domingo, 29 de setembro de 2013

Os adornos do Espírito

Mal saíram do Egito - escravos, fazedores de tijolos com uma terra tão ruim que exigia vegetais para dar liga à massa - Deus os reuniu aos pés do Monte Sinai. Lá deveriam se tornar um povo. Lá receberam a aliança que Abraão, séculos antes, conhecia pela fé.

De tão rudes, a aliança lhes foi resumida em tábuas de pedra. Mas, como analfabetos observariam o que estava escrito? Tudo foi sancionado então com sangue de cordeiros inocentes; depositado em uma arca de ouro e entregue a uma tribo separada para que as observassem. Finalmente, foi ordenado que fizessem uma tenda especialmente adornada onde seriam guardadas.

Os adornos dessa tenda não podiam ser produto da imaginação de qualquer um. Deus chamou dois homens para elaborar o projeto dela, treinar seus auxiliares e edificá-la, conforme a vontade dele. Tudo foi prescrito: As paredes, a cobertura, os móveis, a decoração, até mesmo a roupa que os oficiantes vestiriam enquanto estivessem dentro dela. Fariam a partir de metais, madeiras, tecidos, e especiarias. O Espírito Santo os capacitaria como marceneiros, entalhadores, ourives, bordadores, perfumistas, etc.

A tenda seria a morada das tábuas da Lei de Deus, portando da Vontade de Deus e em última análise do próprio Deus. Nada mais natural, portanto que fosse construída e ornamentada conforme seu querer e caráter.

A tenda foi erigida e consagrada: “...Então, a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do SENHOR encheu o tabernáculo. Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do SENHOR enchia o tabernáculo... De dia, a nuvem do SENHOR repousava sobre o tabernáculo, e, de noite, havia fogo nela, à vista de toda a casa de Israel, em todas as suas jornadas” (Ex 40.34-38).

Esse sinal fantástico, fogo sobre a tenda da congregação, se repetirá sobre o Templo de Salomão, mas não sobre o Templo de Zorobabel.

Muitos séculos se passaram e depois da morte, ressurreição e ascensão de Jesus perceberam que uma nova criação teve início, substituindo a que nosso pai Adão estragou. Uma pequena multidão (cento e vinte?), reunidos em uma casa, viu aquele mesmo fogo descer sobre a cabeça de cada um. Cada um era um tabernáculo em que a Lei de Deus morava. Agora ela era escrita no coração e não em tábuas de pedra, como os profetas do Senhor falaram tantas vezes.

Mas, e os adornos dos quais o Senhor fizera tanta questão no primeiro tabernáculo? Estavam todos lá.

As pedras preciosas no peito deram lugar ao que simbolizavam: boas obras. O linho branco foi substituído pelas vidas santas e estofo pela paciência e longanimidade. Etc.

Todos capacitados a fazer o que antes poucos fizeram. O Espírito agora não habitava com eles. Habitava neles. E hoje habita em nós!

No passado longínquo todas as coisas eram figuras de algo superior que se cumpriria em Jesus e seria transmitido ao seu povo. Por essa razão é que Pedro ensina que o verdadeiro adorno é “o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus” (1Pe 3.4).

(Publicado originalmente em 1/7/2011)

sábado, 21 de setembro de 2013

Rev. José Manoel da Conceição

Em 1863 o missionário Rev. Alexander Blackford, cunhado do Rev. Ashbel Green Simonton, ao mudar-se do Rio de Janeiro para São Paulo, ouviu falar de um “padre protestante”. Era o Pe. José Manoel da Conceição que morava perto de Rio Claro.

O Pe. José tinha então 41 anos. Havia nascido na capital, mas foi criado em Sorocaba pelo tio José Francisco, que era padre. Aos 18 anos foi estudar teologia e aos 20 foi ordenado sub-diácono começando o exercício de seu ofício nas proximidades de Sorocaba.

Seu contato com a Bíblia aconteceu no Seminário. Com os protestantes aconteceu através de uma família luterana com quem fez amizade nos primeiros anos de ministério (destacava o respeito que eles tinham para com o Dia do Senhor). Com as doutrinas protestantes aconteceu quando procurou aprender a língua alemã: seu professor usava como texto de leitura os sermões de Lutero.

Aos 23 anos foi ordenado presbítero e enviado pelo Bispo para uma das igreja de Limeira onde começou a pregar de tal modo que passou a ser chamado de “Padre Protestante”. Irritado, o bispo decidiu transferi-lo para Piracicaba, onde continuou sua pregação e de onde foi transferido para Monte-Mór, e depois para outras cidades.

Essas transferências, que deveriam lhe servir de alerta, propiciaram que sua mensagem evangélica fosse disseminada por diversas cidades de São Paulo e mais tarde influenciariam seu ministério itinerante, pois voltou a essas mesmas cidades pregando novamente e levando muitas pessoas ao Evangelho.

Por fim, aos 41 anos, o Bispo o nomeou para um cargo administrativo e ele mudou-se para as proximidades de Rio Claro onde possuía um sítio e onde deu-se o Encontro com o Rev. Blackford.

No ano seguinte, aos 42 anos, em visita ao Rev. Blackford em São Paulo, decidiu abraçar o protestantismo. Nesse mesmo ano voltando a São Paulo comunicou ao Bispo sua decisão e foi ao Rio de Janeiro onde conheceu o Rev. Simonton e fez sua Pública Profissão de Fé. Nesta ocasião pediu para ser rebatizado, pois entendia que fora batizado em uma fé completamente diferente (vale observar que este pedido fez com que os missionários passassem a rebatizar todos os crentes vindo do catolicismo e tornou-se uma prática da Igreja Presbiteriana do Brasil até os dias atuais). Após a cerimônia dirigiu-se à Igreja explicando as razões pelas quais deixou a igreja de Roma e recebeu a Fé Protestante.

Durante as viagens, que passou a fazer com os missionários, era frequentemente tranquilizado em suas crises de consciência pelo seu passado.

No ano seguinte o primeiro presbitério brasileiro foi organizado em São Paulo e recebeu o nome de Presbitério do Rio de Janeiro, em atenção à cidade da corte imperial. Era composto pelas Igrejas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Brotas, e dos Pastores Rev. Blackford (Presidente), Rev. Simonton, e Rev. Francis Schneider. A Igreja de Brotas era a maior e fora fundada mormente graças aos esforços de Conceição.

Nesta primeira reunião o Presbitério, em 17 de dezembro (hoje dia do Pastor Presbiteriano) o ordenou pastor, após exame e sermão de prova, com grande repercussão no público católico.

Sua excomunhão pela Igreja de Roma não demorou e seu ministério evangélico itinerante por todas as cidades que conhecia e virtualmente todas as cidades do Estado de São Paulo, diversas do Rio de Janeiro e do Sul de Minas Gerais e algumas no Paraná, ganhou força. Poucas vezes de trem, algumas a cavalo e a maioria delas a pé, de casa em casa, de sítio em sítio, de fazenda em fazenda.

Onde era bem recebido, além de anunciar o evangelho, retribuía a hospedagem servindo de enfermeiro ou de simples varredor do quintal.

Quando sua sentença de excomunhão foi publicada nos jornais escreveu “A Sentença de Excomunhão e sua Resposta”, que acabou tornando-se um livreto muito divulgado.

Como suas viagens lhe prejudicavam a saúde, e a experiência dos missionários mostrava que não adiantava fixar-lhe um lugar, o incentivaram a ir aos EUA. Ficou lá por quase um ano. Pastoreou igrejas da comunidade portuguesa no Illinois, mas principalmente valeu-se de seus conhecimentos de vários idiomas para traduzir diversas publicações e chegou a revisar a tradução de um Novo Testamento para a Sociedade Bíblica Americana.

De volta ao Brasil em 1868 (já com 46 anos), após a reunião do Presbitério, voltou as suas viagens. Já não estava “afinado” com o rumo do trabalho dos missionários, que agora enfatizavam a estruturação da Igreja Brasileira. Ele continuava a evangelizar e mandar seu relatórios com o nome dos novos convertidos.

Solitário, era frequentemente acometido de angústias (o que hoje chamamos de depressão) agravadas pelas perseguições de romanistas, que chegaram a agredi-lo fisicamente e até mesmo a apedrejá-lo. Na cidade mineira de Campanha foi dado como morto após um apedrejamento.

Aos 51 anos (em 1873) o Presbitério o convocou ao Rio de Janeiro com o fim de cuidar de sua saúde e morar em uma casa que o Rev. Blackford alugara. Na viagem, a pé, em 24 de dezembro, faminto cansado e fustigado pelo calor da baixada fluminense, desmaiou e foi levado a um quartel do exército em cuja enfermaria foi bem tratado. Na madrugada do dia 25 o Senhor o chamou para uma casa melhor.

sábado, 14 de setembro de 2013

Imagens de Jesus (2a. Parte)

No artigo anterior mostrei como a IPB, sempre cuidadosa de sua confessionalidade, acabou fazendo o que todas as denominações evangélicas já faziam: Estampar o rosto de Jesus. Hoje quero examinar o pensamento que está por traz disso.

Não tenho a menor dúvida de que nosso Senhor Jesus, mesmo sendo Deus, ao assumir nossa natureza em nada diferia de um homem qualquer. Nem quem convivia com ele via algo diferente: Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.9).

Não tenho também a menor dúvida de que aquele simples homem era o Deus vivo: porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2.9); e seu corpo expressava o Pai:  porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2.9).

Minha dúvida é se temos autoridade de fazer imagem dele.

O raciocínio de quem acha que pode é o seguinte: Estamos proibidos de fazer imagens de Deus Pai (e de qual quer outra coisa para com fins de adoração), mas Deus Pai se encarnou: adquiriu uma figura humana. “Se estivéssemos na manjedoura certamente tiraríamos uma foto do bebê”.

Esse raciocínio padece em vários pontos: 1) A figura humana de Deus ainda é Deus. Portanto a proibição estende-se também a ela. 2) Se ele continua sendo Deus, fazer uma representação dele só pode ser para adoração, pois para outra coisa cometeríamos um ato de “lesa-divindade”. 3) Não estávamos na manjedoura e naqueles dias não havia máquinas fotográficas.

Sobre esse último ponto há que pensar que a maioria das nações ao redor possuíam alto grau de desenvolvimento nas artes plásticas.

Os Gregos, muito antes de Jesus nascer, esculpiam estátuas de mármore onde se podia ver com detalhes os músculos do corpo, as veias e desenvolveram a técnica de “sugerir” ao espectador a representação dos fios de cabelo e da expressão do olhar (Procure fotos da escultura “Laoconte e seus filhos” e você poderá comprovar minhas afirmações). Entretanto, Deus fez Jesus nascer em um povo, que foi por ele proibido de ter esse tipo de arte figurativa e não em um povo onde ele poderia ser retratado com precisão.

Agrava-se o fato de que não há qualquer descrição de Jesus, durante “os dias de sua carne” nas Escrituras Sagradas. Podemos deduzir que, sendo judeu legítimo ele fosse moreno, e como carpinteiro trouxesse as marcas de sua profissão: mãos ásperas e corpo musculoso. Mas usar textos como de Isaías 53.2, para dizer que seu rosto não tinha os padrões de beleza daqueles dias é meio forçado. Como também deduzir de 7.34 que ele estava acima de seu peso. 

Porém, há uma descrição nos versículos iniciais do Apocalipse, que devem causar muito mais meditação por parte de quem a lê do que apreciação estética. Mas lá está descrito Jesus glorificado e muito do que lá aparece é simbólico como a espada de dois gumes que sai de sua boca. Obviamente isso é uma metáfora do poder de sua palavra.

Finalmente, será que nossas crianças ganham algo de concreto ao ver figuras de Jesus retratado com os mais diversos rostos? Será que elas não estão sendo preparadas, ainda que involuntariamente, para ver Jesus no primeiro falso Cristo que se apresentar, como estamos advertidos que acontecerá?

Que tipo de fé é esta que está sendo cultivada sobre matéria? Pior: Matéria ilusória?

Nossos filhos, hoje, possuem uma apreciação maior pela obra terrível desempenhada por Jesus ou possuem apenas mais liberdade ao ponto de trata-lo como “o cara”?

Vamos pensar atentamente nesse assunto, pois a modernidade aplicada a ele não trouxe resultados bons e nos levou a quebra sistemática do Segundo Mandamento.

sábado, 7 de setembro de 2013

Imagens de Jesus (1ª Parte)

 

Nas Igrejas de Fé Reformada há um debate silencioso sobre se as Escrituras permitem-nos fazer imagens de Jesus.

Na Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), até a primeira década de 1900, havia um consenso de que não podia. Porém, esse consenso foi corroído com o tempo e por fim demolido com uma estratégia bem articulada, que visava a permitir a exibição de filmes do então CAVE (Centro Áudio Visual Evangélico). Olhando a história encontramos:

1º A Assembleia Geral julgando inconveniente o uso de gravuras bíblicas (Doc. 1918:26).

2º A Comissão Executiva do Supremo Concílio (CE/SC) de 1956 determinando verificar a conveniência da IPB filiar-se ao CAVE (56-035).

3º A CE/SC de 1957 homologa a parte do relatório do presidente do SC que informa ter filiado a IPB ao CAVE (Doc. 57-036).

4º No Supremo Concílio seguinte (1958) encontramos uma consulta do Sínodo Oeste do Brasil (DOC 58-100) “sobre emprego da representação de Cristo em figuras ou imagens como vem sendo feito pelo CAVE, em filmes exibidos nas igrejas”.

A decisão do SC deixa-nos entrever parte das divergências e produz uma proibição, no mínimo, esdruxula: “Quanto ao Doc. 6 consulta do SOB, sobre emprego da representação de Cristo em figuras ou imagens como vem sendo feito pelo CAVE, em filmes exibidos nas igrejas. Considerando a alta importância das lições objetivas na educação da criança e do adolescente, método largamente empregado na atualidade pela pedagogia moderna; Considerando que as lições objetivas vêm sendo usadas nas igrejas com grande oportunidade no ensino das verdades religiosas! Considerando ainda, que a ‘letra e o espírito’ do 2° mandamento citado, pelo consulente, referem a imagens e figuras com fins exclusivos de culto e adoração, o SC resolve: 1) Declarar não haver nenhuma incoerência no uso da figura ou filmes bíblicos com finalidades educativas. 2) Determinar que não se use, nos métodos audiovisuais, flanelografia e outros, a representação das pessoas da Santíssima Trindade”.

Esta resolução nos leva a diversas conclusões:

1ª A IPB não queria filiar-se ao CAVE devido a seus filmes retratarem a Jesus, mas sua direção queria. Tanto é que depois de filiada houve a consulta do Sínodo Oeste do Brasil. Vale explicar que nos antigos flanelógrafos, usados para ensinar crianças, Jesus era sempre mostrado de costas.

2ª A resposta do SC, não é teológica nem confessional, mas pragmática: “vem sendo usadas nas igrejas com grande oportunidade no ensino das verdades religiosas!”.

3) Usa-se o mesmo argumento usado pela Igreja de Roma para manter suas imagens: Ensino.

4) E então surge uma verdadeira pérola: “Determinar que não se use ... representações da Santíssima Trindade”. Ou seja: O SC está declarando (talvez por lapso) que Jesus encarnado não é parte da Santíssima Trindade!

A partir de então, todas as publicações sentiram-se livres para estampar o rosto de Jesus onde queriam e os filmes do CAVE passaram a ser exibidos na maioria das Igrejas Presbiterianas.

Mas, qual é o problema? Simples! Nosso Catecismo, interpreta o Segundo Mandamento: “Pergunta 109. Quais são os pecados proibidos no segundo mandamento? Resposta: Os pecados proibidos no segundo mandamento são: ... fazer qualquer representação de Deus; de todas ou de qualquer das três Pessoas, quer interiormente em nosso espírito, quer exteriormente em qualquer forma de imagem ou semelhança de alguma criatura...”.

Portanto o que temos diante de nós é: uma desobediência flagrante ao que juramos ser a exposição fiel das Sagradas Escrituras (ou um fato teológico novo do qual discorda toda cristandade: Jesus depois de adquirir sua natureza humana deixou de ser uma das Pessoas da Trindade).

Mas, será que Jesus encarnado não é a chance de vermos a Deus?

Isto é o que vamos examinar no próximo Domingo.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Pecadores salvos pela graça

Recebi as mais variadas reações sobre estes últimos cinco textos que escrevi tratando da salvação. Algumas risíveis, poucas concordando comigo e a maioria me criticando. Em todas estas últimas dois pontos acabaram sendo, direta ou indiretamente, muito enfatizados.

O primeiro ponto criticava minha posição a respeito dos pecadores sem Deus. – Nenhum ser humano pode ser tão mau! (Alguém chegou a dizer). – Todo ser humano possui algum tipo de Deus, portanto todos amam a Deus (Outra pessoa afirmou).

Dificilmente eu encontrarei palavras para descrever o quanto Deus tem aversão ao pecado e ao pecador. Acrescento “ao pecador” pela simples razão de que o pecado só se efetiva através de alguém.

Eu esperava que, ao mostrar que a morte de seu Filho foi o único remédio encontrado por Deus para salvar o pecador, fosse o suficiente para que se imaginasse o quanto Deus odeia o pecado

É claro que ele ama aqueles a quem ele salva, mas abomina os rebeldes.

É fácil perceber que o humanismo semeou – e estamos colhendo às mancheias – a ideia de que o homem é essencialmente bom e que, quando ele revela-se mau é devido a distorções impostas por alguma doença (loucura?) ou como reação ao tratamento recebido da sociedade na qual ele foi criado.

Na verdade o que a Bíblia ensina é o oposto: o homem, ao pecar tornou-se completamente mau – talvez pior do que o próprio demônio – e a única coisa que ainda o habilita a ser eventualmente um bom pai de família, e um bom cidadão, é um resto da imagem de Deus, que não foi totalmente tirada dele, mas está horrivelmente distorcida.

O pecador é chamado nas Escrituras, não apenas de inimigo de Deus e morto em seus delitos e pecados como como falei nos outros textos, mas também é chamado de “vaso de ira” (Rm 9.22), “vaso para desonra” (Rm 9.21), dando indicação clara de que, se ele possui alguma coisa em si, é totalmente má: ira e desonra.

O segundo ponto abordado nas críticas me acusava de estar barateando a salvação. O argumento usado pode ser resumido na seguinte frase: – Assim qualquer um pode ser salvo! De fato qualquer um pode ser salvo. Não é necessário ter nenhum tipo de mérito anterior para que Deus o salve.

Este tipo de argumento pode ser agravado, pois pelo o ponto de vista que expus, um facínora poderia ser salvo e um bom pai de família não.

Observe que a primeira coisa que fica clara com este tipo de argumentação é que a salvação não é um ato soberano e exclusivo de Deus, mas um ato no qual o homem tem algum tipo de participação. Esse conceito de salvação ganhou dos teólogos a designação de “sinérgica” (de sin + ergos = trabalho coletivo), pois para que ela ocorra é necessário que tanto Deus quanto o homem façam alguma coisa. Em outras palavras: o Salvador possibilita a salvação e o salvo aproveita a oportunidade.

O caso mais comum é o de que o homem se salva mediante as boas obras que ele faz. Porém, há piores: Por exemplo, o conceito tradicional adventista em que Cristo paga os pecados, o homem cumpre a Lei de Deus e Satanás leva a maldição dos pecados. Ou seja a salvação depende dos três.

Percebeu? Quando o profeta Jonas disse “ao SENHOR pertence a salvação” (Jn 2.9), ele estava fazendo uma descrição do processo: é o SENHOR que salva. Salva quem? Quem precisa ser salvo. Afinal o próprio Jesus disse “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento” (Lc 5.31-32).

A salvação é um ato exclusivamente divino. Graças a Deus só depende dele, pois se dependesse de nós...