sábado, 30 de junho de 2012

A Biblioteca de Deus

Você já reparou no quanto as Sagradas Escrituras falam de livros diante de Deus? Veja:

O mais comentado de todos (nove vezes), e o que aparece primeiro na Bíblia, no Êxodo, quando Moisés, intercedendo pelo povo, pede a Deus que lhes perdoe, ou risque seu nome “do livro”, Deus admite possuir tal livro: “Então, disse o SENHOR a Moisés: Riscarei do meu livro todo aquele que pecar contra mim” (Exodo 32.33). Parece ser um livro com o nome de todos os salvos. Uma espécie de Rol de Membros da Igreja Invisível. É mencionado no Salmo 69.28, em Daniel 12.1, em Filipenses 4.3, e em Apocalipse 3.5, 13.8, 17.8, 20.15 e 21.27.

No Salmo 139.16 Davi fala de outro livro, no qual o conteúdo de seus dias foram registrados antecipadamente, antes mesmo que seu corpo adquirisse forma no ventre materno.

O profeta Ezequiel (2.9) menciona um livro, cujo conteúdo é cheio de lamentações, suspiros e ais. Foi ordenado comê-lo, muito semelhantemente ao que aconteceu ao apóstolo João no Apocalipse (10.8-11). Se cada um deles comeu um livro diferente (lembre-se de que naqueles dias livro nada mais era do que uma tira larga de couro enrolado), ou se o que aconteceu ao profeta e ao apóstolo é uma metáfora de se apropriar do conteúdo de um determinado livro, só saberemos no futuro.

Um anjo mandou Daniel (12.4) selar o livro que escrevera até o tempo do fim, quando muitos haveriam de o esquadrinhar e o saber se multiplicaria. Tudo indica que além da profecia de Daniel, por extensão, temos aqui a própria Bíblia, que tem sido cada vez mais esquadrinhada, e à medida que é esquadrinhada seu conteúdo se torna mais claro e o conhecimento que temos dela se multiplica. Vale a pena notar que seu conhecimento cresceu muito exatamente neste período que foi chamado por Pedro, em seu sermão do dia de Pentecostes, de últimos dias.

O escritor de Hebreus (10.7) menciona outro livro no qual o Senhor Jesus diz ter trechos escritos a seu respeito, e pelo contexto não parece se referir à Bíblia. Provavelmente é a este livro que se refere o capítulo 5 de Apocalipse, onde não se encontra ninguém digno de romper os selos de um livro selado por dentro e por fora, e o Leão de Judá aparece em forma de Cordeiro para fazer isso, provocando intenso louvor na multidão de remidos.

Mas, há um livro precioso para todo aquele cuja esperança está em Deus. Ele é mencionado no Salmo 56. Neste livro são inventariadas as lágrimas derramadas e recolhidas por Deus: “Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas inscritas no teu livro?” (Salmo 56.8).

Finalmente, no Apocalipse (20.12) menciona-se diversos livros, cujo número é impossível determinar: “Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros”. O texto dá a impressão de que há livros (não diz quantos) em que se anota as obras dos que não se encontram registrados no Livro da Vida para fins de julgamento e que serão abertos naquele dia e cotejados com o Livro da Vida.

Seria como se os que não se encontram no Rol da Igreja Invisível tivessem seus arquivos de maldades anotadas diante de Deus.

Alguém pode objetar dizendo que isso é politicamente incorreto. Isso é espionagem contra os pobres danados.

Pior! Veja o que o profeta Malaquias (3.16) diz sobre os eleitos: “Então, os que temiam ao SENHOR falavam uns aos outros; o SENHOR atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao SENHOR e para os que se lembram do seu nome”.

Sete livros (se bem que um deles pode ter muitos volumes) e um memorial estão diante de Deus. Em pelo menos quatro deles há nomes registrados: 1) No livro da Vida; 2) No livro de que fala o Salmo 139.16; 3) No inventário das lágrimas; 4) Nos muitos volumes de registro das obras dos maus. Em qual deles está seu nome? Peço a Deus que esteja no Livro da Vida, com um bela nota memorial como um dos que temem ao SENHOR.

sábado, 23 de junho de 2012

Jesus e as riquezas

Em seu Sermão do Monte nosso Senhor Jesus nos proibiu terminantemente de fazer quatro coisas: 1) Ajuntar tesouros sobre a terra; 2) Andar ansiosos; 3) Julgar e 4) Jogar pérolas aos porcos. Vou examinar a primeira proibição.

Ao nos proibir de ajuntar tesouros sobre a terra o Senhor se vale de cinco metáforas.

A primeira delas ocorre com o uso da palavra tesouro, no grego, ‘thesauros’, que tanto pode ser o recipiente quanto o bens guardados dentro dele. Obviamente ele está falando de coisas preciosas, que mereçam ser entesouradas, que são disputadas por ladrões.

A segunda ocorre quando ele destaca mais o local em que elas são entesouradas do que propriamente o possuí-las. Proíbe entesoura-las na terra e ordena que as entesouremos no céu. Ele parte da pressuposição de que seus discípulos sabem como tomar algo que pode ser roubado e, em vez de enterrá-lo (o cofre da época), depositá-lo no céu.

A terceira é uma explicação do por quê depositá-lo nos céu: O tesouro atrai o coração de seu dono, e é melhor que o coração seja atraído para o céu.

A quarta na realidade é uma parábola na qual os olhos são mostrados como a parte externa da alma, que, neste caso, é o mesmo que o coração atraído pelo tesouro. Os olhos denunciam exteriormente tal atração, que, se for pelo tesouro depositado na terra, será má. O mais interessante é a afirmação de que se a contaminação já chegou aos olhos/alma quão grande ela é!

A quinta também é outra parábola na qual Jesus mostra que há mais um nível a que as riquezas podem sujeitar o homem além de contaminar sua alma: podem torna-lo escravo. E neste caso elas passam a competir com Deus de tal forma que o discípulo de Jesus está impedido de servi-lo, pois ninguém pode servir a dois senhores.

Você deve ter observado que ao falar de riquezas ele usa em níveis crescentes:

Primeiro, como algo que merece ser guardado, e que desde o começo já merecia o cuidado de ser guardado no lugar certo.

Segundo, como algo que prende o coração (daí a necessidade de estar guardado no lugar certo).

Terceiro, como algo que contamina a alma a tal ponto que se faz notar nos olhos tornando-os maus. Note que isso pode acontecer até com pequenas quantias: Os trabalhadores na vinha, que ganharam o salário de apenas um dia, reclamaram da generosidade do patrão que pagou o mesmo tanto aos que trabalharam o dia todo e aos que trabalharam apenas uma hora. Observe na resposta do patrão como é destacada a maldade nos olhos: “Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?” (Mt 20.15).

Quarto, como algo que assume o senhorio sobre o homem. Aqui vale a pena observar que a palavra usada por Jesus, traduzida por riquezas, foi mamom. No Novo Testamento esta palavra é usada aqui e na Parábola do Mordomo Infiel, e em Grego é ‘mammona’. Embora alguns estudiosos creiam que ela venha do hebraico ‘matmon’, que significa ‘tesouro’, a maior probabilidade etimológica é que se derive da palavra siríaca ‘mámóna’ que significa apenas ‘riquezas’, e não se tem conhecimento de nenhum deus siríaco com esse nome.

A lição que Jesus está nos dando é que quando julgamos possuir algo, mantendo-o sob nossa posse, gerenciando-o conforme nossos interesses, essa coisa toma nosso coração, contamina nossa alma e torna-se nosso senhor (no caso, uma espécie deus). O discípulo de Jesus, ao contrário, ao possuir algo, gerencia-o de tal forma que os interesses de Deus são os que prevalecem. Como se tal coisa fosse depositada nos céus.

Para Jesus o importante não ser rico ou não, mas o uso que se faz de um centavo ou de toda a riqueza do mundo.

sábado, 16 de junho de 2012

Guerras

As Sagradas Escrituras falam de três tipos de guerra: Guerra de Conquista, Guerra pelo Poder e Guerra Civil.

A Guerra de Conquista é a que se faz para tomar território, como Josué tomou todas as terras que Deus prometera a Abraão. Geralmente pensamos que esse tipo de guerra é coisa do passado, entretanto em 1982 a Argentina e a Inglaterra guerrearam pelas ilhas Falklands/Malvinas e até hoje a Argentina pugna nos órgãos internacionais pela posse delas. O conflito atual entre a Índia e o Paquistão, que a ONU não chama de guerra, embora se arraste por 30 anos e já tenha causado 29 mil mortes, tem como motivo principal o domínio da região da Caxemira.

E, francamente, quando vejo traficantes lutando por seus territórios, mesmo que seja dentro de um Estado legítimo, como o Brasil ou o México, não consigo ver muita diferença prática.

Embora os livros técnicos não façam essa distinção, me atrevi distinguir a Guerra pelo Poder da Guerra Civil. Um exemplo do que eu chamo de Guerra pelo Poder é guerra de Absalão contra seu pai (2Sm 15-18) onde o objetivo foi claramente tomar o governo central a qualquer preço. E um exemplo do que eu chamo de Guerra Civil é a revolta contra os benjamitas devido a concubina do levita (Jz 19-21), onde não houve disputa pelo poder, mas uma luta interna para extirpar um mal cometido.

Esses dois tipos de guerra estão presentes em nossos dias, mas é muito difícil encontrar o segundo tipo. Tanto é que ambas são chamadas de Guerras Civis.

Modernamente criamos uma figura interessante: a revolução (armada), que, a meu ver, nada mais é do que uma guerra dentro do próprio país, portanto, contra o governo vigente, para a qual se acha justificativas éticas, seja de opressão, seja de corrupção ou até de ideologia.

A guerra tem um único objetivo: dominar o adversário e impor-lhe a vontade. Mas possui muitas características, das quais duas se destacam: a estratégia e a violência. Essas duas caraterísticas estão presentes em todas as guerras.

Os governos totalitários são os mais suscetíveis à guerras internas, pois quando o poder é detido por uma só pessoa a cobiça desperta as demais.

A transição para os governos democráticos, embora se diga que foi um forma de evitar que um só domine sobre todos, na realidade foi também uma tentativa de acabar com o segunda característica das Guerras pelo Poder.

A disputa pelo poder continua, porém tem a vantagem de ser validada, aberta e conhecida de todos. Os grupos que disputam o poder continuam se aglomerando em torno de alguém que melhor os lidere e os conduza a vitória. Os financiamentos dessas empreitadas é tão caro quanto o financiamento de um exército e, às vezes, são tolerados acordos escusos como se toleraria em uma guerra. Mas houve uma mudança: As armas - característica da violência - foram substituídas pelos votos.

Entretanto a estratégia continua presente e mais importante do que nunca. Vale tudo para se tomar o poder e qualquer coisa que possa ser usada a favor ou contra o inimigo deve fazer parte do plano estratégico.

Analisando por este aspecto o estado democrático é um estado que vive em guerra. Uma guerra “domesticada” mas, aos olhos de Deus, não menos violenta, pois se não há assassinatos, o sexto mandamento é sempre quebrado através das difamações e das calúnias que já consideramos parte do processo eleitoral.

Mas, e a violência tradicional, que é inerente à constituição humana, especialmente após o pecado?

Infelizmente os “guerreiros” aparecem nos maus tratos impingidos ao próximo (lembre-se de como Jesus disse que o sexto mandamento é quebrado apenas ao chamarmos nosso irmão de tolo) e na criminalidade crescente. Porém, mais infelizmente ainda, a violência está institucionalizada nas competições esportivas e suas torcidas, nas paradas e nas marchas. É a válvula de escape necessária à governabilidade das massas.

Não preciso falar do quanto qualquer torcida pode ser violenta, mas você já percebeu no quanto os campeonatos esportivos internacionais se assemelham a guerras em que cada país é enaltecido com ufanismo?

Nas paradas e nas marchas se processa um pensamento triunfalista. Só se marcha sobre um território vencido e quem marcha exibe seu poder à quem o vê. A marcha é uma exibição de vitória.

Todos esses comportamentos, a que geralmente não damos muito valor, tem em comum o desprezo pelo próximo que foi conquistado pela violência, seja militar, como nas guerra antigas, seja democrática, como nas atuais.

Há outra forma de viver? Enquanto estivermos debaixo da herança do pecado, não! Quando nosso Senhor nos libertar da tirania dele, viveremos para o que fomos criados e a violência já não fará mais parte de nossa natureza.