sua carne”, ressuscitou três mortos. A filha de Jairo (Mc 5.22-24 e 35-42); o filho da viúva de Naim (Lc 7.12-15) e a Lázaro (Jo 11.43-44). Embora todos estes casos contenham os elementos que quero destacar, analisarei o de Lázaro, onde eles aparecem mais claramente.

1º Lázaro estava realmente morto. Jesus assegurou-se de que ele morreria demorando a atender a mensagem mandada pelas irmãs dele (Veja os primeiros versículos do capítulo de João 11). A própria irmã do defunto atestou seu estado de putrefação: “Então, ordenou Jesus: Tirai a pedra. Disse-lhe Marta, irmã do morto: Senhor, já cheira mal, porque já é de quatro dias” (Jo 11.39).

2º O morto é deixado para que “... o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (Ec 12.7). Ele já não tem mais domínio de si e, inerte, nada mais faz. Porém, seu espírito está nas mãos de Deus.

3º Como Jesus ressuscitou a esses três poderia ter ressuscitado a muitos mais ou a todos seus contemporâneos. Por que não fez? Porque não quis!

Do mesmo modo que o corpo morto está sob a vontade de seus circunstantes, que podem enterrá-lo, cremá-lo, ou fazer coisa pior, o pecador morto está nas mão de Deus. É de causar admiração que deste rio de mortos, desta vala comum, ele selecione um e devolva-lhe a vida espiritual, restaurando também o corpo que já se putrefazia nos mais abjetos antros do pecado.

Entretanto a voz de comando “... sai para fora” não pode ser resistida, pois nem as trevas resistiram a essa mesma voz quanto sua ordem foi “haja luz”.

Neste instante é que se processa o que os teólogos convencionaram chamar de regeneração (de re+gerar): Ele foi gerado de novo. Nas palavras de Jesus a Nicodemos ele nasceu da água (alusão ao derramamento do Espírito prefigurado nas águas que nascem do Templo conforme a profecia de Ezequiel) e do Espírito, pois foi o mesmo Espírito Santo que agiu: “ ... Envias o teu Espírito, eles são criados, e, assim, renovas a face da terra” (Sl 104.30).

A graça deste chamado é a tal ponto irresistível, que o próprio Jesus declarou: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.” (Jo 6.37).

Quando Saulo se debatia, com o que lhe parecia escândalo e loucura, a voz do Senhor Jesus foi bem clara: “E, caindo todos nós por terra, ouvi uma voz que me dizia na língua dos hebreus: Saulo, Saulo, por que me persegues? É inútil resistires ao aguilhão.” (At 26.14 Sec.XXI).

Deus salva pecadores. Quando ele os busca não volta sem aqueles que se dispôs a salvar. O Resgate é certo.

sábado, 10 de agosto de 2013

Pecadores eficientemente salvos

Desde o início da sistematização da teologia cristã apareceram ideias sobre como ocorre o processo de salvação.

Já no século V, o monge Pelágio afirmava que cada um é o responsável por sua própria salvação, pois se Deus exige que tenhamos vida perfeita ao ponto de ordenar “sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1.16) é porque temos em nós mesmos, ou recebemos dele, graça suficiente para viver assim.

Agostinho, que era seu contemporâneo, discordou veementemente, pois isso retiraria a salvação das mãos de Deus e a colocaria nas mãos do próprio homem. Em outras palavras: o Sacrifício de Jesus não salvou o homem, apenas estabeleceu a possibilidade do homem salvar-se.

Da mesma forma agiu Armínio no século XV, que, na minha opinião, criou todo um sistema com a preocupação de garantir a dignidade do homem, que, segundo ele, não a possuiria se não tivesse livre arbítrio para aceitar ou recusar a salvação.

Embora parta de outras premissas e use outros argumentos, no fundo ele acaba dizendo o mesmo que Pelágio: o Sacrifício de Jesus estabeleceu a possibilidade do homem salvar-se, e este, é completamente livre para aceitar ou recusar o convite gracioso do Senhor do Senhor que morreu por ele.

Entre essas duas posições há muitos matizes, que no fundo acabam dizendo a mesma coisa: Jesus não salvou. Apenas criou possibilidades de salvação. Uns dizem que tal possibilidade se materializa em apenas o pecador manifestar o desejo de ser salvo (como olhavam para a serpente levantada no deserto) e outros vão ao extremo oposto dizendo que é necessário uma vida de boas obras, de modo que ao morrer, esteja registrado no livro de Deus mais coisas a favor daquela pessoa do que contra. Do contrário – se estiver com déficit – terá de purgar seus pegados no purgatório.

Entretanto, ao se olhar o quadro geral na Escrituras – o que o apóstolo Paulo chamou de analogia da fé – chega-se a conclusão que Deus salva pecadores mediante a morte sacrificial de Jesus.

Neste ponto teríamos muito que explicar como Deus castiga em uma pessoa (seu Filho) os pecados de outro(s). Entretanto, por amor à brevidade, lembro que Jesus é a Palavra de Deus, “a expressão exata de seu ser” (Hb 1.3), “em quem habita corporalmente a plenitude da divindade” (Ef 2.9). Ou seja, “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões” (2Co 5.19). Noutras palavras: o próprio Deus assumiu em Jesus a dívida eterna dos homens para com ele.

Surge então algumas questões: 1ª) O mundo está todo salvo? Não! Ele mesmo declarou que dentre muitos haveria um rebanho, e muitas vezes nos adverte sobre julgamento, e em separar as ovelhas dos bodes, pois “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 20.16).

À luz do que já vimos nos dois artigos passados, em que espero ter deixado claro que nosso estado de morte espiritual nos impede de buscar a salvação. Somos lázaros defuntos em nossos túmulos até que a Voz Criadora – a mesma que disse: “haja luz e houve luz” (Gn 1.3) – nos traga de volta à vida. É necessário que Deus se dirija especificamente a quem ele quer salvar e lhe dê vida: lhe salve.

Há portanto uma diferença muito grande entre “possibilidade de salvação” e “salvação efetiva”.

Mais do que um resgate em que o salva-vidas arrasta para fora d’água quem estava se afogando, e ao chegar na praia lhe aplica todos os procedimentos necessários para que ele volte a respirar.

Na minha igreja ouvi alguém muito simples dizer com lágrimas nos olhos: - Pastor, Deus enfiou a mão no vaso sanitário e me puxou de lá! É bem isso mesmo.

Enviar seu Filho, já é algo extraordinário. Sacrificá-lo em nosso lugar está além do que podemos conceber. Eu sei que Deus pode todas as coisas, mas, porventura ele poderia ter feito gesto maior do que este? E apenas para garantir que “mortos em seu delitos e pecados” (Ef 2.1) tivessem uma opção que não são capazes de exercer? Não! Mil vezes: Não!

Jesus morreu para salvar pecadores. Seu sacrifício não será em vão. É mais poderoso do que o suicida que se debate contra o salva-vidas que o retira de seu destino mortal.

“Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37)

“Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor. Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai” (Jo 10.14-18)

sábado, 3 de agosto de 2013

Pecadores Salvos

Espero ter deixado claro, no texto de domingo passado, que não somos pecadores porque cometemos pecados fortuitos, mas que cometemos esses pecados fortuitos por sermos pecadores.

Espero também ter deixado claro que nosso estado é descrito pela Bíblia como “espiritualmente mortos”. E, por estarmos espiritualmente mortos, estamos em rebelião contra quem nos criou para ser espiritualmente vivos.

Quando nossos primeiros pais estavam espiritualmente vivos sabiam o que era bom e o que era mal e tinham total liberdade e capacidade para escolher entre fazer ou deixar de fazer aquilo que era bom e aquilo que era mal. Naqueles dias havia aquilo que hoje chamamos de “livre arbítrio”.

Hoje continuamos a ver o que é bom e o que é mal, desejamos fazer o bem, temos até certa liberdade de fazer qualquer um dos dois, mas não temos mais a capacidade de fazer o bem: para fazer o bem apenas por ser o bem. Desobedecendo ao Criador, nossos pais tornaram-se incapazes e nos legaram essa qualidade.

Hoje a natureza que herdamos deles, deseja, anseia e nos impele para fazer o que é mal. E mesmo quando conseguimos fazer algo de bom, o fazemos pela razão errada: para que outras pessoas vejam o quanto somos bons, ou para obter algo de Deus , ou para que alguém fique em dívida conosco, ou para pagarmos um favor, ou, no mínimo, para acalmar nossa consciência que constantemente nos acusa.

Nosso estado é tão perverso que o profeta Isaías usa palavras terríveis para descrevê-lo: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam” (Is 64.6). Note que o profeta diz que nossa justiça (o que podemos fazer de melhor) é como trapo de imundícia. O trapo é o pedaço de pano que seria descartado e passou a ser usado para um propósito inferior. Neste caso, para reter aquilo que estava vivo e agora se decompõe na morte, pois a palavra hebraica é ‘ed beged, que literalmente significa trapo para absorver a menstruação.

Alguém em estado tão abjeto, na realidade morto para Deus, como poderá voltar-se para ele? Não pode! É Deus quem toma a iniciativa de fazer com que esses trapos sejam limpos e bons. É Deus quem toma a iniciativa de fazer com que esses mortos vivam.

Sendo Deus quem toma essa iniciativa ele é totalmente livre para escolher o trapo que quiser no amontoado deles, pois já é de admirar que ele ainda queira usar tal trapo. Ele também é totalmente livre para ressuscitar o morto que ele quiser, pois é de admirar que ele queira reviver alguém que morreu por rebelar-se contra ele. A isso a teologia resolveu chamar de “Graça incondicional”.

Nenhum trapo pode esperar tratamento diferente, muito menos tem a capacidade de argumentar ser merecedor de tratamento especial ou diferenciado dos demais. O destino de todos é o lixo e a destruição. Nenhum morto pode esperar tratamento especial da parte de Deus, afinal ele é um defunto, e defuntos não fazem nada.

Se não for a soberana vontade de Deus nenhum trapo ou nenhum morto, pode obter a atenção de Deus que é livre para escolher o que ele quiser.

Para deixar mais clara a liberdade de Deus a esse respeito, as Escrituras perguntam: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?” (Rm 9.20-21).

Realçando mais ainda a liberdade de Deus, lembremo-nos de Jacó e Esaú: “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú. Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.11-16).

Nada há que o homem possa fazer por si mesmo (ele está defunto e continuará assim). Tudo é feito por Deus. Por isso podemos dizer: Deus salva pecadores.

Se o homem pudesse fazer algo em prol de sua salvação, tal frase não seria verdadeira. Pois, ou o homem não teria necessidade de salvação, ou, no máximo, Deus salvaria apenas aqueles que já se dispuseram a ser salvos, e, portanto, pessoas parcialmente salvas que colaboram com o próprio nascimento. Não esqueça de que esse renascimento é chamado na Escritura de a Primeira Ressureição: “Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade” (Ap 20.6).