sábado, 24 de maio de 2014

Vida

Embora não saibamos exatamente como definir o que é vida, todos nós sabemos a que estamos nos referindo quando usamos esta palavra. Discordo, entretanto de quem diz que viver é a capacidade de existir autonomamente, pois as pedras existem e não estão vivas, e nós, que estamos vivos, dependemos do ar, do sol, dos alimentos. Ou seja: dependemos de tantas outras coisas, que podemos ser tudo, menos autônomos.

Aliás, essa é uma característica da vida: Mais do que dependente, ela é, por assim dizer, extremamente egocêntrica. Qual máquina, ela consome seus combustíveis a qualquer preço: cegamente. Não se pode convencer um ser vivo a gastar menos oxigênio, e o limite mínimo de suas necessidades calóricas é bem definido.

Fazemos parte de uma “cadeia alimentar”. Nos alimentamos e servimos de alimento. Comemos vegetais ou animais, e através deles recebemos os minerais que não podemos comer in natura e alimentaremos a muitos após nossa morte.

Fazemos parte de um tecido social mais ou menos semelhante. Jamais podemos afirmar que não dependemos de ninguém, ou que ninguém depende de nós. Dependemos do seio de nossas mães, da casa de nossos pais e do amparo de nossos filhos. Do seio recebemos o alimento e o conforto. Da casa, o conforto e a orientação para o futuro. Dos filhos a honra e o consolo de uma vida completa. Mas não se esqueça: os papéis se invertem. Começamos a vida como filhos e a terminamos como pais.

Ao adquirir nossa natureza o Senhor Jesus sujeitou-se a essa “roda”. Como qualquer um de nós dependeu de sua mãe e de seu pai e, apesar de sua inteligência precoce, atestada pelos doutores de Jerusalém, aprendeu com seus irmãos e amigos também. O escritor da Carta aos Hebreus nos diz que ele aprendeu aquilo que nunca teve de fazer: obedecer. Não teve filhos biológicos, mas deu sua vida pelos filhos espirituais, rompendo assim o círculo em que, no fim da vida, os pais passam a depender dos filhos.

O mais precioso nos vem de sabermos que ele é um de nós. Ele mantém nossa natureza e nunca se separará dela. Entretanto ele a corrigiu. Fez com que ela voltasse a ser o que deveria ter sido se nossos pais não tivessem pecado. A marca do tal egocentrismo de que falei - da vida comportar-se como máquina que devora seu combustível - para ele já é coisa do passado, pois o princípio vital não é mais “carne ou sangue”, mas o poder de Deus. Se antes, semelhantemente ao primeiro Adão, ele “foi feito alma vivente”, a pós sua ressurreição e agora, à destra do Pai, ele é “espírito vivificante” (1Co 15.45).

Os filhos de Jesus, aqueles com os quais ele comparece diante do Pai (Hb 2.13), “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.13).

 

domingo, 18 de maio de 2014


As consequências do Pentecostes

A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galileia e Samaria,
edificando-se e caminhando no temor do Senhor,
e, no conforto do Espírito Santo,
crescia em número.
Atos 9.31


Como podemos entender esta declaração? Como a Igreja tinha paz se enfrentava tantos problemas? Veja uma pequena lista deles:

  • Pouco tempo depois de Pentecostes, Pedro e João haviam sido presos e só foram soltos após ameaçados pelo mesmo Sinédrio que havia condenado o Senhor Jesus.
  • Não demorou muito tempo para que Ananias e sua esposa Safira expusessem o maior problema que afligia e sempre afligirá todas as igrejas: mentir ao Espírito Santo!
  • Logo em seguida todos os apóstolos foram presos e açoitados por anunciarem o nome de Jesus.
  • Com o crescimento numérico apareceram os necessitados. Isso os levou à escolha dos primeiros diáconos.
  • Um desses diáconos que foi apedrejado, com o consentimento do fariseu Saulo, foi o estopim para uma grande perseguição que espalhou a Igreja de Jerusalém pelas cidades da Judéia e de Samaria. Enquanto isso Saulo literalmente “assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere” (At 8.3).
  • Como acontece hoje com os mercadores da fé, Simão, o mago, tentou comprar o poder de conceder o Espírito Santo mediante a imposição de mãos.

Como, uma igreja, que, em cinco ou seis anos, passa por todos esses problemas, podia ter paz?

O próprio versículo nos dá a resposta: o conforto do Espírito Santo.

Quando Jesus prometeu o Espírito Santo aos seus discípulos ele o chamou de Consolador (em grego: Paracletos) e é essa a palavra que Lucas usa para falar de como a Igreja tinha paz. Ou seja: A igreja tinha paz, ao ponto de crescer em número, mediante a “paraclesis” do Espírito Santo.

Nossa tradução por “conforto” não é ruim. Talvez a dificuldade de se entender esteja na mudança de significado que esta palavra sofreu.

Hoje, para muitos de nós, o significado de conforto está entre aconchego e comodidade. Dizemos que cadeiras, casas e outras coisas, ou situações, são confortáveis, quando elas nos proporcionam sensação de bem-estar. Entretanto o primeiro significado desta palavra deriva-se do latim “cum+fortius” (com força).

Eles tinham paz mediante a força que o Espírito Santo lhes concedia, ao ponto de, com tantos, e tão grandes problemas, não comprometerem o viver na presença de Deus.

O mesmo Espírito, que os capacitou a falar nos idiomas dos muitos povos, das muitas nações para os quais iriam, os capacitou também a viver em paz, apesar dos problemas pelos quais passavam.

Mas não esqueça: Essa paz não era desperdiçada. Eles a aproveitavam para edificarem-se caminhando no temor do Senhor.

Não há melhor descrição dessa paz do que a que, anos depois seria feita por quem antes lutava contra ela: “... a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus (Fp 4.7).

sábado, 10 de maio de 2014

Teoria da conspiração

Eu nunca tinha ouvido essa expressão (Teoria da conspiração) até 1997, quando um filme com esse nome chegou aos cinemas. Hoje, é difícil contar quantas vezes eu a escuto, ou leio, todos os dias.

Encontrada em escritos desde o Sec. XVII, a palavra conspirar faz parte de nosso vocabulário há muito tempo. Sua origem é a expressão latina conspirare (cum + spirare = respirar juntos) e seu sentido principal pressupõe mais de uma pessoa tramando secretamente em detrimento da verdade. Teoria, neste caso, é a proposta de uma explicação para o que não se conhece.

Mas, aqui entre nós, nunca gostei da expressão. Talvez por ser a tradução literal de conspiration theory sem qualquer adaptação ao nosso idioma e pelo uso que a mídia passou a fazer dela nos empurrando diversos sentidos (nenhum deles muito preciso).

Há muitas “teorias da conspiração”. Algumas curiosas. Outras são até atraentes (e sobre elas se pode até usar o dito italiano “Se non è vero, è ben trovato”). Mas, outras são risíveis (pra dizer pouco).

É possível encontrar uma lista de centenas delas na internet: desde a fluoração da água (seria uma forma dos produtores de alumínio se livrar dos resíduos tóxicos da produção) à terra oca (haveria um espaço no centro da terra com uma civilização inteira), ou a que explica que a humanidade descende de seres espaciais. Dia desses ouvi a alegação de que “o cristianismo foi inventado durante o Império Romano para controlar as massas”.

Sobre o cristianismo, uma das mais velhas aparece registrada na Bíblia: A primeira explicação para a ressurreição de Cristo: o roubo do corpo (Mt 28.1-15). Ou seja: ressureição foi uma invenção dos discípulos de Jesus, que, para dar maior veracidade, roubaram seu corpo do túmulo. A mais abrangente é que as religiões, especialmente o cristianismo, é o ópio do povo. Ou seja: o que mantem o povo dormente e o impede de reagir contra o que os poderosos fazem.

Porém, para os cristãos, não há teorias e sim uma conspiração pura e simples. Conspiração que começou no Jardim do Éden e que inclui a rebeldia contra Deus. Ela é descrita em texto como: “Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas” (Sl 2.2-3). Ela pode ser vista na recusa sistemática ao verdadeiro Deus, seja em luta aberta contra ele, seja na busca de outros deuses.

Você já notou que (e nos últimos tempos isso tem se agravado) qualquer hipótese, para qualquer coisa, que inclua a ação de Deus, e sua existência, é sempre descartada em prol do maior absurdo? É como se dissessem: qualquer coisa menos Deus.

Você já notou como a verdadeira religião, cada vez mais, é mostrada como uma conspiração contra o homem? Bem... nesse ponto há uma certa razão, pois a verdadeira religião busca a glória de Deus e mostra o quanto o homem está miseravelmente caído. Mas, a verdadeira religião não é uma conspiração, pois não deseja suprimir a verdade. Pelo contrário, deseja que a verdade brilhe cada vez mais.

sábado, 3 de maio de 2014

Lutas por fora, temores por dentro.

Embora alguns não usem essa frase com receio de serem tidos por faltos de fé ou fracos, provavelmente ela seja uma das melhores descrições daquilo por que a grande maioria de nós passa. Com ela, o apóstolo que se recomendou à consciência dos fiéis, confessa suas dificuldades à igreja de Corinto (2Co 7.5).

Na mesma carta confessa que perdeu uma grande oportunidade, concedida pelo Senhor, em Trôade, devido a falta de tranquilidade (2Co 2.12-13) e que chegou a desesperar-se da vida pelo tamanho das tribulações que enfrentou na Ásia (2Co 2.8).

Eu já passei por momentos assim. Já pedi ao Senhor que me levasse e nem sei contar quantas oportunidades perdi por falta de tranquilidade. Portanto, conheço, por experiência, o que você está sentindo, se enfrenta lutas por fora e temores por dentro.

Nenhum de nós está livre de lutas. Aliás, elas são tão necessárias à saúde de nossa fé como uma atividade física é útil à saúde de nosso corpo. Para ser mais exato, o Senhor Jesus disse que elas fariam parte de nosso caminhar, quando nos mandou tomar, cada dia, a nossa cruz e segui-lo.

As lutas definem o caráter e fortalecem a fé.

Nenhum de nós também está livre de temores. Temores pela saúde, pelo trabalho, pela família, pelo futuro de nosso país, até mesmo pelo que está acontecendo com a igreja. Sempre vejo adolescentes ou jovens temendo um vestibular ou uma entrevista de emprego, pais receosos das companhias de seus filhos e anciãos preocupados com o fim da vida.

Os temores estimulam o exercício da fé.

Nesta mesma carta Paulo cita duas razões pelas quais um filho de Deus enfrenta coisas assim: aprender amar a Deus sobre todas as coisas e aprender amar ao próximo como a si mesmo.

Ele aprende amar a Deus quando as lutas e temores lhe mostram que é apenas um vaso de barro e que a excelência do que conseguiu fazer veio de Deus. Nas palavras do próprio Paulo: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo” (2Co 12.9).

Ele aprende a amar seu próximo quando percebe que as lutas e temores passados e superados lhe ensinaram a confortar (cum+fortius=com força) ou consolar (obra primária do Paracletos) a quem enfrenta tal situação: “É ele [Deus] que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus” (2Co 1.4).

Nos dias atuais, além de não ser conveniente confessar tais problemas, considera-se feliz aquele que os supera com os próprios esforços. Porém, isso não é um valor cristão. O verdadeiro cristão entende que a bem-aventurança consiste em ser consolado por Deus e aos pés dele depõe suas lutas e temores.

Hoje se prega um cristianismo que traz prosperidade, saúde, realizações e vitórias. Desconfie! A principal mensagem do verdadeiro Cristianismo é pregada à sombra de uma cruz. Lá está a verdadeira vitória. Lá cessam todas as lutas e dissipam-se todos os temores.